Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (30/04/2021)

MANCHETES DA CAPA

O Globo

400 MIL MORTES – RITMO DO CRESCIMENTO DE ÓBITOS ASSUSTA: 100 MIL EM APENAS 36 DIAS
A falta que eles fazem aos Lira
País recebe primeiro milhão de imunizantes da Pfizer
Fiocruz libera 6,5 milhões de doses da vacina da AstraZenceca
Margareth Dalcomo – ‘Retrato do que não fizemos’
Julio Croda – ‘Mortes seguirão subindo’
Comissão convoca ministros da gestão Bolsonaro
Servidora que municiou CPI é ligada a Flávio
Leilão da Cedae está confirmado para hoje
Israel: aos menos 44 mortos em evento religioso

O Estado de S. Paulo

401.417 MORTOS – País estaciona em patamar alto de mortes e pode sofrer 3ª onda
Divergência sobre verba trava socorro a empresas
Nas redes, campanha de 2022 já começou
Wilson Witzel – ‘Meu processo teve o dedo de Bolsonaro’
Era do baixo carbono
Americanas mira IPO nos EUA ao unir físico a online

Folha de S. Paulo

Com presidente negacionista e pouca vacina, Covid mata 400 mil
Chega ao país 1º lote de imunizante da Pfizer, com 1 milhão de doses
Anvisa rebate Sputnik e diz que dados vêm da frabricante russa
Presidente usa Ceagesp para criticar lockdown feito em Araraquara
Com recorde mundial de casos, Índia identifica nova variante do vírus
Fies bancou filho de porteiro com nota 0, diz Guedes
Desigualdade cai em até 9,6% com gasto em educação
Na CPI, plano de Renan mira negacionismo de Bolsonaro
Não vai dar em nada para o presidente, afirma Ciro Nogueira
Tumulto em festival religioso deixa dezenas de mortos em Israel

Valor Econômico

Cenário externo ajuda Brasil a exportar bens de consumo
Gestores olham para mercados internacionais
Ecorodovias vence leilão da BR-153
Licitação da Cedae segue, apesar da Alerj
Aulas para aprender a ser feliz
País ultrapassa 400 mil mortes e teme 3ª onda
Yuan digital lidera corrida pela moeda virtual dos BCs
‘Valor’ celebra 21 anos com ‘lives’ especiais
‘Pressão política não soma nada’

EDITORIAIS

O Globo

Ao bater 400 mil mortos, país vive momento crucial

Mas não adianta pôr a culpa apenas nas autoridades. A sociedade também precisa exercer seu papel

O Brasil atingiu ontem a marca de 400 mil mortos pela Covid-19 — recorde que o mantém atrás apenas dos Estados Unidos nessa corrida inglória. Significa dizer que o número de baixas pelo novo coronavírus desde 12 de março do ano passado, quando foi registrada a primeira no país, supera toda a população de Vitória, capital do Espírito Santo, ou da cidade de Olinda, em Pernambuco. Não se trata de estatística fechada. A escalada macabra continua, rumo aos 500 mil — ou sabe-se lá até onde.

Se há uma boa notícia em meio à tragédia, é que a epidemia dá sinais de desaceleração. Apenas um estado entre as 27 unidades da Federação apresentava ontem alta na média semanal de mortes. A maior parte (16) registrava estabilidade. O número de novos casos também parou de subir, um alívio para as redes de saúde pública e privada, que viveram meses de um colapso inédito.

A trégua — bem-vinda e necessária — não deve ser superestimada. É preciso que todos tenham em mente que ainda precisaremos lidar com a pandemia por um bom tempo, por meio de ondas que vão e voltam. O epidemiologista Wanderson Oliveira, ex-secretário nacional de Vigilância em Saúde, alerta que, com a chegada do inverno, período propício à propagação de vírus respiratórios, o número de casos de Covid-19 deverá voltar a subir. Por isso, ninguém deve relaxar nas medidas de prevenção, como distanciamento, uso de máscaras e higienização.

Preocupa que a população ainda esteja vulnerável a uma terceira onda. O número de vacinados é baixo. O país, que já foi referência no setor, imunizou 31,2 milhões, ou 15% da população, não tendo alcançado nem metade dos grupos prioritários. Não há perspectiva de aumentar esse percentual com mais rapidez, pois não existem doses disponíveis. Enquanto isso, novas cepas do coronavírus, mais agressivas que a original, se espalham silenciosamente, já que o país faz pouquíssimos sequenciamentos de genoma, que permitiriam identificar essas mutações.

