Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (19/06/2020)

MANCHETES

O Globo

Queiroz é preso em imóvel de advogado da família Bolsonaro
Wassef dizia não saber onde estava o ex-assessor
Presidente afirma que sofre perseguição
Mulher de Queiroz também tem a prisão decretada
MP: ex-assessor pagou escola de filhas de Flávio
PF quis cancelar operação contra bolsonaristas
Na mira do Supremo, Weintraub deixa o MEC
Witzel busca trégua, mas vê clima ruim na Alerj
OMS crê em vacina contra coronavírus ainda neste ano
Juro baixo e crise impulsionam leilões de imóveis
Rio se preprara para 2ª onda da Covid, diz secretário estadual
Carioca: Na volta do futebol, Flamento bate Bangu por 3 a 0

O Estado de S. Paulo

Prisão de Queiroz aumenta o cerco da Justiça à família Bolsonaro
Por trégua com o STF, presidente demite Weintraub no MEC
Hospitais do interior já estão lotados
Crise trava corte de juros do Minha Casa
67,1% das famílias estão endividadas
Peru tem mercado negro de oxigênio

Folha de S. Paulo

Queiroz é preso em casa de advogado dos Bolsonaros; presidente vê cerco
Bolsonaro e defensor da família negavam contato com Queiroz
Advogado que o abrigava frequentava Alvorada e é amigo próximo do clã
Por 10 a 1, Supremo decide manter inquérito sobre as fake news
Weintraub cai e deixa legado de insultos e ineficiência
Maioria dos gastos do MEC este ano é de ações incompletas de 2019
Onda de infecções no interior tem outra aceleração
Saúde identifica estabilização na curva da pandemia
Equipe de Guedes planeja criar mais uma meta fiscal
Seguro ‘liga e desliga’ cresce com celular, bike e casa
Nova regra de direitos de TV pode favorecer Fla contra Globo

Valor Econômico

Bolsonaro tenta distanciar “caso Queiroz” do Planalto
Taxação sobre gigantes de TI opõe EUA à UE
Alemanha só apoiará carro não poluente
Reforma elevaria ritmo do PIB em 20%
Consumo de remédios para insônia cresce na pandemia
Remando com a maré

EDITORIAIS

O Globo

Instituições funcionam na prisão de Queiroz

Em vez de enxergar conspirações, o clã Bolsonaro deveria perceber que organismos de Estado trabalham

A prisão do PM aposentado Fabrício Queiroz, escondido numa casa do advogado do presidente em Atibaia, próximo a São Paulo, não deixou que Bolsonaro desse a clássica parada na saída do Alvorada, para confraternizar com sua claque.

É mais um baque para o presidente, pois Queiroz, com mandado de prisão expedido pela Justiça do Rio a pedido do Ministério Público estadual, ser encontrado sob a proteção de Frederick Wassef coloca um novo entulho no Planalto.

O PM aposentado, amigo do chefe do clã Bolsonaro, ficou muito próximo do filho Flávio, a quem assessorou na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) até o deputado estadual ser eleito senador em 2018, no vácuo do salto que o pai deu do baixo clero da Câmara dos Deputados para o Planalto. Até lá, comprova o MP fluminense, Queiroz operou um esquema de “rachadinha”, desvio de parte de salários de assessores de deputados que teria sido lavada em operações com imóveis e outras feitas por Flávio e seu entorno. Nada que atinja diretamente o presidente, salvo cheques que esbarram nele, por terem sido depositados por Queiroz na conta da primeira-dama Michelle, justificados por Bolsonaro como pagamento de dívida. Pode ser.

As dimensões do estrago político ainda precisam ser inventariadas. Flávio, em sua primeira reação, vitimizou o pai, ao declarar que é tudo para atacá-lo. Já o presidente, no cacoete persecutório, teria enxergado uma estranha coincidência. Entre os mandados de busca e apreensão despachados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, contra 11 parlamentares bolsonaristas, no inquérito das manifestações antidemocráticas, e a operação de Atibaia, determinada pela Justiça do Rio, acionada pelo MP estadual. Uma articulação tão intrincada deveria levar o presidente a desconfiar deste pensamento impulsivo.

