MANCHETES DA CAPA
O Globo
Bolsonaro ignorou ciência contra a Covid, diz Mandetta à CPI
Pauzuello adia depoimento após nevorsismo na preparação
Câmara aprova novo texto da Lei de Segurança Nacional
Obituário – Um humorista tamanho família
Manhã de horror em Saudades: três bebês e duas professoras mortos a facadas
Paes deixa DEM, vai para PSD e quer levar Rodrigo Maia
Depois do Pix, transferências também por WhatsApp
Mensagens revelam que Monique quis se separar, mas exigia dinheiro
Sob a bênção de Arthur Lira, Castro troca secretários
O Estado de S. Paulo
Governo só confirma compra de metade das vacinas anunciadas
Fim da Lei de Segurança Nacional passa na Câmara
Bolsonaro quis mudar bula da cloroquina, diz Mandetta
País dá adeus a um talento do humor
Jovem invade creche em SC e mata 2 adutos e 3 crianças
Pazuello alega suspeita de covid e CPI adia depoimento
Lira extingue comissão da reforma tributária
WhatsApp Pay começa a funcionar no Brasil
Repressão estatal enfurece colombianos
Folha de S. Paulo
Mandetta afirma à CPI que Bolsonaro ignorou alertas
Pazuello alega contato com infectados, e comissão adia depoimento
Recusa de presidente a se imunizar mina plano
São Paulo recebe 136 mil doses da vacina da Pfizer
Subnotificação esconde ao menos 30% de óbitos
Defesa afirma que não há vagas de UTI, mas planilhas divergem
Ator Paulo Gustavo morre aos 42 anos, vítima da Covid
Homem mata pelo menos 5 em escola infantil em SC
Lira decide acabar com comissão da reforma tributária
Deputados aprovam projeto que revoga LSN
Em metrópeles, ricos ganham 39 vezes salário dos mais pobres
WhatsApp lança serviço de transferência em parceria com bancos
Rareia presença em missão de paz, prioridade militar
EUA prometem ao Brasil US$ 20 mi em remédios para intubação
Viaduto cai no México, derruba metrô e causa 24 mortes
Valor Econômico
Após Pix, pagamento digital ganha força com WhatsApp
Inadimplência da pequena empresa cresce
Mais bairros afundam em Maceió
Moda busca seu lugar no celular do consumidor
Aprender com os êxitos
Mandetta depõe e Renan diz que Bolsonaro “divergiu” da ciência
Falta de insumo afeta produção de vacinas
Manobra tenta fatiar reforma tributária
EDITORIAIS
O Globo
Ventos sopram contra Bolsonaro no Senado
Mandetta deixou o presidente em maus lençóis em vários momentos na CPI da Covid
O depoimento do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, primeiro na CPI da Covid, foi um prenúncio do que tende a ser um bombardeio contra o governo. Mandetta, que deixou a pasta em 16 de abril de 2020, não tergiversou sobre erros e omissões do presidente Jair Bolsonaro. Disse que, sob seu comando, o ministério seguia numa direção, Bolsonaro noutra. Questionado sobre se esse descompasso contribuíra para que o país superasse os 410 mil mortos, foi direto: “Tem, sim, impacto. O Brasil podia mais, o SUS podia mais, poderíamos estar vacinando desde novembro”.
Mandetta deixou Bolsonaro em maus lençóis em vários momentos. Relatou que o governo tentou mudar a bula da cloroquina para incluir a indicação em casos de Covid-19, uma aberração médica, científica e ética. Inúmeros estudos comprovam que a droga é ineficaz contra o novo coronavírus e pode causar efeitos colaterais graves. Felizmente, a sandice não prosperou. Chamou de “kit ilusão” as drogas sem eficácia distribuídas pelo governo, entre elas a cloroquina, obsessão particular de Bolsonaro.
Mandetta disse ainda que alertara Bolsonaro para a gravidade da pandemia, apresentando três cenários traçados para dezembro de 2020, com entre 30 mil e 180 mil mortos. Entregou à CPI a carta que endereçou a Bolsonaro em 28 de março de 2020, quando o país somava 114 mortos: “Recomendamos, expressamente, que a Presidência da República reveja o posicionamento adotado, acompanhando as recomendações do Ministério da Saúde, uma vez que a adoção de medidas em sentido contrário poderá gerar colapso no sistema de saúde e gravíssimas consequências à saúde da população”. Três dias depois, Bolsonaro ignorou o alerta e, sem máscara, participou de uma das várias aglomerações que provocaria.
