Os Paulos Coelhos arrependidos do petista prosperam mais rápido, e com mais facilidade, do que os do ex-presidente
A bruxa anda solta e agora é o governador Tarcísio de Freitas que está com crise renal e teve de cancelar uma agenda internacional, mas esses solavancos servem como freios de arrumação, com mais sangue-frio e a retomada de agendas internas importantes. Com o cancelamento da ida do presidente Lula à China, por exemplo, estão para ser anunciados a âncora fiscal, a paz no Congresso e o reinício da tramitação das medidas provisórias.
Lula chega ao fim do terceiro mês com dois problemaços que se retroalimentam: um é a percepção generalizada de que ele está sem rumo e o governo não vai bem; o outro é que isso não apenas dá discurso para o bolsonarismo como reforça o medo, ou pavor, da volta de Jair Bolsonaro. Que, aliás, está chegando da Flórida, com salário graúdo, casa alugada, microfones, holofotes e a capacidade de enrolar tantos, por tanto tempo.
Se há dúvidas sobre a frustração em relação a Lula, basta ver a reação do escritor Paulo Coelho, ao declarar que, depois de décadas de apoio, começa a achar que seu empenho pró-Lula na campanha não valeu a pena: “O mandato é patético”, tascou. Paulo Coelho não é qualquer um e o adjetivo não é nada sutil. Foi um ataque frontal, que enfraquece Lula e fortalece o bolsonarismo.
É hora de Lula parar de falar besteiras e de ele e os seus deixarem Sérgio Moro de lado e esquecerem a versão de “armação” para as ameaças de morte apuradas pela PF. É hora também de ministros trabalharem a favor do plano fiscal, de o ministro das Comunicações medir as palavras contra jornalistas ao vivo, de PT e Planalto deixarem de tratar o BC como inimigo n.º 1.
É hora, enfim, de o governo mostrar serviço, inclusive no meio ambiente. O tempo está passando e, até agora, ou faz muito barulho por nada, ou está muito silencioso onde deveria fazer barulho. É dar sorte para o azar, azar para a sorte e reanimar o bolsonarismo, que foi derrotado, mas não está morto e sobreviveu até ao escândalo das joias de R$ 16,5 milhões.
Enquanto setores do governo e do petismo reagem da pior forma, com teimosia e arrogância, dobrando a aposta na tese de uma “armação” de Moro no tal plano de morte, o bolsonarismo vai nadando de braçada e se deliciando com as comparações entre Lula e Bolsonaro, os que falam demais, lançam fake news e vivem de ódio, inimigos, guerras.
Qualquer comparação entre os dois é péssima para Lula, mas Bolsonaro não tem nada a perder. Dê no que dê, caia chuva ou trovoada, seus devotos são fiéis e, hoje, os Paulos Coelhos arrependidos de Lula prosperam mais rápido, e com mais facilidade, do que os de Bolsonaro. Todo cuidado é pouco. (O Estado de S. Paulo – 28/03/2023)