MANCHETES
O Globo
Ministro por cinco dias, Decotelli deixa o MEC
Projeto das fake news avança no Senado e vai à Câmara
Na pandemia, 7,8 milhões perderam trabalho
Europa confirma veto à entrada de brasileiros
Senado debate obrigação de canais digitais pagarem por notícias
Bolanaro faz aceno de paz a Rodrigo Maia e Alcolumbre
Auxílio emergencial de R$ 600 será estendido por dois meses
Um golpe nas mortes sob encomenda no Rio
Europa confirma veto à entrada de brasileiros
O Estado de S. Paulo
Na pandemia, número de desempregados passa o de empregados
Cai o ministro da Educação. Pela 3ª vez em 18 anos
‘Adicional’ de militares vai custar em cinco anos R$ 26,5 bi
Letalidade policial tem nova alta em SP
Motoboys prometem adesão de 50% em greve
Governo cobra R$ 29 mi por Memorial da Anistia
Estadão Incentiva dará assinatura para estudantes
Clubes reabrem, sem quadra e piscina
União Europeia reabre fronteiras e veta brasileiros
Folha de S. Paulo
Falsidades em currículo tiram Decotelli do MEC após 5 dias
Governo vai pagar mais R$ 1.200 de auxílio
Reprovação de Bolsonaro é alta entre beneficiários
Pandemia fecha 7,8 milhões de empregos no país
Grandes anunciantes boicotam mídias sociais
Projeto de lei das fake news passa no Senado
Estudo liga falas do presidente a isolamento menor
‘Ciclone Bomba’ deixa ao menos 4 mortos em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul
STF deve derrotar Flávio e devolver caso à 1ª instância
Professor não está pronto para voltar, dizem diretores
Bolsa sobre 30% no 2º tri, maior alta desde 2003
Grupo propõe nova classificação de espécies
Entregadores de apps fazem paralisação hoje em São Paulo e Rio
Clubes da capital se adaptam para reabrir
Japão estuda retomar uso de armas ofensivas
Valor Econômico
Ajuda emergencial atenua impacto da recessão no NE
Bolsonaro busca ministro para Educação
União contra covid-19 ajuda Buenos Aires
No pior trimestre, bolsa sobe 30%
30% das marcas vão se afastar de redes sociais
Rota ecológica
EDITORIAIS
O Globo
Apenas a ponta da tragédia do desemprego
Os números frios do aumento do desemprego de 12,6% para 12,9% não refletem o tamanho do desastre
As crises econômicas costumam ser lentas para aparecer nos índices, mas rápidas na desestabilização da vida das pessoas. O panorama do mercado de trabalho fornecido pela pesquisa por Amostra de Domicílio (Pnad), do IBGE, referente ao trimestre de março a maio, em comparação com os três meses anteriores, é negativo, porém preocupa ainda mais quando observado em detalhes.
A taxa de desemprego subiu de 12,6%, calculados no trimestre encerrado em abril, para 12,9% em maio. Parece pouca coisa, mas no subsolo dos números há uma população de milhões de desempregados que não para de crescer. Considere-se que este índice carrega os efeitos da virtual paralisação do país, agravada a partir de março, início deste trimestre, quando foi registrada oficialmente a primeira morte pela Covid-19 no Brasil. Veio depois a sucessão de fechamentos de empresas por todo o país e de recolhimento de famílias em suas residências. Aquelas que puderam.
Os dados que o IBGE divulgou ontem fotografam apenas os primeiros impactos mais fortes da crise de saúde pública no parque produtivo e na sociedade. Mesmo assim, naquele trimestre 7,8 milhões perderam o emprego. Ficou visível, em cidades como o Rio, onde há ampla informalidade, o impacto da escassez de dinheiro nas ruas — causada pela paralisação quase geral e do comércio em particular — sobre grande parte da população. Antes de qualquer ação governamental, movimentaram-se organizações sociais, formalizadas ou não, para que famílias sobrevivessem. Esta é uma história ainda a ser contada em todos os seus capítulos.
