MANCHETES DA CAPA
O Globo
Estados ‘no limite’ cobram vacinas, mas imunização vai continuar lenta
BRT, uma estufa de vírus
Enquanto isso, após 261.188 mortes…”Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”
Variantes já predominam em seis unidades da Federação
Condução da crise transforma o Brasil em ameaça sanitária global
MP vai recomendar suspensão do futebol; estatais adiam jogos
PEC pode pôr em risco dedução de gastos no IR
IBGE: cai número de mulheres em cargos de liderança
PSL trava acordo de Arthur Lira em comissões na Câmara
Portugal consegue reverter situação com quarentena rígida
O Estado de S. Paulo
‘Chega de frescura e mimimi’, diz Bolsonaro sobre pandemia
País pode virar ‘celeiro’ do vírus com avanço de nova variantes
PEC do auxílio abre brecha para blindar verbas militares
Núcleo do MP que denunciou ‘rachadinhas’ no Rio é enterrado
10 milhões de senhas do Brasil são expostas
Condenação criminal por ‘insider’ é rara
Servidores do IBGE querem adiar Censo
14 mil podem ficar sem remédio da maconha
Papa inicia visita inédita ao Iraque
Folha de S. Paulo
Pandemia mata como nunca, e Bolsonaro fala em ‘mimimi’
Presidente vê sua popularidade digital encolher
Cármen pediu por não soltura de Lula, disse Deltan
Grupo de investigação que mirava Flávio e Carlos é dissolvido
Bolsonaro segue rota de Dilma pré-impeachment
Falta de doses atrasou vacinação de 400 mil pessoas
BNDES deu R$ 20 mi para firma de hidroxicloroquina
Hospital paulistano transfere infectados para maternidade
Casvavel (PR) recorre a equipamentos de zoológico contra vírus
Presidente violou regras do Facebook para Covid, mas não foi punido
PIB teve estimativa de alta de 2,5% a queda de até 6,6%
Trecho que liga ferrovia Norte-Sul a SP é inaugurado
Itaú demite 50 funcionários que pediram auxílio
Economia e EUA são foco da China para o pós-crise
Valor Econômico
Saúde prevê 3 mil mortes por dia nas próximas semanas
Falta de gestão derruba preço de ativos locais
Em todas as áreas, país paga o custo do descaso
Justiça decide que renda de ‘trust’ paga IR
Governo cede mais e PEC emergencial é aprovada
‘Micos’ ainda atraem investidores na bolsa
EDITORIAIS
O Globo
País precisa de ações nacionais para conter o vírus
Bolsonaro parece, porém, empenhado em confrontar os estados, fragmentando a Federação em momento crítico
Março já é o mais cruel dos meses: leitos de UTI faltando, hospitais entrando em colapso, cadáveres se empilhando nos cemitérios. O Brasil é hoje visto como risco sanitário internacional. O ambiente propício à propagação do Sars-CoV-2 tornou o país o laboratório ideal para a evolução de variantes mais contagiosas. Enquanto o darwinismo corre solto, a displicência do Planalto deu origem a reações desencontradas de estados e municípios, cujos governantes, apresentados dia após dia a novos recordes de mortos, têm decretado medidas de restrição mais duras para lidar com a pandemia fora de controle.
O presidente Jair Bolsonaro diz que “criaram pânico”, desdenha as mortes — “chega de frescura, de mimimi; vão ficar chorando até quando?”— e agride quem cobra vacinas —“só se for na casa da tua mãe (sic)”. Diante de tanta grosseria e da omissão irresponsável, secretários estaduais endereçaram à nação um grito de socorro. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) propôs toque de recolher — já em vigor em alguns estados — em âmbito nacional; lockdowns nas cidades em que a ocupação de UTIs ultrapassar 85%; proibição de shows, cultos religiosos e atividades esportivas; fechamento de praias e bares; barreiras sanitárias nacionais e internacionais. Pede ainda o reconhecimento do estado de emergência, recursos extraordinários para o SUS e a volta do auxílio emergencial.
O ministro-general Eduardo Pazuello se revelou um inepto para providenciar vacina aos 212 milhões de brasileiros. Fala em doses em maio, junho, julho, agosto… só que as mortes de março estão aí. A corrida é desigual. De um lado, as variantes avançam à velocidade de Lewis Hamilton. De outro, a campanha de vacinação não sai dos boxes. Em um mês e meio, chegou a 3,5% da população. A lentidão levou prefeitos e governadores a organizar um consórcio para comprar vacinas, à revelia da Federação. Pode ser uma medida necessária diante da inépcia federal, mas é também um lance de desespero. O colapso sem precedentes que toma conta do país demandaria esforço conjunto das três esferas de governo.
Bolsonaro parece, porém, empenhado em confrontar os estados, fragmentando a Federação em momento crítico. A estratégia ficou clara quando ele publicou valores repassados aos estados para combate à Covid-19, irritando até aliados. As transferências são obrigatórias, não dependem do presidente. Bolsonaro já criticara governadores que impõem medidas de restrição, dizendo que deveriam arcar com o auxílio emergencial. O endurecimento das restrições, já necessário antes da alta nas mortes, é hoje dever urgente.
