Para agradar Trump, Bolsonaro abandonou agenda histórica do Brasil, contrariou aliados como Índia e África do Sul e agora deixa país isolado na luta por vacinas, lamenta
O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, afirmou nesta quarta-feira (5) que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, demonstra visão humanista e de estadista ao mudar a posição do país e passar a defender na Organização Mundial do Comércio (OMC) a suspensão temporária das patentes de vacinas contra COVID-19. A mudança, avalia Freire, isola ainda mais o Brasil, que deixou de lado uma aliança com parceiros tradicionais como Índia e África do Sul e foi contra a medida quando ela começou a ser discutida no organismo internacional.
“O Brasil tem tradição na defesa do amplo acesso a tratamentos de saúde, historicamente estabelecida com José Serra no Ministério, quando houve a quebra de patentes para medicamentos contra a AIDS. Não só essa linha diplomática foi abandonada por Bolsonaro, como a própria aliança com os demais países em desenvolvimento, especialmente com Índia e África do Sul, que propuseram a medida no caso das vacinas, foi deixada de lado em nome de uma agenda pessoal do presidente com Trump”, critica.
Lacaio internacional
Para Freire, é difícil entender as razões que levaram o país a abrir mão de liderar uma agenda na qual tinha expertise para subalternizar suas posições não às de um país, mas, pior ainda, às de um governante de ocasião.
“É de causar espécie que Bolsonaro fale em soberania nacional e, quando tem a chance de reafirmá-la, prefira agir como um lacaio internacional. Perdemos tempo, perdemos prestígio e agora que seu senhor Donald Trump não ocupa mais a Casa Branca, Bolsonaro ficou segurando a brocha. Estamos isolados numa discussão que significa mais vacinas e menos mortes no país. É preciso que a diplomacia reoriente rapidamente sua atuação”, defende.
O ex-parlamentar observa que a decisão de Biden não é estritamente humanitária, mas atende também a necessidades econômicas. Isso porque a escassez de vacinas tem potencial para prolongar a pandemia inclusive em países que já imunizaram grande parte de suas populações.
“Suspender patentes pode viabilizar a descentralização da produção que hoje não dá conta de atender a demanda. Não é tão simples, porque não basta suspender. É preciso uma concertação internacional que permita também disseminar, de forma controlada, os conhecimentos envolvidos e os métodos de produção, que exigem tecnologias sob domínio de poucos atores. Mas, pra superar a pandemia, é fundamental facilitar o acesso a vacinas para além dos países ricos. Se só eles vacinarem, o vírus continuará circulando e sofrendo mutações que poderão tornar as vacinas inócuas. O único meio de salvar vidas, recuperar a economia mundial e voltar à normalidade é vacinando em tantos lugares quanto possível e rapidamente”, argumenta.