Xuxa Meneghel e Renata Bueno: uma história compartilhada e amor pela Itália

Duas ítalo-brasileiras há anos catalisam o interesse de seus compatriotas e da mídia internacional: a artista Maria da Graça “Xuxa” Meneghel e a jurista, advogada e política Renata Bueno. Será que esta última conseguirá convencer Xuxa a vir à Itália visitar a cidade de Imèr, terra de origem de seus antepassados? Para Xuxa esta pode ser uma boa oportunidade para recolher um pergaminho mostrando sua árvore genealógica que a prefeitura de Imer reserva para ela desde 2013.

por GianAngelo Pistoia

Nordeste – Os ancestrais (avós, bisavós…) de ambas são de origem italiana, ambas nasceram no Brasil, iniciaram a carreira graças à teimosia e são “self-made women”, ou seja, mulheres que, graças à sua desenvoltura e tenacidade combinadas com beleza e glamour estabeleceram-se no seu país e no estrangeiro nos setores competitivos e por vezes cínicos do entretenimento e da política. Estou falando de duas pessoas apreciadas no Brasil e também internacionalmente: a artista Maria da Graça Meneghel, conhecida como “Xuxa” e a jurista, advogada e política Renata Bueno. Muitos meios de comunicação de todo o mundo se interessaram por eles, como também se pode verificar pelos artigos que jornais e sites lhes dedicaram e que reproduzo em grandes trechos a seguir.

A artista Maria da Graça Meneghel, conhecida como “Xuxa”. A mais conhecida das duas é certamente Maria da Graça Meneghel. Basta dizer o apelido dela, Xuxa, e no Brasil todo mundo sabe de quem você está falando. Seu ancestral paterno nasceu em Imér, no Vale do Primiero, no Trentino (então província do Império Austro-Húngaro) e depois emigrou para o Brasil, então desde 2013 Xuxa – por “iure sanguinis” – também conseguiu obter a cidadania italiana. Dois artigos exaustivos sobre Maria da Graça Meneghel foram escritos pelo jornalista Paolo Meneghini para a revista mensal “Il Messaggero di Sant’Antonio – Edizione italiani nel mondo”; artigos que, graças à autorização do diretor do jornal, reproduzo na íntegra.

Vista panorâmica da aldeia de Imer – © Tn 3480 (Creative Commons – CC BY-SA 3.0)

Assim escreveu Paolo Meneghini em 24 de julho de 2013: «Há alguns meses a Itália tem mais uma cidadã ilustre: Maria da Graça Meneghel, também conhecida como Xuxa (leia-se Sciùscia), uma das personalidades mais populares do entretenimento no Brasil. Em 2008, o “Messaggero di Sant’Antonio” dedicou-lhe a capa da edição de fevereiro. Talvez tenha sido justamente esse artigo que levou a apresentadora de televisão brasileira, nascida em Santa Rosa (Rio Grande do Sul), mas residente no Rio de Janeiro há muitos anos, a iniciar o processo de obtenção da cidadania italiana (seu antepassado paterno nasceu em Imer, Trentino). No último dia 27 de março, Xuxa comemorou 50 anos. Algumas semanas depois ela foi convidada ao Consulado no Rio de Janeiro para receber seu passaporte italiano.

[ Xuxa retira o passaporte no Consulado Italiano no Rio de Janeiro – © perfil Xuxa no “facebook” ]

O evento foi vivenciado ao vivo pela galera do “Facebook”. As imagens de Xuxa sorrindo para nosso passaporte bordô renderam cinquenta mil “curtidas” em apenas algumas horas. Um lindo presente de aniversário para o craque brasileiro e uma grande satisfação para nossos representantes diplomáticos. “Xuxa representa um exemplo de quantos brasileiros de origem italiana mantiveram viva a memória de suas raízes e um interesse marcante pelo nosso país – declarou o cônsul italiano Mario Panaro ao “Messeggero di Sant’Antonio” e acrescentou – A liberação do passaporte para Dona Meneghel foi a oportunidade de um encontro com uma personagem de indiscutível importância pelas produções televisivas, cinematográficas e musicais que ela organiza com graça, entusiasmo e grande atenção ao mundo da infância”.