O governo federal, com sua conhecida negligência para lidar com a pandemia, imprimiu suas digitais na tragédia. Assim como governadores, prefeitos e secretários de Saúde que se aproveitaram da maior crise sanitária em um século para saquear recursos públicos. Trabalho para a CPI da Covid.

Mas não adianta pôr a culpa apenas nas autoridades. A sociedade também precisa exercer seu papel. Não pode dar de ombros, achando que a pandemia acabou, só porque os números deram pequena trégua. Não acabará tão cedo. Impossível eximir o governo de responsabilidade, mas a verdade é que a população nunca levou a pandemia a sério, como deveria. Praias cheias, festas clandestinas, aglomerações, desprezo pelo uso de máscaras formam um repertório que não combina com a situação calamitosa vivida pelo país.

Na marca de 400 mil mortos, o presidente Jair Bolsonaro continua empenhado em minar a CPI da Covid e em se defender das inevitáveis acusações de erros e omissões. Espera-se que a pressão das investigações leve o governo a assumir maior responsabilidade no combate à pandemia, especialmente na vacinação. Mas a população também precisa fazer sua parte. Este momento em que os números dão sinal de queda é crucial. Já vimos no final do ano passado, quando os mortos não eram nem metade, o filme do descaso. Todo mundo conhece o roteiro e sabe como acaba.

O Estado de S. Paulo

Os carnavalescos da CPI

Jair Bolsonaro acusa a CPI de promover um “carnaval fora de época”. Depoimento de Pazuello pode ser a Quarta-Feira de Cinzas

O presidente Jair Bolsonaro acusou a CPI da Pandemia de promover um “carnaval fora de época”. A folia, em sua concepção, é protagonizada pelo bloco de independentes e oposicionistas, maioria na comissão. Para o presidente, esses desafetos exploram politicamente a CPI para prejudicá-lo, poupando governadores e prefeitos que, segundo ele, são os verdadeiros responsáveis pela tragédia da pandemia por terem “roubado” o dinheiro que o governo federal lhes repassou para enfrentar a crise.

“A CPI vai investigar o quê? Eu dei dinheiro para os caras (governadores e prefeitos). O total foi mais de R$ 700 bilhões, auxílio emergencial no meio. Muitos roubaram dinheiro, desviaram. Agora vem uma CPI investigar conduta minha?”, declarou o presidente.

A tática de Bolsonaro é confundir a opinião pública com a versão de que o governo federal fez sua parte, enviando dinheiro aos Estados e municípios – e se esses recursos foram “roubados” por “esses caras”, conforme o linguajar primitivo do presidente, que os verdadeiros responsáveis sejam punidos.

Sabe-se que efetivamente há casos de malversação do dinheiro destinado à emergência sanitária, mas estão muito longe de constituir um padrão, como Bolsonaro quer fazer parecer. Além disso, o valor mencionado pelo presidente mistura ajuda específica para a pandemia com repasses constitucionais regulares, na expectativa de que eleitores desinformados não saibam fazer a diferenciação.

A intenção bolsonarista, claro, é causar tumulto, escamotear a responsabilidade do presidente e incitar uma revolta contra os governadores insinuando que são corruptos, autoritários e sabotadores das ações benemerentes do presidente – que, nesse enredo delirante, desempenha o papel de campeão dos desempregados.

Mas a CPI da Pandemia não se deixou intimidar pela ofensiva bolsonarista. Em seu primeiro dia de trabalho, a comissão aprovou a convocação dos ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e Eduardo Pazuello, além do atual ministro, Marcelo Queiroga, e do presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres. Ademais, deu cinco dias úteis para que o Ministério da Saúde envie informações sobre o enfrentamento da pandemia, compra de vacinas, medidas de isolamento social e distribuição de medicamentos sem eficácia comprovada.

Ou seja, a comissão, no dia em que o Brasil ultrapassou a trágica marca de 400 mil mortos em decorrência da covid-19, deixou claro que seu foco será o trabalho do governo federal na pandemia, como deve ser.

