A Biblioteca Salomão Malina, da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), realizou nesta sexta-feira (15) uma videoconferência para debater o país pós-pandemia do coronavírus e a crise política no Brasil
Em live promovida nesta sexta-feira (15) pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), lideranças do Cidadania e convidados analisaram a situação do Brasil, que já vivia uma crise, agravada agora pela pandemia do coronavírus. Além da gravidade da doença, que já matou mais de 14 mil brasileiros, o país tem de lida com uma crise política, resultante do oportunismo e da falta de liderança do presidente Jair Bolsonaro, e uma crise econômica ainda mais severa em virtude da recessão mundial.
Para o ex-senador Cristovam Buarque, um dos integrantres da mesa de debates, enquanto outros países enfrentam apenas a crise sanitária, no Brasil outro problema se agrava, a crise política.
“Ela vai continuar depois da epidemia. A não ser se avaliarmos a possibilidade do impeachment. Bolsonaro já mostrou irresponsabilidade maior que o Collor e a Dilma. Além da irresponsabilidade, ele não tem um comportamento lógico das suas ações”, avaliou.
O ex-parlamentar não acredita que a pandemia do coronavírus trará transformações sociais. “Passada a epidemia, volta a voracidade do consumo, a ganância do lucro. A crise civilizatória não será resolvida pela epidemia. Nosso problema hoje é como resolver a crise política imediata e como mitigar os aspectos sociais da crise econômica”, destacou Buarque.
O jornalista Luiz Carlos Azedo, mediador do encontro virtual, falou que a crise comporta três dimensões. Uma delas é a própria crise sanitária, a segunda, a recessão mundial e uma última que ele considera a crise política. “Em relação à crise política, ela se manifesta nesse choque violento do presidente da República com a estrutura de Estado Democrático”, disse.
Multilateralismo
Segundo Azedo, o país está diante de uma grave situação, porque além de termos um governo desorientado em relação à epidemia, que não leva em conta o risco de colapso do sistema de saúde, também há desorientação em relação à economia.
“Bolsonaro tem uma narrativa oportunista, procurando culpados e apostando no caos. Temos que defender a democracia, reorganizar a vida social e buscar reinventar o nosso país”, defendeu.
Durante a reunião virtual, o diretor executivo da FAP, Caetano Araújo, afirmou que os organismos internacionais serão cobrados a ganharem mais musculatura para fazer frente a crises como esta. Para ele, será preciso pensar em como fortalecê-los e como fazer para que não dependam da boa vontade dos governos.
“Não me surpreenderia se, ao fim da pandemia, começasse a discussão do financiamento dos organismos internacionais. Os custos da nova situação não seriam discutidos tanto como tributos para organismos internacionais, mas como seguros pagos para entrar em situações como essa. Se a circulação de animais, pessoas e mercadorias implica riscos e esses riscos vão pagar um seguro, é possível que venha a ser discutido, em breve, o pagamento de pequenos percentuais de cada transição dessas, de cada circulação dessas, a organismos internacionais”, observou.
Diálogo
Sobre a crise política, o diretor da FAP afirmou que a visão desse governo implica em riscos cada vez maiores à continuidade do Estado Democrático de Direito.
“Estamos numa crise institucional em massa e, para enfrenta, o caminho é diálogo, cooperação entre forças democráticas e instâncias institucionais, governadores, prefeitos, judiciário para buscar uma saída rápida para essa situação. Não teremos tranquilidade democrática nesse país enquanto esse governo continuar”, reforçou Araújo.
Para o doutor em História pela Universidade Estadual Paulista, Victor Missiato, a palavra crise acompanha a noção de modernidade. “Viver na modernidade é viver em crise. Qual a nossa crise atual dentro da modernidade? Ela é singular no sentido de que depois de 500 anos é a primeira vez que temos mudança de eixo geopolítico no que diz respeito ao epicentro dessa modernidade, que não é mais o mundo ocidental. O coronavírus veio mostrar que Itália, Espanha, Inglaterra, EUA, Brasil são os países que mais enfrentam esse problema por conta dessa transição. Diante disso, o mundo ocidental vive em constante crise”, pontuou.
Segundo Missiato, Bolsonaro foi eleito por causa dessa crise, mas eventual impeachment está longe de resolvê-la.
“Como é traduzir essa crise politicamente? Longe de ser uma crise que vai se resolver com impeachment, ela é uma crise muito mais que institucional, ela se retroalimenta, se autoalimenta. Confrontos e embates marcam as condições dessa crise. O Bolsonaro foi eleito por causa dessa crise. É fundamental um centro radical, que se coloque enquanto um ator social que consiga compreender essa crise de forma carismática e programática”, propôs.