Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (24/06/2020)

MANCHETES

O Globo

Contágio volta a subir no Rio, e SP tem recorde de mortes
Na pandemia, transplante de órgãos cai 40% no país
Banco Central amplia crédito para empresas
Governo suspende multa a consórcio de ex de Wassef
Viagem de Weintraub na mira do TCU
TSE arquiva pedido de cassação da chapa de Bolsonaro em 2018
Trump ataca protestos e é advertido
Putin busca virar o jogo

O Estado de S. Paulo

Saneamento deve ter nova lei após consenso entre Senado e governo
Adiamento de eleição avança no Congresso
Câmara aprova texto para alterar Código de Trânsito
Exoneração de Weintraub
Banqueiros alertam para questão ambiental
BC suspende pagamentos via WhatsApp
Em SP, há 1,16 milhão de infectados e periferia tem mais mortos, diz estudo
Clubes da Série A têm 95 atletas contaminados

Folha de S. Paulo

Senado aprova adiar eleições municipais para novembro
Ato virtual reúne centro e esquerda na sexta-feira
Bolsonaro volta a mudar narrativa com Diário Oficial
Rede de testes no estado de São Paulo tem ociosidade
Justiça determina que presidente use máscara no DF
Cade e BC barram pagamento feito pelo WhatsApp
Cotado para o MEC diz ter falado sobre volta às aulas com Bolsonaro
Médico contra o aborto é nomeado secretário na Saúde
Fisco cobra dívidas de empresários bolsonaristas
BC lança crédito de até R$ 212 bi para micro e pequenas
Nordeste perderá ao menos R$ 1 bi sem festas de São João
Pandemia esvazia cidades e apaga tradição junina
Aumenta pressão da Europa contra desmatamento no Brasil
País poderia produzir mais sem tirar árvores, diz ministra
Brasileiros barrados em Portugal batem recorde
Alemanha reimpõe confinamento em distrito após surto
Estudo indica que vulcão pode ter facilitado o fim da República Romana
Ato tenta derrubar estátua, e Trump reage com pedido de prisão

Valor Econômico

BC suspende pagamentos via WhatsApp
Ferrovias em marcha
Simulações dão vitória a Joe Biden
Descartáveis ganham sobrevida com covid-19
Até R$ 212 bi para pequeno empresário

EDITORIAIS

O Globo

Câmara e Senado precisam acabar com paralisia dos Conselhos de Ética

Órgãos fundamentais do Congresso devem retomar a análise das denúncias que se acumulam

Câmara e Senado têm uma dívida com a sociedade derivada da inoperância dos respectivos Conselhos de Ética. Neles, as decisões foram travadas bem antes da pandemia. Haverá oportunidade de recuperação, com o reinício das sessões presenciais em julho.

Por razões inexplicáveis, a Câmara começou o ano sem decisão sobre uma dezena de processos abertos contra deputados ainda em 2019. Em política, indecisão é uma forma de decidir. Na pandemia, novas denúncias foram anunciadas — algumas delas contra deputados já processados.

No Senado o quadro é mais grave. O conselho se reuniu em setembro do ano passado, para posse, com uma hora de autoelogios, homenagens a um ícone do catolicismo, discussões sobre barbitúricos. Nada além.

Conselho de Ética é órgão legislativo que recebe e analisa representações ou denúncias feitas contra senadores e deputados, que podem resultar em medidas disciplinares da advertência até a perda do mandato. Seus integrantes têm mandato de dois anos, e as decisões precisam ser públicas e ostensivas.

É notável que parte significativa da bancada bolsonarista seja alvo da maioria dos processos. Revela-se um traço comum, a tendência à truculência no debate num fórum democrático, além de desprezo por normas legais sobre ética, decoro, zelo pela ordem constitucional.

É inconcebível que um parlamentar use o privilégio da imunidade para atacar a ordem constitucional e democrática ou suas instituições. Caso exemplar é o do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que se esforça para alcançar notoriedade pela defesa de ações antidemocráticas. No mais recente episódio, em afronta ao Supremo Tribunal Federal, chegou a afirmar que já não haveria questão de “se”, mas de “quando” ocorreria uma ruptura institucional. Talvez seja um reflexo familiar, pois o pai, hoje presidente, trilhou esse caminho durante 28 anos no Legislativo, e ficou impune.