Bem que o governo tentou transformar a CPI num “carnaval fora de época”. Além do reiterado discurso de Bolsonaro contra governadores, os aliados do presidente tentaram inundar a comissão com requerimentos e pedidos de informação, com a intenção de travá-la. Vários desses requerimentos, que convocavam “especialistas” que defendem o uso de cloroquina contra a covid-19, foram produzidos dentro do Palácio do Planalto – o que é em si um absurdo, já que comissões parlamentares de inquérito são, por definição, um instrumento do Legislativo para fiscalizar o Executivo.

Mas o “carnaval” não parou por aí. Os senadores governistas tentaram mais uma vez impedir na Justiça que o senador Renan Calheiros continuasse na relatoria da CPI. De novo foram malsucedidos: o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, entendeu, como é óbvio, que a indicação de Calheiros constitui “matéria de cunho interna corporis” e, portanto, “escapa à apreciação do Judiciário”.

Em paralelo, as milícias digitais bolsonaristas foram acionadas para difamar nas redes sociais os senadores críticos do governo e também alguns dos convocados para depor na CPI, como o ex-ministro Mandetta. Na mesma toada, Mandetta, que tem sido bastante contundente em suas acusações contra Bolsonaro, foi alvo de dossiês apócrifos enviados nesta semana a parlamentares.

Tudo em vão, pois o governo foi derrotado em todas as suas investidas. E o que se espera é que esse “carnaval” bolsonarista na CPI tenha no depoimento do assombroso ex-ministro Pazuello, programado para a próxima quarta-feira, a sua Quarta-Feira de Cinzas.

Folha de S. Paulo

Morticínio brasileiro

Não surpreende a marca de 400 mil mortos ante a conduta do governo Bolsonaro

A romper recordes lúgubres e diante de perspectivas desanimadoras para o futuro próximo, o Brasil acumulou 400 mil vidas perdidas para o flagelo da Covid-19.

A vantagem de ter sido uma das últimas nações a ser atingida pela pandemia iniciada na China —e ter tido tempo para aprendizado e preparo— foi desperdiçada pelo Brasil, cujo presidente fazia blagues da preocupação sanitária e incentivava comportamentos de risco.

O método logo cedo identificado como o mais eficaz para frear o espalhamento da infecção na ausência de vacinas —a testagem copiosa, o rastreamento microgeográfico da epidemia e o isolamento das redes de contágio— foi desprezado. Como símbolo da desídia ficaram milhões de kits diagnósticos abandonados num galpão do Ministério da Saúde em São Paulo.

Com a porta arrombada pelo vírus, restava coordenar e reforçar as iniciativas municipais, metropolitanas e estaduais para reduzir ao mínimo a circulação de pessoas quando a marcha da doença ameaçava a capacidade hospitalar.

Mas Jair Bolsonaro despenhou-se de novo na contramão. Abriu fogo contra governadores e prefeitos e exigiu do Supremo Tribunal Federal e do Congresso enorme energia institucional para neutralizar os arroubos tresloucados do Planalto, no momento em que ela deveria estar sendo toda utilizada no combate ao apuro sanitário.

Chegou o momento de pré-contratar vacinas, todas as que tivessem potencial no planeta, e o fracasso de Bolsonaro não foi menor, nem suas consequências menos mortíferas. A empáfia ignorante com a China e o governador João Doria, a aposta alucinada em emplastos ineficazes e a incompetência de assessores de terceira linha amalgamaram-se para semear a catástrofe humanitária ora colhida.

Com as linhas de defesa sabotadas, a ubiquidade do vírus no território brasileiro e a eclosão de segundas ondas precursoras na Europa e nos Estados Unidos, o Brasil tampouco acautelou-se para o choque que se previa a partir do verão.

Enquanto faltavam leitos de UTI e oxigênio em Manaus, o governo Bolsonaro promovia cloroquina na capital do Amazonas. O colapso se repetiu em outras cidades do país em meio à desmobilização de infraestrutura emergencial pelo SUS e à carência de fármacos para intubar pacientes críticos.

Diante de tamanha incúria, não surpreende, infelizmente, o tamanho do morticínio pela Covid-19.

Como proporção dos habitantes, a epidemia já matou tantos brasileiros quanto britânicos e mais que norte-americanos. Estas duas populações, extensamente cobertas pela vacinação, começam a voltar à normalidade com segurança. A brasileira ainda está longe disso.