Dos milhões que ficaram sem trabalho, uma parcela não voltou a procurar emprego e por isso, por questões metodológicas adotadas não apenas no Brasil, saiu do radar que acompanha a evolução do desemprego. O entendimento dos técnicos é que, como dos 7,8 milhões que perderam o trabalho, de março a maio, havia 5,8 milhões de trabalhadores informais, uma razoável proporção deste conjunto deve ter desistido de procurar emprego, e desapareceu das estatísticas. É uma outra categoria de “invisíveis”. Faz parte da classificação dos “desalentados”, calculados pelo IBGE, nesta última Pnad, em 5,4 milhões de brasileiros. Serão mais. O crescimento do índice geral de desemprego de 12,6% para 12,9% diz mesmo pouco do que acontece.
Esta realidade está à frente de um presidente que até a prisão de Fabrício Queiroz gastava o tempo afrontando as instituições democráticas. Precisa de fato mudar de agenda, como esboça.
Ele tem a imensa tarefa de ajudar a conduzir o país por meio do mais turbulento período de sua história na economia e no plano social.
Se em condições normais um Executivo desagregador deflagraria crises, neste momento a situação se agravaria de forma imprevisível, em todos os campos. Os dados sobre desemprego demonstram.
O Estado de S. Paulo
Um rombo como herança
A tarefa mais urgente de quem assumir a Presidência em 2023 será cuidar do enorme buraco nas contas públicas e administrar uma dívida próxima de 100% do PIB
Uma péssima herança estará à espera de quem assumir a Presidência em 2023. Sua tarefa mais urgente será cuidar de um enorme buraco nas contas públicas e administrar uma dívida próxima de 100% do Produto Interno Bruto (PIB). Além de matar dezenas de milhares de pessoas e jogar a economia num buraco, a covid-19 pôs em xeque uma das principais ambições da equipe econômica: fechar o atual mandato com as finanças oficiais bem mais arrumadas. Daí o empenho em retomar o trabalho, em janeiro de 2021, limpando os escombros deste ano. Será um trabalhão, como se vê pelo último balanço do setor público: o déficit primário saltou de R$ 13 bilhões em maio de 2019 para R$ 131,4 bilhões um ano depois, segundo informe do Banco Central (BC).
Com um rombo de R$ 127,1 bilhões, o governo central foi responsável pela maior parte do déficit primário do setor público em maio deste ano. O resultado primário é calculado sem o serviço da dívida. Houve aumento de gastos para o combate à pandemia e para ajuda a empresas e trabalhadores. Além disso, a arrecadação de tributos foi prejudicada pela redução da atividade, muito sensível a partir de abril, e pelo diferimento de algumas cobranças. Segundo o Tesouro, a receita líquida, de R$ 54 bilhões, foi 41,6% menor que a de um ano antes, descontada a inflação. Pelo mesmo critério, a despesa total, de R$ 180,6 bilhões, foi 68% maior que a de maio de 2019.
Como é recente o impacto econômico da pandemia, o efeito nos valores acumulados num período mais longo é bem menos perceptível. Em 12 meses o déficit primário do governo central chegou a R$ 300,5 bilhões, pelos critérios do Tesouro. Segundo esse padrão, o saldo primário é simplesmente a diferença entre receitas e despesas não financeiras. Nas contas publicadas pelo BC, o saldo corresponde à necessidade de financiamento. Nessa perspectiva, o déficit primário do governo central em 12 meses bateu num valor pouco diferente: R$ 298,5 bilhões.
Por qualquer dos critérios, o buraco nas contas do governo central, no fim do ano, será muito diferente dos R$ 124,1 bilhões estimados até o começo de 2020. Provavelmente ultrapassará R$ 600 bilhões, segundo as novas projeções do Tesouro, e o resultado ainda será bem pior se novos gastos forem acrescentados às despesas emergenciais programadas até agora.
O quadro desenhado pelo BC é mais amplo. Inclui também as contas de governos de Estados e municípios e de estatais (sem Petrobrás e Eletrobrás). Assim calculado, o déficit primário do setor público atingiu R$ 131,4 bilhões em maio, R$ 214 bilhões no ano e R$ 282,8 bilhões em 12 meses. Somados os juros, chega-se ao chamado déficit nominal, um rombo de R$ 140,4 bilhões no mês, R$ 366,1 bilhões no ano e R$ 638,6 bilhões em 12 meses (8,8% do PIB).
