IMPRENSA HOJE

Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais (19/09/2022)

MANCHETES DA CAPA

O Globo

Montadoras adaptam fábricas e buscam fornecedor local
Bolsonaro faz discurso de campanha em viagem para velório da rainha
Agronegócio lidera financiamanto de campanhas
Maior rede evangélica do país tem laços à direita e à esquerda
O desafio escolar para receber alunos com deficiência
Entrevista/Diogo Lara – Psicodélicos contra burnout
Um rei de 73 anos que precisa falar com os jovens

O Estado de S. Paulo

26 alvos da Operação Lava Jato disputam as eleições
Bolsonaro fala em tom de campanha em Londres; rivais acionam a Justiça
Em época de juros altos, consórcios vivem ‘boom’
Bolsa espera retomada de IPOs após as eleições
Novamente alvo de racismo, Vinícius Júnior ‘baila’ em vitória na Espanha
Ucranianos atacam cidades na fronteira da Rússia e elevam pressão sobre Putin

Folha de S. Paulo

Demarcação zero agrava abandono em terra indígenas
PF impede fraude no INSS de quase R$ 500 mi
Bolsonaro leva ato de campanha ao funeral da rainha
Presidente deixa dívida maior e gastos represados
Luiz Chrysostomo – R$ 1 trilhão em privatização é ficção eleitoral
País tem recorde de candidaturas de religiões afro
Federais prendem homem acusado de xingar Lula
Série Eleições na Internet analisa o impacto das redes
Bebês de até 1 ano terão prioridade na vacina da Pfizer
Tráfico volta a montar barracas na cracolândia

Valor Econômico

Risco fiscal em ações contra a União vai a R$ 2,6 trilhões
Fala de Bolsonaro em viagem gera ações no TSE
Maioria acredita em manutenção dos juros
Empresas impulsionam redes de 5G privadas
Decisão do Cade movimenta setor de academias

Correio Braziliense

Expectativa sobre juros impacta corrida eleitoral
Propaganda política é reforçada na reta final do pleito no DF
Bolsonaro vai a funeral da rainha, que se encerra hoje
Economista alerta para os riscos num eleição polarizada ao extremo
Volume de vendas on-line cresce 6% no primeiro semestre

EDITORIAIS

O Globo

PRF se tornou modelo de polícia do bolsonarismo

Corporação que deveria patrulhar estradas vira protagonista de chacinas e investigações de caráter duvidoso

Na antológica reunião ministerial do dia 22 de abril de 2020, o presidente Jair Bolsonaro, ao seu jeito, reclamava que os serviços de inteligência não lhe forneciam informações para proteger família e amigos. Anunciou que faria mudanças. Desde então, houve denúncias de interferência dele na Polícia Federal (PF) e de uso da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em benefício de seus familiares. Mas foi na Polícia Rodoviária Federal (PRF) que Bolsonaro e seus filhos encontraram o braço policial e de inteligência com que sonhavam.

Uma reportagem da revista piauí narra em detalhes a progressiva transformação da PRF. De uma polícia dedicada ao patrulhamento de rodovias federais, ela se tornou uma corporação a serviço do bolsonarismo, cuja tropa de elite passou a investigar e combater crimes fora das estradas, com envolvimento em operações policiais e chacinas elogiadas nas redes sociais pelo clã Bolsonaro. É um assunto que, pela gravidade, precisa ser investigado pelo Congresso, pelo Ministério Público e demais autoridades competentes.

Assim que chegou ao Planalto, Bolsonaro passou a tentar ampliar a atuação da PRF. Foi o ainda ministro da Justiça, Sergio Moro, quem baixou portaria a autorizando a atuar na segurança pública, na “prevenção e no enfrentamento do crime”. A Associação dos Delegados da Polícia Federal pediu ao Supremo a suspensão da medida, sob o argumento de que só uma lei poderia alterar o escopo de atuação da PRF. Sem sucesso. O sucessor de Moro na Justiça, André Mendonça, pressionado pela PF, anulou a portaria em janeiro de 2021. Deixou, porém, que os policiais rodoviários atuassem com outras polícias no “apoio logístico”. O termo de sentido vago abriu a porta aos abusos.