O passado, porém, só é passível de repetição como farsa. É inadmissível que hoje o Congresso dê guarida a parlamentares que atentem contra fundamentos constitucionais, contra instituições que sustentam o regime democrático e republicano, entre elas o Poder Legislativo. Da mesma forma, perdeu-se no tempo a velha tolerância com a corrupção, inclusive nos casos de supostos crimes praticados antes do mandato, motivo de denúncias contra o senador Flávio Bolsonaro (PRB-RJ).

Câmara e Senado precisam dar respostas efetivas à sociedade, com a reativação dos respectivos Conselhos de Ética, o mais rápido possível.

O Estado de S. Paulo

Da queda à esperança

Após queda recorde em abril e sinais de recuperação em maio, a indústria tem como indicador mais positivo a esperança em alta. Qualquer respiro é bem-vindo

Esperança em alta é o indicador mais positivo da indústria, neste momento, depois da queda recorde em abril e de alguns sinais de recuperação em maio. Com menos operários nas fábricas e muitas máquinas ainda paradas, o setor trabalha com apenas dois terços – 66,2% – da capacidade instalada, segundo sondagem da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Essa ainda é uma prévia do Índice de Confiança da Indústria, mas os dados parecem confirmar uma retomada de fôlego. Com melhora em seus dois componentes, a avaliação do presente e a expectativa para os próximos três e seis meses, o índice geral subiu 15,7 pontos e chegou a 76,6. O salto de maio para junho foi um recorde. O humor, no entanto, continua longe de 100, a fronteira entre os territórios negativo e positivo.

Mas qualquer respiro depois do desastre recente é muito bem-vindo. A atividade econômica despencou 9,3% em abril, segundo o Monitor do PIB – FGV, e atingiu um nível 13,5% inferior ao de um ano atrás. No trimestre móvel encerrado em abril o Produto Interno Bruto (PIB) foi 6,1% menor que o dos três meses até março. Em relação ao trimestre correspondente de 2019 a perda foi de 4,9%. Apesar de alguns sinais positivos e do início de reabertura, depois da quarentena, as expectativas quanto ao resultado final do ano são sombrias.

Segundo Sílvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre-FGV, a economia deve encolher 6,4% neste ano. Esse número, mencionado na sexta-feira passada, é muito parecido com estimativas correntes no mercado. Pela mediana das projeções colhidas pelo Banco Central (BC) em sua última pesquisa Focus, o PIB deve diminuir 6,5% em 2020 e crescer 3,5% em 2021. A maior parte das expectativas parece haver-se estabilizado nessa vizinhança. No caso da produção industrial, a mediana aponta um recuo de 5,5% neste ano seguido de um avanço de 3,5% no próximo. Em 2019 a indústria produziu 1% menos que em 2018.

Percebida no Brasil no fim de fevereiro, a pandemia de covid-19 só afetou a economia a partir da segunda quinzena de março, quando o distanciamento social já estava em vigor na maior parte dos Estados. Mas o grande impacto econômico da crise sanitária ocorreria no mês seguinte. A retração de 9,3% apontada pelo Monitor do PIB foi um recorde e refletiu problemas disseminados por todos os setores.

O choque foi particularmente severo na indústria. A produção industrial foi 15,7% menor que a de março, puxada principalmente pela indústria de transformação (-24,3%) e pela da construção (-11,7%). O desempenho do setor de serviços também foi muito ruim (- 7,3%), com os piores indicadores anotados no comércio (-18,3%) e nos transportes (-15,1%).

O tombo na produção de bens e serviços reflete o desastre no outro lado da equação, o da demanda. Deste lado as quedas também foram recordes. De março para abril o consumo caiu 7,7% e o investimento produtivo, medido como formação bruta de capital fixo, desabou 23%. Todos os componentes do investimento desabaram – máquinas, equipamentos, obras e itens de menor peso no conjunto. Com isso, a taxa mensal de investimento chegou a 12,1% do PIB, a menor da série iniciada em 2000.

