Huck sobre 2022: precisamos unir forças para tirar o “entulho” do meio da rua

Apresentador diz que atual gestão não apresenta perspectiva de futuro social ou econômico e se resume a “um monte de blá-blá-blá”

O apresentador Luciano Huck criticou nesta segunda-feira (1) a gestão da crise sanitária e econômica no Brasil. Para ele, o brasileiro vive hoje um momento de muita incompetência, falta de planejamento e negacionismo responsável por mais de 250 mil mortes na pandemia. As declarações foram dadas em debate do Davos Lab Brasil pela internet.

“A gente tem de fazer um esforço enorme todos nós. A gente um entulho no meio da sala nesse momento e a gente tem de somar forças pra retirar esse entulho do meio da rua ou do meio da sala. A gente tá vivendo um momento de muita incompetência, de falta de planejamento, um negacionismo que já gerou mais de 250 mil mortos e a gente não vê a curto prazo perspectiva de solução. Não nos apresenta nenhum tipo de perspectiva de futuro. É um monte de blá-blá-blá que a gente está ouvindo. Não vejo perspectiva social, econômica, de meio ambiente, segurança pública e muito menos de ética”, sustentou.

Para Huck, o momento exige reflexão sobre valores e maior conexão entre a sociedade e a política. Esse distanciamento, segundo ele, pode ser visto no descaso com que autoridades tratam famílias vítimas da doença.

“A gente vê tanta disfuncionalidade, tanta revolta que nos geram os absurdos que temos assistido ao longo desse ano da pandemia. Eu fico imaginando as 250 mil famílias que hoje não tem um pai, tio, avô, mãe na mesa e são tratados só como número, sem o menor respeito, com descrença, negacionismo. E isso me gera muita tristeza”, lamentou.

Na outra ponta, ele lembrou o engajamento da sociedade civil no combate à pandemia, mas afirmou não ser suficiente para mudar a realidade do país.

“Podemos juntar todos os filantropos do mundo, obviamente vamos gerar bons exemplos, mas isto não vai transformar. Se juntarmos todos os Bill Gates do mundo, a gente não consegue mexer no ponteiro da desigualdade. Quem mexe de verdade no ponteiro da desigualdade, na geração de oportunidades, é o Estado. E ele é gerido pela política e pelos políticos”, apontou.

Renda Básica e Desigualdade

Nesse cenário, com o recrudescimento da pandemia de COVID-19 e a necessidade de isolamento social, Huck voltou a defender a renovação do auxílio emergencial, o que é possível fazer, em sua avaliação, mantendo o equilíbrio fiscal.

“Se você não cuida das suas contas, não consegue cuidar das pessoas. É importante levar em consideração o equilíbrio econômico do país, mas é muito importante atender a quem está precisando”, observou.

Ainda falando sobre as desigualdades sociais, o apresentador e empresário reiterou a necessidade de combatê-las como algo urgente no Brasil lembrando que, para as classes mais baixas atingirem a média da classe média, seriam necessárias 9 gerações, realidade que condena uma parcela grande dos brasileiros à exclusão centenária.

“Isso é tão grave quanto a desigualdade na qualidade do ensino entre a escola do rico e a do pobre, quanto a não geração de oportunidades que a gente vive no Brasil hoje. Essa cruel loteria do CEP, que onde você nasce determina praticamente como vai ser sua vida e o lugar onde você vai morrer. É pensar em um mundo sombrio, quando não se tem esperança de algo melhor. Você deixa de trabalhar a imaginação, o sonho, deixa de ter esperança”, condenou.

Polarização e renovação

Falando sobre o cenário internacional e seus impactos no Brasil, Huck lamentou que, apesar do potencial sustentável e agroindustrial do país, o governo não lidere nenhuma agenda global.

“Hoje, o Brasil virou pária no mundo quando a gente poderia ser uma potencialidade gigantesca em várias agendas, começando pela ambiental. Infelizmente, estamos na capa dos jornais, mais uma vez, por motivo de vergonha, pela incompetência e falta de planejamento que a gente teve na gestão da nossa crise sanitária”, afirmou.

Na avaliação de Huck, é preciso ter capacidade e habilidade para superar a polarização instalada hoje no país, que gera ódio e não ajuda na solução dos problemas.

“Não concordo com essa narrativa de que, se você pensa diferente, você é inimigo, se você não veio daqui, você não pertence a esse espaço. Temos de buscar e encontrar as melhores ideias, não importa onde estejam”, disse.

Como parte da superação desse momento, ele argumentou que é preciso reconhecer vozes diferentes, ampliar o debate, e isso se faz trazendo gente nova para a política em contraponto aos velhos caciques.

“As pessoas precisam se sentir representadas. Quando vemos os nomes que tradicionalmente estão ligados à política e são os mesmos há tantos anos, você não vê renovação e nem novas posições. É preciso ter capacidade de eleger novas cabeças com visões diferentes. Independente da nossa ideologia, de onde a gente nasceu, todo mundo faz parte do problema. Temos que ter a capacidade de ouvir as minorias, os movimentos sociais, as mulheres. Temos que ter a capacidade de unir todo mundo pra poder agir e fazer um país mais justo e eficiente”, acrescentou.

Huck mencionou o exemplo do RenovaBR que, desde 2017, já formou 1.953 alunos e elegeu, em 2018, 17 novas lideranças para o Congresso Nacional, e, em 2020, 152 nomes, entre prefeitos, vice-prefeitos e vereadores, de 25 partidos em todas as regiões do Brasil.

“Nasceu com a intenção de ser uma escola de liderança que a gente pudesse trazer pro debate e dar a oportunidade ao cidadão comum de ser o candidato em quem ele gostaria de votar. Pra que ele não dependesse só dos corredores estreitos que são os partidos ou de conhecer alguém para ter a chance de concorrer e participar da vida pública. Na hora que você começa a adubar a terra, começam a germinar e nascer coisas interessantes que trazem pro debate visões diferentes”, pontuou.

Davos Lab Brasil

O evento é uma iniciativa da comunidade Global Shapers, criada em 2011 pelo Fórum Econômico Mundial. Também participaram do debate a ex-ministra do Meio Ambiente e fundadora da Rede Sustentabilidade, Marina Silva; a ex-deputada federal Manuela D’Ávila; e Samuel Emilio, COO Educafro, fundador do Diário Antirracista e líder RenovaBR.

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