O presidente do Cidadania, Roberto Freire, lamentou o assassinato da menina Ágatha Félix, de oito anos, vítima de arma de fogo no morro do Alemão, no Rio de Janeiro, na última sexta-feira (20). A Secretaria Nacional de Mulheres do Cidadania-M23 também emitiu nota (veja abaixo) manifestando indignação pelo assassinato da menina.
“Visão desumana”
Freire criticou o que chamou de “visão desumana” da segurança pública defendida pelo governo federal e do Rio de Janeiro e destacou que o caso não se encaixa no chamado excludente de ilicitude.
“Isso [a morte] é inadmissível numa sociedade que se diz civilizada. O caso da Ágatha não é o típico excludente de ilicitude, mas se insere na visão desumana de que segurança pública no Brasil concede licença para matar. Pela rejeição da excludente de ilicitude”, defendeu.
Roberto Freire criticou ainda parcela da sociedade que tenta justificar a morte de uma criança e outros inocentes na defesa da execução de traficantes e bandidos pelas forças policiais.
“Se unem os conservadores de todos os matizes, que reagem a liberdade e aos novos tempos do mundo que vivemos. O mito aplaude e defende os que dizem que bandido bom é bandido morto. Deveriam se lamentar e não buscar justificativas para o assassinato [de Ághata]. É desumano uma pessoa querer justificar o assassinato absurdo de uma criança de oito anos. É execrável. Quanta infelicidade dos familiares de Ágatha, dos cariocas e de nós brasileiros”, lamentou.
Banalização da vida
No mesmo tom, a Secretaria Nacional de Mulheres do Cidadania M23 divulgou nota de indignação e de repúdio a política de segurança pública adota no estado carioca.
O documento questiona até quando o País aceitará políticas de estado que estimulem o extermínio de população pobre e desassistida pelo Estado e presta solidariedade à família da criança.
“NOTA PÚBLICA
“A M23 vem a público manifestar imensa indignação pelo assassinato da menina Ágatha Félix, de apenas 8 anos de idade.
Não podemos mais tolerar uma política de Estado que estimule o extermínio da população pobre e negra, em nome de uma falida e falsa “guerra às drogas”. Apenas este ano foram 16 casos de crianças baleadas ou mortas no Rio de Janeiro. Duas delas ainda na barriga da mãe.
Até quando vamos assistir a banalização da vida? Até quando mães irão sofrer o luto da perda precoce de seus filhos?
Basta! Queremos nossas crianças e jovens vivos!
As vidas nas favelas importam!
Manifestamos solidariedade à família da Ágatha, na figura de seu avô, cujo desabafo foi um grito de dor e indignação. “Foi a filha de um trabalhador, tá? Minha neta fala inglês, tem aula de balé, tem aula de tudo. Ela é estudiosa. O polícia atirou em quem? Foi em traficante? Foi na filha dele? Não! Foi na minha neta. Agora tá aí, perdi minha neta. Não era pra perder, nem eu nem ninguém.
Secretaria Nacional de Mulheres do Cidadania M23“
O caso
A criança morreu na noite de sexta-feira dentro de uma Kombi com o avô, quando foi baleada nas costas. De acordo com os moradores, PMs atiraram contra uma moto que passava pelo local acertando Ághata. Ela chegou a ser levada para a UPA do Alemão e transferida para o hospital Getúlio Vargas, mas não resistiu os ferimentos.
Com a morte da menina, sobe para 29 o número de mortes por bala perdida no Rio de Janeiro em 2019.