Com o rombo cresce também o endividamento. Em maio a dívida bruta do governo geral (três níveis, mais INSS) chegou a R$ 5,9 trilhões, soma equivalente a 81,9% do PIB. Em abril a relação era de 79,8%, ligeiramente inferior ao limite (80%) fixado pelo governo em seu plano para o ano. As novas estimativas indicam resultados entre 95% e 100% no fim de 2020, se nada mais grave ocorrer. A porcentagem ficará uns 30 pontos acima daquela estimada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para a média dos países emergentes e em desenvolvimento.
Se o desajuste for muito além dos planos atuais, o governo poderá encerrar o próximo mandato sem ter conseguido um ano de superávit primário, segundo o Tesouro. Não sobrará dinheiro nos próximos seis anos, portanto, para o pagamento de juros. Pior: sem um claro compromisso de ajuste, o mercado cobrará mais para financiar o Tesouro. Além disso, com juros mais altos será mais difícil a recuperação econômica. Pelas atuais projeções do mercado, 2023, primeiro ano do novo mandato, ainda terminará com déficit primário de 1% do PIB. Por volta de 10 de abril ainda se admitia um equilíbrio. Será fácil agravar esse quadro, se o populismo e alianças políticas dispendiosas derrotarem a aritmética e a responsabilidade.
Folha de S. Paulo
Recessão meteórica
Colapso da atividade desafia definições e fecha uma década sem crescimento
Raras vezes uma recessão econômica pode ser tão rapidamente identificável como a que se instalou no país com a chegada do novo coronavírus. As certezas, no entanto, acabam aí. Estamos diante de um fenômeno que desafia definições e o conhecimento pretérito.
O advento da recessão, com início no primeiro trimestre deste 2020, foi constatado na segunda-feira (29) pelo Codace, um comitê ligado à Fundação Getulio Vargas e dedicado à datação dos ciclos de alta e baixa da economia do país.
O mesmo colegiado havia levado muito mais tempo —um ano e quatro meses— para apontar, no final de julho de 2015, que a atividade nacional vivia um processo de contração desde o segundo trimestre de 2014, a ser encerrado apenas em dezembro de 2016.
Desta vez, os sinais iniciais da retração são óbvios como nunca. Para conter a Covid-19, o comércio literalmente fecha as portas; setores inteiros, como o aéreo e o de espetáculos artísticos, entram em colapso; a queda geral de rendimentos atinge em instantes todos os contratos e transações.
O endurecimento das restrições sanitárias em março bastou para provocar a redução de 1,5% do Produto Interno Bruto —medida da produção e da renda— no primeiro trimestre. Com o auge das quarentenas em abril, o PIB do segundo trimestre deve ter retração estimada em até assombrosos 10%.
Em comparação, a gravíssima recessão de 2014-16 levou 11 trimestres para tirar 8,1% da economia; a de 1981-83, que detinha o posto de mais aguda já medida no Brasil, provocou uma perda de 8,5% ao longo de nove trimestres.
Na apropriada imagem de um membro do Codace, a atividade foi atingida neste ano por um meteoro, com efeitos instantâneos e avassaladores. Em tese, isso significa que o ciclo de retração também pode terminar rapidamente. É possível, inclusive, que o PIB tenha parado de cair a partir de maio.
Esteja ou não já encerrado o pior da provável maior hecatombe econômica documentada na história nacional, a duração de suas sequelas —como a aniquilação de 7,8 milhões de postos de trabalho— permanece uma incógnita.
O ritmo da retomada do comércio e da indústria é incerto como o comportamento do coronavírus. Ainda mais quebrado, o setor público não terá como elevar investimentos. O gigantesco setor de serviços, que responde por quase três quartos do PIB brasileiro e apresenta maior imunidade a crises, agora foi profundamente atingido.
Pior, o país se encaminha para o final de uma década inteira sem nenhum crescimento econômico, num sinal evidente de que suas deficiências e dificuldades vão muito além do combate à pandemia.
Valor Econômico
Programas de emergência chegam até os mais pobres
Governo tem chance de acertar no pós-covid-19 robustecendo programas de renda que deem sustentabilidade à recuperação e sejam fiscalmente viáveis
Há poucas coisas comparáveis em magnitude à mobilização de recursos do governo brasileiro para enfrentar a depressão econômica, assim como há poucos episódios na história recente que possam se comparar à capacidade de destruição do novo coronavírus. Apesar dos regateios do ministro da Economia, Paulo Guedes e improvisação, os programas de assistência à renda, preservação de empregos e diferimento de impostos movimentaram R$ 289 bilhões. Ainda assim, o PIB deverá encolher 6,4% no ano, na previsão do Banco Central e de grande parte dos economistas.