Enquanto a CPI avança, o governo dá sinais de desorientação. O ex-ministro Eduardo Pazuello, cujo depoimento estava marcado para hoje, comunicou aos senadores que não poderia comparecer por ter tido contato com auxiliares que testaram positivo para Covid-19. Seu depoimento foi adiado para daqui a duas semanas. Pazuello tem participado de treinamentos, mas a avaliação é que ele ainda está muito nervoso. O adiamento provocou reações. “Ele vai sem máscara ao shopping e não pode vir à CPI”, disse a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA).
Outro sintoma de desarticulação entre os governistas veio à tona de forma constrangedora numa pergunta do senador Ciro Nogueira (PP-PI). Mandetta disse ter recebido aquela mesma pergunta, por engano, do ministro das Comunicações, Fábio Faria. Também criticou indiretamente as ações para compra de vacinas. “Teria ido atrás delas como se fosse um prato de comida. Sabia que a saída era pela vacina.” A artilharia de Mandetta não poupou nem o ministro da Economia, Paulo Guedes, a quem se referiu como “desonesto intelectualmente, homem pequeno para estar onde está”. Guedes também deverá ser convocado pela CPI.
O depoimento de Mandetta mostrou que os ventos da CPI sopram contra Bolsonaro. Ficou claro que ele ignorou a ciência, fez pressão por medicamentos ineficazes, a ponto de tentar mudar a bula de um remédio, e desprezou todos os alertas do ministro da Saúde. A gestão de Mandetta cobre menos de dois meses de pandemia. Ainda há muita água para rolar. E, pelo jeito, vem aí uma tempestade.
O Estado de S. Paulo
De ‘frouxos’ e ‘maricas’
Pelo critério bolsonarista de coragem, o general Pazuello acoelhou-se ao mandar avisar que não poderá comparecer à CPI
O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello mandou avisar ontem que não poderá comparecer a seu depoimento na CPI da Pandemia, marcado para hoje. A alegação, citada pelo presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), é que no fim de semana passado o general intendente teve contato recente com dois coronéis, seus auxiliares, que estariam com covid-19.
Conceda-se ao ex-ministro o benefício da dúvida. Afinal, pode ser apenas uma inusitada coincidência o fato de que Eduardo Pazuello tenha se dado conta de que pode ter contraído covid-19 logo às vésperas de seu esperado depoimento na CPI – em que seria inquirido sobre sua desastrosa administração no Ministério da Saúde durante a pandemia.
No entanto, à luz das muitas mentiras e distorções já manifestadas por autoridades do governo de Jair Bolsonaro a respeito da pandemia, não se pode condenar quem tenha dificuldade em acreditar no ex-ministro Pazuello.
Tudo soa especialmente falso diante do inaudito zelo do intendente, supostamente preocupado em não contaminar senadores. Nem parece o ministro que, quando esteve à frente da Saúde, jamais organizou campanhas estruturadas e sistemáticas para defender medidas de restrição e isolamento social, as únicas capazes de frear a contaminação, conforme consenso científico mundial. Nem parece o cidadão que passeava despreocupadamente sem máscara num shopping de Manaus há pouco mais de uma semana – embora tenha passado um ano como ministro da Saúde e, por isso, tinha a obrigação de saber que a máscara é a proteção mais efetiva contra o vírus. Flagrado, Pazuello preferiu ironizar quem lhe cobrava o uso da máscara.
Ou seja, o histórico do ex-ministro não combina com sua súbita conversão às medidas sanitárias preventivas, entre as quais a quarentena, à qual ele diz que agora vai se submeter, a um dia de seu depoimento na CPI da Pandemia. Se Eduardo Pazuello fosse firme defensor desses cuidados básicos quando era ministro, muitas mortes teriam sido evitadas. O intendente, contudo, preferiu ser absolutamente subserviente a Jair Bolsonaro, anunciando-se publicamente como humilde cumpridor de ordens do presidente.
Convém lembrar que Bolsonaro chamou de “frouxos” e “maricas” os brasileiros que se preocupavam em manter distanciamento social e respeitavam as restrições para conter a pandemia. Era preciso, disse o presidente, enfrentar a crise “de peito aberto”. Pelo critério bolsonarista de coragem, portanto, Pazuello acoelhou-se.
