MANCHETES DA CAPA
O Globo
BC faz maior alta de juro em uma década para conter inflação
O avanço da catástrofe: média de 2 mil mortes por dia
Congresso dá perdão a dívidas das igrejas
Câmara limita uso de escutas em investigações
OCDE monitora retrocesso no combate à corrupção no Brasil
STF deve julgar caso de Lula antes da suspeição de Moro
Sem apoio do governo federal, lockdown torna-se um desafio
Estado do Rio corre para abrir leitos, mas fila para UTI já tem 276 pessoas
Lesões no corpo de enteado de vereador, de 4 anos, levam polícia investigar morte
O Estado de S. Paulo
COLAPSO – BRASIL ENFRENTA SUA MAIOR CRISE SANITÁRIA
BC eleva Selic a 2,75%, primeira alta em 6 anos
Igrejas terão perdão de mais de R$ 1 bilhão em multas
O presidente entre Guedes e Michelle
Injúria na internet
Folha de S. Paulo
Juros sobem pela 1ª vez em seis anos
Para 56%, Bolsonaro é incapaz de liderar o país, aponta Datafolha
Com recorde, média móvel de mortes fica acima de 2.000
Saúde fornece máscaras impróprias a profissionais
Congresso derruba veto e perdoa dívida de igrejas]
Após protestos, Doria revê ICMS de leite e carne
Juiz da Lava Jato mantém bloqueio de bens de Lula
Veja cenários eleitorais e legais do petista ante decisões do Supremo
Prédio de jornal pega fogo após ser atacado em Olímpia (SP)
São Paulo antecipa para amanhã doses a pessoas de 72 a 74 anos
Pesquisadores criam ‘embriões simulados’ em laboratório
Facebook pagará à News Corp, de Murdoch, por notícias na Austrália
Tribunal japonês julga inconstitucional barrar casamento gay
Biden fala em revide e chama Putin de assassino
Maior fluxo migratório em 20 anos desafia gestão democrata
Valor Econômico
Copom eleva Selic para 2,75% e já prevê um novo aumento
Congresso derruba vetos à Lei de Falências
Engie tenta vender usinas a carvão no Sul
Uma Páscoa menos doce
Cresce pagamento com ‘tags’ no vidro do carro
OMS destaca agravamento da pandemia no Brasil
Embraer volta a chamar atenção e sobe 60% no ano
EDITORIAIS
O Globo
Apesar da queda na popularidade, apoio a Bolsonaro resiste à pandemia
O avanço da vacinação e provável recuperação econômica tornam difícil que ele perca mais popularidade do que já perdeu
A reprovação a Bolsonaro atingiu seu ápice desde o início da pandemia, segundo o Datafolha, com 44% dos entrevistados considerando seu governo “ruim” ou “péssimo”. Mais que as mortes em série, que parecem indiferentes ao brasileiro, o que tem incomodado a população são a falta de vacinas e o colapso no atendimento hospitalar, que alimentam o morticínio num círculo vicioso.
No agravamento da pandemia, o presidente fez a quarta mudança no Ministério da Saúde, substituição do desgastado Eduardo Pazuello, general que havia deixado clara sua sabujice a Bolsonaro, pelo médico cardiologista Marcelo Queiroga. O motivo político para a mudança no ministério fica evidente no próprio Datafolha: 54% afirmaram rejeitar a forma como o governo enfrenta a pandemia, maior número desde que se fala em coronavírus.
Mas Bolsonaro, em que pesem as mais de 285 mil mortes, o colapso no sistema de saúde por todo o país, o atraso na compra e distribuição de vacina, o desrespeito pelos protocolos sanitários, pela ciência e seu desprezo pelo sentimento dos familiares das vítimas, patente em frases e atitudes, em que pese tudo isso, Bolsonaro demonstra manter a confiança da base que construiu no eleitorado nos últimos anos.
Enquanto perde popularidade entre os mais escolarizados, mulheres, negros, população com renda até dois salários mínimos e no Nordeste, mantém bolsões fiéis entre homens, evangélicos, habitantes da Região Sul e entre os que ganham entre 2 e 5 salários mínimos. Integram esses grupos, policiais, militares de baixa patente e uma classe média de perfil conservador.
