Bernardo Mello Franco: Intolerância religiosa sobe no palanque de Bolsonaro

O terrorismo religioso subiu no palanque de Jair Bolsonaro. Na segunda-feira, o deputado Marco Feliciano disse que tem “alertado” fiéis sobre as consequências de uma vitória da oposição. “Falamos no risco de perseguição. Uma perseguição que pode culminar no fechamento de igrejas”, afirmou à CBN.

O pastor escancarou a tática que tem sido usada em púlpitos: repetir que os adversários do bolsonarismo não gostam de evangélicos. A ordem é demonizar a esquerda e amedrontar os fiéis. Feliciano abriu o jogo, mas não está sozinho nessa ofensiva.

Na semana passada, Michelle Bolsonaro associou religiões de matriz africana às “trevas”. Ela compartilhou uma publicação em que o ex-presidente Lula é acusado de “entregar sua alma” para voltar ao poder. No vídeo, o petista recebe um banho de pipoca em visita à Bahia. “Isso pode, né! Eu falar de Deus, não!”, provocou a primeira-dama.

Michelle foi escalada para atuar como cabo eleitoral na campanha do PL. Em busca do voto evangélico, tem flertado com o messianismo e a intolerância religiosa. Há poucos dias, ela disse que o Planalto estava “consagrado a demônios” antes da posse do marido. Ontem comparou Lula a um “inimigo” disposto a “matar e destruir” para se eleger.

A cruzada bolsonarista já alcançou seu primeiro objetivo: empurrou o PT para a defensiva. Em panfleto divulgado nas redes sociais, o partido afirma que o ex-presidente é católico, respeita todas as religiões e não vai fechar igrejas. A decisão de desmentir os boatos sugere que eles já começaram a surtir efeito em alguns nichos do eleitorado.

A experiência das últimas campanhas mostra que o fundamentalismo dá voto. Em 2018, a extrema direita acusou Fernando Haddad de distribuir um “kit gay” nas escolas. A onda de desinformação ganhou força no segundo turno, facilitando a vitória folgada de Bolsonaro.

Ao deslocar o debate da arena econômica para o terreno religioso, o capitão aumenta suas chances no confronto direto com Lula. Ontem o ex-presidente voltou a morder a isca, arriscando-se no campo do adversário. “Se tem alguém que é possuído pelo demônio, é esse Bolsonaro”, afirmou. (O Globo – 17/08/2022)

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