Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (21/05/2021)

MANCHETES DA CAPA

O Globo

Maranhão rastreia 100 pessoas para conter cepa indiana
AstraZeneca: 90% efetiva
Renan faz lista de ’15 afirmações falsas’ de Pazuello
Plantalto celebra desempenho de general e da tropa de choque
Governo fará decreto para impedir retirada de postagens
Rio vai propor incluir bens para abater dívida
Energia: atraso em obras para ampliar oferta
Gustavo Franco – ‘Brasil pária econômico’
Copa América – Colômbia não será mais sede
Trégua sob pressão

O Estado de S. Paulo

Amazonas rebate Pazuello e diz que não recusou ajuda federal
Empresas se apressam para ter energia eólica
Bolsonaro afirma que Salles é ‘excepcional’
Cresce adesão de empresas à licença para pais
Universidades buscam ajuda privada para pesquisar vacina
Israel e Hamas acertam cessar-fogo

Folha de S. Paulo

Brasil ignorou em 1 mês 10 emails sobre imunizantes
Ritmo de vacinação no país cai no mês de maio
Quase 2 mi de pessoas tomaram a segunda dose fora do prazo
Depoimento de Pazuello reforça omissão no AM
Quadras de ‘beach tennis’ viram praia de paulista
Senado deixa na gaveta compra privada de doses
Bolsonaro dá aval para decreto que visa limitar exclusão de posts
União Química finaliza 1º lote da Sputnik para exportação na AL
Maranhão detecta variante indiana do coronavírus em navio
Imunização lenta e incerteza política alertam economia
Falta de comida já afetou um em cada quatro na crise
PF usou anotações e mensagens para investigar Toffoli
Rita Lee recebe diagnóstico de tumor no pulmão
FHC afirma que votaria em Lula contra presidente
Após 11 dias, Israel e Hamas acertam trégua em Gaza

Valor Econômico

MP dos caminhoneiros gera conflito com concessionárias
Aziz culpa Pazuello por falta de vacina
Governo aceita MP ‘meia-boca’ sobre Eletrobras
Divergência causa saída de Caffarelli
Construção tem a inflação mais alta em 28 anos
Para enfrentar a crise, avião vira cargueiro
Herdeiras discutem o futuro dos negócios de Aloysio Faria
O país está em negação, dizem psicanalistas
Lições amargas

EDITORIAIS

O Globo

O festival de mentiras que assola a CPI

Em seu segundo depoimento na CPI, Pazuello voltou a dizer que os ataques do presidente Jair Bolsonaro à CoronaVac eram “coisa de internet”

Depois de três semanas de depoimentos na CPI da Covid, a ausência mais sentida tem sido a verdade. O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello foi confrontado pelos senadores e chamado de “mentiroso”, tantas as contradições com os fatos. O senador Rogério Carvalho chegou a pedir à mesa que encaminhe o depoimento ao MP para investigação, como foi feito com o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten. O relator, Renan Calheiros, disse que as respostas de Pazuello eram “um espetáculo nunca visto” de contradições e omissões. Propôs a contratação de uma agência de checagem on-line para ajudar os senadores.

Em seu segundo depoimento na CPI, Pazuello voltou a dizer que os ataques do presidente Jair Bolsonaro à CoronaVac eram “coisa de internet” e que nunca recebera orientação para não comprar a vacina. O senador Otto Alencar leu trechos de entrevistas em que Bolsonaro demonizava a CoronaVac e falava claramente que o governo não a compraria. O senador Randolfe Rodrigues mostrou que, depois da bronca do presidente, o Ministério da Saúde apagou um tuíte que falava sobre a compra da vacina chinesa.

A pergunta que não foi feita a Pazuello: se não houve ordem, então Bolsonaro mentiu ao dizer que tinha mandado cancelar a compra? Não é questão irrelevante. Convém lembrar que o ex- presidente dos Estados Unidos Bill Clinton sofreu processo de impeachment por ter mentido à nação sobre um caso extraconjugal com uma estagiária da Casa Branca.

Pazuello foi colocado contra a parede também quando falou sobre o aplicativo TrateCov, lançado pelo Ministério da Saúde para incentivar o famigerado “tratamento precoce” com cloroquina e outras drogas ineficazes contra a Covid-19. Negou que o aplicativo tivesse sido usado. Alegou que foi apresentado, depois descartado por um motivo exótico: foi hackeado. O presidente da CPI, Omar Aziz, ironizou: “Hacker tão bom que conseguiu colocar matéria extensa na TV Brasil”.

