MANCHETES DA CAPA
O Globo
Cinco maiores estatais cortam 25% do quadro
CPI mira negócio com vacina chinesa
Enem mais desigual com ensino restrito
Rio crescerá mais em áreas onde há milícias
Sem função definida, Pazuello despacha no Planalto
Obituário – Artur Xexéo, jornalista e dramaturgo
PC amplia presença na vida da China
Extrema direita sofre derrota na França
O Estado de S. Paulo
Intermediária da Covaxin prosperou sob Bolsonaro
Mais vacinas na mira da CPI
Vendas online aumentam a arrecadação de imposto
Os desafios do ensino infantil na pandemia
Alívio no frio da pandemia
1/3 do eleitores bolsonaristas se arrepende do voto
Justiça freia contrato sem licitação do BRT
Sem Neymar e já classificada, seleção só empata
Vôlei é campeão
Chega a 9 o total de mortos em Miami
Trumpismo resiste no interior dos Estados Unidos
Folha de S. Paulo
Há esquemas na Saúde, diz deputado
Saiba como Covaxin, líder e irmãos Miranda podem afetar Bolsonaro
‘Não há dados concretos’, diz líder do governo
CPI quer investigar negociação para vacina da CanSino
País vive apagão de políticas públicas para população LGBTQIA+
Vim abrir portas, diz 1ª executiva trans da Unilever
Minorias sexuais se unem contra fome na periferia
Órban fez dos gays novos inimigos da Hungria, diz casal
Gil do Vigor – Política monetária impacta vida de quem está lá atrás
Pandemia dá impulso a sequestro de dados digitais
Grávida é primeira morta por variante delta no Brasil
Moradores de rua receberão doses da Janssen em SP
Valor Econômico
Para combater a covid, cidades elevam gasto com saúde em 11%
Orçamento secreto entra na mira da CPI
Livraria Leitura, de Minas, agora é a maior do país
Mercado vê futuro positivo para BR como ‘corporation’
Reforma pesa a mão sobre lucro corporativo
EDITORIAIS
O Globo
O que o novo sistema eleitoral de Nova York tem a ensinar ao Brasil
É antigo o problema de escolher o método mais justo de eleição
É provável que o próximo prefeito de Nova York seja um democrata. A dúvida é quem. Treze candidatos concorreram nas primárias do dia 22. Eric Adams lidera a apuração com 31,7% dos votos. Mas ninguém tem certeza se levará mesmo, em razão do novo sistema eleitoral adotado, a votação por ordem de preferência.
Pelo método — similar ao usado em San Francisco, Maine e países como a Austrália —, o eleitor precisa, na hora de votar, ordenar até cinco candidatos segundo sua preferência. Na apuração, caso ninguém obtenha mais de 50% do total, o último colocado é eliminado, e seus votos distribuídos de acordo com a segunda opção. Se o patamar de 50% ainda não tiver sido alcançado, elimina-se o penúltimo e redistribuem-se seus votos. Repete-se o procedimento até alguém atingir 50%.
Por que os nova-iorquinos decidiram adotar um sistema tão abstruso, que torna o voto mais difícil e atrasa os resultados? Não seria mais natural eleger Adams, o mais votado, ou submetê-lo a um segundo turno contra Maya Wiley, a segunda colocada com 22,3%? Defensores da votação preferencial argumentam que não. Dizem que ela afasta a maior chaga da política contemporânea: a polarização. Afirmam que inibe a armadilha do voto útil, abre espaço a candidaturas mais diversas e impede o êxito dos aventureiros.
As evidências em favor dessa visão são frágeis. A FairVote analisou 236 eleições com votação preferencial nos Estados Unidos. Em apenas 15 delas o vencedor não foi o líder na primeira rodada. Em 13 foi o segundo, em duas o terceiro. Em apenas 0,8% dos casos, portanto, as preferências foram distintas do que ocorreria se os dois primeiros se enfrentassem no segundo turno.
O cientista político Jason McDaniel, da Universidade de San Francisco, afirma que o efeito na polarização também é controverso, já que a profusão de opções incentiva o voto segundo estereótipos. Numa pesquisa com várias cidades, ele concluiu que o sistema reduz o comparecimento em até 5%.
