‘O senhor [Fabio Wajngarten] tem que respeitar a inteligência dos brasileiros e o papel dessa CPI’, cobrou o líder do Cidadania (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
Ao ser confrontado pelo líder do Cidadania no Senado, Alessandro Vieira (SE), nesta quarta-feira (12) na CPI da Pandemia, o ex-secretário de Comunicação do governo Jair Bolsonaro, Fabio Wajngarten, confirmou que o presidente deu aval para que se facilitasse as negociações com a farmacêutica Pfizer, um dos fornecedores da vacina contra a Covid-19. Wajngarten, no entanto, disse que não atuou em benefício de outros fornecedores de vacinas.
Wajngarten também não conseguiu se esquivar da declaração dada à revista Veja, em entrevista publicada em abril, na qual acusou a equipe do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, de ser incompetente para lidar com a pandemia. No momento mais tenso do depoimento, Alessandro lembrou Wajngarten que se continuasse mentindo ou se esquivando das perguntas poderia sair dali preso em flagrante.
“O senhor tem que respeitar a inteligência dos brasileiros e o papel dessa CPI”, cobrou o líder do Cidadania.
Diante de contradições do ex-secretário no depoimento à comissão, o senador pediu a de quebra seus sigilos fiscal, bancário, telefônico e telemático. O requerimento ainda vai ser votado pela CPI.
Novo depoimento e pedido de prisão
Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI, avisou que Wajngarten pode voltar à CPI como investigado. O relator Renan Calheiros (MDB-AL) ameaçou prendê-lo e a sessão chegou a ser interrompida. Wajngarten passou todo o depoimento sem responder objetivamente se as declarações antivacina do presidente Jair Bolsonaro impactam a sociedade.Ele disse que o impacto se dá juntamente com outras fontes de informação e evitou tecer críticas diretas ao presidente.
Mesmo assim, acuado por Alessandro Vieira, admitiu ter feito lobby para a Pfeizer, inclusive junto ao presidente e a ministros do governo, durante uma reunião no Palácio do Planalto. Wajngarten colocou o presidente ‘na linha’ com o então CEO da Pfizer, Carlos Murillo, que vai depor na CPI nesta quinta-feira (13). Ainda assim, o contrato com a Pfizer demoraria alguns meses para ser assinado.
Wajngarten contou ter respondido, no final do ano passado, a uma carta da Pfeizer, enviada à cúpula do governo brasileiro em setembro, mas que só chegou ao seu conhecimento em novembro, quando falou ao telefone com o representante da Pfizer no Brasil.
Mesmo fora de sua área de atuação e supostamente sem consultar o Ministério da Saúde, teria discutido condições de contratação da vacina. Mais tarde, Wajngarten recebeu pessoalmente no Palácio do Planalto o CEO da Pfizer.
O ex-secretário afirmou que o presidente Bolsonaro não participou do encontro e que não foram discutidos temas como “cronograma ou valores” para a compra do imunizante.
Carta da Pfizer
A CPI da Pandemia avalia que a carta da Pfizer oferecendo vacinas ao Brasil em 2020 mostra que o governo brasileiro foi incompetente e não priorizou a compra de imunizantes contra a doença. A compra só veio a ocorrer esse ano.
Wajngarten sustentou que Bolsonaro disse que compraria toda vacina aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas Alessandro Vieira mostrou que isso não era verdade.
Em mais de uma ocasião, como uma entrevista à Rádio Jovem Pan, em outubro do ano passado, Bolsonaro disse que não compraria “vacina da China” – a CoronaVac -, mesmo com autorização da Anvisa.
“O senhor informou que o presidente, ao longo de todo o processo, teve uma postura ativa de defesa da vida, e que defendeu a compra de qualquer vacina com o aval da Anvisa. Não é verdade”, disse Alessandro Vieira.
Entrevista à Veja
O ex-secretário, depois de muita insistência, confirmou declaração dada à Veja de que o presidente era abastecido com informações erradas, por dolo ou incompetência, vindas do Ministério da Saúde. Não citou nomes e criticou apenas o “excesso de burocracia e formalismo” dentro do sistema público.
“O senhor diz que, com o aval do presidente, mobilizou diversos setores da sociedade – inclusive os ministros Luiz Fux e Gilmar Mendes, do STF, e Augusto Aras, procurador-geral da República – para tratar de vacinas da Pfizer”, afirmou Alessandro Vieira.
Wajngarten disse que anteviu “os riscos da falta de vacina” e negou que o presidente soubesse de seus passos – diferentemente do que disse na entrevista à Veja – e disse que buscava apenas o melhor para o País.
“Procurei todas as pessoas que pudessem contribuir para viabilizar a compra das vacinas da Pfizer. Não medi esforços”, disse.
Após ser confrontado, afirmou que o presidente não sabia que ele contataria pessoas para articular a compra da vacina.
“Em nenhum momento o presidente sabia previamente que eu contataria todas essas pessoas”, disse.
“Então o senhor mentiu à Veja. É melhor mentir à Veja do que à CPI. Aqui dá cadeia, lá pode dar um processo, desmoralização”, afirmou Alessandro Vieira. (Assessoria do parlamentar)