MANCHETES
O Globo
Insatisfação com valor do Renda Brasil adia anúncio de pacote
Ameaça de Bolsonaro vira combustível para fake news
MP identifica depósitos coincidentes em contas de Flávio e de sua loja
Rui Costa – ‘Em 2022 estarão em jogo não nomes, mas a democracia’
Flordelis mandou matar o marido, conclui polícia
Pesquisadores de Hong Kong confirmam 1º caso de reinfecção por Covid-19
Cena que se repete nos EUA
Tática de Trump é acusar adversário de ‘roubar a eleição’
O Estado de S. Paulo
Bolsonaro acha R$ 247 pouco e adia anúncio do programa Renda Brasil
Presidente ignora reação e ataca de novo jornalistas
Extremos na hora de tratar o esgoto
Justiça paraguaia solta Ronaldinho após 171 dias
Polícia conclui que Flordelis mandou matar o marido
Hong Kong atesta reinfecção pelo coronavírus
Trump cita covid para acusar democratas
Folha de S. Paulo
Servidor concentra 6 das 10 ocupações mais bem pagas
Impasse leva Bolsonaro a adiar novo pacote social
Damares fala em ir à Justiça após Folha revelar omissão
Jornalista ‘bundão’ tem mais risco de morrer de Covid, diz Bolsonaro
Presidente assina prorrogação por 2 meses de corte de salário
Alemanha confirma que opositor de Putin foi envenenado
Policial atira em homem negro e gera protestos
Candidato, Trump insiste em perfil incendiário e ataques
Legalizar e tratar são resposta dos EUA à crise das drogas
Hong Kong tem 1º caso de reinfectado por coronavírus
China afirma já aplicar vacina experimental em grupos de risco
Valor Econômico
Divergências no governo adiam o pacote Pró-Brasil
Trajano vê cenário ‘muito difícil’ em 2021
Nokia tenta buscar brilho do passado
Corrida por retorno
México aumenta pressão sobre a Braskem
Novo ataque de Bolsonaro a jornalistas
EDITORIAIS
O Globo
Sr. presidente, por que sua mulher recebeu R$ 89 mil do Queiroz?
A pergunta do GLOBO foi pertinente. A agressão de Bolsonaro não é resposta
Bolsonaro voltou no domingo a ser o que é. Depois de dois meses cumprindo a liturgia do cargo, agrediu um repórter do GLOBO ao ser questionado, dentro das estritas prerrogativas e da missão do jornalismo profissional, sobre um assunto de interesse público — a razão de a primeira-dama Michelle ter recebido, do casal Fabrício Queiroz e Márcia Aguiar, cheques num total de R$ 89 mil.
O presidente reagiu com palavras dignas daquele personagem do “Casseta & Planeta”, o Maçaranduba, que queria resolver tudo “na porrada”. Os ares de valentão ginasiano podem pegar bem com o extremista que faz o gesto de arminha com a mão. Mas voltar a agredir a imprensa cobra um preço alto nas faixas da classe média e do eleitorado mais instruído, que voltaram a dar apoio a Bolsonaro, não por coincidência nestes pouco mais de dois meses em que mudou de tom.
A onda de críticas que recebeu nas redes sociais — uma enxurrada de perguntas sobre a razão de R$ 89 mil terem sido depositados em favor de Michelle — confirma que Bolsonaro erra ao deixar emergir sua face autoritária, incapaz de entender que, numa democracia, é papel da imprensa fazer perguntas incômodas. É hora de ele compreender que parcela relevante da sociedade não aceita esse tipo de postura. Se não quer ou não sabe responder, que se cale. É inadmissível agredir um repórter que faz seu trabalho.
Das perguntas incômodas, a dos cheques de Michelle é apenas um dos mistérios que pairam sobre a conexão entre o ex-PM Queiroz e o clã Bolsonaro. O Ministério Público fluminense ainda investiga o papel de Queiroz no esquema que é acusado de gerenciar no gabinete do ainda deputado estadual Flávio Bolsonaro na Alerj.
