Patrícia Parra: Federação do Centro Democrático

O Brasil tem um sistema partidário disfuncional com 33 partidos registrados no TSE. Existe uma dificuldade imensa em negociar e construir coalizações e consensos com tantos atores envolvidos. A reforma eleitoral que introduziu a cláusula de barreira progressiva por eleição foi feita exatamente para corrigir o sistema de forma gradual, induzindo partidos pequenos a se fundirem com partidos maiores. A aprovação das federações partidárias forneceu um novo modelo para essa consolidação partidária: uma federação por 4 anos. Com a federação é possível conviver e negociar com os membros de outro partido durante 4 anos, antes de uma fusão de fato. Podemos e devemos aproveitar essa oportunidade para construção de um centro democrático no país.

O mundo vive um período de extremos. Na história humana esse é um filme repetido. Hobsbawn em “Era dos Extremos” nos conta a ascensão e derrocada dos extremos. O refluxo disso, a busca por um caminho de equilíbrio da democracia onde esquerda e direita confluíram para o centro com consensos sobre bem estar social e economia de mercado, nos brindou com a melhoria de todos os indicadores de desenvolvimento humano nas décadas de 90 e nos anos 2000, como aponta Steven Pinker no livro “O novo iluminismo”.

É esse novo iluminismo que proponho para o nosso partido. Um caminho trilhado pela razão, pela ciência e pelo humanismo. É o caminho do centro democrático, onde poderemos trabalhar pela construção de consensos mínimos para o desenvolvimento do nosso país. Longe do passado onde a corrupção roubou mais que os cofres públicos, roubou o debate sobre nossos problemas econômicos e sociais e sobre o futuro que queremos construir.

Uma aliança com o PODEMOS e Sérgio Moro retornaria a esse passado que deveria estar nos processos penais, e não na arena política. Uma aliança com o PT também seria nos prender ao passado, que além da corrupção, nos legou a pior recessão de nossa história que culminou com o impeachment da presidenta Dilma. O PT tenta apagar o período de 2014 a 2016, e é nosso dever nunca esquecer.

Precisamos olhar para o futuro e não só para a eleição de 2022. É natural que nossos mandatários e todos aqueles que pretendem enfrentar as urnas busquem o melhor caminho eleitoral. No entanto, o partido, com seus milhares de filiados, deve buscar além, deve buscar a construção de um legado para as futuras gerações que levarão essa magnífica História centenária para frente.

O PCB escolheu o caminho do socialismo democrático já na década de 60, enquanto o mundo ainda olhava as revoluções com esperança. A transição para o PPS deixou ainda mais claro esse caminho. O socialismo democrático é a social-democracia que pouco difere do pensamento social-liberal. É o caminho que os partidos de esquerda moderados europeus seguiram com sucesso, e construíram o modelo de desenvolvimento com o qual sonhamos.

Também sonhamos em legar um mundo habitável para os nossos netos e bisnetos. Para isso, precisamos lidar hoje com a emergência climática, que demandará a maior mudança energética desde o começo da revolução industrial: o abandono do uso do carvão e dos combustíveis fósseis. Esse debate não pode esperar, e fazer essa transição para uma economia de carbono zero demandará a formação de lideranças comprometidas com a ciência e o futuro. Demandará a união de pessoas e inteligências que possam em conjunto forjar um caminho.

Esse caminho pode ser capitaneado por uma federação entre o Cidadania e o PSDB. Esse primeiro movimento poderá ser o embrião da convergência entre os partidos e pessoas que buscam a razão e a sensatez no debate público, o Centro Democrático.

Patrícia Parra é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental

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