“Não adianta só no discurso falar que apoia sem dar apoio material financeiro”, sustenta
Pesquisadora sobre mulheres na política, Beatriz Sanchez foi a palestrante do Primeiro Congresso Nacional das Mulheres do Cidadania, realizado neste sábado (7). Ela apresentou um panorama da representação feminina no Brasil e outros países do mundo, lei de cotas, violência política de gênero e os desafios para superar as barreiras para aumentar a participação das mulheres nos espaços de liderança. ”Tema muito importante para o fortalecimento da nossa democracia. É uma luta histórica por igualdade”, salientou.
Segundo ela, atualmente, 26,1% ocupam cadeiras dentro do parlamento no mundo. O Brasil ocupa a 145ª posição no ranking mundial. Na América Latina, apenas o Haiti tem menor porcentagem de mulheres no parlamento do que o Brasil.
“As mulheres, em média, são metade da população. Logo, vemos uma desigualdade evidente de representação política feminina. No Brasil, ocupamos essa posição vergonhosa mundial. Argentina, Costa Rica, México, todos esses são países na América Latina que têm uma tradição de representação política maior do que nós. Precisamos ter 50% de mulheres ocupando as cadeiras nos parlamentos. Só quatro países no mundo [Ruanda, Cuba e Nicarágua e México] hoje atingiram essa meta de paridade de gênero”, destacou.
Sobre a lei de cotas, Beatriz afirmou que quase todos os países que adotaram algum tipo de lei de cotas para as mulheres na política tiveram aumento da representação feminina.
“O Brasil é uma exceção em relação a essa regra. Temos a lei de cotas desde 1995 e, em 1997, ela sofreu algumas alterações. Mesmo assim não conseguimos aumentar significativamente a porcentagem de mulheres na política. Na Argentina, 44,8% das cadeiras são ocupadas por mulheres. Um número significativo e bem maior do que temos aqui”, elencou.
A pesquisadora também apresentou os números de candidaturas de mulheres em 2018, quando 31,6% eram para deputadas federais, 30,7% estaduais, 12% a governadoras e 18% a senadoras. Dessas candidaturas, foram eleitas 15% deputadas federais, 15% estaduais, 3,7% governadoras e 15% senadoras. “É uma situação bastante desigual considerando a composição feminina da população brasileira e considerando também o eleitorado, formado em sua maioria por mulheres”, apontou.
Para Beatriz Sanchez, é preciso vencer barreiras estruturais como a distribuição desigual de recursos nas campanhas entre homens e mulheres, o machismo institucional nos partidos, que têm homens ocupando a maior parte dos cargos de liderança, a divisão sexual e racial no trabalho e a violência política de gênero.
“Não adianta só no discurso falar que apoia sem dar apoio material financeiro para aquelas candidaturas. Infelizmente, os partidos encontraram diversas formas de não dar visibilidade para as mulheres. Não basta as mulheres estarem na política, é preciso defender de fato políticas que tenham relação com a igualdade de gênero e com os direitos das mulheres”, finalizou.