Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (26/03/2021)

MANCHETES DA CAPA

O Globo

Bolsonaro resiste a pressão do Congresso contra Ernesto
Feriado sanitário – Uma ofensiva de dez dias contra o vírus
Um milhão de vacinas diárias em abril
Eugênia Fernandes – ‘É questão de sobrevivência’
Congresso aprova Orçamento com mais R$ 26 bi a emendas
Novo corte de verba inviabiliza realização do Censo em 2021
Programa on-line para se dividir sem sair de casa
Tóquio-2020 – Esperança e protestos no revezamento
Argentina anuncia suspensão de voos procedentes do Brasil

O Estado de S. Paulo

MPF abre investigação sobre vacinação clandestina em Minas
Bolsonaro admite afastar assessor após gesto ofensivo
Orçamento ‘maquiado’ gera bloqueio de R$ 30 bi
Saúde registra mortes e ignora protocolo da covid
Sem data para navegar
Escola na Eletrobrás gera controvérsia
Biden planeja disputar reeleição em 2024

Folha de S. Paulo

Butantan cria vacina contra Covid e pedirá início de testes
Grupo finge representar laboratório para vender vacinas ao governo
Vacinação ilegal em MG gera críticas e é investigada
Doente entra em fila de transplante por usar ‘kit Covid’
Hospital não está sustentável, diz líder do Einstein
Recebido com protesto na USP, Queiroga atribui óbitos a sistema de saúde subfinanciado
Prévia da inflação vai a 0,93% em março com alta dos combustíveis
São Paulo começa hoje a aplicar doses em pessoas de 69 a 71
Circulação em locais de trabalho continua mais alta no Brasil
Idealizador da CNN Brasil, Douglas Tavolaro deixa seu comando
Circulação em locais de trabalho continua mais alta no Brasil
De escolas a bancos, empresas ignoram feriado paulistano
Congresso aprova Orçamento que turbina emendas
Fábio Faria – Hora é de desarmar, inimigo de Lula e Bolsonaro é o vírus
Ameaçado de demissão, Ernesto Araújo tenta ficar no cargo
Empresário diz que Renan lhe pediu dinheiro para firma
Europeus voltam com Oxford; Dinamarca prorroga suspensão
Biden dobra meta de imunização

Valor Econômico

Empresários articulam um nome de centro para 2022
Guedes ataca o IFI e causa reação forte
Mortes cairiam com vacinação de prioritários
Missionário contra a fome
Mercado reage bem a Rodrigo Limp na Eletrobras
Anbima estuda versão nacional das SPAC
Empresa obtém reembolso de assediadores

EDITORIAIS

O Globo

‘Sinal amarelo’ de Arthur Lira impõe nova realidade a Bolsonaro

Bolsonaro, diz Lira, precisa ser capaz de ouvir, ser flexível e ceder

É creditada a um político experiente uma frase que resume bem como funciona a relação do Centrão com governos em crise: “Vai até o enterro e chora, mas não entra junto na cova”. Parece uma descrição adequada à aparente reviravolta em relação ao presidente Jair Bolsonaro patente nas atitudes recentes do bloco. A mudança ficou explícita no discurso feito na última quarta-feira pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Lira alertou que estava “apertando o sinal amarelo” para avisar que, se “erros primários e desnecessários” continuarem a ser cometidos na saúde pública, o Legislativo tem remédios políticos para aplicar, “todos amargos” e “alguns, fatais”. Não precisou pronunciar a palavra “impeachment”, mas ela estava implícita.

A marca catastrófica de 300 mil mortos pela Covid-19 ganhou nova dimensão política nas palavras de Lira. O discurso dele funciona mais como ameaça velada do que como sinal de uma articulação concreta. Lira parece ter apenas brandido o tacape para mostrar a Bolsonaro seu poder, de modo a induzi-lo a manter os novos trajes e a máscara que tenta usar no combate à pandemia. Ou Bolsonaro segue esse figurino, insinua Lira, ou terá de se haver.

Não se pode imaginar mesmo que um drama como o que transcorre no país não tenha fortes desdobramentos políticos. O essencial é que transcorram dentro dos limites institucionais. Nisso, o discurso de Lira é um bom exemplo. Ele age como é necessário na democracia, diante de um Executivo inerte e cúmplice da catástrofe. Há ainda, no Senado, uma “CPI da Covid” pronta para ser instalada ao menor vacilo.

