MANCHETES DA CAPA
O Globo
Sem oxigênio, Manaus vê mortes por asfixia nos hospitais
Estados cobram definição de logística da vacinação
Rio tem ‘plano B’ e ato no Cristo para imunização
Após crise, BB pode rever enxugamento
STF vai limitar prazo de decisões monocráticas
Usuário do WhatsApp terá de compartilhar dados com Facebook
‘Faço filme para o público, não para crítico
Congresso da CDU escolhe sucessor de Merkel no partido
Biden anuncia US$ 1,9 tri para Covid e economia
O Estado de S. Paulo
Pacientes morrem por falta de oxigênio em hospitais de Manaus
Salas do Enem poderão ter até 80% de ocupação
Celso de Mello – Reduzir poder de governador é ‘inaceitável’
Carlos Zartenga – ‘Ainda vale a pena investir no Brasil’
Ozires Silva – País precisa de ‘espírito empreendedor’
Promessas do Planalto esbarram em limites do Orçamento
Plano de estímulo de Biden soma US$ 1,9 tri
Folha de S. Paulo
Sem oxigênio e com disparada de casos, Manaus mergulha no caos
Fornecedora estuda trazer da Venezuela produto que falta na capital do AM
No Butantan, mulheres dominam a inspeção
Em 14 dias, cidades em SP já têm mais óbitos do que em novembro
Com avanço da Covid, oito estados estão com mais de 80% das UTIs ocupadas
Brasil prepara avião, só que Índia não confirma exportação de doses
Pazuello afirma que vacinação vai começar no dia 20
Reino Unido proíbe entrada de viajantes do Brasil
Alcance do Bolsa Família cai após término do auxílio
Lira me esganou e me usou como laranja, diz ex-mulher
Sob pressão de Bolsonaro, BB pode rever cortes
Pacote do governo de SP prevê R$ 8 bi de economia
Biden prepara pacote de US$ 1,9 trilhão contra crise
Valor Econômico
João Doria acusa Bolsonaro de ação ‘desumana’
Ativista da solidariedade
Manaus vive situação dramática
Oferta por Carrefour resiste à pressão da França
ECB vende 1 bilhão de litros de diesel “verde” para a BP
Questão Brasil
Campos Neto age para segurar presidente do BB
EDITORIAIS
O Globo
Governos precisam priorizar volta às aulas presenciais com segurança
Manter os alunos afastados da escola provoca prejuízos às crianças — e não só pedagógicos
Apesar do significativo aumento de casos de Covid-19 no país a partir de novembro, de modo geral as atividades não foram paralisadas. Restaurantes, bares, boates, academias, cinemas, shoppings continuam em funcionamento. Mas a reabertura das escolas, que permaneceram fechadas a maior parte de 2020, ainda é marcada por incertezas.
Muitas prefeituras já anunciaram para o inicio de fevereiro a volta às aulas. A menos de um mês do retorno, contudo, faltam planos para a retomada. Pais, alunos e professores não sabem se as aulas serão presenciais, se continuarão remotas ou se haverá um sistema híbrido. Por vezes, nem há definição sobre data. Como mostrou reportagem do GLOBO, de 12 municípios da Região Metropolitana do Rio, apenas três (Belford Roxo, Magé e Guapimirim) fixaram prazo para o retorno e, mesmo assim, de forma semipresencial.
Estudos mostram que manter os alunos afastados das salas de aula traz prejuízos às crianças, não só pedagógicos, mas também de ordem psicológica e de segurança — a violência doméstica aumentou na pandemia. Sem falar que amplia o abismo já existente no ensino do país. Segundo a Secretaria municipal de Educação do Rio, 77 mil alunos, que representam 12% do total, não puderam acessar as aulas remotas. O ano deles foi perdido. Mesmo entre os 88% que estudaram à distância, não se sabe o percentual daqueles que efetivamente conseguiram acompanhar as aulas.
