Todo ano, no dia 15 de outubro, uma série de discursos (a maioria honestos e genuínos) sobre o Dia do Professor circula na internet. Sou formado há poucos anos e, por isso, ainda é novo para mim ser parabenizado por essa data. Mas é interessante o fato de eu sempre sentir, assim como outros colegas, um certo desconforto com essas felicitações: afinal, se há esse nível de valorização por parte da sociedade em relação à docência, por que ainda somos um país que engatinha tanto na educação?
A resposta é complexa. E para ser justa, é preciso que se estabeleçam algumas premissas: 1) o Brasil não tem um problema com a quantidade de dinheiro investido em educação; 2) se o problema não está na quantidade do gasto, ele está, necessariamente, na qualidade, na forma como o dinheiro é utilizado.
O debate em educação costuma girar em torno de duas correntes: a de que o problema está na pedagogia, ou seja, na forma e na teoria utilizadas pelos professores para ministrarem os conteúdos, e a de que é preciso “inovar” em educação. Como um profissional da área da educação, não posso ter receio de rejeitar completamente as duas hipóteses. O Brasil possui o hábito de discutir as soluções mais complexas antes de oferecer o mínimo. E esse é justamente o problema central da educação.
O mínimo para uma educação produza resultados é uma escola bem estruturada e um professor valorizado. Em geral, as escolas já possuem estruturas próximas do aceitável. Mas ainda estamos muito longe da valorização profissional. Uma profissão atrativa é aquela em que o profissional recebe um salário justo, em dia, com boas condições de trabalho e possibilidade de crescimento. O Brasil não oferece isso ao professor.
Alguns estados ainda não pagam o piso salarial. Outros, chegam a parcelar os salários. As progressões automáticas não produzem nenhum incentivo para um trabalho mais qualificado por parte do professor. A falta de preparação dos diretores faz com que se crie o corporativismo nas escolas, protegendo os professores ruins e tornando ainda mais difícil a vida dos bons professores. E o ciclo que se cria é de uma profissão cada vez mais estratégica e, ao mesmo tempo, cada vez menos atrativa.
Um professor bem formado, com bom salário e possibilidade de avançar na carreira de acordo com o desempenho não precisa de um Estado que diga qual é a melhor maneira de ensinar os conteúdos, ou de um investimento maciço em computadores de baixa qualidade. Um professor nessas condições teria sucesso em ensinar os conteúdos sem o auxílio de computadores e independente do método utilizado. Uma variedade de métodos em sala de aula é, na verdade, essencial para o desenvolvimento das crianças e adolescentes.
Há solução para a valorização docente: discutir o financiamento da educação, cortar privilégios de classes abastadas e pensar estratégias de fomento compartilhado, entre União, estados e municípios. É possível fazer isso mesmo com o estado atual das contas públicas. Exigiria muito diálogo dos representantes políticos com a comunidade educacional (não só as corporações, mas também os estudantes, as mães, etc.), coragem de cortar de onde não é essencial e visão de futuro. Não vejo isso no horizonte, mas permaneço tendo esperança de que, um dia, terei motivos para comemorar o Dia do Professor.
Giovane Vaz, 25 anos, é professor, líder do Movimento Acredito – RS e membro do Diretório Municipal do Cidadania de Porto Alegre