É o que lhe garante permanecer no mesmo patamar de avaliação positiva, em torno de 30%, abaixo do qual jamais chegou a cair para valer. Se mantiver o apoio nesse nível até 2022, será o suficiente para garantir sua presença no segundo turno. Basta lembrar, diz o cientista político Alberto Almeida, que Dilma Rousseff foi até reeleita depois que sua aprovação caíra a 36%.
Mesmo que os próximos meses tragam a Bolsonaro a pior onda de notícias ruins de seu governo, o inferno astral uma hora acaba. O avanço da vacinação e provável recuperação econômica tornam difícil que ele perca mais popularidade do que já perdeu. Um alerta a Bolsonaro é que o grupo dos que “nunca confiam nas declarações do presidente” cresceu de 41% para 45% de janeiro para cá. Bolsonaro espera que o novo auxílio emergencial o ajude de novo. Desta vez, no entanto, o valor será menor, e os alimentos estão mais caros. Pode haver frustração.
Porém o bolsonarismo habita uma bolha própria de desinformação, uma espécie de realidade paralela. É verdade que a tragédia da pandemia deixará cicatrizes na popularidade do presidente, mas a única variável a esta altura capaz de destruir sua viabilidade eleitoral seria uma catástrofe econômica comparável à sanitária, que aumentasse desemprego e miséria nos bolsões que hoje lhe dão sustentáculo. Como o mais provável é alguma recuperação, não devemos tomar os últimos indicadores como tendência definitiva.
O Estado de S. Paulo
A ‘linha vermelha’
Para muitos brasileiros, Jair Bolsonaro já cruzou a ‘linha vermelha’ há muito tempo. Para os líderes do Centrão, contudo, ainda há uma margem de tolerância
Para muitos brasileiros, Jair Bolsonaro já cruzou a “linha vermelha” há muito tempo. Para os líderes do Centrão, contudo, ainda há uma margem de tolerância para seu desgoverno – mas essa margem se estreitou consideravelmente nos últimos dias.
“Não teremos paciência com ele”, disse o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), referindo-se ao futuro ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. “É acertar ou acertar”, continuou o deputado, aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira, hoje um dos principais avalistas do governo Bolsonaro. E arrematou: “A situação não permite que o ministro da Saúde tenha tempo para aprender a ser ministro. As respostas terão que ser rápidas e efetivas”.
A “linha vermelha”, disse o deputado Ramos, é a vacinação contra a covid-19. Segundo o parlamentar, o Centrão não terá como continuar a apoiar o presidente se o programa de imunização não deslanchar. Para o deputado Ramos, o ministro Queiroga “começa com todo o apoio e com toda a torcida para que dê certo”, mas, “se ele errar, serão outros milhares de brasileiros mortos”.
Os líderes do Centrão ficaram agastados com a decisão de Bolsonaro de contrariá-los no processo de substituição de Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde. A troca no Ministério foi uma imposição do Centrão, diante da escalada da crise causada pela pandemia, agravada pela incompetência cavalar do intendente Pazuello.
Políticos experientes, ao anteverem desastres eleitorais, esses parlamentares e dirigentes partidários compreenderam que era preciso urgentemente dar um rumo racional e profissional ao Ministério da Saúde, o que seria impossível sob a gestão de Pazuello. Ofereceram alguns nomes a Bolsonaro, mas todos foram recusados pelo presidente. Bolsonaro preferiu o médico Marcelo Queiroga, cuja qualidade determinante para sua escolha foi o fato de ter sido indicado pelo filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro. Queiroga é amigo do sogro de Flávio.
Ao descartar os indicados pelo Centrão, optando por um chegado da família, Bolsonaro “perdeu a chance de dividir (com o Congresso) a responsabilidade” pela gestão do Ministério da Saúde, disse o deputado Fausto Pinato (Progressistas-SP). “Se o ministro acertar, ótimo. E se errar? E se aceitar as interferências (de Bolsonaro) e o País entrar em colapso?”, questionou o parlamentar, outro integrante do Centrão.
As “interferências” a que o deputado Pinato se referiu são sobejamente conhecidas: Bolsonaro sabotou a aquisição de vacinas, obrigou o Ministério da Saúde a encampar tratamentos inócuos, fez campanha contra o uso de máscaras e estimulou aglomerações, contrariando as orientações do próprio Ministério. A esse respeito, o deputado Ramos foi enfático: “Bolsonaro nunca teve apoio do Centrão para promover aglomerações nem para negar o uso de máscara ou a gravidade da pandemia”.
