A prisão de Fabrício Queiroz complica a vida de Jair Bolsonaro e lança mais incertezas sobre o futuro do governo. O presidente já estava acuado pelo cerco a seus radicais de estimação. Agora passa a ser assombrado pelo espectro de um velho amigo na cadeia.
Queiroz era o faz-tudo da família presidencial no Rio. Oficialmente, atuava como motorista e segurança. Segundo o Ministério Público, também coordenava um esquema de funcionários fantasmas e ajudava a pagar as contas do clã.
Os investigadores afirmam que o ex-PM comandava uma quadrilha no gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro, hoje senador. Ele recolhia parte dos salários de assessores e redistribuía o dinheiro em espécie. Nas horas vagas, fazia negócios em áreas dominadas pela milícia.
Queiroz não cumpria tarefas apenas para o primeiro-filho. Um relatório do Coaf revelou que ele depositou R$ 24 mil na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro. O presidente alegou que a quantia corresponderia a um empréstimo. Nunca apresentou recibo para sustentar essa versão.
No pedido de prisão preventiva, os promotores dizem que o laranja também pagou a escola das filhas de Flávio, netas de Jair. Tudo em dinheiro vivo, como convém a quem precisa ocultar a origem dos recursos.
Nos últimos tempos, quem andou escondido foi o próprio Queiroz. O presidente e o primeiro-filho juravam não ter pistas do seu paradeiro. Ontem ele foi descoberto numa chácara do advogado do clã, que bate ponto no Planalto e no Alvorada.
As investigações sugerem que o ex-PM era uma reencarnação miliciana de Paulo César Farias. PC foi tesoureiro da campanha de Fernando Collor. Quando o chefe chegou ao poder, passou a pagar despesas da família. A descoberta de seus cheques fantasmas abriu caminho para o impeachment.
Na época de PC, ainda não existia a lei das delações premiadas. Agora os investigadores podem usá-la para convencer Queiroz a contar o que sabe. Por via das dúvidas, ele foi conduzido ao xadrez com um colete à prova de balas. (O Globo – 19/06/2020)