É antigo o problema de escolher o método mais justo de eleição. O escritor Lewis Carroll chegou a publicar um ensaio a respeito. O filósofo Condorcet demonstrou que nem toda votação preferencial tem vencedor, pois pode haver resultado circular (o candidato A é preferido ao B; o B ao C; o C ao A). Critérios de decisão como eliminar o último colocado (usado em Nova York) ou atribuir pontos aos candidatos (a “contagem de Bordas”) necessariamente têm custo. Em seu primeiro resultado conhecido, o Nobel de Economia Kenneth Arrow demonstrou ser impossível haver um método eleitoral capaz de, ao mesmo tempo, respeitar a vontade da maioria, apontar um vencedor claro e evitar a armadilha do voto útil.
Em Nova York, complicaram a vida do eleitor para um benefício incerto. É por isso que, no Brasil, precisamos ter cautela com propostas que circulam no Congresso, como a exigência do voto impresso ou as alquimias do distritão e das federações partidárias. Arrow provou que não há sistema eleitoral perfeito. Mas o caso nova-iorquino mostra que sempre dá para piorar.
O Estado de S. Paulo
O País que queremos ser
O Brasil estará condenado a um período de mediocridade caso o próximo governo não seja capaz de oferecer melhores perspectivas para 47,8 milhões de jovens
O Brasil estará condenado a um longo período de mediocridade caso o próximo governo não seja capaz de oferecer melhores perspectivas de vida para os 47,8 milhões de jovens na faixa entre 15 e 29 anos. O mais recente Atlas das Juventudes, realizado pelas redes de organizações Em Movimento e Pacto das Juventudes pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em parceria com a FGV Social, revela que quase a metade deste contingente populacional (47%) sairia do Brasil hoje caso tivesse oportunidade. É muito grave que tantos jovens não enxerguem seu futuro atrelado ao do País. Mais ainda, que não se sintam motivados a tomar parte da construção deste destino.
O desalento de segmento tão expressivo da juventude brasileira é ainda mais preocupante porque o País vive agora o chamado “bônus demográfico”: nunca a população entre 15 e 29 anos foi tão grande em nossa história. A tendência é que, daqui em diante, esta faixa populacional fique cada vez menor. As gerações em plena efervescência criativa e produtiva são o dínamo capaz de levar qualquer país do mundo aonde sua sociedade queira chegar.
Portanto, é muito triste constatar que muitos milhões desses jovens brasileiros sintam como se o país em que nasceram lhes tenha virado as costas. “Não há melhor previsor do futuro do País que o universo dos jovens de hoje”, bem lembraram os pesquisadores da FGV Social, a propósito da publicação da pesquisa Jovens: Projeções Populacionais, Percepções e Políticas Públicas, há poucos dias (ver editorial Retrato da juventude brasileira, publicado em 12/6/2021).
A tempestade perfeita gerada pela confluência das crises econômica e sanitária foi particularmente cruel para a população mais jovem. Do total de jovens entre 15 e 29 anos, nada menos do que 70% afirmam ter dificuldade para encontrar trabalho. O porcentual de “nem-nem”, ou seja, de jovens que nem estudam nem trabalham, nunca foi tão alto: 27,1% dos quase 50 milhões naquela faixa etária, de acordo com o Atlas das Juventudes. Os jovens também foram os que mais perderam renda na pandemia – 11%, de 25 a 29 anos; 17%, de 20 a 24 anos; e 26%, de 15 a 19 anos. Também é o contingente que apresenta a maior involução do índice de Gini, que mede a desigualdade – aumento de 3,8% da desigualdade entre jovens, ante 2,7% do conjunto da população até 2019.
O quadro que se apresenta é o de um país incapaz de instilar esperança. Os jovens brasileiros são os que menos acreditam na progressão de vida por meio do trabalho (70%) na América Latina. Nos vizinhos Argentina e Uruguai, o grau de confiança é de 85% e 84%, respectivamente. Na Bolívia, 91%. Na Colômbia, 89%. No Chile, 87%.