E é novamente Paolo Meneghini num artigo publicado a 16 de Janeiro de 2008 pelo “Mensageiro de Santo António” que traçou este exaustivo retrato de Xuxa Meneghel: «O apelido de “Rainha dos Baixinhos” é conquistado trinta anos produzindo programas de televisão, filmes e músicas para o público infantil. Ela é Maria da Graça Meneghel, protagonista da gigante da televisão brasileira “Rede Globo”. Hoje Xuxa está em plena maturidade artística e já coleciona uma série de recordes incríveis: é a artista feminina que mais fatura no mundo dourado do entretenimento brasileiro; em sua carreira vendeu mais de 40 milhões de discos. Em 1991 foi a primeira brasileira a entrar no ranking especial, elaborado pela prestigiada revista “Forbes”, dos quarenta artistas mais bem pagos do planeta. Os muitos filmes estrelados por ela totalizaram aproximadamente quarenta e cinco milhões de espectadores. Para se ter uma ideia da enorme popularidade desta artista de origem italiana, basta lembrar que em agosto de 1998 o principal telejornal brasileiro, o “Jornal Nacional”, dedicou uma reportagem de dez minutos ao nascimento de sua filha Sasha.

[ Xuxa durante apresentação no Estádio do Maracanã no Rio de Janeiro – © Celso Pupo Rodrigues / Bigstock ]

É provável que a veia artística de Xuxa esteja ligada de alguma forma ao “DNA” do avô materno, que era ator. “Ele morreu de ataque cardíaco – lembra Xuxa – voltando para casa depois de uma apresentação de teatro. Na época minha mãe Alda tinha apenas três anos, e depois de ter sido criada por um certo período por um amigo da família, foi colocada num convento onde permaneceu até os quatorze anos. Um belo dia, pouco antes de fazer os votos, mãe Alda foi visitar uma tia idosa. Ele estava prestes a retornar ao convento quando viu se aproximando um garoto ousado que tinha um curioso topete de Elvis Presley. O nome dele era Luis Floriano e ele era meu pai. Para resumir a história, aos dezesseis anos, mãe Alda já era casada e feliz mãe de uma menininha.” Xuxa é a caçula de cinco filhos, e até as circunstâncias de seu nascimento – ela mesma lembra – lhes conferem um toque romântico.

“Me chamavam de Maria da Graça porque o parto foi muito complicado; tão complicado que a certa altura o médico disse ao meu pai que ele tinha que escolher entre manter viva a mãe ou o nascituro. Meu pai, claro, optou por minha mãe, mas prometeu ao Senhor que se quisesse me dar à luz me daria o nome de um santo. Porém, meu irmão mais novo, Blad, me deu o apelido de Xuxa assim que me viu pela primeira vez, quando eu tinha poucos dias de vida. Nunca imaginei que um dia esse também se tornaria meu nome artístico da sorte.” A infância de Xuxa é tranquila. O cenário é um recanto tranquilizador do sul do Brasil banhado pelo Rio Uruguai, na fronteira com a Argentina. As condições económicas da família certamente não podem ser consideradas confortáveis, mas nós sobrevivemos em casa e não falta o necessário. No início dos anos setenta, seu pai, soldado de carreira, foi transferido para o Rio de Janeiro. A nova casa tem apenas dois quartos, um para os pais e outro para os cinco filhos, mas isso não é problema, pelo contrário: a proximidade ajuda a cimentar os laços entre irmãos, cada um com tarefas específicas dentro do economia familiar.

O nascimento desta estrela do firmamento do entretenimento brasileiro foi, como muitas vezes acontece, completamente fortuito. “Eu tinha pouco menos de dezesseis anos – lembra Xuxa – e voltava de trem para casa vindo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde havia feito aula de ginástica. Eu certamente não estava vestida elegantemente, estava com calor e meu cabelo estava bagunçado. Meu vizinho de assento era um jovem que trazia consigo um maço de revistas de moda. Depois de um tempo, o cara começa a me elogiar: diz que eu tenho um rosto lindo, que sou muito bonita. Não pensei em intruso porque o menino era tímido, quase desajeitado, mas quando desci do trem ele, surpreendentemente, me acompanhou até em casa. Apresentei-me à minha mãe, com documento de identidade, dizendo que trabalhava na editora Bloch. Ele disse que me encontrou por acaso no trem, que ficou impressionado com meu rosto, e perguntou se ela tinha uma foto minha para levar à redação. Depois de alguma hesitação, minha mãe entregou para ele uma foto tirada no Carnaval de Coroa Grande, um ano antes. Algumas semanas depois, recebi um telefonema daquele famoso editor e assim começou minha carreira de modelo.” Uma carreira, na verdade, que durou muito pouco na juventude e que Xuxa só retomou agora, na idade adulta.

