O noticiário relativo às Forças Armadas nos últimos meses é tão calculadamente negativo que parece parte de uma campanha publicitária concebida para desmoralizar os militares.
Primeiro botaram um general de intendência para comandar o Ministério da Saúde na pior fase da pandemia. Sua gestão foi um pesadelo médico —o que não surpreende muito, já que o general não é do ramo— e logístico. Faltou oxigênio em Manaus e houve atraso nas compras de vacinas, sobre as quais há suspeitas de corrupção.
Depois vieram a público itens nos quais o Ministério da Defesa gastou verba da Covid-19. Eles incluem milhares de litros de cerveja, uísque e conhaque finos, toneladas de filé mignon e picanha, além de bacalhau e camarão —e tudo com indícios de superfaturamento. Se as pessoas já achavam que quartéis eram templos de hedonismo, essa impressão fica consolidada agora, com a informação de que os militares andaram comprando dezenas de milhares de comprimidos de sildenafil, o genérico do Viagra, também com suspeita de superfaturamento. A explicação de que a droga se destina a tratamento de hipertensão pulmonar é difícil de conciliar com a epidemiologia da moléstia, que é rara e afeta principalmente mulheres.
Temos agora os áudios de ministros do STM discutindo casos de tortura nos anos 70. Eles tinham conhecimento dos fatos, da lei e não puseram um fim ao que eles próprios definiram como covardia.
Descumpriram assim suas obrigações como magistrados e como militares. Ok, isso é história antiga, mas, comentando o caso agora, o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, fez ironias sobre os mortos e insinuou que devemos mesmo varrer tudo para debaixo do tapete.
Incompetência, roubalheira e pusilanimidade é o resumo do noticiário militar. E há ainda o golpismo permanente. Vai ficando cada vez mais difícil sustentar que as Forças Armadas se modernizaram e democratizaram. (Folha de S. Paulo – 20/04/2022)
Hélio Schwartsman, jornalista, foi editor de Opinião. É autor de “Pensando Bem…”.