O mais notável foi o massacre de duas quadrilhas que planejavam uma onda de assaltos em Varginha, interior de Minas Gerais, em outubro de 2021. O então comandante da PRF ligou para avisar a Bolsonaro que 28 policiais rodoviários com o apoio de 22 PMs de Minas haviam matado 26 homens que se preparavam para assaltar a agência do Banco do Brasil. As evidências sugerem um massacre. Tão logo as mortes foram divulgadas, dois filhos de Bolsonaro, o senador Flávio (PL-RJ) e o deputado Eduardo (PL-SP), celebraram.

Sete meses depois da chacina de Varginha, a PRF soube da reunião de uma organização criminosa fluminense, e 41 policiais rodoviários de elite armaram uma emboscada a traficantes que se dirigiam ao Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. Na retaguarda estavam 40 policiais do Bope. Foi a segunda ação mais letal na História do Rio, com 23 mortos, entre eles uma moradora atingida por bala perdida.

Esses são apenas os exemplos mais graves na atuação de uma corporação que, enquanto reduz a vigilância nos 75 mil quilômetros de estradas federais, se revela a cada dia mais mortífera. Em 2019, a PRF matou quatro pessoas. Em 2020, 16. Em 2021, 35. Neste ano, até junho foram 38, inclusive um motociclista com problemas psiquiátricos, sufocado com gás lacrimogêneo no porta-malas de uma viatura em Sergipe.

A PRF também tem, segundo a reportagem, investido em tecnologia de investigação criminal, sistemas de escuta e monitoramento de comunicações usados nem sempre com autorização judicial. Com a capacidade de intrusão e maior letalidade, a PRF vem se tornando aos poucos o modelo de polícia do bolsonarismo.

O Estado de S. Paulo

Ministério não é panaceia

Vença Lula ou Bolsonaro, crescerá o número de Ministérios. Mas isso de nada serve ao País se o governo não for capaz de formular boas políticas norteado pelos interesses da sociedade

O petista Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro parecem concordar que há uma solução mágica para todos os problemas do País: a criação de Ministérios. O demiurgo de Garanhuns, até o momento, prometeu criar nada menos do que dez pastas. O incumbente, mais quatro.

A desfaçatez de Bolsonaro chega a ser ainda mais evidente: afinal, ele foi eleito em 2018 prometendo formar um governo “enxuto”, com apenas 15 Ministérios, o suficiente, em suas palavras, para representar “os interesses da população, e não dos partidos políticos”. Pois Bolsonaro não só criou mais oito pastas durante o mandato, como agora promete criar outras quatro, caso seja reconduzido ao cargo.

Se Lula for eleito, seu governo poderá ser composto por 32 Ministérios a partir de 2023 – 9 a mais do que a atual configuração da Esplanada. Isso inclui o desmembramento de pastas que já existem, como os Ministérios da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, da Economia e da Justiça e da Segurança Pública, além da recriação de outras, como o Ministério da Pesca, da Cultura e do Planejamento. Lula prometeu ainda a criação de um Ministério dos Povos Originários. “Se a gente criou o Ministério da Igualdade Racial, dos Direitos Humanos e o da Pesca, por que a gente não pode criar um Ministério para tratar das questões indígenas?”, disse o petista durante um comício em Brasília.

Já Bolsonaro pretende recriar os Ministérios da Pesca, hoje vinculado ao Ministério da Agricultura; do Esporte, vinculado à pasta da Cidadania; da Indústria e Comércio, hoje sob a alçada do Ministério da Economia; e da Segurança Pública, que desde o governo de Michel Temer compõe o Ministério da Justiça.

É inegável que há um forte simbolismo na criação de um Ministério. É uma sinalização inequívoca para a sociedade de que a área abarcada pela pasta é considerada prioritária para o governo que a criou. A questão é que símbolos não resolvem problemas. Políticas públicas bem concebidas e executadas, sim.

Um governo pode ter 40 Ministérios e não cuidar bem das questões mais prementes para a população. Pode ter poucas pastas e também não solucioná-las. O ponto principal, portanto, não é o número de Ministérios. Cada governo organiza sua estrutura administrativa da forma que julgar mais conveniente. Fundamental é haver disposição genuína para governar tendo os interesses de todos os segmentos da sociedade como norte indesviável.