Guedes estimou ontem as despesas em R$ 1 trilhão, ao qual se chega com a liberação de compulsório e expedientes para liberar capital para empréstimos dos bancos, medidas de apoio vitais. Os gastos do Tesouro até junho indicavam R$ 211 bilhões em despesas realizadas, ante uma previsão de total R$ 402,4 bilhões. Nas contas do Tesouro de maio constam ainda R$ 68,9 bilhões de adiamento de receitas com diferimento de impostos e redução do IOF.
O governo anunciou ontem que os dois programas que trazem dinheiro diretamente ao bolso dos trabalhadores, formais ou não, serão prorrogados por mais dois meses. O auxílio emergencial a todos que perderam ou estão sem renda, receberá pelo menos mais duas doses de R$ 600, além das três em curso. O gasto extra deve ser de R$ 104 bilhões. O benefício emergencial, para repor parte do corte de salários e preservar empregos, será prorrogado. Sua execução, segundo dados do Tesouro, consumiu R$ 13,4 bilhões até junho, diante de previsão de gastos de R$ 51,4 bilhões.
Mesmo em tempos de crise, nunca houve uma rede de proteção dessas proporções, embora os riscos humanitários, econômicos, políticos e sociais sejam também superlativos. E, pela primeira vez, os programas contemplaram os informais, que sempre ficavam ao relento por não se enquadrarem no seguro-desemprego.
Há 11,5 milhões de trabalhadores formais atingidos pela redução de salários e protegidos do desemprego pelo tempo equivalente ao corte da jornada. A estimativa é que o Benefício Emergencial abrangesse 25 milhões de trabalhadores. Uma parte das empresas preferiu não garantir a estabilidade diante da incertezas da duração da crise e do comportamento da demanda no pós-pandemia. Dos que estão no programa, metade (5,4 milhões) estão com contratos suspensos e mais 2,7 milhões com cortes expressivos de 50% até 70% nos salários.
O auxílio emergencial foi muito mais longe e, segundo o IBGE, chegou de fato aos mais pobres. A Caixa Econômica informa que pagou o auxílio a 64 milhões de pessoas. O IBGE seguiu o destino do dinheiro. Em maio, a pesquisa mostrou que 38,7% dos domicílios existentes no país (68 milhões) receberam o benefício. Neles habitam 94 milhões de pessoas onde pelo um morador o recebeu. Em torno de 55% dos domicílios das regiões mais pobres (Norte e Nordeste) foram atendidos. Em todos os Estados, a renda per capita superou a do período anterior à pandemia, isto é, houve aumento de renda dos mais pobres. Igualmente importante, 76% do dinheiro distribuído atingiu os 50% mais pobres e 53% dele os com renda até R$ 348,83.
A sustentação pelo Estado, com déficit primário que pode chegar a 10% do PIB (cerca de R$ 700 bilhões) reduziu em muito a pobreza e elevou a renda de boa parte dos pobres. Há um pouco de otimismo, no entanto, em dizer que os gastos do Estado supriram a perda de renda. A massa salarial caiu de R$ 192,9 bilhões para R$ 157,9 bilhões em maio, recuo de R$ 35 bilhões. Ontem, Paulo Guedes disse que o Brasil realizou a proeza de elevar a massa salarial desde o início da pandemia, o que seria um feito – se fosse verdade. O que subiu foi o rendimento médio real dos ocupados, para R$ 2.460, o que indica que os empregadores retiveram a força de trabalho mais qualificada, que ganha mais. Na Pnad Contínua, a massa recua de R$ 217,5 bilhões para R$ 206,6 bilhões no trimestre até maio.
Nas contas não se inclui a destruição em massa de capital pelo fechamento de empresas, em especial pequenas e médias. O impulso bilionário de proteção, inédito nessa dimensão, dá melhores condições para a retomada. Ela não será rápida, porém. Os benefícios deixarão de existir em breve, com a economia ainda em frangalhos e a pandemia à espreita. Se o governo errou miseravelmente no combate ao coronavírus, tem a chance de acertar no pós-covid-19 robustecendo programas de renda que deem sustentabilidade à recuperação e sejam fiscalmente viáveis.