A história já demonstrou, no Brasil e no exterior, que as grandes conquistas da humanidade no campo social se dão pelo convencimento, pelas boas ideias, pelas campanhas honestas de fundamentação humanista. Ninguém consegue impor nada a ninguém por muito tempo pela força ou manipulação.
A campanha Outubro Rosa, iniciada de forma incipiente nos Estados Unidos em 1990 e em 2002 no Brasil, é uma dessas iniciativas de sucesso, e que conta com adesão voluntária crescente, com ampla repercussão no contexto da saúde da mulher. Converteu-se em valioso instrumento para consolidar as políticas públicas de prevenção e diagnóstico precoce de câncer de mama e também do colo do útero.
Quando prédios púbicos e privados se iluminam à noite com a luz rosa, na verdade estão iluminando um esforço da sociedade para além do Estado no sentido de dar às mulheres mais dignidade, mais saúde, mais qualidade de vida.
Entretanto, se as estatísticas oficiais e de instituições especializadas apontam avanços nesse segmento de política de saúde da mulher, percebe-se também que há muito ainda para se conquistar em nosso país.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), em 2018 o Brasil foi o segundo país do mundo em incidência do câncer de mama, 62,9 casos para cada grupo de 100 mil mulheres. Porém, com campanhas e utilização do nosso sistema de saúde, ainda que sofrível, a taxa de mortalidade foi de 13 pessoas para o mesmo grupo de análise. O número nos é favorável – o segundo mais baixo entre os países pesquisados. Estamos melhor que França e Reino Unido e ao lado de Estados Unidos, Canadá e Austrália.
Quando se analisa os casos de câncer de mama em todo o país, em 2.000 tivemos 17,6% deles diagnosticados na fase inicial, a com melhores condições de tratamento. Esse índice subiu em 2015 para 27,6%, uma conquista importante, mas que empalidece quando os números são seccionados por região. No Norte subiu para apenas 12,7% enquanto no Sul foi de 29,2% e no Sudeste, 30,8%. Ou seja, esse desiderato precisa ser superado, e com urgência.
O desequilíbrio regional também se verifica em relação ao exame de rastreamento a cada dois anos, preferencialmente para a faixa etária feminina de 50 a 69 anos. A Pesquisa Nacional de Saúde indica uma abrangência nacional de 60%, mas esse percentual se altera muito nas regiões: Sudeste (67,9%), Sul (l64,5%), Nordeste (49,9 %) e Norte, 38,7%.
Estima-se que em 2014 tivemos no Brasil 2,5 milhões de exames de mamografia, alcançando 24% das mulheres, muito abaixo do que recomenda a OMS, 70%.
A sociedade e suas instituições têm muito a contribuir nesse amplo programa de saúde. Por isso, destacamos projetos como o Fome e Sede de Justiça, da Federação das Entidades Cristãs do Maranhão, que chega sempre perto da população mais carente com a carreta Saúde da Mulher. No Congresso, antes como deputada e agora como senadora, faço questão de alavancar emendas de investimento para a área de saúde, que incluem as mulheres.
Uma ponderação importante às mulheres: o autoexame é importante e é possível fazê-lo no recinto do lar. Mas ele não substitui, em hipótese nenhuma, a mamografia.
A saúde das mulheres é vital à saúde da sociedade.
Eliziane Gama é senadora pelo Cidadania do Maranhão