Valor Econômico

Sob pressão, Paulo Guedes remaneja equipe econômica

À solta, o Centrão destruirá a atual política sem colocar nada no lugar, abrindo uma fase de incerteza total

A agenda econômica do governo está paralisada há tempos, e parte dela que sobrevive, como a reforma administrativa, perdeu potência imediata, ou corre risco de não seguir adiante, como a tributária. A cada tropeço dos planos do ministro Paulo Guedes, há defecções em sua equipe e trocas no alto escalão. O ministro fez outra agora, oficialmente para melhorar as relações com o Congresso, depois do vexame da aprovação orçamentária, em que a equipe econômica não se saiu bem e o Centrão conseguiu boa parte do que desejava, ampliando seu poder sobre o Orçamento federal e sua tutela sobre um Executivo acuado.

O espaço de ação de Guedes, já severamente limitado pelas convicções nada liberais e corporativas do presidente Jair Bolsonaro, diminuiu bastante. As trocas de equipe como as de agora, que preservam a competência técnica, estão se tornando irrelevantes. A substituição na secretaria especial da Fazenda de Waldery Rodrigues, braço direito do ministro, pelo igualmente fiscalista Bruno Funchal, que deixou a Secretaria do Tesouro, retira da linha de frente um titular “chamuscado” pela suposta intransigência sobre propostas do Congresso para ampliar gastos sem respeitar as regras fiscais. Seu sucessor provavelmente fará a mesma coisa, apenas com mais tato, mas as demandas continuarão chegando e exigindo as idênticas negativas.

O próprio Guedes queimou várias pontes no Congresso e no governo, tendo diante de si não apenas um Centrão viciado em verbas como uma “ala política” pouco afeita à austeridade fiscal, que fala diretamente aos ouvidos do presidente. Guedes e equipe cometeram erros na negociação do Orçamento, aprovado com inacreditáveis cortes nas despesas obrigatórias para dar espaço a um recordista volume de emendas parlamentares. Isto nunca havia acontecido antes – a tanto está disposto o Centrão, com a condescendência de Bolsonaro, que quer se reeleger e escapar de impeachment.

O episódio do orçamento, que colocou o Centrão dentro do Planalto, foi uma derrota para o governo, um revés para Guedes e um desastre para a nação. Foi necessária a atuação do STF para obrigar o governo a realizar o Censo, já atrasado, porque seu orçamento encolheu de R$ 2 bilhões para R$ 50 milhões para garantir emendas de deputados. É também um divisor de águas – o teto quase foi rompido, sobrevive com escoras e daqui para a frente a perspectiva é de que as investidas sobre os cofres públicos só piorem.

As promessas hiperbólicas de Paulo Guedes não se concretizaram. O R$ 1 trilhão com privatizações não veio, nem o outro trilhão com a venda de imóveis e terrenos da União. O presidente, com seu jeito ríspido de ser, vetou em público que as principais estatais fossem vendidas e ordenou que a reforma administrativa não valesse para os atuais funcionários, jogando seus efeitos para décadas à frente.

A aliança de sobrevivência de Bolsonaro com o Centrão começa a enterrar a ilusão de que, com alguma maioria no Congresso, o governo poderia, enfim, deslanchar as reformas. Mas elas estão andando de lado, e apesar do presidente da Câmara, Arthur Lira, ter prometido levar a reforma tributária à aprovação, ela é a mais incerta. Guedes quer aprová-la em quatro fatias, começando pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), como se houvesse todo o tempo do mundo para isso. Possivelmente no quarto trimestre do ano o calendário eleitoral se imporá e a agenda do Congresso vai se adequar, evitando temas polêmicos, como são quase todas as reformas.

Parte das energias do Congresso estarão voltadas para a Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a pandemia, na qual o governo tem minoria, e que será uma vitrine do descaso inacreditável da União com o combate à covid-19, que matou mais de 400 mil pessoas até ontem.

Guedes, por seu lado, terá de enfrentar a ofensiva da base governista sobre a Economia, para desmembrá-lo em mais duas pastas, Trabalho e Planejamento. Se o centrão atingir esse objetivo, o ministro verá redobrada a artilharia de “fogo amigo” contra seu “fiscalismo”, sem que possa contar com o apoio do presidente Bolsonaro.

Paulo Guedes, por outro lado, ainda é no governo o representante de alguma racionalidade na política econômica e de alguma seriedade no manejo do dinheiro público. À solta, o Centrão destruirá a atual política sem colocar nada no lugar, abrindo uma fase de incerteza total.

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