Em carta enviada na semana passada aos prefeitos e prefeitas recém-eleitos no Brasil, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) pede que priorizem a educação e a reabertura segura dos estabelecimentos. “As escolas devem ser as últimas a fechar e as primeiras a reabrir em qualquer emergência ou crise humanitária. É fundamental empreender todos os esforços necessários para que as escolas de educação básica reabram no início deste ano escolar, em segurança”, diz o documento. O movimento Todos pela Educação também deflagrou uma campanha com orientações às prefeituras para permitir um retorno seguro às salas de aula.
Governos devem aproveitar este início de ano para dar prioridade à educação — o que não aconteceu em nenhum momento dos 11 meses de pandemia. As crianças não estão entre os grupos mais vulneráveis ao novo coronavírus. Vários países que decretaram lockdown devido à segunda onda de Covid-19 mantiveram escolas abertas.
Os danos de fechá-las vão além do ano perdido. Teme-se que os estudantes que não conseguem acompanhar as aulas acabem deixando a escola. Desalentador para um país em que a educação deveria ser prioridade. Já é fato que a pandemia comprometeu seriamente o presente. Não se pode deixar que comprometa também o futuro.
O Estado de S. Paulo
O penoso caminho da vacina
Enfim, o governo federal parece dar-se conta de que, para superar a pandemia do novo coronavírus, não há elixir mágico e é preciso vacinar a população.
Enfim, o governo federal parece dar-se conta de que, para superar a pandemia do novo coronavírus, não há elixir mágico e é preciso vacinar a população. Segundo o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a vacinação contra a covid- 19 deverá começar na próxima quarta-feira, dia 20.
Talvez esse longo e tortuoso processo para o início da vacinação tivesse sido um pouco mais breve e retilíneo – gerando menos apreensão na população –, se o presidente Jair Bolsonaro e o intendente Eduardo Pazuello tivessem assimilado uma das habilidades previstas para o 7.º ano do Ensino Fundamental na Base Nacional Comum Curricular. Trata-se de documento de caráter normativo que define as aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica.
A décima habilidade prevista na área de ciências para alunos do 7.º ano (12 anos) é “argumentar sobre a importância da vacinação para a saúde pública, com base em informações sobre a maneira como a vacina atua no organismo e o papel histórico da vacinação para a manutenção da saúde individual e coletiva e para a erradicação de doenças”. A Base Nacional Comum Curricular, na parte referente ao Ensino Fundamental, foi aprovada em 2017.
De fato, parece que Jair Bolsonaro e Eduardo Pazuello tiveram dificuldades com a habilidade prevista para a garotada de 12 anos. Ao longo dos últimos meses, por exemplo, trabalharam como se não soubessem que a vacinação contra a covid-19 exige seringa e agulha. Agora, no entanto, parecem ter finalmente captado que a população quer a vacina. E desejam transformá-la em um grande palanque eleitoral.
Antes mesmo de ser divulgada a data de início da vacinação, o Ministério da Saúde informou que haverá na próxima terça-feira, dia 19, um evento no Palácio do Planalto para festejar a vacina. Não sabe se haverá seringa e agulha para todos – sete Estados não têm estoque suficiente de seringas e agulhas para vacinação contra a covid-19 –, mas o Ministério da Saúde já definiu qual será o slogan da cerimônia: “Brasil imunizado, somos uma só nação”.
Depois de tantas dificuldades colocadas pelo governo de Jair Bolsonaro para a vacinação contra a covid-19, a ideia de realizar um evento festivo-eleitoral no Palácio do Planalto soa a escárnio contra a população. Não há notícia de algum governo no mundo que tenha tido o descaramento de começar a vacinação contra a covid-19 com um evento em sua sede oficial. Em geral, como o bom senso e a saúde pública recomendam, os esforços estão voltados para vacinar os grupos prioritários. O evento do dia 19 é mais um sintoma das enormes dificuldades de Jair Bolsonaro e Eduardo Pazuello para “argumentar a importância da vacinação para a saúde pública”.