Na hipótese benevolente de que faltará a seu depoimento por singelo zelo sanitário, o ex-ministro estará apenas adiando a inevitável prestação de contas de seu horroroso trabalho à frente da Saúde, sob o comando supremo do presidente Bolsonaro. Ao final das duas semanas regulamentares de quarentena, e comprovada sua saúde, o intendente terá afinal condições de responder, sob juramento, aos questionamentos dos senadores.
Consta que o ex-ministro Pazuello passou os últimos dias sendo treinado pelo governo federal para enfrentar a CPI, cuja maioria não se alinha ao Palácio do Planalto. Entre os assessores de Bolsonaro há a preocupação, mais que justificada, de que o intendente, escandalosamente despreparado para a função de ministro da Saúde, seja incapaz de explicar aos senadores por que o governo preferiu apostar em remédios inúteis a comprar vacinas a tempo e hora, por que não fez campanhas de prevenção e em favor de medidas de isolamento social, por que não promoveu testagem em massa e por que não providenciou insumos e medicamentos para o tratamento de pacientes internados.
De fato, não será fácil para Pazuello encarar a CPI, razão pela qual a hipótese maldosa de que ele inventou uma desculpa esfarrapada para faltar a seu depoimento hoje, por medo, é perfeitamente factível, coadunando-se com o comportamento pretérito do ex-ministro. Seja qual for o desfecho dessa comédia imoral estrelada pela trupe bolsonarista, o lugar de Pazuello na história já está garantido. Como disse o Júlio César de Shakespeare, “os covardes morrem várias vezes antes de sua morte”.
Folha de S. Paulo
Cartada de Mandetta
Documento e relatos comprometem o presidente sem defesa consistente na CPI
A estreia da Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado sobre o enfrentamento da Covid-19 demonstra que até para se defender de investigação o presidente Jair Bolsonaro, amador e despreparado, só conhece estratagemas truculentos e manobras evasivas.
Foi um passeio o testemunho do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, médico derrubado por Bolsonaro após três meses de tentativas de imprimir alguma racionalidade à ação do Planalto.
O ponto alto da sessão, em que não faltaram senadores a se pavonear retoricamente, foi a carta que Mandetta sacou para comprometer o chefe do Executivo.
A correspondência enviada em 28 de março de 2020 —um mês após o primeiro caso brasileiro, 11 dias depois da primeira morte registrada e 19 dias antes da demissão do ministro— lista informações de gravidade crescente sobre a pandemia e as providências da pasta.
Só o último parágrafo crava o espinho no coração da imputabilidade presidencial: “Recomendamos, expressamente, que a Presidência da República reveja o posicionamento adotado, acompanhando as recomendações do Ministério da Saúde, uma vez que a adoção de medidas em sentido contrário poderá gerar colapso do sistema de saúde e gravíssimas consequências à saúde da população”.
O documento oferece prova material de que Bolsonaro recebeu clara orientação do ministro para interromper arroubos negacionistas e liderar o esforço de guerra contra a epidemia. Naquela altura, os óbitos estavam em 2.000; um ano de incúria e três ministros depois, são mais de 410 mil. Não se vê defesa possível para a conduta mortífera do presidente.
Restam-lhe, ao que parece, manobras fadadas ao fracasso. Seus asseclas no Senado fizeram tentativas canhestras de obstrução e aceitaram o papel de recitar sem convicção arrazoados fraudulentos redigidos em palácio —até uma defesa extemporânea do “tratamento precoce” ensaiaram.
Ainda pior figura fez o general e ex-ministro Eduardo Pazuello, quando já não se esperava tal proeza do militar que obedeceu passivamente ao mando de um admirador da imunidade de rebanho, legando centenas de milhares de cadáveres em tempos de paz.
O homem que foi ao centro de compras sem máscara num dia no outro alega risco de contágio para esquivar-se de responder na CPI pelos próprios atos.
Manobra tão desastrada, diga-se, quanto ensaiar mudar a bula de um medicamento por decreto, como revelou Mandetta aos senadores, apenas para sustentar as manias do chefe. Com defensores desse naipe, Bolsonaro não precisa de inimigos para se complicar na CPI.
