No JN, Eliziane Gama diz que a manipulação de dados da Covi-19 ‘seria crime de responsabilidade’

‘A transparência é essencial para se combater a doença, principalmente agora, com os números de infecção e óbitos crescentes’, afirmou a senadora (Foto: Reprodução)

A líder do Cidadania no Senado, Eliziane Gama (MA), disse nesta sexta-feira (05) no Jornal Nacional (leia abaixo e assista aqui a reportagem) que ‘não se pode imaginar ou permitir qualquer manipulação’ de dados sobre a Covid-19, pois ‘seria crime de responsabilidade’. A manifestação da parlamentar é uma critica ao atraso na divulgação de dados da doença por parte do Ministério da Saúde.

Segundo o Jornal Nacional, o ‘Ministério da Saúde só divulgou o boletim da situação epidemiológica de quinta-feira (4) às 21h58. Mas os dados já estavam fechados desde as 19 horas’.

“É perigoso o atraso na divulgação de dados, pelo governo, sobre a Covid-19. Não há qualquer justificativa para isso. A transparência é essencial para se combater a doença, principalmente agora, com os números de infecção e óbitos crescentes. Não se pode imaginar ou permitir qualquer manipulação nessa área, seria crime de responsabilidade”, afirma Eliziane Gama.

A senadora pediu a convocação do ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, para que ele explique o motivo da mudança do horário da atualização dos dados na comissão mista do Congresso Nacional que acompanha as ações do governo no combate a pandemia do novo coronavírus.

Ministério da Saúde atrasa divulgação do número de mortes por coronavírus e gera críticas

É a terceira vez nesta semana que o Ministério da Saúde retarda a divulgação de dados sobre a pandemia. E esse represamento de informações provocou críticas de especialistas e integrantes dos poderes Legislativo e Judiciário.

Jornal Nacional – TV Globo

É a terceira vez nesta semana que o Ministério da Saúde retarda a divulgação de dados sobre a pandemia. E esse represamento de informações provocou críticas de especialistas e integrantes dos poderes Legislativo e Judiciário.

O Ministério da Saúde só divulgou o boletim da situação epidemiológica de quinta (4) às 21h58. Mas os dados já estavam fechados desde as 19 horas, como mostra um detalhe na tabela. A mesma coisa aconteceu na quarta (3).

Os atrasos vêm piorando aos poucos desde que Eduardo Pazzuelo assumiu interinamente o comando da pasta. A divulgação, marcada para as 19 horas, começou a acontecer cada vez mais tarde, mas antes das 20 horas até a última quarta.

Na quarta, o ministério alegou que foi um problema técnico. Mas os técnicos do ministério não conseguiram explicar qual foi esse problema. Nesta quinta, depois da segunda divulgação às 22 horas, apesar dos pedidos da equipe do Jornal Nacional, não houve nenhuma explicação. Fontes do governo disseram que foi uma ordem vinda do Palácio do Planalto: atrasar e dificultar a divulgação dos crescentes números de casos e mortes.

E os dados de quinta eram graves: um recorde de óbitos em 24 horas pelo segundo dia seguido. Uma morte por minuto.

Uma especialista que está estudando a transparência de dados sobre a doença, diz que sonegar informação atrapalha o combate ao coronavírus.

“Em todo lugar do mundo que combateu a epidemia ou que está combatendo a epidemia, o primeiro passo é coletar informação, é usar essa informação para elaborar políticas públicas e principalmente dar transparência para tudo isso, para que toda sociedade possa contribuir nesse processo. Também os cientistas, os pesquisadores, os jornalistas, todo mundo que está acompanhando isso tem que ter muita clareza das informações. Acredito que o Ministério da Saúde deveria liderar esse processo de transparência no país”, avalia.

Em abril, um dia depois da demissão de Luiz Henrique Mandetta, o Ministério da Saúde dizia no boletim que: “A comunicação eficaz de riscos depende do compartilhamento oportuno e transparente de todas as informações relevantes e da construção de confiança e empatia. Uma abordagem sistemática à avaliação de eventos agudos de saúde pública apoia a comunicação eficaz dos riscos por meio da rápida disseminação de informações e da identificação das principais medidas de prevenção e mitigação”.

Além de atrasar a divulgação dos números, o governo também alterou a forma.

Na semana passada, o padrão do boletim com a situação epidemiológica da Covid-19 no Brasil, divulgado diariamente para a imprensa, mudou completamente. O número de casos e de mortes registradas nas últimas 24 horas perdeu espaço: passou a ficar pequeno, ao lado, sem muito destaque. Antes ele informava com igual destaque e cores vivas o número de casos confirmados, os novos casos registrados nas últimas 24 horas, os óbitos confirmados e os novos óbitos registrados nas últimas 24 horas.