A corroborar que o Palácio do Planalto vê a vacina como questão político-eleitoral, o governo federal informou que proibirá a aquisição de vacinas por empresas para imunização de funcionários. A notícia foi dada no dia 13 por representantes dos Ministérios da Saúde, das Comunicações e da Casa Civil a empresários, em reunião organizada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
A vacinação contra a covid-19 promovida por empresas para seus funcionários pode reduzir os gastos públicos e agilizar o processo de imunização da população, além de favorecer o retorno à normalidade da atividade econômica, com consequências positivas sobre o emprego e o ambiente de negócios. Fornecer ou não vacina para funcionários é uma decisão unicamente empresarial na qual governo algum deveria se meter. No entanto, o liberal governo de Jair Bolsonaro prefere declarar que a vacinação contra a covid-19 é monopólio estatal.
É impressionante a capacidade do governo de Jair Bolsonaro de transformar até mesmo aquilo que seria uma boa notícia – a disponibilidade de vacinas contra a covid-19 para a população –, num grande imbróglio. O penoso quadro revela a importância de cuidar da educação de todas as crianças, para que todas elas, sem exceção, desenvolvam as habilidades previstas na idade correspondente. Com isso serão evitados muitos problemas no futuro.
Folha de S. Paulo
Miopia à francesa
Macron fala bobagem sobre soja, mas cerrado merece tanta atenção quanto Amazônia
Qualquer pessoa com conhecimento sobre commodities entende que o presidente da França, Emmanuel Macron, falava para seu público interno ao desfechar o ataque à soja brasileira, na terça-feira (12), numa rede social. Não é só no Brasil que políticos oportunistas alvejam desafetos estrangeiros para recauchutar sua imagem doméstica.
A ideia de que agricultores franceses possam plantar quantidade suficiente do grão para tornar aquele país autossuficiente é risível, para não falar da clara impossibilidade de competir em preços com o produto brasileiro.
A desculpa de que toda a soja exportada seja oriunda de desmatamento na Amazônia tampouco se sustenta, mas o vínculo entre esse cultivo e a perda de vegetação natural merece exame mais cauteloso.
O primeiro ponto a considerar é a existência de uma moratória para a comercialização de soja proveniente de áreas amazônicas devastadas recentemente.
Apesar dela, artigo de pesquisadores do Brasil, da Alemanha e dos EUA publicado há seis meses no periódico Science estimou que 500 mil toneladas do grão exportado daqui para a União Europeia podem estar contaminadas por desmatamento ilegal na Amazônia.
Isso corresponde a menos de 4% do total embarcado do Brasil para a UE, cerca de 14 milhões de toneladas. Além disso, só uma parte terá sido colhida em áreas desmatadas ilegalmente, pois mesmo propriedades com passivo ambiental possuem áreas de cultivo autorizado, e apenas uma pequena parcela terá seguido para a França.
De um ponto de vista quantitativo, o ataque de Macron parece insustentável. Dito isso, há que assinalar o fato de a maior parte da soja brasileira exportada para a Europa ser oriunda não da Amazônia, mas do bioma cerrado, de onde teria saído outro 1,4 milhão de toneladas sob suspeita.
A atenção de Macron e do público se volta para a floresta amazônica, por sua biodiversidade e pela aceleração das derrubadas no governo de Jair Bolsonaro, que não faz questão de disfarçar sua agenda antiambiental. Entretanto cumpre apontar que o cerrado —não menos importante do ponto de vista ecológico— sofre pressão maior.
A savana que cobre o Centro-Oeste perdeu 7.340 km² no último ano, ante 11.080 km² na Amazônia, cuja área é mais de 100% maior. A expansão da soja, assim como a da pecuária, do milho e do algodão, está na origem dessa devastação mais pujante e menos valorizada.
O avanço desordenado da fronteira agrícola pode bem tornar realidade, em alguns anos, a acusação lançada hoje sem conhecimento de causa por Emmanuel Macron.
Valor Econômico
Os sinais ruins que deixa a saída da Ford do Brasil
A reestruturação da produção automobilística global e as dificuldades em lidar com ela têm um papel central na decisão da Ford
A decisão da Ford de encerrar a produção de veículos no Brasil despertou forte reação no país. As manifestações foram das mais sentimentais às mais ríspidas. Não faltaram nas redes sociais o desfile de fotos de modelos icônicos de automóveis, que marcaram os pouco mais de cem anos da marca no país, e a lembrança da Fordlândia, que a empresa projetou em plena Amazônia.