A redução do investimento é normal numa crise severa. Não tem sentido ampliar a capacidade produtiva quando as indicações são de ampla ociosidade por muito tempo. As empresas têm capacidade de sobra para a retomada dos negócios. Mas precisarão investir em potencial produtivo e inovação para garantir crescimento seguro e duradouro numa próxima fase de expansão.

Além disso, o governo terá de cuidar, mobilizando capital privado, de investimentos em infraestrutura. É preciso construir e conservar estradas, portos, aeroportos, complexos de produção e transmissão de energia e sistemas de saneamento básico. Tudo isso é essencial para ganhos de produtividade e para a melhora das condições sanitárias – e econômicas, portanto – de dezenas de milhões de pessoas. Todas essas tarefas dependerão de um insumo precioso nem sempre disponível: competência na definição e na execução de políticas.

Folha de S. Paulo

Jogada imprudente

Aliança oportunista entre Bolsonaro e Flamengo resulta em MP injustificada

Em mais um episódio do inesgotável histórico de promiscuidade entre políticos brasileiros e dirigentes de futebol, o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o do Flamengo, Rodolfo Landim, selaram uma aliança com vistas a promover interesses mútuos.

Na sexta-feira (19), os dois mandatários surpreenderam o país e o mundo esportivo em aparição pública para anunciar o envio ao Congresso de uma medida provisória que modifica as regras de negociação de direitos entre clubes e emissoras de televisão.

A canetada tem como um de seus alvos principais o Grupo Globo, desafeto de ambos. Enquanto Bolsonaro não tolera o jornalismo praticado por veículos do grupo, Landim trava há tempos uma batalha para mudar as bases dos contratos firmados com a maioria das agremiações futebolísticas.

O dirigente flamenguista, não se discute, tem todo o direito, senão a obrigação, de buscar condições mais favoráveis à sua entidade na venda de suas partidas. Assim como o Executivo pode perfeitamente entender que a legislação em vigor merece ser revista.

É flagrante, contudo, que o caminho escolhido está longe de ser o mais apropriado. A MP é instrumento legislativo ao qual o Executivo só pode recorrer em situação de clara urgência e relevância, como estipula a Constituição.

Há, além desse aspecto, o fato de que os contratos já celebrados não poderiam ser simplesmente anulados por uma penada presidencial —ato que em gíria futebolística poderia ser caracterizado como uma reviravolta de tapetão, sem o necessário debate. O roteiro proposto só contribui para gerar discórdia e insegurança jurídica.

Enquanto o Flamengo tende a agir de modo unilateral, sem levar em consideração as demandas coletivas do setor e seu fortalecimento institucional, Bolsonaro aproveita-se da ocasião de maneira demagógica e personalista.

Tais considerações não implicam julgamento negativo quanto às propostas urdidas pelo dirigente e pela Presidência. Ao contrário, a ideia de que os clubes podem ampliar sua autonomia na venda de direitos e obter mais vantagens como mandantes das partidas é legítima e está em sintonia com o que se observa em países europeus. Tais mudanças, contudo, deveriam ser fruto de um processo mais amplo de discussão, com a participação dos interessados e em consonância com a agenda do Legislativo.

Valor Econômico

Prisão de Queiroz coloca em xeque estratégias de Bolsonaro

Recurso ao populismo econômico pode ser o complemento à aliança com o centrão

Tudo o que o presidente Jair Bolsonaro conseguiu com suas agressões às instituições e pregações golpistas foi limitar drasticamente sua própria margem de ação. A prisão do velho amigo Fabrício Queiroz, ligado a milícias e ao escândalo das rachadinhas que envolve o senador Flavio Bolsonaro, na casa do advogado do presidente, Frederick Wassef, tende a tornar Bolsonaro refém das investigações, imobilizar seu governo e, no limite, afastá-lo da Presidência. O passado voltou mais uma vez para assombrá-lo.

