Em live, Roberto Freire anuncia que Cidadania integrará movimento Janelas pela Democracia

Presidente dialoga com PV, PDT, PSB e Rede e articula uma frente ampla capaz de oferecer ao país uma alternativa democrática à escalada autoritária de Bolsonaro

Em live que encerrou o curso Jornadas da Cidadania, o presidente nacional do partido, Roberto Freire, disse ver possibilidade de uma convergência entre centro-esquerda e liberais para fazer frente tanto ao bolsonarismo quanto ao lulopetismo, num movimento que criaria uma alternativa democrática entre os extremos. A avaliação foi feita ao professor de Direito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro Marco Marrafon, também presidente do Cidadania-MT.

Falando a jovens que participaram do curso de formação da Fundação Astrojildo Perereira, ligada ao partido, Freire disse que o debate antes interditado começa a fluir melhor agora que inclusive o próprio PT reavalia o discurso antes focado no “Lula Livre”.

Freire afirmou que está conversando com PSB, PV, PDT e Rede. Como sinal dessa aproximação, o presidente participará da mobilização “Janelas pela Democracia”, organizada pelos quatro partidos e que prevê uma série de atos online na próxima terça-feira em oposição a Bolsonaro. 

“Apoio uma frente ampla em defesa das instituições democráticas que Bolsonaro tenta desmantelar. Vamos nos unir num movimento em que todos os democratas são bem-vindos, da direita à esquerda, passando pelo centro”, explicou depois da live ao Portal do Cidadania.

Grandeza política

Segundo Freire, “é hora de ter a sabedoria e a grandeza política para aliar conservadores e progressistas numa luta inadiável e patriótica pela democracia brasileira, que Bolsonaro ataca sistematicamente”. O presidente vê um contexto de alinhamento das esquerdas para o confronto com o autoritarismo bolsonarista. 

“Não temos mais muro entre nós à esquerda. Costumo dizer que temos agora que derrubar os tapumes. É algo mais fácil. No Janelas pela Democracia, há um pensamento de esquerda que se distingue do PT. E também dentro do PT, há os que começam a discutir que precisam se libertar de Lula”, analisou.

Na avaliação dele, o PT parece iniciar um entendimento de que as pautas do “Lula Livre” ou do “Lula inocente” não projetam “um Brasil que está caminhando para o futuro”. De acordo com ele, com seu hegemonismo na esquerda, o PT impediu o pluralismo de ideias, monopolizou o campo popular – quem não se adequasse ao hegemonismo era excluído – e acabou “ajudando, e muito, que tivéssemos esse protofascista na presidência da República”.

Ao endossar a argumentação de Freire, Marrafon lembrou episódios do passado que também representaram a união de campos diferentes para derrotar o atraso.

“Na Segunda Guerra, a união entre os liberais, conservadores e os comunistas, derrotou o nazifascismo. Depois, na Guerra Fria, o liberalismo suplantou o comunismo. A partir disso, se formou um conjunto de valores universais em termos de direitos humanos e sociais. Mas, hoje, há uma emergência de arroubos autoritários, com capitalismo de Estado e autoritarismo político”, apontou.

Liberdade de pensamento

Dirigindo-se aos jovens, Freire reforçou a importância de novos ares na arena pública. “Ainda há dificuldades em falar de política. Vocês serão responsáveis por desinterditar tudo isso. Aqui, no Cidadania, vocês têm liberdade para pensar”, garantiu.

Ao falar sobre mudanças estruturais pelas quais o Brasil e o mundo estão passando, o presidente do Cidadania disse que instituições tradicionais estão ruindo, inclusive os próprios partidos políticos, algo que está sendo acelerado pela tecnologia. E lembrou que o Cidadania foi pioneiro nesse processo no país.

“O mundo digital pode fazer com os partidos políticos o que vem fazendo com todas as grandes instituições. (…) A sociedade está buscando renovação. Todos esses movimentos – e nós queremos ainda mais a presença deles, dessa juventude, no Cidadania – significam aqueles que serão os agentes públicos desse novo mundo. O partido politico é datado”, argumentou.

O presidente do Cidadania defendeu tese levantada pelo professor Marrafon e disse que as eleições municipais desse ano podem abrir caminho para que jovens lideranças façam da atuação local um laboratório de novas políticas públicas que transformem e aproximem o Estado do cidadão.

“Como a prefeitura é um universo menor, dá pra testar e comprovar sucessos, êxitos. Você pode ter mais rapidamente os resultados. Seria um laboratório importante para esse novo Estado não burocrático e mais digital [como defende Marrafon], que atenda mais rapidamente as necessecidades básicas”, assinalou.

Estado estratégico

Marrafon defende um Estado estratégico, que seja “regulador e indutor do desenvolvimento”, sente com a comunidade e decida quais culturas mais fáceis de serem cultivadas, que áreas em determinadas regiões precisam mais de investimento.

“Muitas questões locais podem ser laboratório dessas novas práticas. Esse modelo digital é colaborativo. Temos o exemplo do Comitê Gestor da Internet, grande momento onde a sociedade interage com o Poder Público na construção do direito nesse novo mundo digital”, sustentou. 

Freire disse que o Cidadania quer ser um instrumento nesses novos desafios do setor público. “Não queremos o que aí existe. Tudo que aí está não vai ficar. Quando estudei Direito, um professor soltava muitas coisas utópicas, de muita ousadia. Isso que faz com que a gente estude, entenda, tenha curiosidade, avance”, salientou.

Marrafon concordou. “O Cidadania tem saído muito à frente dos outros partidos, estamos construindo esse conceito de uma plataforma partidária em que os movimentos ganham apoio, presença e voto. O caminho do futuro é esse que estamos trilhando”, observou.

Ainda na conversa, Freire pediu aos jovens que insistam na política como meio de transformação da realidade. “Precisamos que vocês se encantem com a política e a necessidade de mudar e, mais do que nunca, saibam que solidariedade é fundamental. Isso que nos faz humanos”, sustentou. Ainda deixou um conselho: “seja autêntico, seja você mesmo”.

Exemplo de ação

O presidente do Cidadania disse não ter pautado sua “vida pública no sentido da onda“. ”Não fui buscar o que a sociedade momentaneamente se emociona e acha o correto. Muitas vezes, remei contra a maré, quando achava que a corrente estava indo para um caminho que não era o melhor. Devo ter cometido erros, mas também acertamos muito. E posso conversar com vocês olho no olho”, aconselhou.

Ele citou como exemplo o fato de que sempre defendeu a laicidade do Estado. “A sociedade precisa de políticos que se posicionem e provoquem discussões sobre o caminho, dando liberdade de pensar mais livre e democraticamente”, apontou.

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