MANCHETES DA CAPA
O Globo
CBF afasta Cabloco e eleva incerteza da Copa América
Brasil tenta avançar com abertura comercial no Mercosul
Peru tem empate técnico e apuração tensa na eleição
À espera de uma nova retomada
Obituário – Camila Amado, mestra de gerações de atores
Universidades: 30 federais sem verba para fechar o ano
Depois do vírus, violência sufoca Manaus
Aras é favorito a novo mandato na PGR
Tasso Jereissati – ‘O chefe das falhas todas é, sem dúvida, Bolsonaro’
Arsenal desviado da PM vai parar nas mãos de bandidos
O Estado de S. Paulo
CBF afasta presidente depois de denúncia de assédio sexual
PF cita acesso no Planalto a contas sem identidade
Orçamento secreto no STF
Governo ignora lei do Congresso e bloqueia verba
Cresce no País o ‘live commerce’
Setor de carne não garante proteção à Amazônia
Tecnologia antiviral deve sobreviver à covid
Comandante autorizou ação da PM no Recife
Manaus tem onda de ataques do crime organizado
Folha de S. Paulo
Presidente da CBF é afastado para tentar abafar crise
Imunizante recusado da Pfizer iria custar menos
Bolsonaro poderá zerar os crimes de aliados se vetar lei
Bacia do Paraná sente prejuízos da longa estiagem
PM mata líder de tráfico e facção aterroriza Manaus
Angela Olinto – É um desastre quando cientistas não são ouvidos
Valor Econômico
Norma do BC amplia crédito a pequenas e médias empresas
Estados fazem Refis em busca de receita extra
Julgamento do STJ poderá reabrir discussão de R$ 150 bi
M&A; cresce acima do nível pré-crise
Vila Velha avalia venda de Unipar
EDITORIAIS
O Globo
Governo não pode falhar com a ‘geração Covid-19’
Desde o começo da pandemia, o Brasil é destaque na lista das grandes economias que menos ofereceram aulas presenciais a crianças e adolescentes
O Brasil vive duas crises de grandes proporções. A sanitária é a mais urgente e óbvia, com os números de mortos e infectados em patamares elevados, enquanto a vacinação segue em ritmo aquém do necessário. A outra crise, na área da educação, é silenciosa. Não há contagem diária das perdas, nem estatísticas acompanhadas com afinco. Mas nem por isso é menos prioritária.
Desde o começo da pandemia, o Brasil é destaque na lista das grandes economias que menos ofereceram aulas presenciais a crianças e adolescentes. O ensino remoto foi oferecido com resultados irregulares em diferentes partes do país. Isso acarretou grande defasagem na aprendizagem. Na semana passada, o Insper, instituição de ensino superior com sede em São Paulo, e o Instituto Unibanco, fundação voltada para a área da educação com presença em todo o país, quantificaram o prejuízo desse descalabro.
O estudo “Perda de aprendizagem na pandemia”, liderado pelo economista Ricardo Paes de Barros, estima que o déficit de aprendizagem entre os estudantes na reta final do Ensino Médio nas redes estaduais reduzirá entre R$ 20 mil e R$ 40 mil a renda futura de cada um desses jovens ao longo de suas vidas. Somando os estudantes do Ensino Fundamental e todos os do Médio, a perda já é de R$700 bilhões. Se nada mudar, poderá chegar a R$1,5 trilhão.
Para além do prejuízo meramente financeiro, estão em jogo a qualidade da formação das crianças e, portanto, o futuro do Brasil. A boa notícia é que as perdas podem ser mitigadas, com senso de urgência e foco nas três esferas do governo. O estudo relaciona cinco pontos para melhorar a aprendizagem imediatamente:
1) a permanência dos estudantes na escola por meio de ações de combate ao abandono e à evasão escolar, que têm aumentado;
2) a implementação de políticas que busquem ampliar o acesso e a qualidade do ensino remoto;
3) a promoção de atividades que gerem maior engajamento dos estudantes no ensino remoto;
4) o retorno imediato às atividades presenciais nas escolas, mesmo que inicialmente de forma híbrida;
5) ações para a recuperação e aceleração do aprendizado.
