MANCHETES DA CAPA
O Globo
STF recebe pedido de ação contra Bolsonaro por prevaricação
Anvisa sofreu pressão para liberar uso da vacina indiana
Ministro pede à população economia de água e energia
Lewandowski anula provas da Odebrecht contra Lula
JPMorgan compra 40% do C6 e estreia no varejo no Brasil
Sem liberdades, economia ainda é a vitrine do PCC
Busca a Lázaro acaba em morte com 38 tiros
ONU denuncia Brasil por racismo sistêmico na atuação da polícia
Os muitos projetos de Artur Xexéo
Investimento em diversidade gera mais eficiência
Uma série sobre o fenômeno Juliette
O Estado de S. Paulo
Com risco de apagão, agência quer dobrar taxa sobre energia
Orçamento secreto incluiu Defesa, Justiça e Agricultura
Bolsonaro mantém PP com feudo na área de vacinas
Cores para celebrar a causa LGBT+
Polícia dispara 125 vezes e mata Lázaro em GO
Adiamento e 3ª dose ‘reforçariam’ AstraZeneca
Pacaembu deve começar a ser reformado hoje
Venezuelanos chegam por terra aos EUA
Folha de S. Paulo
CPI quer investigar testes de Covid e líder do governo
Advogado de Barros trabalhou em negociação na mira da comissão
Emenda que inclui promotor e juiz em reforma pode fracassar
Relatora da ONU para genocídio vê riscos no Brasil
Voto impresso esbarra em falta de apoio dos partidos
Lázaro, o ‘serial killer do DF’, é morto pela polícia
Brasileira morre em ataque a faca na Alemanha
Coronavac é segura e induz resposta imune em crianças
Capital vacina hoje pessoas de 44 a 45 anos
Travesti sem-teto tem 40% do corpo queimado em PE
JPMorgan compra 40% do banco digital C6
Mais novos podem ir mais longe, diz 1ª juíza trans dos EUA
Tóquio estudo regras mais rígidas para delegações
Uso de maconha deixa de ser crime no México
Valor Econômico
Congresso discute reduzir tributação de dividendos
Desempenho da indústria é desigual
Etsy, dos EUA, paga R$ 1 bi pela Elo7
J.P. Morgan compra parte do C6 Bank
Sócios acionam Smart Fit às vésperas de IPO
Open banking
EDITORIAIS
O Globo
Escândalos deixam Bolsonaro ainda mais refém do Centrão
É inegável que o governo fica altamente exposto quando o seu líder na Câmara está no centro de denúncias graves
A falta de respostas do presidente Jair Bolsonaro para o escândalo da vacina Covaxin não significa necessariamente que o Planalto não esteja sofrendo abalos, apenas que a terra em Brasília treme silenciosamente. O depoimento-bomba à CPI da Covid dos irmãos Luis Ricardo Miranda, servidor concursado e chefe de Importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, e Luis Claudio Miranda, deputado federal (DEM-DF), jogou no gabinete do presidente suspeitas de corrupção que precisam ser investigadas. Depois de muito relutar, o parlamentar acabou revelando, já tarde na noite de sexta-feira, que o próprio Bolsonaro citara o nome do deputado Ricardo Barros (PP-PR) como responsável pelo “rolo”. Expoente do Centrão, Barros é ninguém menos que o líder do governo na Câmara.
Alçado ao epicentro do escândalo, Barros disse não ter participação nas negociações para compra da Covaxin. Sobre a emenda parlamentar de sua autoria que abriu portas à importação da vacina indiana, alegou não ter sido a única com esse objetivo. E negou relação com a Precisa Medicamentos, intermediária do contrato. No entanto Barros responde a ação de improbidade num outro escândalo envolvendo uma empresa sócia da Precisa, a Global Saúde, na época em que era ministro da Saúde no governo Temer.
Os escândalos começam a se empilhar. O caso Covaxin nem esfriou, e as atenções da CPI já se voltam para as negociações envolvendo a vacina Convidecia, do laboratório chinês CanSino, intermediadas por uma empresa investigada por suspeitas de irregularidades. Independentemente dos desdobramentos políticos, as denúncias precisam ser apuradas, não só pela CPI, mas também pelos órgãos de controle e fiscalização. É preciso haver investigações amplas e isentas.
