Para se reeleger presidente da Câmara, deputado une petistas e bolsonaristas em frente amplíssima na Casa
Lula ainda não vestiu a faixa, mas o Centrão já pode comemorar sua primeira vitória no novo governo. O PT desistiu de desafiar o reinado de Arthur Lira. Vai apoiar sua reeleição à presidência da Câmara.
Nos últimos dois anos, Lira foi o principal escudeiro de Jair Bolsonaro. Fingiu não ver os crimes de responsabilidade e escondeu na gaveta mais de uma centena de pedidos de impeachment.
Além de oferecer os serviços de blindagem, o deputado pediu votos para o capitão. Em julho, subiu no palanque com o nome e o número do aliado estampados na camisa. O ato foi marcado por ataques ao Supremo.
Lira é um bolsonarista com fins lucrativos. Ao aderir, ganhou a chave do cofre e passou a manejar bilhões de reais do governo. Virou dono do orçamento secreto, que Lula definiu como “a maior bandidagem feita em 200 anos”.
Depois que as urnas se fecharam, o presidente eleito suavizou sua opinião sobre o deputado. Há três semanas, os dois se abraçaram e sorriram para fotos. Ontem a bancada do PT oficializou o apoio à reeleição do ex-rival.
Os petistas argumentam que o momento requer pragmatismo. Lira já estaria com a vitória garantida, e insistir numa candidatura alternativa só serviria para marcar posição.
“Ruim com ele, pior contra ele”, resume um dos deputados mais influentes da sigla. Ele se refere ao trauma de 2015, quando Dilma Rousseff tentou enfrentar Eduardo Cunha, foi derrotada e ganhou um inimigo na cúpula do Congresso.
Lira se projetou como discípulo de Cunha. Exibe o mesmo apetite e mais sangue-frio para saciá-lo. Sob seu comando, o Centrão desbancou o velho MDB. Virou líder de mercado no ramo de negócios parlamentares.
Para se reeleger, o chefão da Câmara montou uma frente amplíssima: conseguiu unir o PT de Lula ao PL de Bolsonaro. Pelas contas de ontem, já garantiu mais de 400 votos. Se a previsão se confirmar, será difícil contrariá-lo a partir de fevereiro.
Os petistas dizem que o acordo garantirá o sucesso da chamada PEC da Transição. O problema é que o programa do presidente eleito não se limita a pagar o Bolsa Família. E Lira vai cobrar caro por cada uma das outras promessas. (O Globo – 30/11/2022)