O Atlas das Juventudes também afere a percepção dos jovens sobre a maneira como o presidente da República governa. No período compreendido entre 2011 e 2014, a aprovação foi de 60,6% (57,5% no mundo). Já no período entre 2015 e 2019, a aprovação do governo entre a juventude despencou para 12,1%, enquanto se manteve estável, em média, nos outros países (57,4%). Resta absolutamente claro, portanto, que uma das principais missões do próximo presidente da República será resgatar a confiança dos jovens brasileiros no País. E isto só será possível por meio de políticas públicas responsáveis e muito bem elaboradas e implementadas, especialmente na área econômica, com vistas ao aumento da geração de emprego e renda, e, não menos importante, na área de educação, especialmente afetada pela pandemia e chave para a qualificação desses jovens e para o desenvolvimento do País.
O impacto do descaso do governo Jair Bolsonaro pela educação pode ser sentido até mesmo pelos jovens mais qualificados, que não veem condições de permanecer no Brasil (ver editorial Fuga de cérebros, publicado em 9/6/2021).
“As juventudes têm potencial para protagonizar agendas globais e locais de desenvolvimento social, mas, para isso, precisam do apoio de governos e de outros parceiros”, diz trecho do Atlas das Juventudes. Descuidar deste apoio é um crime contra o futuro do Brasil.
Folha de S. Paulo
O tapetão e a rua
Bolsonaro repete expediente de governantes cujo mandato se encontra sob ameaça
Jair Bolsonaro se vale do jargão futebolístico ao equiparar a CPI da Covid a um “tapetão” —os tribunais esportivos que tomam as decisões fora do campo de jogo, de má fama entre os torcedores.
A palavra foi repetida no sábado (26), durante mais um mal disfarçado ato de campanha eleitoral com aglomeração de motociclistas, desta vez em Chapecó (SC). “No tapetão, não vão levar”, bradou.
À sua maneira tosca, Bolsonaro segue o surrado roteiro de governantes cujo mandato se encontra ameaçado por movimentos dos demais Poderes. Invoca apoios reais ou potenciais no eleitorado e diz-se alvo de um conchavo de raposas políticas contra a vontade popular manifestada nas urnas.
O expediente tem lá seu apelo —e é fato que o Congresso e até o Judiciário colocam na balança os danos de agir contra um presidente que disponha de considerável sustentação na opinião pública. Trata-se, no entanto, de uma demonstração de fraqueza, não de força.
A sustentação parlamentar de Bolsonaro, provida pelo centrão, é interesseira e volátil acima do padrão das tradicionalmente fragmentadas coalizões do país. Tampouco são estanques os humores das ruas, como o presidente terá percebido a esta altura.
O desgaste provocado pela trágica gestão da pandemia derrubou a popularidade do mandatário ao menor patamar desde a posse, além de contribuir para levar o arquirrival Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à liderança das pesquisas para a disputa do Planalto.
Ainda estão por serem conhecidos os desdobramentos do caso Covaxin no Congresso e nas preferências do eleitorado. Fato é que o governo ainda não apresentou uma defesa articulada ante as suspeitas de corrupção na compra da vacina e prevaricação do presidente.
Enquanto seus ministros fazem rosnados desconexos, Bolsonaro não desce do palanque —proporcionando momentos deploráveis como incentivar uma criança a tirar a máscara em Jucurutu (RN).
Parece contar que a complexidade das investigações e dos entendimentos parlamentares esvazie as ofensivas da CPI e dos defensores do impeachment, enquanto a recuperação da economia e o avanço da vacinação jogam a seu favor.
Entretanto esse também é um caminho acidentado. Apesar da melhora dos indicadores e do ambiente internacional favorável, não tardará para que a política econômica do próximo governo entre decisivamente em pauta.
Os fatores de incerteza vão desde os temores de que Bolsonaro escancare ainda mais os cofres públicos para o centrão até declarações de Lula contra o teto de gastos, acentuando o risco de embate entre populismos econômicos.
Turbulências financeiras prejudicam, de imediato, o governante de turno. Se duradouras, suas consequências voltam-se contra o país.
Valor Econômico
Riscos podem atrapalhar a queda da inflação à meta
Apenas políticas monetária e fiscal consistentes poderão assegurar que, de fato, a inflação excessivamente alta volte à meta
A inflação segue muito alta e deve atingir um pico de 8,4% em junho, acumulada em doze meses. Mas o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central antecipa, em seu Relatório Trimestral de Inflação, divulgado na semana passada, que vá entrar numa trajetória de declínio, até chegar a 3,5% em meados do próximo ano, coincidindo com a meta de 2022.
