Pela primeira vez na história, Cidadania tem uma mulher trans na direção do partido

A arquiteta e vice-presidente do Lola, Mari Valentim, foi eleita durante o 20º Congresso Nacional da sigla

Uma mulher trans liberal, que conseguiu sua liberdade de gênero tardiamente, e hoje tem seu nome em cargos importantes. Vice-presidente do Lola no Brasil (Ladies of Liberty Association) e conselheira do Movimento Livres, Mari agora também faz parte do quadro de direção do Cidadania. Ela foi eleita no último sábado (12), durante o Congresso Nacional do partido.

Na entrevista abaixo, realizada nesta quarta-feira (16), a arquiteta fala da importância dessa representatividade, em um partido político que já tem 100 anos, e da necessidade de que outras siglas sigam o exemplo. Dos 33 partidos políticos, apenas três contam com mulheres trans em cargos de direção.

Mari também vê a possibilidade de ser candidata a deputada distrital, para trabalhar ainda mais por pautas que priorizem as minorias, como a comunidade LGBTQIA+.

Confira:

1 – Qual a importância de uma mulher trans chegar à direção nacional do Cidadania, após 100 anos de sua fundação?

É um fato histórico, um avanço civilizatório porque coloca outras minorias que não estavam representadas dentro da direção no partido. Tenho forte ativismo social, dentro e fora do partido, mas, para além da representatividade, vejo também na eleição para o Diretório Nacional um reconhecimento do partido e da militância à minha competência. Veja essa não apenas como uma conquista pessoal, mas de toda a sociedade. Isso manda um recado para toda a política brasileira.

2 – Você se define como liberal social. O partido é de origem comunista, se tornou social-democrata e caminha entre a social-democracia e o liberalismo social. Como você se situa no partido?

O partido tem uma proposta de renovação, de estar nesse local do século 21 e eu acho isso fundamental. O Cidadania pode fazer muito bem esse meio de campo que falta na política brasileira entre liberais e sociais-democratas. Juntos, esses dois grupos podem constituir uma força relevante na política brasileira. O Cidadania avançou bastante em pautas liberais e me sinto à vontade para contribuir com a construção de um projeto político democrático alternativo para os brasileiros.

3 – Você colocou seu nome como pré-candidata a distrital?

Ninguém é candidata de si mesma. Tenho história e serviços prestados à causa da inclusão e da diversidade. Atuo junto a mais de 10 grupos liberais de Brasília. Se esses movimentos virem em mim a oportunidade de levar nossas pautas para a Câmara Legislativa, meu nome está à disposição. Tenho sido procurada para essa construção e o partido está me apoiando nessa jornada.

4 – Quais temas você pretende trabalhar?
A questão da empregabilidade, do livre mercado, do livre comércio. Aqui em Brasília, por exemplo, temos uma das maiores taxas de desemprego do país. E, por ser uma cidade de muitos funcionários públicos, temos essa dificuldade. O funcionalismo público não dá conta, com toda essa grandeza que Brasília se tornou, com quase 3 milhões de habitantes. Enquanto arquiteta, estou dentro da revisão do plano diretor, então penso em um urbanismo mais competitivo, mais pró-mercado. Um mercado forte e uma livre iniciativa forte geram emprego, essa dignidade a muitas pessoas. E, como mulher trans, tenho essa pauta dos direitos humanos, das minorias, das mulheres, da comunidade LGBTQIA+.

5 – O que significa o Lola na sua trajetória?
Eu entrei no Lola a convite da Cecília Lopes em 2018. Era um movimento que não existia no Brasil, que era uma opção liberal ao feminismo, porque no Brasil o feminismo de esquerda predomina até hoje. Então eu vim construir esse movimento. Cada dia, ele ganha mais protagonismo e, por ser um movimento que existe em mais de 20 países, mais de 60 cidades do mundo, apesar de ser um movimento liberal que é tido como burguês, ele é mais forte em países da África e da Ásia. E eu assumi a vice-presidência do Lola no Brasil. Isso foi um marco para uma mulher trans, esse reconhecimento profissional e social. Então, essa atuação no Lola é um dos fatores que pesaram na minha indicação para a Direção do Cidadania.

6 – E o que representa o Livres nessa sua trajetória de construção profissional?

O Livres foi a minha volta para a política, em 2016. Me apaixonei pelas ideias porque ele propõe um liberalismo diferente do que eu estava acostumada a lidar. O Livres trabalha essa ideia da liberdade econômica e das liberdades individuais desde o início. E era o que eu buscava. A minha defesa da liberdade tem a ver com isso, porque eu buscava a minha liberdade de gênero, o que consegui tardiamente. O Livres, onde também sou conselheira, veio abraçando essas ideias que já eram minhas. E passei a atuar na política. Do ponto de vista pessoal, fico feliz porque é um reconhecimento à minha competência como executiva. Na perspectiva social, mostra que o liberalismo no Brasil também está aberto à diversidade, que não pode ser só um chaveirinho de militância e tem de estar também em posições de liderança.

7 – Qual o recado que você deixa?

O movimento LGBTQIA+ por muitos anos foi utilizado como massa de manobra, não havia espaço para atingirmos cargos de liderança. E a maior prova disso é que hoje, dentro dos 33 partidos, apenas 3 têm uma mulher trans na sua direção. E, nisso, o Cidadania está se mostrando um partido antenado com a questão do século 21, que alia representatividade, diversidade, competência e protagonismo. É importante haver esse espaço dentro dos partidos. Precisamos de mais pessoas LGBTQIA+ liderando projetos e articulando políticas para além da militância em suas áreas de atuação.

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