A história recente do País está cheia de exemplos de Ministérios que foram criados apenas para acomodar interesses políticos, no melhor cenário, ou abrigar apaniguados do governante de turno para fins de corrupção, no pior. Há até uma expressão para essa forma descarada de patrimonialismo: a entrega do Ministério com “porteira fechada”, ou seja, o “donatário” de uma parte da administração pública tem liberdade para fazer o que bem entender, nem sempre dentro da lei.

O regime presidencialista, combinado com um quadro multipartidário, implica uma divisão do poder político que se reflete na configuração da estrutura do Poder Executivo. Em tese, nada há de ruim nisso. O que é inaceitável é governar por força do pensamento mágico, como se a mera criação de Ministérios fosse, por si só, a solução para os problemas do País. Ou, pior, conceber Ministérios para comprar apoio político e, dessa forma, evitar a eventual responsabilização do mau governante. Sejam muitos ou poucos, os Ministérios devem organizar a administração de forma a bem servir a sociedade.

O problema é que tanto Lula como Bolsonaro, a menos de 20 dias da eleição, ainda não deixaram claro quais são seus planos concretos de governo, razão pela qual não se sabe qual será a serventia dos prometidos novos Ministérios, caso saiam do papel. Certamente há muitos eleitores crentes de que a batelada de Ministérios de Lula e Bolsonaro estará a serviço de um projeto sólido de País. Mas não se pode condenar os eleitores que suspeitam de que se trata de mais um festival de voluntarismo populista, e que, passado o entusiasmo da criação dos Ministérios, seja o da Pesca, seja o dos Povos Originários, os nobres propósitos darão lugar aos interesses privados dos que apoiam o governo em troca de benesses. Para isso, nem mesmo um Ministério do Espírito Público daria jeito.

Folha de S. Paulo

Respiro econômico

Atividade e emprego ainda melhoram no país, embora cenário de 2023 seja incerto

Em meio às várias tempestades globais, que incluem guerra, escassez de matérias-primas e risco de recessão, a economia brasileira respira. Com atividade em alta, queda do desemprego e incipiente acomodação da inflação, os resultados deste ano são positivos.

Depois da alta de 1,2% do Produto Interno Bruto no segundo trimestre, os indicadores preliminares de julho e agosto sugerem continuidade. O IBC-Br, índice do Banco Central que consolida o desempenho de indústria, serviços e agropecuária, subiu 1,2% em julho, um bom começo para o terceiro trimestre.

A demanda nos serviços permanece firme, com expansão de 1,1% em julho nas vendas, enquanto prossegue a retomada de atividades prejudicadas pela pandemia. Tal dinamismo compensa a queda das vendas no varejo, que caíram em julho pela terceira vez seguida.

Na indústria, os números têm sido modestos, mas favoráveis. O mesmo vale para a agropecuária, mas neste caso os prognósticos são alvissareiros para a próxima safra. Com preços em escalada, de todo modo, a renda do agronegócio vem batendo recordes.

A retomada recente se observa na criação de empregos, que reduziu a taxa de desocupação para 9,1% no trimestre encerrado em julho, a menor desde 2014. Embora o rendimento médio ajustado pela inflação ainda esteja próximo do piso da série histórica, a massa salarial cresceu 6,1% ante o mesmo período do ano passado.

Ao que parece, o crescimento do PIB deve se aproximar de 3% neste ano. Ao mesmo tempo, a inflação recua, em razão principalmente dos cortes nos impostos sobre combustíveis. As projeções para o IPCA deste ano se reduziram de quase 9%, em julho, para 6,4%. Note-se, porém, que setores como os serviços ainda estão pressionados.

As boas notícias motivaram o ministro da Economia, Paulo Guedes, a entrar mais diretamente na campanha pela reeleição de Jair Bolsonaro (PL) —o que decerto não favorece a credibilidade da gestão.

O ânimo de Guedes pode se revelar prematuro. Para 2023, a expectativa é de desaceleração da atividade para apenas 0,5%, segundo as estimativas mais recentes.

As causas seriam a perspectiva de uma recessão global, os efeitos crescentes da política monetária restritiva no próximo ano, o esgotamento dos impactos da reabertura nos serviços e alguma contenção de gastos públicos, como costuma ocorrer no início de um novo ciclo presidencial.

Entre esses fatores, apenas os juros altos são uma certeza. No que está sob controle do governo, o cenário dependerá especialmente da difícil definição do Orçamento de 2023 e das regras fiscais que valerão para os próximos anos.