Xuxa posa de modelo para revista Vogue – © cortesia da Vogue Brasil 

Xuxa, com apenas vinte anos, já estava na televisão com seu programa infantil intitulado “Clube da Criança” e em 1986 conseguiu contrato com a “Rede Globo” onde, até 1992, daria vida a o popularíssimo “Xou da Xuxa”, programa que bateu todos os recordes de audiência da história da televisão infantil. Os sete discos com músicas retiradas desse show já venderam algo em torno de 18 milhões de cópias só no Brasil! Em 1988 Xuxa estreou nas telonas. Os vinte filmes rodados como protagonista foram vistos por 37 milhões de espectadores. Mas a televisão continua a ser o meio preferido de Maria da Graça Meneghel para falar ao mundo sobre as crianças. Depois do “Xou da Xuxa” seguem outros programas como “Planeta Xuxa” e “TV Xuxa”, e a cada vez a apresentadora consegue prender a atenção do seu público.

O programa “Xou da Xuxa” fez grande sucesso de público na década de 1980 – © Divulgação/TV Globo 

Um mundo, o das crianças e adolescentes, com o qual Xuxa mostra que se preocupa muito mesmo fora da sua atividade profissional. Ainda em 1988, quando ainda não era tão famosa, a dançarina deu vida à “Fundação Assistencial Xuxa Meneghel” em Pedra de Guaratiba, próximo ao Rio de Janeiro, com o objetivo de tirar das ruas centenas de crianças daquela região e da degradação. A atividade da Fundação divide-se num conjunto de iniciativas que envolvem as áreas educativa, social, cultural e amiga do ambiente, e parte do pressuposto de que nos casos em que a família ou as instituições sociais não conseguem acompanhar de perto as crianças, encontram-se em uma situação de vulnerabilidade social que afeta fortemente o seu desenvolvimento e, consequentemente, o seu futuro.

Reprodução da “Fundação Assistencial Xuxa Meneghel” – © “Fundação Assistencial Xuxa Meneghel”

Atualmente, beneficiam gratuitamente cerca de quatrocentas crianças do ensino pré-escolar e até aos doze anos. Os primeiros frequentam a Fundação continuamente, das oito da manhã às sete da manhã. Para estes, porém, constitui uma oportunidade complementar ao horário da escola pública, cuja frequência regular é condição indispensável para o acesso aos cursos organizados pela estrutura. A maior satisfação de Maria da Graça Meneghel, que é a presidente da Fundação, a incansável força motriz e sobretudo a principal financiadora, é que muitos dos seus filhos de ontem frequentam com sucesso a universidade e regressam à Fundação para dar uma mão aos educadores e animadores. Um lindo projeto, sem dúvida, para Xuxa, uma autêntica rainha das crianças mesmo fora da tela” assim conclui Paolo Meneghini em seu artigo publicado em 16 de janeiro de 2008 pelo “Messaggero di Sant’Antonio”.

Xuxa Meneghel com operadores e convidados da Fundação – © “Fundação Asstencial Xuxa Meneghel”

Desde 2018, Xuxa deixou os cargos de gestão na Fundação que também ganhou outro nome, “Fundação Angélica Goulart”. Esta é uma homenagem a Angélica, diretora falecida prematuramente, que à frente da estrutura educacional da Xuxa administrou seu planejamento estratégico e indicou novos rumos e oportunidades a serem aproveitadas, sempre confiante no futuro. Na manhã de sua morte, Xuxa Meneghel escreveu “hoje morreu o coração da minha fundação”. Porém, Angélica tornou-se um coração regador na vida de todos que conheceu nesses 22 anos como diretora da Fundação: crianças, familiares, funcionários, associados, amigos e autoridades.

Ao longo dos anos, Xuxa Meneghel tem se envolvido cada vez mais em projetos e iniciativas de proteção aos direitos de crianças e adolescentes: campanhas que dizem respeito ao combate à prostituição infantil, ao abuso sexual e ao uso de drogas, à prevenção da saúde, ao uso consciente da Internet e muito mais. mais. «Devo a minha fortuna profissional às crianças – declarou recentemente Xuxa – por isso parece-me moralmente correto aproveitar a popularidade que desfruto para dar voz aos menos afortunados entre eles».