A investigação já identificou o repasse de R$ 2 milhões de assessores de Flávio a Queiroz, forte evidência do esquema em que pessoas de confiança são nomeadas em gabinetes de parlamentares para devolver parte do que recebem, a “rachadinha”. A presença de parentes de Queiroz e dos Bolsonaros no caso reforça as suspeitas. O intenso tráfego de dinheiro vivo na vida de Flávio completa o enredo.
Antes de tomar posse, Bolsonaro teve de responder sobre depósitos de R$ 24 mil feitos por Queiroz na conta de Michelle. Explicou que se tratava de parte do pagamento de um empréstimo, no valor total de R$ 40 mil. Podia fazer sentido na ocasião. Agora se descobre que os depósitos para Michelle somaram mais que o dobro disso — sem registro de transferência de Bolsonaro a Queiroz. O presidente continuou ontem a agredir a imprensa. Mas ainda não respondeu à pergunta do GLOBO: por que sua mulher, Michelle, recebeu R$ 89 mil do Queiroz?
O Estado de S. Paulo
A pergunta que aborrece o presidente
Se tivesse uma boa explicação para seus negócios esquisitos, Jair Bolsonaro certamente já a teria dado, sem recorrer à selvageria
Não é nada fácil ser moderado quando se é Jair Bolsonaro. Para quem fez carreira política na base da ofensa explícita a adversários e ao decoro, interpretar um personagem discreto e ponderado como o que o presidente incorporou nas últimas semanas deve demandar um esforço quase sobre-humano. Mas a natureza, cedo ou tarde, se manifesta, e o presidente Bolsonaro voltou a ser quem sempre foi, ao dizer a um jornalista, no domingo passado, que estava com “vontade de encher a tua boca com uma porrada”. Tudo porque o repórter lhe havia feito uma pergunta incômoda.
Que pergunta foi essa, afinal, que causou reação tão truculenta de um presidente que, conforme a crônica política de Brasília, havia se metamorfoseado em democrata de uns dias para cá? O repórter, do jornal O Globo, perguntara a Bolsonaro que explicação ele tinha para os depósitos de R$ 89 mil em cheques na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro, feitos por Fabrício Queiroz e pela mulher deste, Marta Aguiar.
Fabrício Queiroz, como se sabe, é o pivô do escândalo da “rachadinha”. Conforme investigações do Ministério Público que abrangem fatos de 2007 a 2018, funcionários do gabinete do hoje senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente e na época deputado estadual no Rio de Janeiro, devolviam parte do salário que recebiam. Quem recolhia o dinheiro era Fabrício Queiroz, também assessor de Flávio Bolsonaro e amigo de décadas da família do presidente.
“Rachadinha” é o nome que a literatura do baixo clero político deu à prática de alguns parlamentares de apropriar-se do salário de servidores comissionados, em geral gente que raramente comparece ao trabalho – os chamados “fantasmas”. Além de sua flagrante imoralidade, tal conduta caracteriza uma série de infrações, tais como peculato, concussão e improbidade administrativa.
No caso específico de Fabrício Queiroz – que está em prisão preventiva por conta do escândalo –, já se sabe que esse prestimoso assessor dos Bolsonaros pagou contas, fez depósitos e movimentou valores consideráveis em favor da família presidencial. Para o Ministério Público, há razões para crer que se trata de esquema de lavagem de dinheiro.
Uma dessas movimentações suspeitas teve como destinatária a hoje primeira-dama Michelle Bolsonaro. Segundo as investigações, Fabrício Queiroz e sua mulher, Marta Aguiar, depositaram na conta de Michelle vários cheques, com valores entre R$ 2 mil e R$ 3 mil, totalizando R$ 89 mil. Foi essa movimentação que atiçou a curiosidade do repórter que irritou Bolsonaro: afinal, por que Michelle Bolsonaro recebeu esses cheques de um suspeito de lavagem de dinheiro?
Sempre que trata do assunto, o presidente se aborrece. Como “explicação”, já disse que se tratava do pagamento de um empréstimo feito por ele a Queiroz, no valor de R$ 40 mil, e que coube à primeira-dama descontar os cheques porque não tinha tempo de ir ao banco. No final do ano passado, quando questionado por um repórter se tinha algum comprovante do tal empréstimo a Queiroz, Bolsonaro respondeu: “Ô rapaz, pergunta pra tua mãe o comprovante que ela deu pro teu pai, tá certo?”.
