Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (10/07/2020)

MANCHETES

O Globo

Justiça concede a Queiroz e mulher prisão domiciliar
Bolsonaro: ‘Sobrou para quem me apoia’
‘Gabinete do ódio’ – O ‘cara’ no Facebook
Entidades pedem derrubada de veto à desoneração
Investidores cobram ação ambiental
Governo estuda liberar saque de fundos de pensão
Médicos relatam redução do uso de respiradores
Em busca de recuperação, Latam levana US$ 2,2 bilhões
Parques abertos; praias, só após vacina

O Estado de S. Paulo

Cobrado, governo se exime de desmate na Amazônia
Presidente do STJ manda Queiroz para prisão em casa
Toffoli ordena que Lava Jato apresente dados à PGR
Limpeza no Alvorada
SP decide abrir academias e parque
Saúde deixa de buscar paciente pelo TeleSus
OMS admite contágio pelo ar
Latam Brasil pede recuperação judicial
Na torre de Trump

Folha de S. Paulo

Toffoli obriga Lava Jato a compartilhar seus dados
Presidente do STJ permite a Queiroz prisão domiciliar
Mulher de PM é liberada para ‘lhe dispensar as atenções necessárias’
Incêndio destrói comunidade na Zona Norte de São Paulo
Latam Brasil pede recuperação nos EUA por crédito
Auxílio tira 72% da extrema pobreza, calcula ministério
Lei sobre fake news pode dar a redes sociais ‘papel judicial’
Relatório americano vê riscos sob Bolsonaro
Paulo R. Lima – Entregador caiu na mentira dos apps
Covid-19 afasta passageiros e ameaça tranporte público
WhatsApp desativa contas do PT por disparos em massa
Para OMS, há aceleração da pandemia e os países precisam se unir
Capital reabrirá 70 parques na 2ª, incluindo o Ibirapuera

Valor Econômico

Braskem reserva R$ 5 bi para despesas em Maceió
Fundos exigem recuo ‘crível’ do desmatamento
Itaú Chile tem perda contábil de US$ 930 mi
Racismo escancarado
Farmacêuticas se unem contra superbactérias

EDITORIAIS

O Globo

Deve-se rastrear o dinheiro público no ‘gabinete do ódio’

Auditoria no Facebook alerta sobre o financiamento de crimes cometidos pelo bolsonarismo na rede social

O inquérito aberto no Supremo sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes, para investigar a origem de fake news e ameaças contra a Corte e seus juízes, sempre preocupou os Bolsonaro. Ao sair do governo, o ex-ministro Sergio Moro disse que o presidente se referiu a esses temores em pressões que fez para interferir na Polícia Federal, o braço operacional nesses inquéritos. A instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito no Congresso sobre o mesmo tema é outro motivo de medo, a ponto de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ter tentado, sem sucesso, que o Supremo suspendesse a CPMI.

Não deviam imaginar que o perigo mais imediato estava em uma auditoria interna pedida pelo Facebook a um centro independente de pesquisa no meio digital, com implicações legais, o DRFLab, de Washington, e que levou a rede social a anunciar quarta-feira que estava desmontando extensa malha de 88 páginas e contas controladas pelo entorno do presidente Jair Bolsonaro. Era o “gabinete do ódio”, denunciado no final do ano na CPMI pela deputada Joice Hasselmann, ex-líder do governo no Congresso, ex-aliada próxima dos Bolsonaro.

O estudo encomendado pelo Facebook confirma a denúncia, cita operadores de contas e páginas falsas criadas para reverberar as bandeiras bolsonaristas, a fim de dar a impressão de haver uma militância maior do que a real, e ainda implica, além dos filhos do presidente — um senador, Flávio, um deputado e um vereador, Carlos, de cujos gabinetes saíram operadores do esquema — o próprio Jair Bolsonaro.

Impossível que não soubesse que um assessor direto, Tercio Arnaud Tomaz, é quem dispara, ou disparava, o gatilho, certamente do próprio Palácio do Planalto, contra adversários como Sergio Moro, Wilson Witzel e outros muitos. Além de provavelmente também orquestrar campanhas antidemocráticas e disseminar desinformações sobre a epidemia da Covid-19, um dos assuntos prediletos do presidente. No arrastão feito pela auditoria também vieram parlamentares bolsonaristas.