Porém, o compromisso de Xuxa Meneghel não é direcionado apenas aos menores. Ele também participa ativamente da vida política do Brasil. Durante a campanha para as eleições presidenciais de 2022 ela apoiou publicamente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do “Partido dos Trabalhadores”. Por esse “endosso progressista” Xuxa tem sido alvo de ataques de apoiadores de Bolsonaro. Luiz Inácio Lula da Silva venceu então as eleições e em 1 de janeiro de 2023 iniciou o seu segundo mandato (o primeiro remonta ao período 2003-2010) como presidente da República Federativa do Brasil.

As ministras Nísia Trindade, Daniela Carneiro, Cida Gonçalves, a “primeira-dama” Janja Silva e a apresentadora Xuxa Meneghel – © Reprodução / Luiz Inácio Lula da Silva – © Ricardo Stuckert/PR (C. Commons CC BY 2.0)

A “primeira-dama”, Rosângela da Silva conhecida como “Janja”, em acordo com o governo federal, valeu-se de Xuxa – como depoimento – em fevereiro passado para promover uma campanha nacional de reforço de vacinação contra a Covid-19. Ao decretar o fim da emergência sanitária do coronavírus, o governo brasileiro decidiu incentivar a vacinação com o objetivo de aumentar o percentual de brasileiros imunizados com todas as vacinas disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).

Apesar do seu compromisso com as questões sociais e políticas, há alguns anos a atividade de “showgirl” de Xuxa Meneghel tem estado no centro de análises aprofundadas e por vezes até de críticas por parte da mídia e da opinião pública brasileira. Como relata a jornalista Ana Ionova em reportagem do Rio de Janeiro no último dia 15 de agosto para o prestigiado “The New York Times”: «Seus shows esgotaram nos maiores estádios da América Latina. Milhões de brasileiros cresceram assistindo Xuxa na televisão. Gerações de crianças passavam as manhãs assistindo-a brincar, cantar e dançar durante horas em seus populares programas de variedades. “Eu era uma boneca, uma babá, uma amiga dessas crianças.

Uma Barbie daquela época que chegou em uma nave espacial. Eu era branco, loiro com pernas afiladas. Acho que é provavelmente por isso que meus shows funcionaram muito, muito bem no passado. Barbie e eu éramos duas vencedoras, duas mulheres vitoriosas numa época em que só os homens podiam fazer alguma coisa. A TV era uma caixinha mágica e eu fazia parte dessa magia”, disse Xuxa. Em seu programa infantil, ela costumava usar saias curtas e botas de cano alto ao sair de uma nave espacial estampada com lábios vermelhos gigantes. E assim como a Barbie, ela se tornou um ídolo para seus fãs, que cresceram querendo ser como Xuxa e seu elenco de dançarinas adolescentes totalmente brancas, as “Paquitas”. As crianças clamavam para que os pais comprassem quadrinhos, roupas e bonecas da Xuxa, que tinham uma notável semelhança com a Barbie de plástico.

O programa “Xou da Xuxa” – © Divulgação TV Globo / © Jk Brasil (Creative Commons – CC BY-SA 4.0)

Durante seu reinado, que coincidiu com a expansão econômica do Brasil, as taxas de cirurgia estética dispararam para os níveis mais altos do mundo, e muitos foram à faca ainda adolescentes. Mas o Brasil e os seus guardiões culturais estão agora a adoptar novas definições de beleza que celebram os caracóis naturais, os corpos curvilíneos e os tons de pele mais escuros. Agora, muitos, incluindo a própria Xuxa, questionam-se se o ideal elitista que ela representava nos seus desfiles era uma força positiva num país com uma população maioritariamente negra e onde está a fermentar um debate nacional sobre o que é considerado bonito e sobre aqueles que foram cancelados. devido às suas características somáticas pela cultura popular. Xuxa destacou que as críticas agora dirigidas aos seus programas televisivos “podem ser atribuídas à cultura da época já que na época eu não considerava errado o padrão de beleza que comunicava aos meus fãs.

Hoje, porém, sabemos que estas mensagens são enganosas. Assumo a responsabilidade por ter incutido estereótipos incorretos em algumas crianças. Deus, que trauma eu coloquei em suas cabeças. Essas críticas me ensinaram muito e me amadureceram. Aprendemos a fazer as coisas certas somente quando percebemos que estamos no caminho errado. Uma lição de vida que também me ajudou na abordagem às inúmeras atividades que ainda exerço no setor da moda.”