Valor Econômico

País não pode dar argumentos ao protecionismo europeu

O desmatamento acumulado na Amazônia já alcançou quase 8 mil km2 em apenas oito meses de 2022, o maior registro dos últimos 15 anos

A nova regulamentação da União Europeia para produtos “livres de desmatamento”, que tem o potencial de atingir até 80% das exportações agrícolas do Brasil para o bloco, serve como uma pequena aula sobre a fragilidade do sistema multilateral de comércio e as consequências do abandono de políticas ambientais na gestão Jair Bolsonaro.

Na semana passada, o Parlamento Europeu aprovou novas regras que vedam a compra de produtos vindos de áreas de desmatamento. Houve significativa ampliação em relação à minuta discutida desde o fim do ano passado. A lista original contemplava carne bovina, soja, café, cacau, óleo de palma e madeira. Foi estendida para carne de frango e suína, ovinos e caprinos, milho, borracha, carvão vegetal e papel. O texto com a proibição ainda precisa percorrer alguns passos antes de entrar em vigência, mas terá prioridade da presidência tcheca na UE e deverá estar pronto até a CoP-27, em novembro, segundo a consultoria BMJ relatou em boletim a clientes, com base em conversas com interlocutores europeus.

Não bastasse toda a polêmica conceitual, surgem diversos pontos controversos no detalhamento da regulamentação. Um deles é o estabelecimento de uma poligonal para a geolocalização da produção, com latitude e longitude, em que qualquer produto vindo de área classificada como de desmatamento ou degradação ambiental terá entrada na UE barrada. Outro é a definição de que florestas plantadas após 31 de dezembro de 2019 equivalem a regiões desmatadas, pois o uso original do solo foi modificado – não fica claro, por exemplo, como seria o tratamento dado à madeira extraída de áreas com essa finalidade. O uso indireto de produtos associados ao desmatamento também faz parte da normativa. Ou seja, se uma ave ou porco for alimentado com grãos oriundos de zona devastada, a produção será enquadrada como promotora da degradação ambiental.

De que forma essas regras serão aplicadas é mais uma fonte de incertezas. No mínimo, aumentará o custo dos exportadores com trâmites burocráticos para comprovar que essas exigências estão sendo cumpridas. A insegurança das operações – com o risco de novas barreiras aleatórias – crescerá. Na pior das hipóteses, vendas à UE serão frustradas.

Unilateralista, o novo regramento europeu é mais um golpe ao sistema internacional de comércio, espancado pelo governo Donald Trump com a adoção de medidas restritivas contra produtos chineses. A Organização Mundial do Comércio (OMC), fundada em 1995 após oito rodadas bem-sucedidas de liberalização, foi esvaziada como arena para negociações de novos acordos. Ela sequer tem funcionado, diante da falta de juízes em seu órgão de apelações, como instância para dirimir contenciosos. A ação da UE reforça o sentimento que a agenda multilateral está enfraquecida, e sem sinais de reversão.

Isso posto, há que se reconhecer como o próprio Brasil tem alimentado sua imagem de vilão ambiental. De acordo com dados do Imazon, o desmatamento acumulado na Amazônia já alcançou quase 8 mil km2 em apenas oito meses de 2022, o maior registro dos últimos 15 anos. Somente em agosto foi derrubada uma quantidade de mata nativa equivalente a quatro vezes a área de Belo Horizonte. Além de ameaças à preservação da floresta amazônica, em sua riqueza e biodiversidade originais, o descaso põe em xeque o modo de vida dos povos indígenas. A sequência de maus resultados no combate ao desmatamento, a desidratação do Ibama e do ICMBio, o discurso de tolerância com o garimpo ilegal, o abandono de parcerias de sucesso – como o Fundo Amazônia – minam a confiança da comunidade internacional no país. Em suma: o Brasil pode ter toda a razão nos protestos contra o protecionismo da UE, mas o governo Bolsonaro entrega de bandeja, aos protecionistas, os argumentos para que se fechem as portas para produtos brasileiros.

