Nada mais pertinente para esses tempos em que avanços e retrocessos caminham de braços dados que reforçar a importância da representatividade, da repercussão das narrativas que as reconheçam como potências e mais que isso, da visibilidade Delas. Das comandantes dos fogões e dos tanquinhos, das que aprendem a ensinar a sobreviver ao tempo em que morrem todos os dias, seja pelas mãos de seus agressores, seja pela ausência do Estado e de suas políticas públicas.
Segundo texto na Folha, houve um aumento nos índices de feminicídio no país em 2020, comparado ao ano anterior. O registro apontou que 1338 mulheres foram assassinadas no Brasil, um número inaceitável e que indica o quanto mulheres brasileiras estão vulneráveis às violências.
E elas são a resistência, a resiliência, a presença permanente, as que carregam a missão de enfrentar um mundo desigual, com o peso de todas as cólicas que dilaceram seus úteros. São elas as que emitem o alerta, que criam as estratégias, que articulam os planos de sobrevivência, as que nem sempre nutrem sonhos por não lhes restar tanto tempo.
Segundo pesquisa do Espro, 20% de jovens entre 14 e 24 anos já deixaram de ir à escola por não terem absorventes durante o período menstrual, esse número aumenta para 24% quando se trata de mulheres pretas.
E é por Elas que estamos aqui, numa rede transversalizada pela diversidade, pelas regionalidades, pelas especificidades que nos rodeiam. Estamos por Elas porque somos Elas, somos a mama que escorre leite e alimenta a alma de quem acredita na nossa história, somos os braços que acolhem e acalentam o choro de desespero ao se deparar com as injustiças, essas mesmas que atiçam a nossa reação e que estremecem as suas estruturas.
A Cufa – Central Única das Favelas – lançou a campanha nacional Cufa contra o vírus e o projeto Mães da Favela durante a pandemia da Covid 19. Só em 2021, foram arrecadados R$ 375,3 milhões, que foram convertidos em cestas básicas físicas e digitais, além de outros recursos como chips de telefonia com pacotes de internet grátis, gás, produtos de higiene e limpeza, entre outros.
Somos a coluna, a resenha, o artigo e a poesia. Somos a maior potência de Marias, somos a teia que une esse país numa imensa rede de combate à carestia. Somos as mães, as avós e as filhas, somos mulheres pretas, não pretas, trans, cis, quilombolas, ribeirinhas e indígenas. Somos a multiplicidade que ocupa cada viela e cada esquina, somos sudestinas, sulistas, nortistas e nordestinas. Somos a mais alta patente, somos a maior potência, somos a Favela Feminina.x (Folha de S. Paulo – 08/03/2022)
Kalyne Lima, coordenadora do Mulheres da Cufa (Central Única das Favelas) e copresidente Nacional da Cufa