A dúvida é como Bolsonaro reagirá a tudo isso. Chamou ontem Lira para conversar e fez questão de dizer que não havia problema entre os dois. O baque recente que sofreu na popularidade mostra que é de seu próprio interesse manter a serenidade, investir num programa eficaz de vacinação, deixar de fazer propaganda de remédios inócuos, de promover aglomerações, de desprezar as máscaras, de se esquivar da responsabilidade pela crise sanitária e de fazer pouco das vítimas da doença. Todo apoio que tem em redes sociais e grupos radicais de nada lhe valeu para evitar a reação previsível do Congresso.

Na tentativa de mudar de rumo, Bolsonaro reuniu-se quarta-feira com chefes de Poderes, ministros e governadores aliados. Saiu do encontro a formação de um comitê de enfrentamento da crise, liderado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Melhor que exista, mesmo que haja naturais reservas à eficácia de um grupo formado com viés político, e sem a presença de nenhum cientista, no momento mais grave de descontrole da pandemia. De todo modo, é um avanço.

Todo esforço para aumentar o fluxo de vacinas e insumos ao país é bem-vindo. Se a queda de popularidade não serviu de alerta ao presidente, agora o “sinal amarelo” está aceso. Bolsonaro, diz Lira, precisa ser capaz de ouvir, ser flexível e ceder. A margem de manobra se estreitou. Ele terá de fazer escolhas sob a vigilância redobrada do Centrão.

O Estado de S. Paulo

O ‘sinal amarelo’

É evidente que o deputado Lira, a quem cabe dar andamento a processos de impeachment, falava de um hipotético afastamento constitucional do presidente

O presidente da Câmara, Arthur Lira, advertiu o presidente Jair Bolsonaro de que o Congresso dispõe de “remédios políticos” para impedir que “a espiral de erros de avaliação” por parte do governo federal na pandemia de covid-19 assuma uma “escala geométrica incontrolável”. Segundo o parlamentar, esses remédios são “conhecidos de todos” e alguns são até “fatais”.

É evidente que o deputado Lira, a quem cabe dar andamento a processos de impeachment, falava de um hipotético afastamento constitucional do presidente. O parlamentar lembrou, assim, que a democracia tem seus instrumentos para impedir que maus governantes continuem a prejudicar seus governados, como Bolsonaro tem feito.

Chamou a atenção o fato de que a advertência de Lira foi feita poucas horas depois da reunião em que as autoridades dos Três Poderes acertaram a formação de um comitê de acompanhamento da crise.(Ver abaixo o editorial Esperança no tardio comitê.) Embora salientasse que se tratava de um “alerta amigo, leal e solidário”, o parlamentar deu a entender que confia pouco na disposição de Bolsonaro de levar a sério seu papel nessa suposta nova fase do governo. Trata-se, no dizer do próprio deputado Lira, de um “sinal amarelo”, ante a escalada da crise causada pela pandemia, agravada pelo comportamento irresponsável do presidente.

Se por um lado não se deve exagerar a dimensão da aparente ameaça do deputado Lira, por outro é impossível ignorar que a paciência dos parlamentares governistas com os reiterados despropósitos de Bolsonaro está bem perto do fim. Ao mesmo tempo que recordou ao presidente que sua permanência no cargo não é garantida, o presidente da Câmara indicou que para o Centrão – grupo político que hoje dá sustentação a Bolsonaro – é urgente uma reformulação radical na fisionomia do governo, a que Lira deu o nome de “freio de arrumação”.

Esse movimento ficou mais evidente com a pressão do Centrão pela saída de Eduardo Pazuello do Ministério da Saúde, ante sua evidente incapacidade de tocar a pasta em meio à pandemia, cujos efeitos ameaçam os projetos eleitorais dos governistas. Muito a contragosto, Bolsonaro aceitou substituir Pazuello, que cumpria suas ordens sem pestanejar.

Mas o “freio de arrumação” não se limitará à Saúde. Em discurso na Câmara, o deputado Lira cobrou o estabelecimento de “boas relações diplomáticas, sobretudo com a China”, para ampliar a capacidade do Brasil de vacinar sua população. Foi uma referência óbvia aos ruídos causados pelo chanceler Ernesto Araújo na relação com a China. (Ver abaixo o editorial Sócio no desastre.)