Da mesma forma, o histórico acordo de livre comércio fechado em 2019 entre o Mercosul e a UE encontra-se parado desde então, sem a menor evidência de que será assinado e ratificado por Bruxelas. Mais uma vez, é justo pensar que o lobby anti-abertura de países como França e Irlanda joga contra a implementação do tratado, mas essa postura é facilmente amplificada pela inexistência de argumentos convincentes de que o Brasil está empenhado em mudar a curva assustadora do desmatamento. Cabe à ala mais moderna do agronegócio, como grande interessada, pressionar o governo – seja ele qual for – por firmeza e prioridade na preservação da floresta amazônica. As consequências do descaso já chegaram, e serão sentidas em dólares.

Correio Braziliense

Cerrado: tesouro negligenciado

Com 66.625km² transformados em cinzas nos oito primeiros meses do ano, o bioma teve no período o quadro mais crítico dos últimos seis anos em relação às queimadas

Em mais uma estação seca, o bioma que ocupa aproximadamente um quarto de todo o território brasileiro, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) — e que talvez seja entre todos o mais negligenciado —, é devorado novamente pelo fogo em proporções assustadoras. Com 2 milhões km² e áreas de influência que chegam a se estender por unidades da Federação praticamente inteiras, como Tocantins, Goiás e o Distrito federal, e por grande parte de outras, caso de Minas Gerais, o cerrado é a formação que foi mais consumida pelas chamas até o mês de agosto deste ano, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Com 66.625km² transformados em cinzas nos oito primeiros meses de 2022, o bioma de árvores retorcidas teve no período o quadro mais crítico dos últimos seis anos em relação às queimadas. Desde 2016, a formação que é considerada a savana mais biodiversa do planeta não queimava tanto, aponta o Inpe. E em setembro, mês em que tradicionalmente se concentram os picos de incêndios florestais, a situação não melhorou: foram mais de 9 mil focos de calor detectados pelo satélite de referência do instituto apenas nos 16 primeiros dias do mês.

Ainda de acordo com os dados do Inpe, em termos de área queimada no mês de agosto, o cerrado liderou o ranking, com 28,2km² devastados pelo fogo, ou 48,9% da vegetação total perdida pelo país para as chamas. Para efeito de comparação, a Amazônia, onde as queimadas costumam provocar impacto bem mais severo na opinião pública e despertar muito mais atenção, inclusive no cenário internacional, ficou em segundo lugar, com 24 quilômetros quadrados consumidos em incêndios, ou 41,7% do território nacional reduzido a cinzas no período.

Quando se considera a soma dos oito primeiros meses de 2022, porém, a disparidade assusta. Sempre segundo dados coletados via satélite pelo Inpe, os 66,6 mil km² de cerrado atingidos pelo fogo no período representam 85,6% mais que os 35,8 mil km² devastados pelas chamas na Amazônia brasileira até agosto deste ano.

Embora a preservação amazônica seja motivo de justa preocupação da opinião pública planetária, chama a atenção o fato de a devastação do cerrado ser tão negligenciada. Se não por sua importância natural, ao menos por ser imprescindível à própria economia do país. Uma das fronteiras e expansão do agronegócio — e pressionado exatamente por isso —, o bioma cujo aspecto seco parece um convite ao fogo tem importância marcante exatamente por sua riqueza hídrica, garantindo um recurso sem o qual nenhuma lavoura prospera. Nenhuma atividade humana, na verdade.

Dono de um tesouro líquido, seu subsolo é fonte de nascentes que, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), alimentam oito das 12 regiões hidrográficas brasileiras, com destaque para três: a bacia dos rios Araguaia/Tocantins, que tem no bioma a origem de 78% de suas águas, a Bacia do São Francisco (70%) e a Bacia do Rio Paraná (48%). Não é à toa que a própria Embrapa trata o cerrado como o “pai das águas no Brasil”.

Considerando ainda o fato de a formação abrigar fauna estimada por especialistas como equivalente a 5% do total mundial e cerca de um terço da brasileira, além da projeção de manter 12 mil espécies da flora, é difícil compreender a pouca atenção que a preservação do bioma merece, não apenas de autoridades, mas da opinião pública mundial. Segundo o projeto MapBiomas, iniciativa que envolve universidades, empresas de tecnologia e ONGs, o cerrado perdeu apenas de 1985 a 2020 cerca de um terço de sua cobertura vegetal. Restam 54,4% de vegetação nativa, segundo a mesma fonte.

Conter o avanço do fogo sobre essa vegetação e cuidar para que a pressão da agropecuária se dê de forma minimamente sustentável é o mínimo para esperar que o bioma siga resistindo.

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