Se puxado o fio a que está ligado Fabrício Queiroz, podem aparecer coisas desagradáveis ao clã Bolsonaro, não só na esfera financeira, mas no universo miliciano carioca. Porém, o presidente, caso não desse vazão aos impulsos de ver em tudo uma emboscada contra ele, constataria que este acúmulo de dissabores existe porque as instituições estão funcionando.

Os inquéritos no Supremo que atormentam o clã Bolsonaro — sobre fake news/agressões a ministros e à Corte no meio digital, e acerca da organização de manifestações antidemocráticas — surgiram de fatos objetivos. Este último foi aberto a pedido do procurador-geral da República; e o primeiro, por determinação do presidente do STF, Dias Toffoli, foi contestado, mas teve a constitucionalidade garantida pelo plenário do Tribunal.

O resto é consequência de investigações em curso dentro da lei. O presidente e família têm acumulado problemas nos últimos dias por uma razão: a Justiça, o MP e os organismos policiais, que atuam sob supervisão, atendendo a determinações do MP/Judiciário, estão trabalhando.

O Estado de S. Paulo

Caso de polícia

O Brasil deveria aproveitar para refletir por que razão, desde a eclosão do escândalo do mensalão, a política se tornou um permanente caso de polícia

A prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro e amigo há décadas do presidente Jair Bolsonaro, suscita muitas perguntas incômodas que devem ser respondidas o quanto antes, para tranquilidade da Nação.

Queiroz foi preso sob acusação de interferir na coleta de provas no caso em que é investigado por suspeita de participação em esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. No esquema, funcionários de Flávio Bolsonaro, então deputado estadual, devolviam parte do salário que recebiam. O dinheiro era depositado numa conta de Queiroz, que fez movimentações bancárias consideradas suspeitas em fiscalização federal – inclusive um depósito de R$ 24 mil na conta da hoje primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Para o Ministério Público, trata-se de uma organização criminosa montada no gabinete de Flávio Bolsonaro.

Desde que o escândalo emergiu, em dezembro de 2018, o presidente e Flávio Bolsonaro, seu filho, dizem que se trata de perseguição política. A reação de Flávio Bolsonaro à prisão de seu antigo assessor segue nessa linha: “Mais uma peça foi movimentada no tabuleiro para atacar Bolsonaro. Em 16 anos como deputado no Rio nunca houve nenhuma vírgula contra mim. Bastou o presidente Bolsonaro se eleger para mudar tudo! O jogo é bruto!”, escreveu o senador numa rede social.

A tese da “perseguição política” pode ser boa para animar os camisas pardas bolsonaristas, assim como até hoje anima a tigrada petista na defesa do chefão Lula da Silva, mas, tanto em um caso como em outro, tem pouca serventia jurídica. É preciso ser um pouco mais objetivo em relação às muitas questões que requerem esclarecimento.

Em primeiro lugar, por que Queiroz estava numa casa do advogado Frederick Wassef, que tem Flávio e Jair Bolsonaro como clientes e grandes amigos? Por que Frederick Wassef disse duas vezes em 2019 que não sabia onde estava Queiroz, embora funcionários da casa onde ele foi encontrado, em Atibaia (SP), tenham informado que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro estava lá havia cerca de um ano?

Por que Fabrício Queiroz, malgrado sua extensa folha de serviços prestados aos Bolsonaros e sua canina fidelidade à família, foi exonerado por Flávio Bolsonaro entre o primeiro e o segundo turno das eleições presidenciais de 2018? Segundo o empresário Paulo Marinho, bolsonarista de primeira hora e que hoje é desafeto do presidente, os Bolsonaros ficaram sabendo na época, por intermédio de um informante na Polícia Federal, que as autoridades já estavam cientes das negociatas envolvendo Queiroz.

Também é lícito perguntar por que Queiroz intermediou a contratação, para o gabinete de Flávio Bolsonaro, da mulher e da mãe de um conhecido líder de milícia no Rio, que estava na cadeia. A explicação de que Queiroz o fez em “solidariedade” à família do amigo, “injustamente preso”, é ofensiva à inteligência alheia.