É inegável que o governo fica altamente exposto quando o seu líder na Câmara está no centro de denúncias graves. Mais que isso, Bolsonaro, num momento em que sua popularidade despenca em meio à gestão desastrosa da pandemia, fica ainda mais amarrado ao Centrão, responsável pela sustentação do governo no Congresso. As declarações dos irmãos Miranda são um sinal de que ele não parecia disposto a contrariar os aliados.
Luis Claudio foi enfático ao dizer que não gravou a conversa com o presidente, mas tanto no Planalto quanto no Congresso ninguém tem muita certeza disso. A pólvora detonada na CPI pode não ter esgotado o estoque. Ele sugeriu uma sessão secreta do irmão com a comissão. Poderá vir mais bomba por aí.
As incertezas sobre o real poder de fogo dos Mirandas acabam também imobilizando a esperada ira do Centrão contra os denunciantes. Todos preferem esperar e, enquanto esperam, o quadro político não muda. A principal consequência é a aproximação ainda maior entre Bolsonaro e o Centrão, cujo interesse mútuo é que tudo seja abafado. Ainda é incerta a extensão do dano político. De concreto, só se pode dizer que o governo está acuado e cada vez mais refém dos aliados.
O Estado de S. Paulo
Os ‘rolos’ e os enrolados
Jair Bolsonaro e seus auxiliares podem jurar inocência, mas há muito a explicar depois das denúncias feitas na sexta-feira à CPI
O presidente Jair Bolsonaro jacta-se de não haver um único caso de corrupção em seu governo, mas a simples declaração de honestidade não torna o governo honesto. É preciso demonstrar, diariamente, cuidado com a administração dos recursos públicos, impedindo o mau uso e a locupletação por parte de espertalhões.
Assim, Bolsonaro e seus auxiliares podem jurar inocência, mas há muito a explicar depois das denúncias feitas na sexta-feira passada à CPI da Pandemia por um funcionário do Ministério da Saúde, Luís Ricardo Miranda, e seu irmão, o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF).
Para resumir, o funcionário relatou que foi pressionado por sua chefia no Ministério da Saúde a dar andamento à compra da vacina indiana Covaxin a despeito de diversas irregularidades no processo. Já o parlamentar contou que levou a informação pessoalmente ao presidente Jair Bolsonaro, que prometeu tomar providências.
Até onde se sabe, nenhuma providência foi tomada, e o contrato suspeito continuou válido. O vultoso negócio, de R$ 1,6 bilhão, foi feito a toque de caixa – em notável contraste com a demora do governo em adquirir outras vacinas.
Também ao contrário do que aconteceu em outras negociações, nesta o governo não pechinchou, pagando pelo imunizante um valor mais alto do que o de outras vacinas – que demoraram a ser adquiridas, segundo o governo, porque, entre outras razões, estavam muito caras.
Além disso, a Covaxin, no momento da assinatura do contrato, ainda não havia sido liberada pela Anvisa, embora o presidente Bolsonaro tivesse garantido que só compraria vacinas aprovadas pela agência sanitária – que, ademais, fez diversas ressalvas sobre a qualidade do laboratório indiano e sobre a vacina em si.
Por fim, mas não menos importante, o negócio com a Covaxin foi o único a ter um intermediário, e cujo pagamento teria que ser feito, adiantado, num paraíso fiscal para uma empresa cujo nome não constava do malfadado contrato.
Segundo o deputado Luís Miranda disse à CPI, o presidente Bolsonaro, ao ser informado por ele sobre o caso, disse que era “mais um rolo” do deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), líder do governo na Câmara. E teria acrescentado que “se eu mexo nisso aí já viu a m… que vai dar”.
Ricardo Barros, veterano do Centrão, é apontado como padrinho da indicação da servidora responsável por dar continuidade ao contrato da Covaxin a despeito das irregularidades. Além disso, o dono da empresa intermediária é sócio de uma firma que, em 2017, quando o ministro da Saúde era Ricardo Barros, vendeu remédios ao Ministério da Saúde e não os entregou – irregularidade pela qual Barros se tornou réu em processo por improbidade administrativa.