Arrogância e prepotência, mais manias de perseguição e espírito de clã, levaram sempre o presidente a proteger seus filhos de encrencas que podem expulsá-lo do Palácio do Planalto. Em tese, o presidente não tem nada a ver com as ilegalidades cometidas por eles, a menos que aja para atrapalhar a Justiça e os absolva a priori, como Bolsonaro tem feito o tempo todo.

A primeira reação de Flavio Bolsonaro, na mira da lei como provável chefe de organização criminosa, foi a de imediatamente atribuir a detenção de Queiroz à perseguição política contra o presidente, colocando o Planalto como parte de um enredo em que se misturam roubo de dinheiro público, lavagem de dinheiro com loja de chocolates, enriquecimento ilícito e milícias assassinas do Rio de Janeiro. Já o advogado de Bolsonaro e de Flavio, Frederick Wassef, optou pelo teatro do absurdo. Disse que não falava com seu hóspede, Queiroz, e que tudo tinha sido uma armação, depois de passar meses a fio negando seu paradeiro.

Em seu quinto dia de governo a quebra do sigilo de Queiroz revelara depósito de R$ 24 mil de seu amigo de três décadas na conta da primeira dama, Michelle Bolsonaro. Flavio empregava funcionários em seu gabinete de deputado estadual para que eles lhe dessem parte do salário, a “rachadinha”, segundo o Ministério Público. Jair Bolsonaro empregava em seu gabinete de deputado federal pessoas que lhe prestavam serviços fora do Congresso, com o contribuinte pagando os salários – como a “Val do Açaí” e Nathália Queiroz, filha de Queiroz, que de 2016 a 2018 recebeu seus proventos em Brasília enquanto exercia no Rio sua vocação de “personal trainer”.

O trio da fuzarca familiar e o presidente estão em maus lençóis. Flavio deve ser indiciado em breve. O inquérito do Supremo Tribunal Federal caminha em direção a Eduardo e Carlos, à medida que avançam as investigações sobre fake news, “gabinete do ódio” e financiamento de manifestações contra a democracia. O STF decidiu que a lei não dá privilégio de foro para o vereador Carlos. O presidente da República não se dissociou dos filhos, e é conivente com eles, enquanto coloca o Supremo como inimigo. E em suas declarações públicas chega perto da defesa de Queiroz.

A apreensão de documentos e celulares de Queiroz e de pessoas ligadas a Flavio trará muita coisa à tona. O MP apurou que Queiroz, que atuava em Rio das Pedras com transporte de vans, tinha relações estreitas com o miliciano Adriano da Nóbrega, morto na Bahia e que dinheiro vinha de pizzarias de familiares de Nóbrega para o bolso de Queiroz. Já em destino ignorado, Queiroz recebeu pedidos para intervir junto às milícias da região. A união de Queiroz com Flavio, que condecorou Nóbrega, defendido pelo deputado Jair Bolsonaro, traz o submundo das milícias para perto do presidente.

A bomba Queiroz pode também explodir apoios reais ou potenciais do presidente. Os militares podem até comungar dos valores conservadores de Bolsonaro e colocar reparos à atuação do STF, mas dificilmente aceitariam o desgaste de fazê-lo para defender contravenções, roubo do dinheiro público e bandidos à margem da lei.

A guinada do presidente em direção aos partidos do centrão para evitar um eventual impeachment não é garantia de nada, embora custe caro. Bolsonaro aliena parte de seus adeptos que acreditaram na lorota de sua pregação contra a corrupção, por um lado. Por outro, o centrão apoiou, integrou o governo de Dilma Rousseff e depois ajudou a derrubá-la. A popularidade de Bolsonaro tende a definhar mais com o avanço da pandemia, a destruição da pasta da Saúde e com a ruína da Educação pelo fanatismo ideológico e ignorância.

Nesta altura, o recurso ao populismo econômico pode ser o complemento à aliança com o centrão. Programas sociais conquistam apoio, e dar carta branca a aliados para elevar gastos públicos não tiraria o sono do presidente, embora confronte os programas de Paulo Guedes. É plausível também que Bolsonaro dobre a aposta para criar uma situação de conflito e testar suas forças políticas. Não será surpresa se ficar sozinho.

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