Fica exposto o uso de dinheiro público na alimentação da rede criminosa, porque há verbas de gabinetes de parlamentares e até do presidente usadas para manter esta máquina em funcionamento. O levantamento deste desvio de dinheiro do contribuinte deve ser mais uma tarefa nesta fase de investigação sobre os Bolsonaro e aliados.

Uma característica do bolsonarismo, como de outros agrupamentos radicais, é a síndrome da perseguição. Mas agora não podem se dizer vítimas. Porque o WhatsApp, também do Face, acaba de suspender dez contas do PT, do lado ideológico oposto ao do bolsonarismo, por estarem operando disparos automatizados de mensagens. Nesses casos, o Facebook não entra no mérito do conteúdo do que está sendo distribuído, mas na forma como a distribuição é feita, que já denuncia a má-fé.

Sob pressão no mundo por não ter os devidos cuidados com o que transita em sua rede global, Mark Zuckerberg e seus diretores têm contratado pesquisas para ajudá-los na defesa da empresa, que enfrenta boicotes de anunciantes por servir de plataforma de ódios. Desconectar contas fantasmas usadas por robôs e similares é bem-vindo e precisa ser rotina. No caso brasileiro, o país está com o lucro adicional de ver desvendada uma organização voltada à difamação e ao golpe.

O Estado de S. Paulo

A rede

Os efeitos daninhos da rede de fake news próxima a Bolsonaro comprometem o viço da democracia brasileira ao falsear a opinião pública

Em setembro do ano passado, o Estadão revelou que no terceiro andar do Palácio do Planalto, bem próximo ao gabinete de Jair Bolsonaro, fora montado um núcleo de “assessoramento de comunicação” composto por ex-assessores parlamentares ligados a dois filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e blogueiros que durante a campanha eleitoral de 2018 ganharam a simpatia do “Zero 2” e do “Zero 3” ao criarem perfis e páginas nas redes sociais cujo conteúdo era amplamente favorável ao então candidato à Presidência e bastante hostil a quem quer que fosse considerado “inimigo” da família, fossem pessoas ou instituições. Naquela ocasião, o País tomou conhecimento da existência do “gabinete do ódio”.

Na quarta-feira passada, o Facebook desencadeou uma operação de combate às fake news e ao discurso de ódio que atingiu em cheio essa rede de apoio ao presidente Bolsonaro na internet. Embora não tenha revelado dado novo – tanto a existência como a forma de atuação do “gabinete do ódio” já eram amplamente conhecidas –, a ação da empresa teve o efeito prático de retirar do ar 35 perfis, 14 páginas e 1 grupo no Facebook, além de 38 perfis no Instagram, empresa que, como o WhatsApp, é controlada pela holding Facebook. Com essas contas e páginas fora do ar, que juntas tinham quase 2 milhões de seguidores, o alcance das ofensas e das falsas informações que circulam por meio das redes sociais haverá de cair substancialmente.

O caráter global da operação do Facebook desfaz quaisquer suspeitas em relação ao possível direcionamento da ação contra alvos políticos predeterminados. Redes similares em vários países – pelo menos 11 – foram atingidas, inclusive nos Estados Unidos, onde pessoas que assessoraram o presidente Donald Trump também tiveram suas contas apagadas.

Os auditores do Facebook vincularam diretamente alguns dos perfis e páginas que foram retirados do ar no Brasil a Tércio Arnaud Tomaz, que ficou conhecido como o administrador da página “Bolsonaro Opressor 2.0” durante a campanha eleitoral de 2018 e hoje está lotado no Palácio do Planalto como assessor especial do presidente Jair Bolsonaro. Tomaz é até agora o elo formal mais forte entre o presidente da República e o tal “gabinete do ódio” que seria chefiado nas sombras por seu filho Carlos Bolsonaro.

A atuação direta de assessor do presidente em uma rede espúria de desinformação e destruição de reputações é algo gravíssimo que pode ter sérias repercussões na CPMI das Fake News, no inquérito que apura a atuação do “gabinete do ódio” contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e seus ministros e no âmbito do processo que corre no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para apurar abuso de poder econômico da chapa liderada por Jair Bolsonaro justamente pelo uso de uma milionária estrutura de rede digital por meio da qual teriam sido disparadas em massa ofensas e fake news em 2018.