O estudo projeta que, caso as aulas com o ensino híbrido sejam retomas e haja maior engajamento, a perda de aprendizagem dos alunos no terceiro ano do Médio pode ser reduzida em até 20%. Tendo em mente que diferentes setores da população foram afetados de forma distinta, é crucial desenhar uma política pública que responda a vários segmentos. Um foco de atenção devem ser os alunos no último ano do Médio, que não têm muitos meses pela frente para recuperar o tempo perdido até aqui.
Num país com uma desigualdade abissal e histórica, a educação é chave na busca da igualdade de oportunidades para crianças e jovens pobres. Uma mão de obra com déficit educacional é certeza de baixa produtividade e também de um crescimento medíocre do PIB no futuro. Por razões econômicas, sociais e até morais, municípios e estados, sob a orientação do Ministério da Educação, têm o dever de encarar esse desafio como prioridade.
O Estado de S. Paulo
Entre a euforia e a fome
Medidas claras, sensatas e bem coordenadas de combate à pandemia, em nível nacional, poderiam ajudar a economia e a criação de empregos
Com menos carne no prato e mais lucros na bolsa de valores, o tema dos “dois brasis” ganha uma versão atualizada. Já não se trata apenas da diferença entre regiões mais e menos desenvolvidas, mas do contraste agora acentuado entre duas populações, uma ainda bafejada pelos ventos da prosperidade e outra condenada a batalhar, no dia a dia, por uma sobrevivência muito difícil. Diante de recordes seguidos no mercado de ações, especialistas preveem o Ibovespa em 145 mil pontos até o fim do ano, com elevação de 22% em 12 meses. Enquanto isso, milhões dependem de campanhas de solidariedade para escapar da fome, embora as feiras e supermercados tenham comida mais que suficiente para alimentar todos os brasileiros.
A alimentação é o mais feio indicador dos problemas de milhões de famílias. O consumo de carne por habitante deve ficar em 26,4 quilos neste ano, segundo estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura. Será o menor volume da série iniciada em 1996. A queda fica mais impressionante quando se toma como referência a média de 2013, pico da série: 96,7 quilos por pessoa.
Mas a carne menos acessível é apenas um símbolo do empobrecimento. A pobreza vem aumentando há anos, especialmente a partir da recessão de 2015-2016, mas o quadro piorou desde o ano passado, quando chegou a pandemia. Apesar do baixo consumo, a inflação subiu e combinou-se de forma desastrosa com o desemprego.
O preço da carne aumentou 35,7% em 12 meses, segundo a última prévia da inflação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor – 15 (IPCA-15). O encarecimento geral do item alimentação e bebidas foi menor (12,2%), mas também essa taxa é muito alta. Além disso, esse dado é uma média. Os componentes são bem piores. O caso da carne é um exemplo expressivo, mas há outros números assustadores. Os preços de óleos e gorduras aumentaram 53,9% nesse período. O item cereais, leguminosas e oleaginosas, incluídos arroz e feijão, encareceu 40,8%. Os preços de leite e derivados subiram 11,3%.
Como outros bens e serviços essenciais também ficaram menos acessíveis, a composição dos gastos ficou mais complicada. Gasta-se energia para cozinhar arroz e feijão. Em 12 meses o item combustíveis de uso doméstico ficou 21,1% mais caro. O principal componente desse grupo é, obviamente, o gás. Também a eletricidade é básica. A tarifa residencial subiu 8%.
A inflação foi em grande parte alimentada pelas cotações externas de alimentos, minerais metálicos e petróleo. Essas cotações, puxadas principalmente pela recuperação chinesa, renderam bons ganhos aos exportadores brasileiros. Mas afetaram os preços cobrados em supermercados e feiras. Além disso, a inflação brasileira foi também turbinada pela alta do dólar, consequência das palavras e atos irresponsáveis do presidente Jair Bolsonaro.