Por fim, mas não menos importante, por que razão, em meio a essas grossas suspeitas, o presidente Bolsonaro se esforçou tanto para trocar a chefia da Polícia Federal no Rio de Janeiro, atropelando até mesmo um de seus mais populares ministros, o ex-juiz Sérgio Moro? Na infame reunião ministerial de 22 de abril, convém lembrar, o presidente, exaltado, informou aos presentes que queria fazer a troca porque não iria esperar que sua família ou amigos fossem prejudicados “de sacanagem”, o que configura indisfarçável interferência política para fins pessoais.

Em resumo, estamos diante de um emaranhado de suspeitas sombrias envolvendo a família do presidente da República e, talvez, o próprio mandatário. Sendo o sr. Jair Bolsonaro um presidente que foi eleito com a retumbante promessa de acabar com a corrupção e a desfaçatez no País, é lícito esperar que ele e seu filho tenham boas explicações para todas essas dúvidas que ora inquietam os brasileiros de bem.

Enquanto aguarda ansioso por esses esclarecimentos, o Brasil deveria aproveitar para refletir por que razão, desde pelo menos 2005, com a eclosão do escândalo do mensalão, a política se tornou um permanente caso de polícia, a despeito de todas as promessas de saneamento. Está mais do que na hora de mudar – sem esperar a vinda de outro messias de quermesse, que anuncia milagres enquanto arruína o País.

Folha de S. Paulo

Poço profundo

Embora o pior da recessão pareça ter ficado em abril, a recuperação é incerta

Tal como se observa no resto do mundo, é possível que o pior momento para a economia do Brasil tenha ficado para trás.

O tombo da atividade em abril, auge das restrições e quarentenas contra o coronavírus, chegou a abissais 9,7% ante o mês anterior, segundo o cálculo do Banco Central. Na comparação com o mês correspondente do ano passado, a retração ficou em 15,1%.

O caminho da volta será longo e acidentado. Mesmo com uma melhora inicial consistente, como dados preliminares de maio e junho indicam, o Produto Interno Bruto terminará o ano em queda de 6,5%, segundo o ponto médio das projeções coletadas pelo BC.

Certamente há um efeito de descompressão de curto prazo, até pela preservação de renda que mal ou bem foi conseguida com o auxilio emergencial de R$ 600 mensais e outros mecanismos de apoio. Algum aumento de consumo parece provável, mesmo com maior precariedade do emprego.

Entretanto a recuperação do terreno perdido é incerta. O cenário mais otimista parte do pressuposto de que não houve perda de capacidade produtiva e nada mais impedirá a volta ao normal. Nesse caso, até o final de 2021 ou um pouco além, a economia retomaria a dinâmica anterior.

A hipótese mais sombria contempla efeitos mais persistentes da crise, no setor privado e nas contas do governo. De fato, será necessário lidar com um endividamento público mais alto e com os desdobramentos da recessão.

É plausível que haja maior propensão das famílias à poupança, em razão do desemprego, e menor disposição das empresas para investir num quadro de ampla ociosidade, além da falta de recursos para obras governamentais. Tudo isso impediria uma aceleração e alongaria o prazo para o retorno ao nível de atividade pré-crise.

Nem mesmo esse retorno seria satisfatório, cabe dizer. Afinal, mesmo antes da pandemia, o PIB medido no ano passado permanecia 3% abaixo do observado antes das retrações de 2015 e 2016. A estagnação vem de antes e agora ameaça se tornar ainda mais dramática.

Às incertezas econômicas soma-se a turbulência política sempre estimulada pelo presidente Jair Bolsonaro —impedindo que se vislumbre uma agenda clara de reconstrução e minando a confiança de empresários e consumidores.