Com isso, o Centrão começa a demarcar claramente o território que pode definir sua manutenção como sustentáculo político do governo – determinante até aqui para que não prosperassem nem os pedidos de CPI para apurar responsabilidades sobre o desastre sanitário e humanitário nem os inúmeros processos de impeachment já encaminhados ao Congresso.
O derretimento da popularidade de Bolsonaro explica em parte a aflição do Centrão. Pesquisa do Datafolha divulgada na terça-feira mostra que 54% dos entrevistados consideram ruim ou péssimo o modo como o presidente está lidando com a pandemia; em janeiro, eram 48%.
Na mesma pesquisa, 43% disseram considerar Bolsonaro o principal responsável pela situação atual, enquanto apenas 17% atribuem essa responsabilidade aos governadores. Ou seja, a campanha sistemática de Bolsonaro para culpar os governadores pela crise parece ter fracassado.
Por fim, mas não menos importante, subiu de 50% para 56% o porcentual de brasileiros que entendem que Bolsonaro não tem condições de liderar o País. Depois de dois anos de desastre, é incrível que ainda haja 42% que o vejam como um líder capaz. Mas esse contingente diminui a olhos vistos – e o Centrão, que não joga em time que perde, já percebeu isso.
Folha de S. Paulo
O poço de Bolsonaro
No pior momento da pandemia, avaliação do presidente volta a testar seu piso
A avaliação de Jair Bolsonaro desceu aos mesmos níveis de maio e junho de 2020, os piores de seu governo quase sempre mal avaliado. Nas 11 pesquisas do Datafolha desde o início de seu mandato, apenas em dezembro o presidente obteve aprovação superior à reprovação, considerada a margem de erro.
Ele faz uma administração ruim ou péssima para 44% dos entrevistados na mais nova sondagem. Bolsonaro, no entanto, resiste. Para 30% do eleitorado, a gestão é ótima ou boa. Seu apoio nunca caiu abaixo desse nível, ainda considerável —em especial num momento de ápice da pandemia, inflação em alta e turbulência econômica.
Como em meados do ano passado, a queda da popularidade coincide com um pico de mortes provocadas pela Covid-19. Hoje, 54% dos brasileiros aptos a votar consideram ruim ou péssimo o desempenho do mandatário no combate à doença, ante 50% em maio de 2020.
Uma diferença maior em relação a meados do ano passado se dá na situação econômica. A despeito da incerteza causada pelo avanço descontrolado da epidemia e pela escassez de vacinas, o nível da atividade e mesmo do emprego melhorou — embora esteja longe de patamares satisfatórios e seguros.
O volume da vociferação e das atividades antidemocráticas públicas do presidente também baixou. A sempre elevada percepção quanto a sua incompetência, porém, voltou a subir neste ano.
Bolsonaro “não tem capacidade de liderar o Brasil” para 56% do eleitorado. É “o principal culpado pela situação atual da pandemia hoje no Brasil” para 43% (ante 17% dos governadores e 9% dos prefeitos). Mais: 45% do público “nunca confia” no que ele diz. Ainda assim, não há maioria a favor de seu impeachment ou renúncia.
Trata-se do bastante para que o presidente mantenha sua sustentação parlamentar. No entanto a adesão do centrão ao governante de turno é, por natureza, volátil.
Mulheres, cidadãos com renda familiar mais alta, com ensino superior, pessoas que se declaram pretas, moradores do Nordeste e desempregados têm em geral as opiniões mais negativas. Empresários, notadamente a mais positiva.
Apesar de a Covid-19 elevar sobremaneira o risco de uma recaída recessiva, ainda não há certeza sobre o seu efeito nos negócios e nos empregos após abril. Mesmo com inépcia grosseira, além dos atos de sabotagem oficial, é possível que o país atinja um número relevante de pessoas vacinadas em maio.
Consideradas essas dimensões do humor nacional, é possível que haja certo alívio em meados do ano. Auxílio emergencial, alguma retomada econômica e vacinas podem, em teoria, devolver a Bolsonaro alguns pontos de popularidade.
Parte do país terá agido para evitar o pior, mesmo acossada pelo ocupante do Planalto —do qual sempre se podem esperar novas iniciativas contra os brasileiros e sua própria administração.
