“Gravidez na adolescência é para a vida toda” é o mote da campanha de prevenção lançada hoje pelo governo do estado de São Paulo, a ser realizada por várias Secretarias (Educação, Saúde, Desenvolvimento Social, Justiça e Cidadania).
Eu fui uma “grávida na adolescência”; a Rachel nasceu quando eu tinha 16 anos. Sou e não sou um “exemplo”. Eu tinha as informações necessárias para evitar, mas “corri o risco” – apliquei o método “se Deus quiser [eu não estou no período fértil ainda]”. Foi dramático, mas não trágico. O pai era meu namorado amado e eu queria muito ser mãe, só que depois de alguns planos (ir para Macchu Picchu no Trem da Morte, cursar cinco faculdades). Nessa fase da vida, sacrificar projetos-sonhos tem dimensões astronômicas; você perde algo que nunca teve, mas doí como se tivessem arrancado um pedaço.
Tinha a clara sensação de que minha possibilidade de vida adulta, autônoma, tinha terminado ali. Nunca mais ia ter só o meu nariz para assoar, ia poder tomar banho sem precisar que alguém me permitisse. Pulei da subordinação à autoridade da minha mãe direto para a subordinação às necessidades da minha filha. Que chorava dia e noite com cólica, sem a beleza poética que eu imaginava de uma criança dormindo no carrinho enquanto leio um livro depois do almoço. Passava duas horas por dia no tanque; não tinha nem televisão para me fazer companhia. Em seis meses, meu casamento já tinha sido triturado pelo stress. Não tinha telefone, carro, nem tanto apoio assim da família. Minha irmã caçula me ajudou muito, olhando as meninas (a Sarah nasceu nos meus 19) em troca de discos do Menudo – sem me questionar sobre a real necessidade de sair de casa sem elas, nem me julgar ou criticar na volta, reclamando do trabalho que elas deram. Só que eu desisti de desistir dos sonhos; pendurei a Rachel na cintura e montei a Sarah nos ombros e fui fazer teatro, faculdade de cinema, trabalhar. Um perrengue desgraçado, mas menina, olha eu aqui, viva para contar.
Então, do alto da montanha que eu subi, digo às meninas:
1) EVITE a gravidez se ela não está nos seus planos. Não é tão difícil… E não sacrifica o prazer e o amor.
2) Aconteceu? Faça o melhor por essa gravidez; parece que demora uma eternidade, mas termina. E o enjoo passa antes da metade. E faça o melhor pela sua cria. Dá um trabalho do cacete no começo, mas melhora com o tempo. As mães que dizem que só piora devem ter esquecido como era, ou tiveram crianças extraordinárias, que não acordaram a noite toda nem cagavam na fralda que você acabou de trocar e custam os olhos da cara. CUIDA, sacrifica um pouco o que precisar sacrificar, filhote é assim, depende da gente completamente.
3) CUIDE-SE. Peça apoio, descanse como e quando puder, e retome/prossiga com seus planos!! Terminei o colegial aos 16 e entrei na faculdade aos 22. Tardio? Que nada, bem a tempo.
Soninha Francine é vereadora em São Paulo pelo Cidadania