Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (10/02/2021)

MANCHETES DA CAPA

O Globo

Governo prepara novo auxílio para o pós-carnaval
Ação de Doria por 2022 expõe divisão no PSDB
Anvisa: vacina do consórcio Covax não requer registro
Desregulação do Meio Ambiente cresce na pandemia
França quer condições ambientais para acordo Mercosul-UE
Estado distribui mais 131 mil doses aos 92 municípios do Rio
OMS descarta que novo coronavírus tenha saído de laboratório
Sem carnaval, mas com turistas
STF mantém acesso de Lula a mensagens de Moro
Avança processo contra Trump

O Estado de S. Paulo

Segunda Turma do STF garante a Lula acesso a diálogos da Lava Jato
Ramos diz que aproximação com Centrão foi ‘coerente’
Governo cogita imposto provisório para bancar auxílio
Mourão é excluído de reunião
País reduz testes que identificam linhagens do vírus
Sindrome pós-covid atinge crianças
Serrana agora vê corrida por imóveis

Folha de S. Paulo

Há sintomas de corrupção da democracia no país, diz Fachin
Congresso quer auxílio, BC faz alerta, e dólar sobe
Em novo desgaste, Bolsonaro exclui Mourão de encontro
MPT vê justa causa em demitir quem se recusar a se vacinar
Segunda Turma do STF mantém acesso de Lula a mensagens da operação
Plano de Doria para unir PSDB abre mais uma crise no partido
TSE rejeita ações contra chapa do presidente
Governador aposta em obras de R$ 3,5 bilhões para revitalizar região do Rio Pinheiros
Covid eleva risco a doente de câncer, aponta estudo
Para OMS, não há dados para definir epicentro do vírus
Médicos fazem fila de até duas horas por doses
Entenda como é feita a aplicação do fármaco contra o coronavírus
Game baseado em pesquisa ajuda a refletir sobre pandemia
Senado aceita julgar Trump em impeachment

Valor Econômico

Com pacote de ajuda da União, Estados investem 10,8% a mais
Novas ferrovias poderão ter ‘selo verde’
Startup de odontologia recebe aporte
Arrancada dos pesados
Recuperação perde força, diz Campos Neto
Doria amplia crise no PSDB
WPP compra empresa de software em BH

EDITORIAIS

O Globo

Novo auxílio deve respeitar teto de gastos

O “é para ontem” de Bolsonaro não deve ser entendido como uma ordem sem bom senso nem preocupação com as contas públicas.

Passada a euforia pela vitória, ao pôr os dois aliados na cúpula do Congresso — Arthur Lira (PP-AL) na Câmara e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) no Senado —, o presidente Jair Bolsonaro já perde apoio entre os mais pobres, como têm constatado as últimas pesquisas. Não é outro o motivo para ele ter pedido urgência na volta do auxílio emergencial, poucos dias depois de ter descartado a ideia. Com o “é para ontem” dito por Bolsonaro, Lira e Pacheco já se mobilizam. Pena que na direção errada.

Restabelecer uma rede de proteção aos milhões de desempregados e desassistidos que sobrevivem na informalidade é mesmo uma necessidade diante do recrudescimento da pandemia, da estagnação econômica e da incompetência crassa do governo na vacinação. O problema surge quando Lira fala em “excepcionalização temporária” do Orçamento, de modo a abrir espaço aos recursos necessários.

Trata-se de um eufemismo para defender que ele seja excluído do teto de gastos, evitando assim a imposição de cortes orçamentários. É a solução errada. O teto existe justamente para que sejam feitas escolhas sobre onde aplicar o dinheiro disponível, que não é infinito. Se o Brasil precisa do auxílio, o certo não é a “excepcionalização” de coisa alguma, mas sim uma simples decisão que respeite a lei e os limites fiscais.

Soluções não faltam. A mais sensata, descartada por Bolsonaro no ano passado, seria extinguir programas sociais ineficazes, como seguro-defeso e subsídios à cesta básica. Em artigo recente, o economista Marcos Mendes, do Insper, sugere outras formas de obter R$ 46 bilhões de modo emergencial. Há dinheiro à disposição em emendas parlamentares, na revogação de benefícios fiscais, na economia de recursos em virtude do trabalho remoto e até na devolução da parcela da ajuda federal de 2020 que ficou no caixa de estados e municípios.

