Presidente disse ter vontade de “encher a boca” do repórter com uma porrada ao ser questionado sobre depósitos do faz-tudo da família para a primeira-dama Michelle
Lideranças do Cidadania cobraram neste domingo (23) que o presidente Jair Bolsonaro esclareça os motivos que levaram o ex-policial e faz-tudo da família Fabrício Queiroz a depositar na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro 21 cheques no valor total de R$ 72 mil. Outros depósitos realizados por Marcia Aguiar, mulher de Queiroz, elevam a quantia a R$ 89 mil.
Ao ser questionado por um repórte de O Globo hoje, ele se negou a responder. Disse apenas que tinha “vontade de encher” a boca do jornalista de “porrada”. O presidente do Cidadania, Roberto Freire, defendeu que o repórter acione a Procuradoria-Geral da República contra Bolsonaro e sugeriu que os jornalistas façam a mesmíssima pergunta a ele sempre que possível.
“Inconcebível um presidente da República democrática responder a uma pergunta de um jornalista sobre fato objeto de investigação por órgão público competente e receber como resposta uma agressão. Ao ameaçar agredir, Bolsonaro pode até posar de machão pra sua turma, mas assina recibo de corrupção. Durou pouco essa tentativa de ‘Jairzinho paz e amor”, argumentou Freire.
“Do que esses moralistas são feitos: Bolsonaro tem vontade de encher a boca de repórter de porrada; Queiroz tem vontade de encher a conta da Michelle de cheques e a de Flávio Bolsonaro, de dinheiro vivo. Não explica tudo, mas diz muito sobre o bando que tomou o poder de assalto”, completou o ex-parlamentar.
O líder do Cidadania na Câmara, deputado federal Arnaldo Jardim (SP), censurou o comportamento de Bolsonaro. “Postura totalmente inapropriada para um presidente da República. Revela intolerância e desrespeito com a imprensa. São palavras que constituem ameaça à atividade jornalística. Lamentável tal atitude”, disse.
“Nada justifica o presidente da República ofender e ameaçar um repórter que faz uma pergunta simples e direta: porque o casal Queiroz transferiu quase 90 mil reais para a primeira dama? Se não existir segredo nem crime, qual a dificuldade de responder? O Brasil espera a resposta”, cobrou o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).
O deputado federal Marcelo Calero (Cidadania-RJ) também se manifestou a respeito e condenou o ataque à imprensa. “É inaceitável que o Presidente da República ameace um cidadão, em particular no exercício de sua função de jornalista. A fala de Bolsonaro legitima a violência e alimenta ambiente – incompatível com a democracia – de intimidação à imprensa livre”, apontou.