Somada à irresponsabilidade presidencial, a condução precária da política econômica tem favorecido a insegurança nos mercados, o fraco desempenho da indústria de transformação e o prolongamento de altas taxas de desemprego. A desocupação chegou no primeiro trimestre a 14,7% da força de trabalho, com 14,8 milhões de desempregados e, num balanço mais amplo, 33,2 milhões de pessoas subutilizadas. Sem inflação, esses números já indicariam claramente um desastre social. Mas a inflação, além de já ter infernizado a maioria das famílias desde o ano passado, continua acelerada e poderá estourar neste ano o limite de tolerância de 5,25%.
Medidas claras, sensatas e bem coordenadas de combate à pandemia, em nível nacional, poderiam ajudar a aceleração econômica e a criação de empregos. O País fechou o primeiro trimestre ainda com um recuo econômico de 3,8% acumulado em 12 meses. Mas nada autoriza a expectativa de um surto de sensatez, competência e responsabilidade na Presidência da República. No mercado financeiro, continua-se a festejar a expansão de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no período janeiro-março. Milhões de famílias ainda esperam convite para essa festa.
Folha de S. Paulo
Delírios paralelos
Gabinete montado para a pandemia não buscava embate de ideias, mas mistificação
Tratando-se de um governo que dá continuadas mostras de transitar por mundos paralelos, não chegam a causar surpresa as evidências que se avolumam acerca da formação de um “gabinete de sombras” para assessorar o presidente Jair Bolsonaro no combate à pandemia do novo coronavírus.
O assim chamado gabinete paralelo, como se sabe, ganhou projeção com os trabalhos da CPI do Senado. Depois de ocupar a pauta de algumas sessões da comissão, o assunto amplificou-se após a divulgação de um vídeo que registra a proposta de uma estrutura de assessoramento ao governo.
A gravação mostra uma reunião de profissionais da área de saúde, em setembro de 2020, na qual o virologista Paolo Zanotto sugere a Bolsonaro a criação de um grupo à sombra para debater estratégias de enfrentamento da Covid-19, estratagema que pouparia os participantes do crivo da opinião pública.
A reunião é apenas uma peça de um conjunto de indícios sobre a existência de uma rede bolsonarista de aconselhamento, formada por especialistas com ideias peculiares sobre o que seria um “tratamento precoce” da doença, com o uso de drogas sem eficácia demonstrada —caso da cloroquina.
Na quinta-feira passada (3), a Folha trouxe à luz duas lives realizadas no ano passado com a presença do ex-assessor da Presidência Arthur Weintraub e do anestesista Luciano Dias Azevedo. Nas conversas são expostos detalhes da concepção e funcionamento da estrutura de assessoramento criada à margem do Ministério da Saúde.
Numa passagem, Azevedo diz que Weintraub (irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub) foi quem conectou os médicos do grupo, que municiavam Bolsonaro com ideias heterodoxas e fantasiosas sobre como combater o vírus.
Nos diálogos, ambos demonstram pouca preocupação com a falta de comprovação para as prescrições sugeridas e fazem blague com o uso de máscaras protetoras.
Nada impede um governante de colher opiniões de diferentes setores sobre assuntos relevantes para os destinos da nação. Ao contrário, trata-se de boa prática.
No caso em tela, contudo, o que se tem não passa de uma movimentação de marcante viés ideológico, com empenho em negar recomendações hegemônicas no meio científico e oferecer a Bolsonaro um kit de mistificações para alimentar suas convicções esdrúxulas sobre como gerir a pandemia.
Valor Econômico
Acelerar vacinação salvará vidas e apoiará retomada
Que o presidente passe de fato a trabalhar com afinco pelo fim da pandemia no Brasil
Em meio a um dos maiores “panelaços” realizados contra o seu governo, o presidente Jair Bolsonaro prometeu que neste ano “todos os brasileiros que assim o desejarem serão vacinados”. O discurso, feito no seu pior momento em termos de popularidade, mostra alguma correção de rota do mandatário da nação, pelo menos nesse tópico.