Lira não falava sozinho. Hoje parece haver um consenso no Congresso de que a permanência de Araújo no Itamaraty amplia o isolamento do Brasil e prejudica decisivamente os esforços do País no combate à pandemia. Em audiência do chanceler no Senado, ao menos sete senadores, de diversos partidos, pediram que Araújo deixasse o cargo. Ninguém o defendeu – o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, nem compareceu à sessão e os governistas não foram mobilizados para apoiar o chanceler.

É claro que uma eventual substituição de Ernesto Araújo não muda a essência do problema: nem o chanceler nem ninguém no governo atua sem estar totalmente alinhado ao presidente – e pobre de quem não estiver, como mostram os dois ministros da Saúde trocados depois de terem se negado a seguir as ordens absurdas de Bolsonaro. Logo, o problema não é este ou aquele ministro, embora haja alguns que são escandalosamente despreparados. O problema é o chefe.

O movimento do Centrão e do Congresso para a troca de alguns ministros e para reorganizar o combate à pandemia, portanto, serve para mostrar ao presidente quem está no comando agora. Bolsonaro pode escolher entre desgastar-se mais, correndo o risco de ver seu mandato abreviado, ou aceitar a tutela parlamentar.

Em seu discurso, o presidente da Câmara disse esperar que “as atuais anomalias se curem por si mesmas”, fruto de “autocrítica”, “sabedoria”, “inteligência emocional” e “capacidade política”. Como o atual presidente não tem nada disso, então, nas palavras do deputado Lira, que seja por “instinto de sobrevivência”.

Folha de S. Paulo

Fóssil ideológico

Pragmatismo do centrão gera pressões pela saída do inepto chanceler de Bolsonaro

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, é um dos nomes mais disfuncionais do primeiro escalão do governo de Jair Bolsonaro. Membro de uma equipe ministerial que se destaca, no panorama da história republicana, por seu despreparo, o chanceler consegue se salientar pela inadequação aos requisitos do cargo.

Num país que já contou com uma diplomacia qualificada, com sólida reputação internacional, Araújo é um ponto fora da curva. Nem os criticáveis pendores ideológicos do período lulista comparam-se ao que se presencia hoje no Itamaraty.

Não por acaso, neste momento de crise aguda, delineia-se um amplo entendimento de que o Ministério das Relações Exteriores tornou-se um empecilho à resolução de problemas impostos pela pandemia —a começar pela urgente necessidade de importação de vacinas contra a Covid-19.

Já antes da disseminação do vírus se observava o descontentamento de diversos setores da sociedade, em particular de empresários do agronegócio, que viam nas constantes provocações de Araújo à China um risco desnecessário para as exportações nacionais.

Com a aliança entre Bolsonaro e o centrão, o chanceler parece estar perdendo a claque que lhe restava.
As advertências a ele dirigidas, nos últimos dias, pela cúpula do Congresso deixam claro que os políticos em questão não estão dispostos a naufragar abraçados a um governo inoperante e impopular.

Além de questionado por Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, e por Rodrigo Pacheco (DEM-MG), do Senado, o ministro foi criticado por governadores e lideranças empresariais que cobram efetividade nas relações com fornecedores de imunizantes e com a Organização Mundial de Saúde.

Não ajudou em nada a imagem do chanceler a performance do assessor internacional da Presidência, Filipe Martins, na sessão do Senado destinada a esclarecer a atuação do Itamaraty na pandemia, na quarta (24). Martins foi flagrado fazendo um gesto utilizado por supremacistas brancos.

Embora ele negue tal significado, o caráter racista da gesticulação não é estranho ao universo da política externa bolsonarista, que se pautou por subserviência ao americano Donald Trump e dedica-se a uma cruzada contra fantasiosos complôs comunistas.

Vendo-se pressionado, o chanceler tentou nesta quinta (25) entender-se com Lira, a quem fez uma visita. Sua permanência no posto no permanece, todavia, sob ameaça, enquanto o governo é exortado a mostrar novas atitudes na crise.

Nessas circunstâncias, Araújo assume cada vez mais claramente os contornos do que sempre foi —um fóssil ideológico perdido no tempo.