Várias vezes, Pazuello disse ser favorável a medidas de prevenção. Porém o senador Alessandro Vieira lembrou que ele já questionara, numa live, a eficácia de máscaras e distanciamento. “Acredito que medidas de prevenção são necessárias. Não quero dizer que você não escorregue em algum momento de sua vida”, disse Pazuello.

O ex-secretário Wajngarten e o ex-chanceler Ernesto Araújo também testaram a tolerância da CPI com suas fabulações. Wajngarten chegou a ser ameaçado de prisão depois de negar fatos óbvios, como a entrevista à revista “Veja” em que atribuía à incompetência do Ministério da Saúde o atraso na compra de vacinas. Aziz não aceitou o pedido de prisão, mas remeteu os autos do depoimento ao MP. Araújo disse nunca ter feito ataques à China.

Nunca se pensou que o caminho da CPI seria fácil. O governo tentou de todas as formas impedir que ela surgisse e, uma vez instalada, fez o possível para miná-la. Agora, o avanço das investigações chega a um momento decisivo. A cada dia em que mais gente morre, elas se tornam mais imprescindíveis. Não só para esclarecer por que chegamos até aqui, mas para identificar e punir os que contribuíram para a tragédia. O festival de mentiras que assola a CPI não é comédia. Certamente a busca da verdade dá mais trabalho, mas mentiras costumam ter pernas curtas. Não sobreviverão até o fim dos trabalhos.

O Estado de S. Paulo

Caso de polícia

As informações segundo as quais Ricardo Salles enfrenta uma escandalosa denúncia de facilitação de ações criminosas por parte de madeireiros emporcalham ainda mais a imagem do Brasil

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é suspeito de integrar um esquema de exportação de madeira ilegal, segundo investigações da Polícia Federal. A notícia serviu para transformar a já conturbada gestão ambiental do governo de Jair Bolsonaro em caso de polícia.

Não é de hoje que a atuação do ministro Salles é objeto de fortes críticas de ambientalistas, sobretudo em razão de seu ímpeto para desmontar os mecanismos de fiscalização em nome do que chamou de “ambientalismo de resultados”. Esse comportamento claramente contrário às melhores práticas de gestão ambiental ajudou a fazer do País um pária internacional, justamente no momento em que esse tema domina a agenda política global.

As informações segundo as quais o ministro Salles enfrenta uma escandalosa denúncia de facilitação de ações criminosas por parte de madeireiros emporcalham ainda mais a imagem do Brasil. Para piorar, a denúncia surgiu de informações fornecidas por autoridades norte-americanas – ou seja, depois que um governo estrangeiro apontou problemas que funcionários do governo brasileiro aparentemente gostariam de esconder.

As investigações da Polícia Federal (PF), em operação autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, indicam que o Ibama, a pedido de madeireiros, modificou normas de fiscalização destinadas a impedir a exportação de madeira ilegal.

A modificação teria sido feita depois de encontro desses madeireiros com o ministro Salles e a diretoria do Ibama, em 7 de fevereiro de 2020, no qual eles reclamaram da apreensão de produtos florestais que haviam sido exportados para os Estados Unidos entre o fim de 2019 e início de 2020.

Em janeiro do ano passado, o FWS, órgão ambiental norte-americano, pediu informações ao Ibama depois de apreender madeira brasileira que havia aportado nos Estados Unidos sem a documentação adequada. Uma semana depois, o Ibama informou que de fato a empresa exportadora havia vendido a madeira sem a devida autorização, pois dados falsos haviam sido inseridos no sistema de controle.

Mas, em fevereiro, o Ibama encaminhou ao FWS certidões que liberavam a madeira. A contradição era tão óbvia que foi notada pelo adido do FWS na Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Bryan Landry. “Apesar da determinação anterior de ilegalidade e notificação de violação por funcionários do Ibama, as ‘certidões’ defendiam a liberação”, disse Landry em ofício à Polícia Federal.