Mas o que Lira sugere é uma via expressa para o auxílio, fora do teto de gastos. Também discorda da contrapartida de cortes, pedida acertadamente pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Será desastroso se isso acontecer numa economia já atolada em déficits, com dificuldades crescentes para rolar sua dívida.

Guedes, com a experiência de 2020, em que a decretação de calamidade pelo Congresso permitiu realizar despesas fora do teto, propõe um auxílio de R$ 200 por três meses, com foco na população mais vulnerável. Em 2020, a ajuda começou com R$ 600, no final do ano foi reduzida à metade e atingiu cerca de 65 milhões. Custou mais de R$ 300 bilhões ao Erário.

Foram constatados desvios na distribuição, por isso faz sentido fechar o foco. O “é para ontem” de Bolsonaro não deve ser entendido como uma ordem sem bom senso nem preocupação com as contas públicas. Dinheiro existe. Há uma miríade de ralos por onde ele escoa no setor público. É ingenuidade crer que a leniência fiscal não cobrará seu preço. Não existe mágica: romper nossa única âncora num momento de explosão da dívida trará consequências dramáticas à inflação. Não adianta dar aos pobres dinheiro que logo perderá o valor. Lira, Pacheco e Bolsonaro deveriam saber disso.

O Estado de S. Paulo

A inflação está na mesa

Alta de preços, principalmente dos alimentos, assombra as famílias num momento econômico muito complicado

Comida, a principal despesa para a maioria das famílias, continua puxando a inflação, num ambiente de alto desemprego e condições agravadas pelo fim do auxílio emergencial. Sem essa ajuda, mais de 60 milhões de pessoas afundaram em dificuldades, enquanto os preços, já muito inflados, continuaram em alta. O custo da alimentação subiu 14,81% em 12 meses, mas esse número, já muito ruim, é apenas uma média. O arroz encareceu 74,14%. O feijão carioca, 18,53%. As carnes, 22,82%. Mesmo com algum alívio em janeiro, a pressão acumulada é muito forte. No mês passado a inflação ficou em 0,25% e o custo da alimentação subiu 1,02%. Foram taxas menores que as de dezembro – mas em cima de grandes aumentos em meses anteriores. Esses dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Convém levar em conta esses aumentos para avaliar o alívio, real ou aparente, ocorrido em janeiro. A taxa do mês foi bem menor que as de dezembro (1,35%) e da maior parte dos meses a partir de julho. Mas apenas dois itens, habitação e vestuário, ficaram mais baratos que no mês anterior, com recuos de 1,07% e 0,07%. O custo da habitação foi derrubado pela tarifa de eletricidade, com redução de 5,60%, resultante da passagem da bandeira vermelha para a amarela. Nos outros sete grandes itens pesquisados houve altas de preços.

O aumento maior e de maior efeito foi o do custo da alimentação, de 1,02%, com impacto de 0,22 ponto na formação do resultado geral (0,25%). Os preços no varejo teriam sido bem mais altos, em janeiro e no segundo semestre de 2020, se produtores e distribuidores tivessem conseguido repassar as altas ocorridas no atacado.

Essas altas continuam. Na primeira prévia do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de fevereiro os preços ao produtor subiram 2,54%, acumulando variação de 6% no ano e de 39,10% em 12 meses. Mas o repasse vem sendo contido pelas condições da demanda final, enfraquecida pelo desemprego e pelas dificuldades das famílias. Os preços ao produtor formam o principal componente do IGP-M, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas.

No atacado, os aumentos têm refletido as condições do mercado internacional e a cotação do dólar, muito pressionada desde o começo de 2020. Os dois fatores explicam a maior parte da alta de preços das matérias-primas, como o petróleo, o minério de ferro e os alimentos.

O dólar tende a subir em relação ao real quando aumenta, no mercado, a insegurança quanto às contas do governo e à dívida pública. Esse efeito foi facilmente perceptível, nos últimos dias, durante as discussões, em Brasília, sobre fórmulas para retomada do auxílio emergencial e sobre a possível violação do teto de gastos. A indefinição do governo sobre a gestão de suas contas em 2021 tem sido uma importante fonte de dúvidas para o mercado.