Valor Econômico

BC indica limites para o ciclo de alta dos juros

Os números e tom do relatório indicam que o país não está perto do descontrole inflacionário

Para os fins práticos da política monetária, as declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foram mais claras sobre o futuro comportamento da taxa de juros, do que a menção à “normalização parcial” anunciada pelo Copom. “Dissemos que é parcial porque a Selic não vai para o neutro”, disse, referindo-se à taxa neutra real de juros, estimada em 3%. Da mesma forma, ele desincentivou apostas superiores a 0,75 ponto percentual de aumento da Selic na próxima reunião do Copom em maio – a ata criou em partes do mercado a expectativa de que a alta poderia ser de 1 ponto. Para Campos Neto, isso só ocorrerá com “alguma coisa muito fora de nosso cenário”.

O Relatório de Inflação trimestral, divulgado ontem, estende com análise técnica mais detalhada as principais orientações do BC e procura justificar a avaliação polêmica de uma recuperação rápida da economia no segundo semestre, após o interregno do agravamento da pandemia no primeiro. Ela deu base, junto com outros fatores, à decisão de iniciar aceleradamente o ciclo de alta de juros, com dois ajustes de 0,75 ponto percentual cada.

Espalhadas ao longo do relatório, as razões para a surpresa inflacionária, para a deterioração das expectativas e para a ameaça do IPCA de saltar além do teto das metas foi a elevação intensa dos preços das commodities associada à desvalorização do real – uma conjugação pouco comum. A ela se acrescenta a evolução dos preços administrados, estimada em 9,5%, ante variação de 3,5% dos preços livres. A influência principal nos administrados, porém, foram os preços do petróleo, cotados em dólar – ambos dispararam.

Pelos cálculos do BC, a probabilidade de a inflação ultrapassar 5,25% em 2021 subiu de 8% para 41%, entre o relatório de dezembro e o de agora. O IPCA em doze meses atingirá 7,8% no segundo trimestre e foi 0,77% superior ao que o BC projetava para o primeiro. Pior, a alta das commodities amorteceu o recuo esperado dos preços dos alimentos, que, ainda assim, foi significativo (de 3,49% no trimestre ante 9,05% nos três meses anteriores). A taxa trimestral média anualizada dos núcleos de inflação foi de 5,39%, “sugerindo que o aumento recente de preços não se restringe aos componentes voláteis, os principais fatores de pressão”.

Não havia então alternativa ao aumento de juros, mas por que fazê-lo intensamente? As respostas do BC parecem considerar que a economia está em melhor forma do que aparenta. Primeiro, o hiato do produto (o quanto a atividade se distancia de seu potencial ou o excede) reduziu-se para – 3,2% e estará zerado ao fim de 2021. Embora veja muita incerteza no primeiro semestre, o cenário do BC conta com vacinação em massa contra a covid-19 em março e abril. Março já se foi e impera a falta de imunizantes, com o aumento forte de mortes e proliferação de lockdowns que podem comprometer a recuperação futura.

O BC considera ainda que o nível de utilização da capacidade instalada está acima da média dos últimos anos, mas o gráfico que ilustra o fato mostra que isso é verdade considerando-se o período de 2015 em diante, marcado por recessão e crescimento medíocre, mas está bem abaixo da de anos “normais”. A indústria cresceu em janeiro e seus estoques são baixos, mas os do varejo, que recuou em fevereiro abaixo do nível pré-pandemia, subiram.

A ideia de que a recuperação será “robusta” e mais rápida baseia-se não só na diminuição do hiato do produto, como também no grau de mobilidade de março de 2020 (perto de 20%) e o de agora, muito maior. É possível, porém que a atual onda de contágio, que é superior à primeira, deixe sequelas fortes na mobilidade e nas atividades a curto prazo. Além disso, “a taxa de desocupação deve persistir em elevação nos próximos meses, com o crescimento da oferta de trabalho continuando em ritmo mais intenso que o da ocupação”.

Há boas notícias no relatório. Cálculos do BC indicam que o repasse de preços ao consumidor até o fim de 2020 “foi rápido e intenso”, com grande probabilidade de não se repetir. “Salvo novas altas nos preços de commodities e na taxa de câmbio, a pressão dos custos de insumos sobre os preços ao produtor de bens industriais tende a arrefecer nos próximos trimestres”, registra o relatório.

O comportamento de commodities e dólar aumenta as incertezas para o futuro. Mas os números e tom do relatório indicam que o país não está perto do descontrole inflacionário (a menos que sobrevenha o fiscal) nem de uma forte e desarrazoada elevação dos juros.

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