Ministro do Supremo determina ‘preservação do material probatório’ e também quer cópia do inquérito. Detidos na Spoofing tiveram prisões preventivas decretadas, e perícia aponta 1.162 celulares atacados
ANDRÉ DE SOUZA E AGUIRRE TALENTO – O Globo
Em resposta a um pedido do PDT, o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou “a preservação do material probatório” já colhido na Operação Spoofing, que prendeu quatro suspeitos de invadir ou tentar invadir os celulares de várias autoridades. Fux também deliberou que seja enviada ao STF “cópia do inteiro teor do inquérito relativo à referida operação, incluindo-se as provas acostadas, as já produzidas e todos os atos subsequentes que venham a ser praticados”.
Ontem, o juiz Ricardo Leite, da 10- Vara Federal do Distrito Federal, decretou a prisão preventiva (sem prazo) dos quatro alvos da Spoofing: Walter Delgatti Neto, Gustavo Henrique, Suelen Oliveira e Danilo Marques.
O juiz acolheu pedido da Polícia Federal. Segundo a PF, caso fossem colocados em liberdade, os acusados poderiam apresentar risco para as investigações. Delgatti admitiu em seu depoimento que foi autor dos ataques ao Telegram do ministro da Justiça, Sergio Moro, e do coordenador da Lava-Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol. Ele também afirmou que copiou as conversas do celular de Dallagnol e as repassou de forma anônima ao site The Intercept Brasil, que vem publicando reportagens sobre o assunto. Os demais são suspeitos de terem conhecimento das invasões e de serem o elo financeiro com possíveis pagamentos pelos atos — o que Delgatti nega.
Os acusados foram presos temporariamente na terça-feira da semana passada, depois que a PF rastreou os endereços eletrônicos (IP), de onde se originaram os ataques ao Telegram de Moro. A prisão temporária terminaria à meia-noite de ontem. Eles devem ser encaminhados para um presídio.
A decisão do ministro Fux vale pelo menos até o julgamento final da ação. O processo continuará em segredo no STF. Há a suspeita de que ministros da Corte tenham sido hackeados.
O TOTAL DE INVASÕES
O pedido do PDT foi uma reação à declaração de Moro, que, segundo nota do Superior Tribunal de Justiça (STJ), informou ao presidente da Corte, João Otávio de Noronha, que o material seria “descartado para não devassar a intimidade de ninguém” Noronha teria sido hackeado. As mensagens podem confirmar reportagens do The Intercept Brasil, segundo as quais Moro não agiu com imparcialidade quando era juiz da Lava-Jato.
Fux ainda deu prazo de cinco dias para que Moro preste informações. A PF também terá cinco dias para enviar cópia do inquérito ao STF.
Perícia feita pela Polícia Federal nos aparelhos eletrônicos apreendidos com o hacker Delgatti, também conhecido como Vermelho, detectou que o grupo criminoso fez ataques a 1.162 números telefônicos distintos, número ainda maior do que o estimado inicialmente pela PF, que era de aproximadamente mil alvos.
As novas provas obtidas na investigação foram consideradas um indício de que Vermelho não agiu sozinho, como ele havia dito no depoimento. Segundo o laudo pericial, foram feitas 5.812 ligações consideradas suspeitas, por meio do sistema BRVOZ, usado pelo grupo para simular ligações com mesma origem e destino e, dessa forma, invadir o Telegram das autoridades.
Os ataques foram muito mais extensos do que Delgatti havia admitido, aponta a PF. Por isso, a PF considera que existem “incongruências” pendentes de esclarecimento.