Valor Econômico
Fluxos financeiros e saldo comercial favorecem o real
O Brasil não tem hoje problemas nas contas com o exterior, o dinheiro não está fugindo do país
O bom desempenho das contas externas e o provável superávit comercial recorde forçam uma valorização do real, ainda que contida pelo peso negativo das dúvidas sobre solvência fiscal e do baixo crescimento da economia brasileira. A apreciação da moeda brasileira possivelmente já teria jogado o dólar abaixo dos R$ 5 se não fossem as intervenções desastradas do presidente Jair Bolsonaro e as travessuras do governo em parceria com o Centrão no péssimo desenho do orçamento de 2021. O Brasil não tem hoje problemas nas contas com o exterior, o dinheiro não está fugindo do país, embora a desconfiança se manifeste onde nos últimos anos ela não existiu: nos investimentos diretos no país, sintoma de uma lesão estrutural grave.
Até março, os regressos líquidos dos investimentos no exterior (US$ 6 bilhões) e os investimentos líquidos em carteira (US$ 23,3 bilhões) cobriram o que deixou de entrar em investimentos produtivos (US$ 29,4 bilhões). O saldo comercial deslanchou em abril, atingiu US$ 10,3 bilhões (recorde da série histórica) e acumula US$ 18,2 bilhões no ano. A Secex e o Banco Central estimam que ele provavelmente chegue a US$ 90 bilhões em 2021, novo recorde.
China e EUA estão puxando a recuperação econômica, o que ateou fogo às cotações das commodities alimentares e metálicas, das quais o Brasil é um dos maiores exportadores mundiais. O Brasil amplia gradualmente sua dependência da China. No ano, as exportações para lá subiram 37% e as importações, 15,5%. O resultado é que os chineses passaram a comprar nos quatro primeiros meses do ano 38,39% de tudo o que o Brasil vende no exterior, ante 37% em 2020. O superávit com a China soma 78,6% dos US$ 18,2 bilhões do saldo positivo obtido até agora no ano.
A pauta de importações chinesas do Brasil é inteiramente de commodities: soja e minério de ferro compõem 70% dela. Como o apetite chinês renovado puxa as cotações, o minério de ferro atingiu US$ 190 a tonelada este mês, um recorde histórico. Em consequência, as vendas brasileiras do produto dobraram no primeiro quadrimestre e cresceram 80% para os chineses. A soja, disparada em primeiro lugar, viu sua venda subir 45%, o que sustentou altas cotações. Também com crescimento na casa de dois dígitos estiveram óleos brutos, celulose e óleos vegetais.
A recuperação nos Estados Unidos, por outro lado, ajudou a reduzir o déficit na relação bilateral. As exportações passaram a crescer com força, 15,5% no acumulado do ano, enquanto as importações recuaram 5,7%. Exportações e importações de e para a União Europeia se equilibraram, na casa de aumento de mais de 30% cada, e o déficit brasileiro com os europeus também recuou.
O Brasil conseguiu exportar mais também para a Argentina, que retomou a terceira posição entre os países com maior mercado para produtos brasileiros (sua fatia no total aumentou de 2,71% para 3,39%). A recuperação ocorreu pelo crescimento das vendas de automóveis de passageiros, motores e peças, além de minério de ferro. Essa tendência pode ser interrompida. Apesar de o FMI ter previsto um crescimento do PIB de 5,8% para este ano, maior do que os 3,7% do Brasil, os argentinos enfrentam nova onda de contágios e mortes pela covid-19, acompanhada de alta nos preços e lockdowns.
Enquanto a pandemia devastava em 2020 a economia global, a desvalorização cambial mais puxou a inflação do que ajudou os exportadores a venderem mais (embora engordasse substancialmente suas margens), enquanto os juros se tornaram negativos, desestimulando o carry over e afastando capital especulativo. Estas condições, entretanto, estão mudando.
O Banco Central deve decidir amanhã que os juros cheguem a pelo menos 3,5%, isto é, 1,5 ponto percentual, enquanto o juro dos fed funds permanece negativo e a percepção de risco do Brasil não piorou, até teve pequena melhora. A pressão sobre os títulos de longo prazo americanos, uma das bases de aferição dos prêmios de risco de títulos brasileiros, arrefeceu provisoriamente, diante da negativa do Federal Reserve de qualquer ação até que a inflação comprovadamente passe dos 2% e fique lá por algum tempo.
Até que a temporada eleitoral saia dos bastidores para as ruas, é possível que o real se valorize, retirando força do principal fator de alimentação dos preços em ação. Reviravolta mais sólida depende da recuperação sustentável da economia, mas esta é uma história ainda mais complicada e sem um final feliz à vista.