O que Bolsonaro teria chamado de “rolo” é, portanto, aparentemente extenso e com muitas ramificações. Se de fato nada fez ao tomar conhecimento das irregularidades, Bolsonaro cometeu prevaricação, um dos tantos crimes de responsabilidade que podem embasar um processo de impeachment – palavra incômoda que tornou a surgir no horizonte de Brasília por conta do escândalo da Covaxin.
A reação do presidente e dos governistas não tranquilizou ninguém. Ao contrário, traiu um nervosismo típico de quem tem algo a esconder. Em vez de mandar investigar o caso, Bolsonaro mandou investigar os denunciantes – e o secretário-geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, chegou a ameaçá-los. Na CPI, a tropa de choque bolsonarista ficou apoplética e, aos gritos, tudo fez para intimidar os irmãos Miranda.
Em sua defesa, Bolsonaro, mais uma vez, alega ser inimputável: “Eu não tenho como saber o que acontece nos Ministérios, vou na confiança em cima de ministros”. Na época, o ministro era Eduardo Pazuello, que nem respira sem autorização de Bolsonaro.
É espantoso que o presidente alegue candidamente desconhecer um negócio malcheiroso da ordem de R$ 1,6 bilhão. O que não espanta, de nenhuma maneira, é a suspeita de que um capa-preta do Centrão apareça como possível pivô do escândalo, e espanta menos ainda que, por isso mesmo, Bolsonaro não queira “mexer nisso aí” – afinal, o presidente não pode se indispor com quem manda.
Folha de S. Paulo
Sensatez eleitoral
Em boa hora, 11 partidos se unem contra o projeto perigoso do voto impresso
A estapafúrdia tese do retorno do voto impresso deixou as cavernas do bolsonarismo para adentrar os salões do Congresso Nacional. Por obra do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a Casa criou, em maio, uma comissão destinada a analisar proposta de emenda à Constituição sobre o tema.
A PEC 135/19, apresentada pela deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF), embora não extinga as urnas eletrônicas, exige que a cédula seja impressa após a votação, para que possa ser “auditada de forma independente”.
Com a temerária chancela institucional à aventura, Lira não só conferiu legitimidade a uma proposta de tintas francamente golpistas como criou oportunidade para ataques à credibilidade do sistema eleitoral brasileiro.
Daí a importância da união de 11 partidos para evitar que esse ovo da serpente venha a ser chocado.
Em videoconferência no sábado (26), os presidentes de PSDB, MDB, PP, DEM, Solidariedade, PL, PSL, Cidadania, Republicanos, PSD e Avante —siglas tanto da oposição como da base de apoio ao governo— rechaçaram a necessidade do sufrágio impresso e reafirmaram a confiança na votação eletrônica.
A articulação recebeu o apoio do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, que presidirá o Tribunal Superior Eleitoral no pleito de 2022. Caso seja aprovado, o projeto inevitavelmente chegará ao STF, abrindo mais um flanco do embate de Jair Bolsonaro com a corte.
Somadas, as agremiações representam 326 deputados federais e 55 senadores. Por mais que os dirigentes partidários não consigam garantir o apoio integral dentro de suas siglas, a mobilização parece suficiente para impedir que a PEC obtenha o necessário apoio de 60% da Câmara e do Senado.
O líder do Solidariedade, Paulinho da Força, chegou a dizer que o movimento “mata o assunto na Câmara”. Que assim seja. Tudo de que o país não precisa neste momento é desperdiçar tempo e energia discutindo mudanças num sistema que há 25 anos funciona bem.
As urnas eletrônicas, cabe lembrar, já passam por verificações periódicas. O que merece de imediato o rigor das instituições, isso sim, são as acusações levianas de fraude lançadas ao vento de tempos em tempos por Jair Bolsonaro.
Valor Econômico
Ações do Centrão na Saúde são encrenca certa para o Planalto
CPI desvela uma rede de interesses ao redor das vacinas, que pode ter consequências explosivas para o Planalto
O governo brasileiro não se esforçou nem um pouco para obter vacinas contra a covid-19. Uma explicação recorrente nas entrevistas do então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, era que elas custavam caro. Era balela. Agora sabe-se algo igualmente grave: com esperta intermediação privada o governo caminhava para a compra de 20 milhões de doses da Covaxin, do laboratório indiano Barhat Biotech, organizada pela Precisa Medicamentos, pelo maior preço de todos os imunizantes que foram oferecidos, R$ 80 ou US$ 16 a dose. Era a mais cara, até o Ministério da Saúde ter assinado carta de intenção para a compra de 60 milhões de doses da chinesa Convidecia, do grupo CanSino, a US$ 17 a dose, uma encomenda de R$ 5 bilhões intermediada pela Belcher Farmacêutica, de Maringá.