O ministério também alterou o painel coronavírus no site, que é acessado pelo público em geral. Antes, ele trazia duas informações com o mesmo destaque: casos confirmados e mortes. Agora, as novas mortes registradas em 24 horas aparecem sem destaque, no meio de outros dados.

Em nota divulgada nesta sexta (5), às 18h26, o Ministério da Saúde informou que a pasta analisa e consolida os dados, sendo que, em alguns casos, há necessidade de checagem junto aos gestores locais. Desta forma, o Ministério da Saúde tem buscado ajustar a divulgação dos dados, que são publicados diariamente na plataforma.

Nesta sexta-feira (5), o horário de divulgação do boletim do Ministério da Saúde será às 22h. Em nenhum momento a nota mencionou como, até essa semana, os números eram divulgados dentro do prazo, sem problema.

Os atrasos e essas mudanças na divulgação receberam críticas nesta sexta. Em uma rede social, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes disse que “na pandemia, a divulgação de dados oficiais envolve, além do dever de prestar contas, uma questão de saúde pública. Dados do Ministério da Saúde são fundamentais às respostas à Covid-19 e devem estar abertas ao público, aos gestores e, portanto, à imprensa de forma consistente e ordenada”.

A Associação Brasileira de Imprensa disse que “enquanto o número de mortos e contaminados atinge níveis recordes no país, ceifando a vida de milhares de brasileiros, o governo de Jair Bolsonaro opta por dificultar o acesso à informações sobre o avanço da doença”. A nota critica ainda a suspensão das entrevistas coletivas diárias e diz que o Ministério da Saúde passou a atrasar a divulgação dos dados ‘na tentativa de calar a imprensa por meio do adiantado da hora’.”

A vice-presidente da Comissão Mista do Congresso, Eliziane Gama, que acompanha o coronavírus quer convocar o ministro para dar explicações.

“É perigoso o atraso na divulgação de dados, pelo governo, sobre a Covid-19. Não há qualquer justificativa para isso. A transparência é essencial para se combater a doença, principalmente agora, com os números de infecção e óbitos crescentes. Não se pode imaginar ou permitir qualquer manipulação nessa área, seria crime de responsabilidade”, afirma.

O ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, infectologista e deputado do PT na comissão externa da Câmara sobre a pandemia, disse que essa omissão de informações gera desconfiança na sociedade.

“A maior autoridade sanitária de um país passa a omitir e esconder dados durante uma epidemia: gera uma cadeia de desconfiança em toda a sociedade. Ninguém acredita em mais nada, começa a desconfiar do resultado do tratamento, das informações sobre as ações, da informação que o hospital passa para família. É como se você não pudesse acreditar no médico que te atende”, destaca.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse que, se o governo continuar atrasando a divulgação, o Congresso vai criar um sistema próprio com as secretarias estaduais de saúde para atualizar os números.

“A Câmara, com certeza, vai trabalhar com os estados, vai trabalhar com a sociedade civil. Nós temos que organizar de algum jeito as informações para sociedade. O ideal é que o governo restabeleça isso o mais rápido possível. Eu espero que, nos próximos dias, o ministro da Saúde compreenda que informar é fundamental para a sociedade brasileira, principalmente num mundo tecnológico, um mundo com tanta tecnologia. A gente omitir informação parece que é um erro muito grande”, avaliou.

Na noite desta sexta-feira (5), no Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro foi questionado por jornalistas sobre os atrasos na divulgação de dados sobre a pandemia. Sem que ninguém fizesse qualquer menção a nenhum órgão de imprensa específico, o presidente disse: “Acabou matéria do Jornal Nacional”.

Depois, o presidente alegou que o atraso se devia à necessidade de pegar os dados mais consolidados, mas não explicou por que, por mais de 70 dias, foi possível consolidar os dados mais cedo. E nem por que os números que são divulgados às dez da noite constam de uma planilha que atualiza dados até às sete da noite.

Em seguida, como faz habitualmente, Jair Bolsonaro criticou o jornalismo da Globo. E acrescentou: “Ninguém tem que correr pra atender a Globo”.

Sobre o que disse o presidente, a Globo divulgou a seguinte nota: “O público saberá julgar se o governo agia certo antes ou se age certo agora. Saberá se age por motivação técnica, como alega, ou se age movido por propósitos que não pode confessar mais claramente. Os espectadores da Globo podem ter certeza de uma coisa: serão informados sobre os números tão logo sejam anunciados. Porque o jornalismo da Globo corre sempre para atender o seu público”.

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