Valor Econômico

Reação da economia fará com que deflação seja breve

Com a queda abissal das atividades, a cautela do Banco Central parece preciosismo ocioso

economia brasileira teve seu pior desempenho desde a depressão dos anos 30 e as estatísticas de abril confirmaram isso, em todos os setores. Em relação a março, os serviços recuaram 11,7%, o varejo, 16,8% e a indústria, 18,8%, recordes nas respectivas séries históricas. No ano, a inflação acompanhou o mergulho da oferta e transformou-se, em maio, em uma deflação no ano de -0,16%. As previsões de que o PIB deve encolher 6,5% (Focus) pode ser um palpite otimista, diante das que apontam queda de 10%. De acordo com o Indicador de Atividade Econômica da FGV, o PIB caiu 12,9% em abril. Pelo IBC-Br, do Banco Central, o tombo foi de 15,09%, desta vez sobre abril de 2019. Estes são os piores números e possivelmente já refletem o passado.

Há enormes incertezas no horizonte, a maior parte delas derivada do desenrolar da pandemia – não só sobre o fim da primeira onda, que ainda não terminou, mas da possibilidade da segunda, com a qual se deparam China e vários Estados americanos. A economia deu sinais de fim da prostração em maio, segundo indicadores antecedentes. O fim da parada súbita pode ser também o fim de dois meses de deflação (-0,31% em abril, -0,38% em maio).

Apesar do índice cheio indicar deflação maior em maio, os principais componentes do IPCA sugerem que a variação negativa dos preços pode terminar logo. Houve alta menor em alimentação em relação a abril (0,24% ante 1,79%) e em habitação (-0,25% ante 0,1%), mas nos demais grupos a magnitude da deflação diminuiu ou os preços voltaram a aumentar. O maior impacto individual do mês veio da gasolina (-4,35%), metade da queda de abril.

No boletim Focus a previsão de inflação subiu para 1,6%, após revisões sucessivas que a haviam colocado em 1,53% na semana passada. Nesse nível muito baixo, menor do que o piso da banda de metas, o BC não tem o menor sinal de que deva interromper sua intenção de manter estímulo monetário “extraordinariamente elevado”, como reafirmou anteontem no comunicado da reunião do Copom, que decidiu por corte da Selic de 3% para 2,25%, amplamente previsto.

Como já mira 2021, o BC não pesou a balança para o lado dos fatores que podem contribuir para uma inflação ainda menor no ano, que são abundantes nas estatísticas. Estranhamente, pesou bastante os que poderiam levá-la para mais perto da meta do ano que vem (3,75%). Por todas as métricas, o IPCA de 2021 fica bem comportado abaixo da meta, em 3%. “Os diversos programas de estímulo creditício e de recomposição de renda, implementados no combate à pandemia, podem fazer com que a redução da demanda agregada seja menor do que a estimada, adicionando uma assimetria ao balanço de riscos”, afirma a nota do Copom.

Essa preocupação é exagerada, mas não é aquela na qual carrega mais as tintas, como a da descontinuidade das reformas e alterações de “caráter permanente” no processo de ajuste fiscal. O Brasil, segundo o Focus, fecha o ano com um déficit nominal de 14% do PIB, e a IEU, da revista Economist, prevê 16% do PIB. Sem um rearranjo de receitas e gastos em uma situação tão ruim, o ajuste clássico costuma ser pela inflação.

Talvez por este motivo o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tenha jogado um pouco de água fria nas expectativas de que com os novos instrumentos que lhe foram conferidos (compra de títulos públicos e privados), monetizaria os déficits. Ao Financial Times, disse que esses novos instrumentos são próprios para “estabilização do mercado e não como forma alternativa de política monetária”. Há uma interrogação no ar sobre quando e se serão acionados. Campos Neto indicou que ainda “há espaço monetário na política convencional” antes de se recorrer a eles.

Há questões igualmente complexas a serem desvendadas e que influem na política monetária. A cesta de gastos dos consumidores pós- pandemia, pelas restrições conhecidas, será diferente da anterior, eliminando serviços que exigem interação social, ao mesmo tempo que parte nada desprezível da capacidade produtiva desaparecerá com a devastação econômica da pandemia, afetando a capacidade ociosa real da economia e a rapidez de fechamento do “hiato do produto” (temas levantados por (Tiago Berriel e Eduardo Zilberman, Valor, 13-5).

Com a queda abissal das atividades, a cautela do Banco Central parece preciosismo ocioso. Isso, no entanto, não o impediu de agir e de deixar a porta aberta para mais um corte, mesmo “residual”, na mais baixa taxa real de juros em décadas.

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