Pressionando o dólar e os preços, a insegurança dos investidores em relação às finanças federais acaba, indiretamente, complicando a vida dos consumidores, especialmente dos mais pobres, já prejudicados pelas más condições do mercado de trabalho e pela perda de renda. Quem conseguiu juntar alguma reserva no ano passado, graças à ajuda emergencial, tem usado esse dinheiro – se ainda houver algum – para as compras essenciais.

Os grandes saques da poupança, no mês passado, são em grande parte explicáveis pela piora das condições dos mais pobres. Mas também a classe média juntou alguma poupança em 2020 e pode agora estar usando esse dinheiro.

A alta de preços, principalmente dos alimentos, assombra as famílias num momento muito complicado, com o governo incapaz de dizer como vai tocar a política econômica. No meio do nevoeiro, a inflação avança. Em 2020 o IPCA subiu 4,52% e ultrapassou o centro da meta oficial, de 4%. Nos 12 meses até janeiro a variação chegou a 4,56%. Neste ano será preciso um esforço maior de ajuste para atingir o centro do alvo, rebaixado para 3,75%. Se depender só do Banco Central, a resposta poderá ser uma alta de juros, um remédio com perigosos efeitos colaterais para as contas públicas e o emprego.

Folha de S. Paulo

Largada queimada

Bolsonaro e Doria antecipam lances da disputa de 2022, e esquerda segue perdida

Jair Bolsonaro está em campanha pela reeleição desde o dia em que assumiu a Presidência, tornando esse o moto perpétuo de seu governo. Busca manter um insólito estado de coisas no qual, ao não produzir quase nada de útil, tira o fôlego dos outros atores políticos.

A guinada do mandatário rumo ao pragmatismo, que começou com o cortejo ao centrão para resguardar-se de um processo de impeachment, culminou recentemente em triunfos nas eleições para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado.

Seus aliados profissionais já tratam de questões de interesse político-eleitoral imediato, como a prorrogação do auxílio emergencial, enquanto Bolsonaro adere tardiamente ao entendimento universal de que a vacinação será a chave para a retomada econômica.

Adversário em potencial mais vistoso no pleito de 2022, o governador paulista, João Doria (PSDB), também participa da movimentação precoce. Fatura com o sucesso de seu investimento na produção do imunizante Coronavac, caso em que um ativo eleitoral tem valor indiscutível para a sociedade.

Ao contrário de Bolsonaro, entretanto, Doria ainda não dispõe de uma rota clara ao Planalto. Seu partido, notório por suas alas, encontra-se desorganizado após conduta vexatória na eleição da Câmara.

Ali, a bancada tucana rachou e boa parte dos 31 membros apoiou o nome de Bolsonaro para o comando da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Doria identificou o ex-presidenciável Aécio Neves (MG) como foco do movimento, o que o mineiro nega, e partiu para o ataque.

Chamou a cúpula da legenda e pediu coesão contra Bolsonaro, o que foi lido como uma tentativa de imposição —a proposta de aliados de que ele presidisse a sigla só fez aumentar a desconfiança.

Instalou-se com isso um conflito intestino que poderá custar caro ao governador caso não seja resolvido de forma expedita. Além disso, o DEM, um parceiro tradicional, mergulhou em crise ao perder a presidência da Câmara.

Na esquerda, o outro campo posicionado para 2022, prevalece a pulverização estimulada por Luiz Inácio Lula da Silva.

O cacique petista —que ainda não deixou a aposta na vaga possibilidade jurídica de poder concorrer e quer se preservar — recolocou o nome do ex-prefeito e ex-ministro Fernando Haddad na praça.

O PT decerto será ator importante no pleito e, sozinho, pode até chegar a um segundo turno, mas se ressentirá da dificuldade em dialogar com forças fora de sua órbita tradicional, na qual, ademais, já surgem outros nomes.

Se não deixar a sombra do lulismo, correrá o risco de ser um adversário ideal para Bolsonaro.

Valor Econômico

IPCA mais baixo pode retardar elevação de juros

O estado atual de uma economia freada pela segunda onda da pandemia poderá ainda perdurar por algum tempo

A inflação arrefeceu em janeiro com o IPCA de 0,25%, abaixo da mediana das expectativas, de 0,32%. Nenhum dos nove grupos do índice apresentou elevação de dezembro para janeiro e houve até deflação de 1,07% na habitação. Os efeitos do auxílio emergencial, já reduzido à metade, parecem ter se esvaído. A segunda onda da pandemia está atingindo com força considerável tanto a produção como o consumo. A perspectiva de um aumento de juros em março perde força, apesar das expectativas do mercado de juros indicarem 70% de chances de uma alta de 0,5 ponto já na próxima reunião do Copom e 30% de uma elevação de 0,5 ponto.