Valor Econômico
Fed reafirma política e prevê juro perto do zero até 2023
Quando chegar a hora de começar a subir os juros o banco dará os avisos necessários com bastante antecedência
O Federal Reserve americano não mudará um milímetro de sua política monetária, ainda que a economia dos Estados Unidos esteja a caminho de exibir sua melhor performance em décadas e crie o receio de volta da inflação. Ontem, ao fim da reunião de seu Comitê de Mercado Aberto, os membros do Fed, ao mesmo tempo em que elevaram significativamente suas projeções de crescimento de 4,2% para 6,5%, mantiveram a grosso modo suas previsões para os juros, que continuam sem variação até o fim de 2023, entre 0,1% e 0,25%.
O temor dos investidores de que o pacote de estímulos de US$ 1,9 trilhão trará a inflação antes que o esperado, expresso na alta dos títulos de longo prazo, foi recebido com impassibilidade por Jerome Powell, presidente do banco. Ele disse que a instância altamente estimulativa da política monetária continua sendo a mais apropriada e que ela só mudará quando as duas conhecidas condições econômicas forem atendidas: o país se mover para bem perto do pleno emprego e a inflação der sinais claros de que chegou a 2%, com tolerância para que ela avance além disso por algum tempo.
Houve mudanças na percepção dos integrantes do comitê. Quatro dos 18 membros que apresentam projeções veem a taxa de juros se movendo já no ano que vem – em dezembro, era apenas um – e sete deles em 2023. Ainda assim, o ritmo do ciclo de alta seria bastante moderado. Em 2022, para quem acha que a taxa deveria subir, ela poderia ficar no máximo em 0,75%. Para 2023, em 1,25%.
Isso, no entanto, não indica que o Fed vá agir de acordo com essas expectativas. “Queremos ver progressos reais da inflação, e não só progressos das projeções, que precisam se materializar”, disse Powell. Ainda que a economia esteja respondendo bem aos estímulos e à campanha acelerada de vacinação em massa, as incertezas sobre o futuro ainda são “enormes”, segundo Powell. Ele repetiu o mantra de que o Fed não será complacente e que manterá os estímulos até quando a recuperação estiver completa.
As projeções também deixaram dúvidas sobre a orientação da política do banco. O índice de gastos pessoais de consumo pode fechar o ano em 2,4% (não mais em 1,8%), com seu núcleo avançando 2,2% em 2021. Em 2022 e 2023, ambas as medidas evoluirão 2% e 2,1%, respectivamente. Além disso, foi feito um reajuste forte na projeção da taxa de desemprego, que cairá a 4,5% (ante 5% na previsão anterior) e em 2023, poderá chegar a 3,5%, algo que pode ser considerado pleno emprego. Ainda assim, pelas projeções, não haveria, como não houve no passado recente, alta relevante na inflação.
Powell ressaltou que 2,4% de inflação cheia em 2021 não preencheria as novas condições do Fed, porque seria transitória. A recuperação em meio à pandemia é desigual e deixou para trás o setor de serviços, que depende de interação social. A demanda se deslocou para outros setores, criando gargalos na produção que tenderão a elevar provisoriamente alguns preços. Esse movimento não será duradouro, especialmente se condições mais perto da normalidade, com a vacinação em massa, se cristalizarem até o fim do ano.
A relativa impotência da política monetária antes da pandemia, quando estímulos trilionários fracassaram em fazer a inflação subir até a meta, permeia a cautela do Fed. Powell disse que a inflação ameaçou subir várias vezes e não o fez. Agora, o Fed quer ver para crer, antes de agir. O novo sistema de metas de inflação média responde a essa desconfiança, com uma mudança relevante. “Não vamos agir preventivamente”, resumiu Powell.
Quanto à situação do emprego, o Fed vê um longo caminho para a melhora. Há 9,5 milhões de trabalhadores desempregados a mais do que antes da pandemia. A participação na força de trabalho também é hoje menor do que antes do ataque do vírus. E, mesmo com pleno emprego, não há garantias de que a inflação surgirá, como não surgiu em 2019. O pleno emprego produziu alguma pressão nos salários, que não foi para os preços, possivelmente porque as empresas a absorveram, reduzindo margens. A mesma coisa poderá ocorrer agora.
Sobre a recente alta dos juros dos títulos do Tesouro, Powell repetiu que o Fed só agirá se ela ocorrer “desordenadamente”. Ele prometeu que quando chegar a hora de começar a subir os juros o banco dará os avisos necessários com bastante antecedência – e que não há sinal disso por enquanto. Os juros dos títulos do Tesouro recuaram e as bolsas renovaram recordes.