Desprezando a oferta de vacinas testadas e comprovadamente seguras, o governo de Bolsonaro deu sinal verde a negociações com grupos privados para obter vacinas ainda sem registro por aqui, a um custo alto e suspeito. No caso da Precisa, de Francisco Maximiliano, a transação, com notas fiscais incorretas e duas tentativas de receber pagamento adiantado, quando o contrato expressamente indicava que isso só ocorreria mediante fornecimento, foi impedida pelo servidor da Saúde, Luiz Ricardo Miranda e seu irmão, o deputado Luis Miranda (DEM-DF). Eles denunciaram irregularidades pessoalmente ao presidente Jair Bolsonaro, que prometeu tomar providências – e ao que se sabe, nada fez.
O deputado depôs na CPI na sexta e disse ter ouvido do presidente da República frases enfáticas: “Vocês sabem quem é, né? (..) Se eu mexo nisso aí você vai ver a merda que vai dar”. Miranda disse à CPI que o presidente se referia a Ricardo Barros (PP-PR), o líder do governo na Câmara dos Deputados. Barros pode ainda estar envolvido na tentativa de aquisição, com intermediação privada, das vacinas da CanSino pela paranaense Belcher.
As suspeitas que se avolumam é que o mesmo governo que não queria vacinas, não se importava se alguém as trouxesse e lucrasse com isso, legal ou ilegalmente, e que o presidente da República não se meteria nisso. Ontem Bolsonaro disse: “Não tenho como saber o que acontece nos ministérios”. Pode ser falta de vontade de saber. Quando tomou conhecimento do fato pelos Miranda, mandou investigar os denunciantes e não as denúncias.
Políticos conhecidos começam a frequentar essas estranhas histórias. O senador Flavio Bolsonaro levou Maximiliano a um encontro com o presidente do BNDES, Gustavo Montezano. Já Ricardo Barros conhece Maximiliano que, como sócio da Global Saúde, deu um golpe de R$ 20 milhões quando Barros era ministro, no governo Temer, e não entregou os medicamentos pelos quais foi pago.
Luis Ricardo Miranda, chefe da divisão de importações do Ministério da Saúde, disse que foi pressionado a aprovar as transações. Roberto Teixeira Dias, diretor de logística do Ministério, segundo o deputado Miranda, dá as cartas sobre o assunto e foi indicado ao cargo por dois parlamentares paranaenses – o ex-deputado Abelardo Lupion (DEM) e Ricardo Barros (Folha de SP, ontem).
Barros foi tesoureiro do PP, o partido mais atingido pela Lava-Jato. Sua mulher, Cida Borghetti, obteve em maio o cargo de conselheira na Itaipu. (O Globo, 27 de junho). Roberto Ferreira Dias, o diretor de logística da Saúde, por onde já passaram R$ 15,7 bilhões para a compra de vacinas, ocupou cargo de servidor na gestão de Cida Borghetti, quando foi governadora após a renúncia do titular Beto Richa (PSDB).
O Centrão loteou o Ministério da Saúde e segue seus instintos ali. Esse foi parte do preço pago por Bolsonaro para conseguir apoio no Congresso e tentar barrar eventual impeachment. “Eu vou na confiança em cima dos ministros”, disse ontem Bolsonaro.
O casamento de interesse pode ter sido abalado pela CPI da Covid. Retirar Barros da liderança já pode denotar confissão de culpa, e algo igualmente sério, trincar a aliança com o Centrão e com Arthur Lira, presidente da Câmara de Deputados. Lira recebe amanhã um superpedido de impeachment de Bolsonaro dos partidos da oposição.
Não fazer nada trará forte desgaste a um governo que diz ser contra a corrupção, enquanto a CPI vai desvelando uma rede de interesses subterrânea ao redor da oportunidade da vez – vacinas – que pode ter consequências explosivas para o Planalto. Ao chamar o Centrão para seu lado, porém, Bolsonaro sabia o tipo de encrenca em que poderia se meter.