Caso se confirme, será uma considerável desinflação, de quase cinco pontos percentuais. Uma parte se deverá apenas à força da gravidade, assim que se dissiparem choques temporários, como a alta do dólar e commodities. Mas a inflação seria mais persistente se o comitê não tivesse adotado uma postura mais firme, sinalizando que vai retirar todos os estímulos neste ano.
Esse cenário benigno está condicionado a vários riscos. O principal deles é a fragilidade fiscal, que o Banco Central identifica como preponderante, apesar da pequena melhora recente. Na primeira onda da pandemia, os analistas econômicos temeram que a dívida bruta pudesse chegar perto de 100% do Produto Interno Bruto (PIB). Projeções mais recentes de economistas influentes citam percentuais tão baixos quanto 82% do PIB.
Essas revisões representam um alívio, mas não eliminam o risco. Parte da queda se deve à alta inflação interna, que, como dito, chegará a 8,4% em junho. Parte se deve à alta do preços de commodities, que aumenta o deflator do PIB e favorece a atividade econômica e a arrecadação. Caso caia a 82% do PIB, ainda estará cerca de 30 pontos percentuais acima da média dos emergentes.
Sem superávit primário, não se pode falar em sustentabilidade da dívida. São inúmeras as ameaças à disciplina fiscal, como salientou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na divulgação do Relatório de Inflação. “O arcabouço do teto de gastos tem sido desafiado com alguma frequência”, disse. “Temos um ano de eleições pela frente”.
Não é só a política fiscal que coloca uma sombra no cenário de convergência da inflação para a meta. No relatório, o Banco Central publica alguns exercícios sobre os impactos de uma eventual remoção mais abrupta dos estímulos monetários pelo Federal Reserve (Fed). Esse não é o cenário principal, já que o chairman do Fed, Jerome Powell, vem prometendo anunciar seus movimentos previamente.
Mas há riscos relevantes de a inflação americana surpreender para cima, depois dos grandes pacotes de estímulo fiscal e monetário nos Estados Unidos. O fantasma é a repetição do chamado “taper tantrum”, de 2013, quando o então chairman do Fed, Ben Bernanke, removeu estímulos quantitativos que haviam sido injetados em resposta à grande crise financeira de 2008. Na ocasião, o dólar subiu 20% ante o real.
O Banco Central fez alguns cálculos para estimar o que aconteceria com a inflação se houvesse um repeteco do “taper tantrum”. Nessa situação, a inflação de 2022 ficaria em 4,7%, em vez dos 3,5% originalmente projetados. Bem acima do centro da meta (3,5%) e muito perto do teto (4,75%).
Uma outra simulação assume a hipótese de trabalho de que o dólar suba 20% no terceiro trimestre, mas recue no trimestre seguinte. Nesse caso, a inflação de 2022 ficaria até mais baixa do que a meta, em 3,2%. O dólar, num primeiro momento, aceleraria os preços temporariamente, mas depois provocaria uma queda com maior intensidade.
O BC diz que está alerta a esse risco, mas os membros do Copom não o consideram, por enquanto, forte o suficiente para figurar no topo de suas preocupações.
Há um fator, por outro lado, que poderia derrubar a inflação abaixo da trajetória desenhada pelo BC: um recuo nos preços de commodities em reais. Isso poderia ocorrer tanto porque o dólar cairia a cotação atualizada correspondente aos R$ 4,11 vigentes antes da pandemia ou porque as cotações de metais ou alimentos retomariam a sua tendência mais baixa anterior.
Eventos como esse poderiam baixar a inflação de 2022 entre 0,4 ponto percentual e 1,3 ponto percentual em relação ao previsto. Nesse cenário, o índice de preços poderia até cair abaixo do centro da meta, ficando em valores entre 2,2% e 3,1%.
São simulações úteis para quantificar o quanto diferentes choques podem nos afetar, mas é importante notar que se trata de cenários menos prováveis, dependentes de fatores fora do nosso controle direto. Apenas as políticas monetária e fiscal consistentes poderão assegurar que, de fato, a inflação excessivamente alta vá cair à meta.