O presidente Bolsonaro, por menos que goste, deve explicações ao País a respeito desse estranho caso. As que deu até agora foram insuficientes – para não dizer ofensivas à inteligência alheia. Em primeiro lugar, já se sabe que não há qualquer registro bancário do generoso empréstimo que Bolsonaro diz ter feito a Queiroz. E em segundo lugar o valor da “devolução” do suposto empréstimo bateu em quase R$ 90 mil, bem acima dos R$ 40 mil informados pelo presidente.
Bolsonaro escolheu ofender os repórteres que o questionam a respeito desses negócios esquisitos – ainda ontem, voltou a atacar jornalistas, chamando-os de “bundões” (covardes, no dialeto dos valentões). Se tivesse uma boa explicação, o presidente certamente já a teria dado, sem recorrer à selvageria. Como aparentemente não tem, faz o que sabe fazer melhor: parte para a intimidação. É inútil, pois a pergunta incômoda continuará a ser feita, até que haja uma resposta convincente – dada ou pelo presidente ou pela Justiça.
Folha de S. Paulo
Responda, presidente
Bolsonaro ataca imprensa, mas não explica R$ 89 mil de Queiroz na conta da mulher
Ninguém se iluda com a conduta relativamente branda adotada pelo presidente Jair Bolsonaro desde que lhe ficou patente, pelo anteparo firme das instituições democráticas, a impossibilidade da via autoritária. Era atenuar os modos ou marchar para o impeachment.
O arroubo de incivilidade lançado no domingo (23) contra repórter do jornal O Globo indica que a mudança não passa de adaptação epidérmica, resultante momentânea do choque imposto pela inércia constitucional sobre a atormentada personalidade presidencial.
“A vontade é encher a tua boca de porrada”, reagiu o mandatário ao ser indagado sobre os repasses de R$ 89 mil feitos à sua mulher, Michelle Bolsonaro, por Fabrício Queiroz, investigado sob suspeita de integrar esquema de distribuição ilegal de recursos públicos no gabinete do então deputado estadual fluminense Flávio Bolsonaro.
O destampatório anti-imprensa pelo visto rompeu o fim de semana. Nesta segunda (24), quando promovia mais um folguedo em torno da hidroxicloroquina, o presidente afirmou que jornalista “só sabe fazer maldade, usar caneta com maldade” e soltou mais uma provocação com palavra chula.
Talvez a recuperação da popularidade, atestada pela pesquisa Datafolha, tenha instigado no chefe do governo a ressurgência daquele comportamento que tem sido reprimido institucionalmente. Seria uma recidiva fadada ao fracasso.
A imprensa profissional cumpre seu papel quando questiona os poderosos acerca de temas importantes da agenda pública, ainda que incômodos a eles. É o caso de saber com que justificativa dinheiro tomado do contribuinte a título de viabilizar o exercício de um mandato parlamentar foi parar na conta da hoje primeira-dama.
Já o presidente descumpre o seu dever político quando deixa de esclarecer o tema. A responsabilidade, que não é nada mais que a obrigação de dar respostas aos cidadãos, alicerça os pactos sobre os quais se erigiu a democracia.
Intimidar a imprensa, que faz as perguntas, não muda o quadro dos deveres presidenciais. Tampouco o altera apelar a normas caducas da ditadura, como procede o governo ao investir, apoiado na Lei de Segurança Nacional, contra o colunista Hélio Schwartsman, da Folha.
Prestar contas de seus atos não é uma opção do chefe de Estado ou de quem quer que exerça função pública. Trata-se de mandamento democrático que será cumprido cedo ou tarde, de modo colaborativo —que é o mas indicado— ou não.
Em vez de produzir mais fumaça para desviar a atenção do caso Queiroz, seria melhor o presidente explicar por que R$ 89 mil em cheques do famigerado assessor acabaram na conta da primeira-dama.
Valor Econômico
Tesouro necessita de uma ajuda providencial do BC
Necessidade da transferência de recursos é um poderoso sinal de alerta sobre os rumos da política fiscal
Na reta final para a definição do Orçamento de 2021, há uma indefinição básica sobre a política fiscal – a sobrevivência do teto de gastos. A falta de consenso entre as diversas áreas do governo a respeito da obediência a ele acabou influenciando a dinâmica da dívida mobiliária, que tornou-se mais desfavorável após o forte aumento das despesas para o enfrentamento da pandemia e da instabilidade dos mercados.
