Com recuo do Centrão, MP da reforma administrativa deve ser votada nesta quarta-feira

Centrão recua e MP 870 deve ser votada hoje

Raphael Di Cunto e Renan Truffi – Valor Econômico

Pressionado pelas manifestações convocadas pelo governo no domingo contra o Congresso, o Centrão, grupo informal de partidos composto por DEM, PP, PR, PRB, SD, PTB e MDB, recuou e decidiu votar hoje a medida provisória (MP) da reforma administrativa do governo Bolsonaro. O argumento para antecipar a votação é de que o bloco não podia dar margem para o governo acusá-lo de ser o responsável pela crise do país e inflar os protestos.

Nos bastidores, contudo, o grupo pretendia se antecipar aos protestos e evitar que, caso fossem grandes o suficiente, dessem forças para o governo derrotá-los. A ideia é aprovar o projeto da forma que saiu da comissão, mas a popularidade do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, pode causar hoje a primeira e maior derrota do grupo.

Embora os líderes tenham defendido que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) volte a ser subordinado à equipe econômica, como ocorreu desde sua criação até o governo Temer, vários parlamentares desses partidos passaram a defender que as investigações sobre lavagem de dinheiro fiquem com Moro, ex-juiz da operação Lava-Jato.

O PSD, um dos partidos que costuma votar com o bloco, vai liberar a votação, mas a ampla maioria de seus deputados apoiará a manutenção do Coaf com Moro. Há duas semanas, o partido retirou o deputado Joaquim Passarinho (PSD-PA) da comissão da MP porque ele votaria a favor do ministro e a maioria da bancada era contra. O deputado Marx Beltrão (PSD-AL) assumiu no lugar e votou para que o Coaf ficasse no Ministério da Economia. Ontem Beltrão recuou e disse na reunião que sua posição pessoal, desde o início, era que o órgão ficasse na Justiça.

A reversão de voto já ocorreu com outro deputado, Célio Silveira (PSDB-GO). Depois de votar na comissão para tirar o Coaf da Justiça, o tucano foi ao plenário dizer era uma posição partidária e votaria com Moro no plenário. Legendas como Cidadania, Podemos, Novo e PSL já estavam integralmente ao lado do ministro da Justiça.

O resultado dessas mudanças de voto era incerto. Deputados do grupo contavam votos e pressionavam aliados a apoiarem a demanda da liderança, para não perderem postos no Legislativo – como relatorias de projetos importantes. “O placar está bastante equilibrado e o importante é que o Coaf vai atuar, independentemente de estar na Justiça ou na Economia”, disse a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP).

A divisão do Ministério do Desenvolvimento Regional em duas Pastas, das Cidades e da Integração Nacional foi enterrada ontem e o próprio bloco do Centrão apresentará destaque para excluir as Pastas. “Isso foi algo do governo, quem colocou a criação do ministério no relator foi o líder dele. Nós estamos contar”, disse o líder do PP na Câmara, Arthur Lira (AL). O relator da MP foi o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PR), que estava cotado para comandar a Integração Nacional.

Inicialmente, a divisão dos ministérios foi negociada entre os presidentes e líderes da Câmara e do Senado com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e o presidente Jair Bolsonaro para contemplar aliados políticos deles e, com isso, formar uma base aliada no Congresso. A criação de um novo ministério passou a ser atacada pelo PSL e o próprio presidente recuou e estimulou os protestos.

Líder do governo na Câmara e um dos principais defensores dos protestos, o deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO) foi atacado ontem pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), durante reunião com os líderes. Hugo compartilhou nas redes sociais imagem dizendo que o Congresso negociava com base em sacos de dinheiro. Maia, que nunca fez questão de manter nenhum relacionamento com ele, disse que o excluiria de suas relações. O líder tentou rebater que já não era atendido e Maia encerrou a reunião enquanto ele falava. A pressão para que o líder perca o cargo vem até de aliados do governo, mas há dificuldade de encontrar um substituto. A maioria não aceita que seus deputados sejam escolhidos para que não pareça que estão na base do governo.

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