Como a atuação de insidiosa rede já se observava antes da vitória de Jair Bolsonaro no pleito, pelo que revela a operação do Facebook, tudo indica que a chegada de Bolsonaro ao Palácio do Planalto apenas teve o condão de dar um caráter oficial a práticas que já ocorriam há meses no submundo da internet. Basta ver que não cessaram – aí está o inquérito que corre no STF para apurar ações recentes de blogueiros próximos ao presidente – e, pior, recrudesceram.

É de suma importância o mais rápido esclarecimento das formas de atuação e, não menos importante, dos meios de financiamento dessa rede profissional de disseminação de fake news, ameaças e ofensas contra pessoas e instituições pátrias. Os efeitos daninhos dessa rede extrapolam o âmbito pessoal – o que é grave por si só – e comprometem o próprio viço da democracia brasileira ao falsear a opinião pública por meios insidiosos. A desinformação estabelece um debate público sob falsas premissas. Poucas coisas são mais antidemocráticas.

Folha de S. Paulo

Autores de fake news

Antes tarde que nunca, Facebook mostra elo entre bolsonaristas e ataques na rede

São impressionantes as revelações feitas pelo Facebook sobre a proximidade entre a família Bolsonaro e contas falsas utilizadas para ataques políticos e desinformação.

Impressionantes, mas não surpreendentes. O chamado “gabinete do ódio” já é personagem da cena política há um bom tempo. Faltava demarcar sua ligação com as mentiras e ataques que circulam anonimamente pela internet.

Antes tarde do que nunca, o Facebook demonstrou essa relação. Listou seis pessoas como responsáveis por operações de ataque político e desinformação. Uma delas é Tércio Arnaud Tomaz, assessor especial de Jair Bolsonaro e oriundo do gabinete de seu filho Carlos.

Segundo as informações divulgadas nesta semana, Tomaz foi responsável por ataques a figuras como o ex-juiz Sergio Moro e ministros do STF, além de difundir desinformação sobre a Covid-19. Controlava uma conta anônima com quase meio milhão de seguidores e 11 mil posts no Instagram.

São implicados também auxiliares dos outros dois filhos do presidente: o senador Flávio Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro. Foram removidas 73 contas ligadas a assessores da família e de aliados. Muitos dos posts eram feitos em horário de expediente.

As explicações dos Bolsonaros são frágeis. Agarram-se à liberdade de expressão, um direito garantido pela Constituição, e fingem esquecer que a mesma Carta veda o anonimato e que a legislação tipifica crimes contra a honra.

As revelações do Facebook precisam ser objeto de investigação criminal. O caso expõe uma obviedade: a lei não será cumprida no ambiente digital se não houver participação ativa das plataformas. Isso não significa delegar a elas a responsabilidade de investigar.

Cabe às empresas fornecer informações para que a polícia, o Ministério Público e o Judiciário possam trabalhar. Esse deveria ser o norte do chamado projeto de lei das fake news, mas o texto demanda aperfeiçoamento na Câmara.

Além disso, é essencial que as leis já em vigor sejam cumpridas. A Justiça Eleitoral não pode deixar inconclusos por tanto tempo processos relacionados a mandatos de quatro ano —como no caso do disparo ilegal em massa de mensagens na campanha de 2018, revelado pela Folha.

A propagação de fake news e o anonimato formam método rasteiro e ilegal de fazer política, nem de longe exclusivo do bolsonarismo. O que ocorre no caso da família presidencial é que ficam cada vez mais evidentes as conexões entre ela e essa prática.

A impunidade não pode continuar sendo a regra, pois cria óbice sério à democracia. O Brasil, aliás, tem novas eleições à porta.

Valor Econômico

Trilha das fake news leva a um gabinete do Planalto

A evolução dos inquéritos caminha na direção de ligar a máquina de destruir reputações a orientações que partem do gabinete do ódio

Há uma relação inicial entre alguns dos detentores das 73 contas falsas que foram retiradas pelo Facebook na quarta-feira e os que estão aparecendo no inquérito do Supremo Tribunal Federal para apurar responsáveis por fake news e financiamento de movimentos contra a democracia. Rastros dos filhos do presidente, Carlos e Eduardo Bolsonaro, aparecem nas duas. O Supremo procura a trilha do “gabinetes do ódio” e o Facebook cancelou, sob alegação de propagação do ódio e ataques a inimigos políticos, páginas e contas feitas por Tércio Arnaud Tomaz, assessor especial da Presidência da República. Ele é ligado ao vereador Carlos Bolsonaro, investigado no Rio por empregar “funcionários fantasmas” na Assembleia Legislativa do Rio.