Xuxa posa como “depoimento” para “Icaro Carlos Rocks” – © cortesia de “www.icaro.rocks/the-luxury-studio/”

No entanto, Xuxa também reivindica as mensagens positivas que tem transmitido aos seus fiéis telespectadores com os seus programas de televisão. Nas décadas de 1980 e 1990, no auge da fama, Xuxa tornou-se uma ativista “involuntária” na área social. Ele amava os animais, por isso falava sobre os direitos dos animais em seus programas de televisão. Ele aprendeu a linguagem de sinais para poder se comunicar com espectadores surdos. E vestida com fantasias que evocam a cultura drag, ela se tornou um ídolo na comunidade LGBTQ.

Xuxa em sua casa no Rio de Janeiro – © María Magdalena Arréllaga / cortesia do “The New York Times”

“Comecei por defender causas sem necessariamente saber que eram causas. Agora eu quero muito”, especificou Xuxa. Nos últimos anos, a mídia brasileira também tem feito grandes avanços em direção a uma maior inclusão social. A prova disso é que os protagonismos de todas as principais novelas brasileiras são ocupados por atores negros, e muitos noticiários e programas políticos são apresentados por apresentadores negros”, comenta a jornalista Ana ao final de sua reportagem para o “New York Times”. .Ionova.

Uma história comum e amor pela Itália

A jurista, advogada e política internacional Renata Bueno. A segunda figura ítalo-brasileira que menciono no início do artigo é a jurista, advogada internacional e política “por paixão” Renata Bueno. É assim que ela se apresenta em seu site “www.renatabueno.com.br/it”: “Primeira mulher nascida no Brasil a ser deputada no Parlamento italiano, Renata Bueno luta pelos direitos humanos e pelas liberdades individuais. Nesse sentido, atua politicamente na América do Sul, onde realiza denúncias, críticas e se opõe a qualquer forma de opressão. Na Itália, Renata defende os interesses dos descendentes de italianos e trabalha para fortalecer soluções conjuntas entre os povos e suas diferentes culturas para enfrentar os problemas da era globalizada em que vivemos.”

Banner referente a Renata Bueno – © www.renatabueno.com.br/it

Conheço Renata Bueno há muitos anos, desde que em 2013 ela foi eleita – na lista da União Sul-Americana de Emigrantes Italianos – para a Câmara dos Deputados italiana na 17ª Legislatura. Atenta a esse conhecimento, Renata Bueno concede-me agora uma exaustiva entrevista na qual retrata os principais acontecimentos de sua vida privada e pública entre o Brasil e a Itália. Ele também me conta como vai me ajudar a convencer sua compatriota Maria da Graça “Xuxa” Meneghel a visitar a aldeia de Imer no Trentino que foi berço de seus ancestrais que então emigraram para o Brasil e graças aos quais Xuxa há dez anos, por “ iure sanguinis”, conseguiu obter a cidadania italiana.

Banner referente a Renata Bueno – © www.renatabueno.com.br/it

Proponho a seguir – de forma resumida e para livre interpretação, focando especialmente nas respostas a respeito de Xuxa – a transcrição da entrevista que também pode ser ouvida na íntegra em um “podcast” ativando este contato multimídia.

Nesta longa e cordial conversa, Renata Bueno me explica analiticamente as origens de seus antepassados ​​e os motivos que os obrigaram a emigrar da Europa para o Brasil. Ele fala sobre a saga de sua família e fala sobre os momentos mais marcantes de sua vida e como consegue conciliar seus muitos compromissos entre a Itália e o Brasil. Também fornece um exame detalhado da actual situação política destes dois países.

Renata Bueno com o Papa Francisco e o presidente italiano Sergio Mattarella – © www.renatabueno.com.br/it 

Sobre Xuxa Meneghel afirma: «Ela era a rainha das crianças, no meu tempo de criança. Todo o meu mundo infantil de brincadeiras se referia à Xuxa e por isso estou muito feliz agora em poder falar dela e reviver esse momento feliz da minha infância. Ambos tínhamos satisfação em profissões que não eram fáceis, mas gratificantes. Seguindo o exemplo da Xuxa, sempre incentivei as mulheres, que anseiam pela “combinação de gênero” em todas as áreas de trabalho, a se emanciparem. Xuxa obteve enorme sucesso midiático, especialmente nas últimas décadas, não só no Brasil, mas também em muitos outros países da América do Sul e também na Europa.

Ela foi uma precursora que conseguiu romper o chamado “teto de vidro” de sua profissão e nos ensinou como nos comportar quando a ascensão profissional de uma mulher em uma organização laboral ou social, ou a conquista da igualdade de direitos, é impedida devido à discriminação e às barreiras de origem predominantemente racial ou sexual, que se colocam como obstáculos de natureza social, cultural e psicológica aparentemente invisíveis, embora intransponíveis. Xuxa foi um exemplo para nós, mulheres mais jovens, que buscamos afirmação profissional.