O vilão da inflação, o setor de alimentos e bebidas, teve desempenho contido, com recuo de 1,74% para 1,02% em janeiro. A variação dos preços nos demais setores foi tão ou mais expressiva. Ela caiu pela metade nos artigos residenciais (0,86% em janeiro), dois terços em transporte (0,4%) e educação (0,13%), foi a zero em comunicação e tornou-se negativa em habitação e vestuário. O índice do setor de serviços foi de 0,83% em dezembro a quase zero em janeiro (0,07%).

Relevante para o futuro, o índice de difusão, o grau de disseminação dos aumentos, foi de 65,5%, ante 72,1% em dezembro. Eliminados os alimentos da conta, houve recuo de 69,4% para 59,3%. A mediana do IPCA apontada no boletim Focus para o primeiro trimestre do ano, de 1,20%, pode ser frustrada, se a taxa de câmbio se comportar. A projeção do BC, no Relatório de Inflação de dezembro, está mais perto da realidade. Para janeiro, a previsão era de 0,27%, ante 0,32% dos analistas e consultorias. A discrepância é maior em fevereiro – 0,36% e 0,59%, respectivamente.

O estado atual de uma economia freada pela segunda onda da pandemia poderá ainda perdurar por algum tempo. Boa parte das estimativas apontam para uma retração no trimestre, que pode ser moderada (0,7%, segundo o Focus) ou significativa (os economistas do Bank of America revisaram a queda de 1% para 2%). O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, observou que a recuperação, no início em V, perdeu fôlego. “O crescimento do primeiro trimestre será menor do que esperávamos, mas o quarto trimestre foi melhor”, observou durante webinar do Observatory Group.

A perspectiva para o segundo trimestre, segundo ele, vai depender da vacinação, cujo ritmo atual “é lento”. A economia deve se tornar mais dinâmica no segundo semestre. Esse cenário não parece combinar com uma alta dos juros rápida e intensa ou para uma inflação persistente. “Há muito barulho nos índices de curto prazo”, disse Campos Neto.

O passado de baixa inflação conspira contra o IPCA futuro sem, no entanto, desautorizar a previsão do BC que a elevação dos preços, ainda que mais duradoura do que o esperado, é provisória. Entram no IPCA em doze meses, agora em 4,56%, a inflação baixa do início da pandemia – 0,07 em março e deflação em abril e maio (-0,31% e -0,38%).

O barulho fiscal, por outro lado, tem atingido a política monetária diretamente, via elevação da curva de juros e expectativas negativas, na taxa de câmbio. A alta do dólar, em raro alinhamento com a elevação dos preços das commodities, potencializou o aumento de preços dos alimentos e de matérias-primas industriais. É um dos fatores mais ativos agora. No ano, a moeda americana subiu 3,54% (até segunda-feira), mas no mês houve um recuo de 1,83%. A queda dos prêmios de risco (CDS) de 12,7% nos poucos primeiros dias de fevereiro é um sinal de que o câmbio pode perder fôlego.

O Copom retirou a prescrição futura de sua agenda e resolveu esperar mais até elevar os juros. Em tabelas da apresentação de Campos Neto, os juros reais brasileiros são os mais negativos (-2,41%) entre 17 países e blocos, como a zona do euro. Com os núcleos apontando zona de perigo para a política monetária, o aumento da Selic entrou no radar do BC, mas não é uma fatalidade.

O cenário de curto prazo se parece razoavelmente com o alternativo traçado no Relatório de Inflação. Ele estimou os efeitos de uma pandemia prolongada, que não reduzisse o hiato do produto (de 3,9% no quarto trimestre de 2020) nos dois primeiros trimestres de 2021. Com essas premissas, o BC projetou inflação de 2,4% no último trimestre do ano. Como ele olha cada vez mais para 2022, uma pequena elevação dos juros já removeria os “estímulos extraordinariamente elevados” da política monetária. Por vários motivos, a alta delineada na curva dos juros parece exagerada enquanto a economia não tiver deixado a pandemia para trás e demonstrar pelo menos razoável vigor.

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