Assim como existe uma densa zona de sombra sobre a atuação dos Bolsonaro nas redes sociais e de seus apoiadores fanáticos, próximos ou não do presidente, no submundo das redes sociais. Respeitados os limites dados pela lei, todos eles podem despejar seu extremismo de direita à luz do dia, sem serem importunados. Não é isso, porém, o que ocorre. “As pessoas por trás da atividade coordenaram entre si e utilizaram contas falsas como parte central de suas operações para se ocultar”, disse Nataniel Gleicher, diretora de cybersegurança do Facebook. Anonimato, contas e páginas falsas, pessoas fictícias e identidades forjadas foram detectadas e removidas.

A bolsonaronewss, segundo o Facebook, é administrada por Tércio, e tinha 492 mil seguidores. Ele já era um expert na rede digital eleitoral montada pelos filhos de Bolsonaro. De lá, Tércio foi parar no terceiro andar do Palácio do Planalto, bem próximo ao gabinete presidencial. A suspeita, que a ação do Facebook realça, é de que funcionários de governo como ele e colegas do “gabinete do ódio” usam tempo de serviço, pelo qual são bem remunerados pelos contribuintes, para um trabalho que nada tem a ver com funções públicas.

Essa é uma velha característica dos Bolsonaro, filhos e pai, que vivem da política, de suas benesses e dos recursos públicos com os quais pagam pessoas que não se sabe o que fazem – e, sequer, se fazem alguma coisa. Reportagem da Folha de S. Paulo (4 de julho) revelou que nos 27 anos de atuação na Câmara dos Deputados, a folha de salários do gabinete de Jair Bolsonaro era agitada e incompreensível. Cerca de 350 pessoas passaram por lá de 1991 a 2018, 102 delas ligadas a 32 famílias (O Globo). Os vencimentos de vários funcionários triplicavam de uma hora para outra, assim como caiam logo à metade ou para valores mínimos. Muitos eram demitidos e recontratados em seguida.

Fabrício Queiroz, encrencado no escândalo das rachadinhas de que é acusado Flavio Bolsonaro, então deputado estadual, trabalhou primeiro com Jair e não foi o único a se envolver em práticas ilegais. Nove funcionários acusados por rachadinhas na Alerj já estiveram sob as ordens do pai, que também deu emprego a Nathália, filha de Queiroz, personal trainer no Rio, que não trabalhava, assim como a “fantasma” Walderice Conceição, a Wal do Açaí, que reside em Angra dos Reis. A defesa de Flavio tem se resumido, com algum sucesso, a contestar erros formais do inquérito, enquanto Flavio, que empregou a mulher de Queiroz e de milicianos, se dividiu ao longo do tempo entre alegar afastamento e elogiar Fabrício.

Outro membro do trio da fuzarca familiar, Carlos Bolsonaro, está sob investigação por usar indevidamente dinheiro público: empregar fantasmas. Mas entre seus assessores também havia gente despojada e altruísta, sempre pronta a doar parte dos salários. Quatro assessores do irmão Flávio, com sigilo quebrado, trabalharam no gabinete de Carlos na Câmara Municipal. Entre elas a ex- cunhada de Jair Bolsonaro, a Andrea Siqueira Valle (Folha de S. Paulo, ontem) e 8 parentes da ex-mulher de Jair, Ana Cristina Valle.

Rápidos em arregimentar funcionários fora do padrão, Bolsonaro e filhos, em suas vidas de parlamentares, foram improdutivos, e não se conhece um projeto deles que demonstre a mínima preocupação social, a não ser que se chame assim a campanha dos quatro pelo armamento geral e irrestrito dos brasileiros.

Isolado por ter contraído a covid-19, Bolsonaro está quieto após a prisão, na casa de seu advogado, de Fabrício Queiroz. A evolução dos inquéritos caminha na direção de ligar a máquina de destruir reputações dos bolsonaristas extremados como Carlos, seus robôs e contas falsas, a orientações que partem do gabinete do ódio, assalariado pelo Estado. A ligação é explosiva e o passado pode acabar condenando Jair Bolsonaro.

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