Colecionando uma trágica série de erros na condução da pandemia, Bolsonaro passou de alguém que ironizava a imunização – e rejeitava ofertas que poderiam ter salvado muitas vidas – para uma versão que promete vacinar a todos. Apesar de muito atrasada, a mudança no discurso é bem-vinda e deve gerar efeitos positivos para o combate ao vírus, ajudando a reduzir mortes.
Mas precisa ser acompanhada de maior comprometimento e efetividade no processo de vacinação, ainda muito aquém do desejável. Números do consórcio de veículos de imprensa mostram que, em maio, a média diária de imunização foi de 662 mil doses, caindo em relação às 821 mil aplicações diárias no mês anterior e mais distante do número de um milhão de doses diárias que chegou a ser mencionado como ritmo que prevaleceria a partir de abril pelo próprio presidente.
O país sofre com as dificuldades geradas pelos atritos criados por Bolsonaro com a China, que tem atrasado a entrega dos ingredientes farmacêuticos ativos (IFA), com a dificuldade na produção nacional desse tipo de produto e com a tardia chegada das vacinas da Pfizer, cuja demora na aquisição é um dos mais graves erros desse governo.
O fato é que o Brasil precisa acelerar ao máximo a vacinação. Cientistas apontam que o ritmo ideal seria ao menos 1,5 milhão de doses por dia, ou seja, temos que mais que dobrar a velocidade atual. Para um país que já foi referência mundial em vacinação, a realidade é dolorosa.
Em seu pronunciamento abafado pelo “panelaço” da última quarta-feira o presidente voltou a levantar a falsa dicotomia sobre a reação à pandemia e a economia. Destacou que não determinou que as pessoas ficassem em casa, que comércios e serviços e fossem fechados. Mostrou assim que, se passou a entender a importância da vacina, ainda não caiu em si sobre o erro que cometeu ao sabotar as ações de governadores e prefeitos no enfrentamento da pandemia.
A recuperação econômica do Brasil, que cresceu 1,2% no primeiro trimestre e, pelas indicações do momento, deve encerrar o ano com alta acima de 4%, é uma boa notícia e ele fez questão de mencionar em sua fala. Mas ocorre em meio a um período trágico da nossa história, com milhares de mortes evitáveis, baixa geração de empregos e em meio a um mar de incertezas adiante. Obviamente, isso foi omitido por ele, que com sua inépcia para gerenciar as ações e reações à pandemia, tem grande responsabilidade nessa tragédia.
Com o atual ritmo de imunização, os riscos de uma terceira onda da covid-19 no país já começam a dar sinais de materialização. Como Bolsonaro, governadores e prefeitos vão reagir ainda é uma incógnita. Não fosse a inépcia na condução da pandemia, a recuperação da atividade econômica teria sido mais intensa e, principalmente, com melhor qualidade, gerando mais empregos e contendo a tragédia que tem sido o aumento da pobreza e desigualdade nessa pandemia. Países como Israel, Estados Unidos, após a chegada de Joe Biden ao poder, e muitos da Europa estão aí para provar que uma condução responsável traz frutos para a saúde e para o PIB.
Medidas de paralisação de atividades sem sabotagem presidencial poderiam ter sido mais curtas e ao mesmo tempo mais efetivas para reduzir as mortes, permitindo assim um custo menor e uma retomada mais forte da economia. O setor de serviços, que, apesar de uma melhora nos dois últimos trimestres, ainda é o que mais sofre com o vírus sem barreira efetiva de contenção.
O mais grave é que o governo sabe disso. Bolsonaro, teimosa e irresponsavelmente, bateu o pé e fixou sua trincheira do lado errado da história. A mudança no discurso sobre a vacinação é importante, porém insuficiente. É preciso que ele também fale sobre a necessidade de se cuidar, usar máscara, manter o distanciamento entre as pessoas e dar exemplo de responsabilidade, não promovendo, por exemplo, aglomerações.
Que o presidente entenda o recado das panelas e das manifestações que se espalham pelo país e passe de fato a trabalhar com afinco pelo fim da pandemia no Brasil. A vida e a economia agradecem.