Além disso, o FWS recebeu do presidente do Ibama, Eduardo Bim, um “despacho interpretativo” segundo o qual a autorização de exportação não era mais necessária. A nova “interpretação” do Ibama, que contrariava parecer de técnicos do órgão, foi formulada depois do encontro da direção do órgão e do ministro Salles com os madeireiros e ignorava o que o mesmo órgão havia determinado apenas um mês antes.

Em seu despacho, o ministro Alexandre de Moraes declarou que “a documentação encaminhada traz fortes indícios de um encadeamento de condutas complexas da qual teriam participação autoridade com prerrogativa de foro – ministro de Estado –, agentes públicos e pessoas jurídicas, com o claro intuito de atribuir legalidade às madeiras de origem brasileira retidas pelas autoridades norte- americanas”.

O ministro Salles alega que o ministro Moraes foi “induzido a erro” e disse que a operação da PF foi “exagerada”. Declarou que o Ibama agiu “de forma técnica”, pois a regra invocada pelos norte-americanos “já deveria, naquela altura, ter sido alterada”. O fato, contudo, é que a regra não havia sido alterada, e a direção do Ibama queria que sua contraparte norte-americana a ignorasse, em nome de uma “interpretação” generosa com os madeireiros.

O escândalo se soma às denúncias do delegado da PF Alexandre Saraiva sobre o suposto envolvimento do ministro Salles em ações para “causar obstáculos à investigação de crimes ambientais”. O ministro, que já devia explicações a respeito dos seguidos recordes de desmatamento, agora terá que esclarecer como uma importante norma em vigor havia nove anos foi modificada numa singela canetada.

Folha de S. Paulo

Olho nas UTIs

46% dos brasileiros vem epidemia controlada, mas hospitais continuam cheios

Ninguém pode afirmar com grau de certeza, diante da situação atual da Covid-19 no Brasil, se virá ou não pela frente uma muito temida terceira onda da doença. Fato é que, decorridos 17 meses de epidemia, a lição mais importante a extrair das mais de 440 mil mortes está na precaução, desprezada amiúde pelo poder público.

Os números recentes de infecções e ocupação de leitos de terapia intensiva não inspiram otimismo, ainda que a média móvel de mortes esteja em discreto recuo. Seria rematada imprudência dar por controlada uma enfermidade que ainda mata quase 2.000 brasileiros ao dia.

E, no entanto, aumenta de modo acentuado o contingente de entrevistados pelo Datafolha a declarar que a pandemia está controlada no país. Em março, quando a escalada de óbitos já caminhava para ultrapassar 4.000 por dia, a tal avaliação era compartilhada por apenas 19% dos brasileiros; agora, esse é o entendimento de 46% (outros 53% pensam o oposto).

Nada menos que 14 estados e 14 capitais mantêm ocupação de UTIs de 80% para cima, metade ultrapassando 90% —vale dizer, no limiar de repetido colapso.

No estado de São Paulo, 79% dos 12.766 leitos de cuidados intensivos se encontram tomados. A média de internações em UTIs ultrapassara 13 mil no pior momento, em abril, e recuou para o patamar de 10 mil —mas já parou de cair.

Como a média de casos voltou a crescer, não se pode excluir que em algumas semanas os hospitais se vejam mais uma vez inundados de doentes graves. Nessa hipótese, será questão de tempo as mortes voltarem a proliferar.

Do governo federal embebido no mais abjeto negacionismo nada mais se pode esperar, mas governadores e prefeitos na administração cotidiana do combate ao coronavírus precisam agir de maneira racional e responsável.

Entende-se a ansiedade dos cidadãos pela volta célere das atividades —os danos provocados pela pandemia vão dos psicológicos aos econômicos, passando por um desastre no aprendizado das crianças mais pobres. O mundo político e as autoridades não podem nem devem ficar alheias a essa situação.

Entretanto há que ponderar os riscos nas decisões relativas a prolongar horários de abertura do comércio e permitir festas e eventos públicos, pois as estatísticas dão pistas preocupantes.

Flexibilizações —como a programada pelo governo paulista a partir de 31 de maio— precisam sempre ser planejadas de acordo com a capacidade dos hospitais.