Renata Bueno com seu pai Rubens – © www.renatabueno.com.br/it Deputado Rubens Bueno fala à mídia brasileira – © Parlamento Federal Brasileiro (Creative Commons – CC BY 2.0 Atto)

É portanto compreensível que a Câmara Municipal e os residentes de Imer, bem como todos os habitantes do esplêndido vale de Primiero, desejem conhecer e receber a sua ilustre conterrânea para umas férias curtas. Lamento que até agora os esforços feitos para contatá-la no Brasil tenham sido em vão e inconclusivos. Fico feliz que você GianAngelo tenha pensado em mim para resolver esse “impasse” temporário. Em primeiro lugar, estou convencida de que a iniciativa que estão a promover é bela e espero que possa ser realizada rapidamente. Gostaria de ajudá-la gratuitamente a resolver este problema. Mas no momento não sei como! Xuxa é uma celebridade no Brasil e por isso é bastante complicado estabelecer uma abordagem direta com ela. Para tal, já contatei algumas pessoas que a conhecem mas até ao momento não tive qualquer feedback positivo.

Mas tentarei me comprometer porque tenho convicção de que poder descobrir suas “raízes”, ou seja, os locais de origem de seus ancestrais no Trentino, também é importante para Xuxa. Também eu vivi uma situação semelhante e posso testemunhar que ter redescoberto a minha “origem nativa” foi um momento de qualificação na minha vida, que também definiu e fortaleceu a minha personalidade. Obviamente, trazer a Xuxa para o Imer é uma promessa que espero poder cumprir, mas é difícil de implementar. Caso não o faça, quero ainda abraçar os habitantes de Imer e toda a comunidade de Primiero com um abraço ideal e amigo. Garanto-lhes que podem contar comigo e com o “Instituto Cidadania”, do qual sou fundadora e presidente, para qualquer outra iniciativa que diga respeito à procura e reunificação de famílias originárias de Primiero e Trentino que emigraram nos últimos séculos procurando por melhores condições de vida no Brasil.”

Renata Bueno com seu filho Vittorio e seu marido Angelo Martiriggiano – © Victor Sokolowicz 

Desta entrevista transparece que Renata Bueno é uma mulher autêntica, determinada, inteligente, que se conhece e se sente livre para seguir seus próprios desejos, para fazer suas próprias escolhas de forma autônoma e equilibrada. Em suma, uma pessoa satisfeita que olha para o futuro com otimismo. Renata Bueno comenta que também é uma mulher sortuda e feliz e nesse sentido destaca: «A felicidade é uma escolha. Enganamo-nos se pensamos que pode ser outra pessoa, exceto os familiares, quem nos faz felizes. Colocar uma variável tão preciosa nas mãos de outros nos torna vulneráveis. O leme da minha vida está em minhas mãos. É uma opção diária e consciente, a de ver o copo meio cheio.”

Renata Bueno com o marido Angelo Martiriggiano – © Victor Sokolowicz

Essas são qualidades também possuídas por Xuxa. Mesmo não sendo feministas, ambas se tornaram um símbolo da emancipação feminina no Brasil. Xuxa também dizia às meninas em seus programas de televisão que com perseverança e sorte elas poderiam conseguir qualquer coisa. E nesse ínterim ela administrou um império multimilionário enquanto criava uma filha como mãe solteira, especificando, referindo-se a Barbie, que nunca havia pensado em se casar e estava procurando por seu Ken.

Xuxa Meneghel e Renata Bueno visitarão o vale do Primiero no Trentino. Espero que essas duas mulheres determinadas e obstinadas – depois de ler este artigo – possam se conhecer e decidir visitar juntas o vale do Primiero no Trentino, um local esplêndido situado no coração das Dolomitas declaradas patrimônio mundial pela UNESCO. Esta seria uma boa oportunidade para Xuxa conhecer a terra de origem de seus antepassados ​​e coletar um pergaminho mostrando sua árvore genealógica que a administração municipal de Imer lhe reserva desde 2013, quando – por “iure sanguinis” – ela A cidadania italiana foi reconhecida.

Publicado originalmente em 29/10/2023 no site italiano La Voce del Nord Est (LaVocedelNordEst.it) – https://www.lavocedelnordest.eu/xuxameneghelerenatabueno/

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