Com o “colchão de liquidez” em patamar muito próximo do nível mínimo de segurança para a gestão da dívida pública, o Tesouro Nacional deposita agora praticamente todas as suas fichas na expectativa de que o Conselho Monetário Nacional aprove a transferência de boa parte dos lucros do Banco Central (BC) com o câmbio para seu cofre para fazer frente às necessidades de resgate de títulos. A intenção é transferir para o Tesouro R$ 400 bilhões do lucro cambial acumulado em R$ 521,1 bilhões no primeiro semestre pelo BC.
A tensão começou em julho, quando houve um vencimento elevado de cerca de R$ 220 bilhões que não foi totalmente renovado dadas as condições de mercado, e se acentuou no início deste mês, quando o debate a respeito do teto de gastos ganhou espaço. Diante da pressão do mercado por juros mais altos, o Tesouro optou por encurtar os prazos dos papéis. Ainda assim, os prêmios chegaram a quadruplicar em comparação com o praticado no início do ano.
A se confiar na avaliação do Tesouro, não há problemas à vista porque vencem pouco mais de R$ 250 bilhões em títulos da dívida interna ainda neste ano. Mas o quadro muda bem em 2021 quando vencem ao menos R$ 443 bilhões apenas nos primeiros quatro meses, dos quais R$ 118,6 bilhões em janeiro (Valor, 24/8). Esses números são de junho e não incluem as emissões de prazos curtos feitas nas últimas semanas, como os R$ 29 bilhões de títulos de seis meses emitidos nos leilões da semana passada. Portanto, a conta a ser paga no início do próximo ano será ainda mais elevada.
Para complicar, o colchão de liquidez que o Tesouro costuma manter para casos de emergência caiu para um patamar próximo do mínimo razoável, apurou o Valor. Antes da pandemia, o Tesouro mantinha caixa para cerca de seis meses de vencimentos de títulos públicos. Agora, essas reservas teriam recuado para perto do limite prudencial, cuja referência é de aproximadamente três meses. Para os próximos três meses, os vencimentos esperados somam cerca de R$ 180 bilhões. Mas há analistas que acompanham de perto as contas públicas e estimam que as reservas estão bem abaixo disso, em menos de um terço. O Tesouro nega, mas evita precisar o número argumentando questão estratégica.
No passado, a transferência dos lucros do Banco Central com o câmbio para o Tesouro era automática. Quando o BC tinha prejuízo, o Tesouro cobria a perda com a emissão e transferência de títulos públicos. Essa prática terminou com a Lei 13.820, de 2019, que estabeleceu que o BC só pode passar recursos ao Tesouro em caso de restrição severa de liquidez e consultado o CMN. O Conselho deve discutir o pedido na quinta-feira.
Outra expectativa é com o andamento do projeto de lei complementar 159/2020, do deputado Mauro Benevides Filho (PDT-CE), que regula a transferência do resultado operacional e de parte dos saldos financeiros de operações com reservas e derivativos cambiais no contexto da calamidade pública causada pela covid-19. São cerca de R$ 500 bilhões, que poderiam ser usados para o auxílio financeiro a Estados e municípios e emergencial, despesas com saúde e assistência social, com manutenção do emprego e da renda e as constantes dos orçamentos fiscal e da seguridade social.
No caso da transferência que será levada ao CMN o dinheiro não poderá ser usado para pagar despesas, mas apenas para custeio da dívida pública interna, que está ao redor de R$ 4,2 trilhões. De toda forma, a operação libera recursos para amenizar o resultado fiscal deste ano, estimado em um rombo de mais de R$ 800 bilhões.
É indispensável caracterizar a situação de restrição de liquidez e evitar que a operação seja interpretada como pedalada fiscal para financiar o Tesouro, o que derrubou a ex-presidente Dilma Rousseff. Preocupado com isso, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto consultou o Tribunal de Contas da União (TCU) na semana passada. O tema é controverso, mas deve ser aprovado e é um poderoso sinal de alerta a respeito dos rumos da política fiscal.