O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que a montadora ganhou bastante dinheiro no país e deveria ter ficado um pouco mais. O presidente Jair Bolsonaro, bem ao seu estilo, elevou o tom e disse que faltou à empresa falar a verdade: teria saído porque não conseguiu mais subsídio. A Ford justificou a decisão pela necessidade de cortar custos. Indústrias se queixam da elevada carga tributária brasileira e analistas falam dos desafios que o setor automobilístico enfrenta em um mundo que demanda cada vez mais máquinas eficientes e de energia limpa. A realidade tem um pouco de cada um desses elementos.
Primeira montadora a se instalar no Brasil, em 1919, a Ford já vinha dando sinais de mudança de planos no país. Há algum tempo não eram anunciados investimentos importantes, especialmente em cenário de mudança de paradigma, como a transição para o automóvel elétrico. A Ford teve bons resultados no início deste século, se recuperando da queda da produção na década de 1990. Em 2010, chegou a fabricar 353 mil veículos. Mas voltou a perder espaço no mercado, afetada pela recessão do segundo mandato do governo de Dilma Rousseff.
Cinco anos depois, a produção havia encolhido em quase um terço, patamar em que estacionou, enquanto os concorrentes ganhavam terreno, quando a economia permitia. Diminuiu ainda mais em 2019 quando anunciou o fechamento da fábrica de caminhões e do Fiesta, em São Bernardo do Campo (SP). No ano passado, fabricou 227,2 mil veículos. Ainda assim, e apesar da pandemia, ficou na quinta posição no mercado, com a significativa participação de 7,14%, à frente de outras grandes, como a Renault e a Toyota. Agora, vai encerrar ao longo do ano a produção de veículos em Camaçari (BA) e Horizonte (CE), além da fabricação de motores em Taubaté (SP).
No total, estima-se a perda de 5 mil empregos diretos. A conta não envolve os numerosos empregos indiretos em uma cadeia de produção longa, que inclui produtos químicos, borracha, metais e componentes eletrônicos.
Bolsonaro reagiu negativamente ao anúncio da Ford. Segundo ele, o verdadeiro motivo da saída da empresa do Brasil foi que o governo não aceitou dar mais subsídios. O presidente informou que a montadora recebeu R$ 20 bilhões em incentivos públicos. Os números podem não ser exatamente esses, mas as montadoras vêm recebendo, de fato, muito estímulo ao longo do tempo. Só neste ano o gasto tributário previsto com o setor automotivo é de R$ 5,9 bilhões. Dados da Receita Federal mostram que, em dez anos, incluindo este ano, o gasto tributário com o setor chegou a R$ 48,5 bilhões, em valores correntes, ou R$ 56,1 bilhões, a preços de dezembro de 2020 (Valor 14/1). Os valores se referem apenas aos subsídios federais. Há ainda incentivos regionais, além de não raros estímulos municipais.
Outras montadoras encerraram algumas linhas nos últimos dois anos. A Audi suspendeu a produção no Paraná; e a Mercedes-Benz a de automóveis de luxo. A fusão da Fiat com a Peugeot, que avançou neste início de ano, também deverá ter desdobramentos no país.
A reestruturação da produção automobilística global e as dificuldades da Ford em lidar com ela têm um papel central em sua decisão. A indefinição da, ou falta de, política brasileira para o setor – embarcar no carro elétrico, ou em um híbrido com fonte limpa, como o álcool – joga também um papel importante. O país está ficando fora do mapa das transformações produtivas que marcarão o futuro desse mercado. A proteção às montadoras e os subsídios claramente deixaram de produzir resultados relevantes – o modelo se esgotou.
As escolhas empresariais erradas da Ford produzirão um encolhimento geral da marca no mundo, o que já vinha ocorrendo no Brasil. Anos de recessão, seguidos de crescimento medíocre e, depois, por uma brutal pandemia foram uma soma de golpes difíceis de aparar. Seu problema é o mesmo das que ficam – modernização tecnológica e competitividade. É uma equação que se não for bem resolvida arruinará outras empresas do setor.