Hélio Schwartsman: Justiça virtual

Plenário eletrônico do Supremo Tribunal Federal limita os debates, o que tende a reduzir qualidade das decisões

No momento o STF julga em seu plenário virtual, entre outros casos, a abertura de ação penal contra participantes dos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro e a possibilidade da volta de algo parecido com o imposto sindical, agora rebatizado de contribuição assistencial.

Eu entendo as razões que levaram o Supremo a criar o plenário virtual, em que os processos são colocados num sítio eletrônico no qual os magistrados têm um prazo para adicionar seus votos. Foi a resposta que a corte encontrou para o problema do congestionamento. E funcionou. Essa modalidade de julgamento ajuda a dar vazão ao grande contingente de casos.

O problema com esses juízos eletrônicos é que eles acabam limitando os debates, entre advogados e juízes e entre os próprios ministros. Os votos, afinal, são apenas empilhados, sem que as argumentações sejam submetidas a um processo mais estruturado de crítica. Uma das razões que tornam os julgamentos colegiados em tese superiores aos monocráticos é que eles passam por uma dinâmica de embates internos em que os argumentos vencedores são reformulados para responder às objeções dos “dissenters” (acho até que a sistemática de votação no plenário físico do STF não explora tanto essa propriedade como deveria, mas essa é uma outra questão).

Se um dia o Brasil resolver fazer uma reforma séria do Judiciário, uma ideia a considerar é transformar o STF numa corte constitucional mais próxima da norte-americana, que escolhe não mais do que uma dúzia de processos por ano para julgar. São tipicamente casos de alto impacto e relevância social que terão efeito vinculante para toda a Justiça.

No atual modelo, o STF converteu-se na prática numa quarta instância, o que é desnecessário (três instâncias já satisfazem ao princípio do devido processo legal) e serve apenas para congestionar a corte máxima, baixar a qualidade de suas decisões e encarecer o Judiciário. (Folha de S. Paulo – 19/04/2023)

Hélio Schwartsman, jornalista, foi editor de Opinião. É autor de “Pensando Bem…”

Leia também

Uma Homenagem ao “Partido da Democracia”

Evento promovido pela FAP e Cidadania-23, com apoio do jornal Correio Braziliense, produziu uma exposição magnífica de fotos, documentos, objetos significativos, palestras e debates.

Historiador analisa trajetória dos partidos em 40 anos de democracia

Os partidos políticos, organismos centrais da vida democrática, são incapazes de se abrirem para a dinâmica de transformações que ocorrem na vida social e econômica.

A antecipação do bipartidarismo

O governador Rafael Fonteles e o senador Ciro Nogueira...

Furor tarifário faz de Trump passageiro do passado

Trump também ameaçou taxar em 100% os países do Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, se quiserem "brincar com o dólar".

Cabeças no Congresso

Eliminar a vergonha de privilégios e vantagens que fazem a República democrática dar mais benefícios aos seus dirigentes do que o Império oferecia a sua nobreza.

Informativo

Receba as notícias do Cidadania no seu celular!