Valor Econômico

Caso da madeira ilegal põe em xeque gestão de Salles

Com a operação ordenada pelo STF, Salles junta-se ao rol dos operadores de Bolsonaro emparedados por outros poderes

Após a maior apreensão de madeira extraída ilegalmente no país, em dezembro de 2020, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tomou providências e agiu diretamente – a favor dos madeireiros, contra a Polícia Federal. A PF investigou o caso, encaminhou ao Supremo Tribunal Federal suas suspeitas e o ministro Alexandre de Moraes ordenou 35 mandatos de busca e apreensão contra Salles e funcionários do ministério, além de afastar o presidente do Ibama, Eduardo Bim e nove funcionários. A Polícia Federal reuniu indícios de que possa haver algo mais do que uma simples “posição ideológica” do ministro ao apoiar os madeireiros.

Ao desmontar gradualmente os órgãos de fiscalização e desregulamentar a legislação que lhes dá base para seu trabalho de fiscalização, Ricardo Salles cumpriu à risca seus propósitos e os de seu chefe, o presidente Jair Bolsonaro. Salles, ao procurar acabar com a “indústria da multa” desfigurou o Ibama e a ICMBio, e criou um comitê para revisar as autuações, cujo número despencou, e, mais importante, sinalizou um salvo conduto aos vândalos do meio ambiente.

O que ocorreu com a atuação no caso da apreensão da madeira exportada ilegalmente foi um passo além – e que pode lhe custar caro. O adido americano Brian Landry tropeçou também na lógica avessa do Ministério ao cuidar do destino da apreensão de madeira vinda do Brasil pelo porto de Savannah, na Georgia, em nome da Tradelink Madeira Ltda, do Pará. Ele estranhou a documentação completamente irregular. Não era pouca coisa, segundo o despacho de Alexandre de Moraes: coordenadas do documento de origem que não coincidem com a autorização, ausências de coordenadas das origens da madeira, datas de transporte fora do período de validade, volumes de madeira não coincidentes, destino falso e sem rota marítima (Valor, 20 de maio).

Com tudo isso, em 5 de fevereiro, o Ibama enviou documentos aos EUA requerendo o desembaraço da carga. Em 25 de maio, o presidente do Ibama, Eduardo Bim, informou sobre um despacho seu de 2020 que, com uma canetada, eliminou a necessidade de autorização do Ibama para a exportação de madeira da região. Assim, o Serviço de Pesca e Vida Selvagem americano (FWS) mostrou, com a apreensão da carga, o resultado prático da mudança das regras feita pelo presidente do Ibama – o contrabando de madeiras, fruto da dilapidação ilegal da floresta, está praticamente liberado no Brasil.

A Tradelink tem problemas na Justiça por contrabando e outros crimes, entre eles trabalho escravo, e autuações de R$ 7 milhões (O Estado de S. Paulo, ontem). Estão sendo investigadas também as associações dos exportadores de madeira do Pará e a de empresas de concessionárias de florestas, com as quais Salles se reuniu antes de desautorizar o delegado Alexandre Saraiva.

As suspeitas no governo recaem, entre outros, sobre um assessor especial de Salles, denunciado por funcionário do Ibama, Leopoldo Butkiewics, que intercedeu a favor dos autuados por exportação ilegal. Além disso, a PF investiga o afastamento de servidores que levam a fiscalização a sério e o pagamento de propina a funcionários.

Ao mesmo tempo, o Coaf detectou operações atípicas de R$ 14,1 milhões feitas pelo escritório de advocacia do qual o ministro do Meio Ambiente é sócio, o Carvalho de Aquino e Salles Advogados. O Ministério Público paulista já levantara suspeitas de enriquecimento ilícito de Salles, cujo patrimônio entre 2012 e 2018, após passagem pela Secretaria do Meio Ambiente estadual, subira de R$ 1,4 milhão para R$ 8,8 milhões. Salles chegou a ser condenado em primeira instância por alteração do plano de manejo da várzea do Tietê, que beneficiou mineradoras, mas foi depois absolvido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.

Com a operação ordenada pelo STF a pedido da PF, Salles junta-se ao rol dos operadores de Bolsonaro emparedados por outros poderes. Após a queda de Eduardo Pazuello, da Saúde, e de Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, o presidente pode se ver obrigado a livrar-se de Salles, que agia mais do que pregava para “passar a boiada”. Boa parte da desconfiança doméstica e internacional sobre a capacidade de o atual governo mudar sua política de destruição ambiental se deve a sua permanência no governo, sob auspícios do presidente. Bolsonaro já mostrou que muda de opinião sob pressão – esbravejando, como sempre, para não perder a pose.

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