Assim como o projeto aprovado no Senado para facilitar a compra de vacinas de eficácia comprovada. Só na quarta- feira o ministério anunciou estar no fim das negociações para comprar 100 milhões de doses da Pfizer e 38 milhões da Janssen. Ambas foram testadas aqui. A Pfizer ofereceu, em setembro, opção de compra ao governo, que declinou. Bolsonaro insinuou que quem a tomasse poderia “virar jacaré”.
A cada minuto, um brasileiro morre de Covid-19. Segundo a Fiocruz, a situação se agravou em todos os estados. Sistemas de saúde tombam um a um. Do Oiapoque a Chuí, o Brasil de Bolsonaro e Pazuello se transformou num grande matadouro. Ou o país age como uma Federação para derrotar o inimigo, ou seremos arrastados para a mesma vala comum da História.
O Estado de S. Paulo
Algo houve em Brasília
Depois de meses de campanha do presidente para desmoralizar as vacinas, o Ministério da Saúde prontificou-se a comprá-las
Algo se moveu em Brasília. Em meio à sensação de caos generalizado – acentuada pela crescente convicção de que o presidente da República, Jair Bolsonaro, é irremediavelmente incapaz de liderar o País em um dos momentos mais dramáticos de sua história –, aparentemente a realidade começa a se impor.
Se são para valer, só o tempo dirá, mas o fato é que as notícias de que o governo federal finalmente comprará vacinas contra a covid-19 e de que o Congresso, com a equipe econômica, impediu manobras ardilosas para furar o teto de gastos em nome do enfrentamento da pandemia mostram que, no limite, o Estado democrático tem seus mecanismos contra a insanidade.
Depois de meses de campanha sistemática do presidente para desmoralizar as vacinas, o Ministério da Saúde prontificou-se afinal a comprá-las. O ministro Eduardo Pazuello anunciou na quarta-feira, dia 3, a assinatura de um contrato para a aquisição de 99 milhões de doses da vacina da Pfizer e também a negociação para a compra de 38 milhões de doses da vacina da Janssen.
O governo havia meses vinha se negando a comprar a vacina da Pfizer, oferecida ao Brasil em agosto do ano passado. Bolsonaro descartara o imunizante dizendo que havia cláusulas abusivas no contrato, como a que isentava o laboratório de responsabilidade por eventuais efeitos colaterais – o que é uma cláusula-padrão em todo o mundo.
Agora, em meio à disparada do número de mortos pela pandemia e ao colapso do sistema de saúde em quase todo o País, situação que ameaça deteriorar ainda mais a popularidade de Bolsonaro – única coisa que lhe importa –, o presidente e seu desastrado ministro da Saúde afinal fizeram o que deveriam ter feito há muito tempo.
Para os brasileiros, pouco importa se Bolsonaro e Pazuello decidiram comprar vacinas por frio cálculo político, ante a pressão crescente da opinião pública e ante a mobilização de governadores e prefeitos para comprar vacinas por conta própria, ganhando pontos com o eleitorado; o fato é que as doses dos imunizantes chegarão ao País e, se forem rapidamente administradas, interromperão a espiral de sofrimento e miséria que tanto aflige os brasileiros.
Do mesmo modo, pouco importa se a PEC Emergencial aprovada no Senado nesta semana está longe de ser a ideal. O importante é que essa medida, que cria as condições fiscais para destravar o auxílio emergencial e outras despesas relativas à pandemia, finalmente deixou a gaveta em que dormitava desde o fim do ano retrasado e agora tramita de acordo com a urgência requerida pelo momento.
Há ainda outro fato relevante: a equipe econômica empenhou-se para desmontar a articulação, patrocinada pelo próprio presidente Bolsonaro, para excluir o Bolsa Família do limite do teto de gastos na PEC Emergencial. A manobra permitiria abrir espaço de nada menos que R$ 34,9 bilhões no Orçamento para emendas parlamentares. Ou seja, era uma maneira de driblar o teto de gastos para aumentar despesas com obras que rendem votos.
A malandragem, que arruinaria de vez a imagem já desgastada do Brasil entre os investidores, foi abortada pouco antes da votação em primeiro turno no Senado.
Assim, a despeito da campanha sistemática do presidente Bolsonaro contra o País, ainda há barreiras para a articulação entre a demência e o oportunismo rasteiro. Não se pense, contudo, que Bolsonaro, de uma hora para outra, vai se tornar adepto da ciência e da responsabilidade fiscal.
Ao contrário, exercitando toda a perversidade de alguém que não teve educação de berço, o presidente, por pressentir que sua reeleição corre risco, dobrou a aposta na incivilidade. Sobre a pressão para comprar vacinas, Bolsonaro discursou: “Tem idiota que diz ‘vai comprar vacina’. Só se for na casa da tua mãe. Não tem para vender no mundo”. E sobre a necessidade óbvia de se adotarem medidas de isolamento para conter o avanço do vírus, Bolsonaro teve o atrevimento de dizer: “Temos que enfrentar nossos problemas. Chega de frescura, de mimimi, vamos ficar chorando até quando?”.
O País fará bem se deixar o sr. Bolsonaro falando sozinho.
Folha de S. Paulo
Curva da morte
Ante descaso de Bolsonaro, devem-se apoiar governantes que tentam salvar vidas
Ao acumular 42 dias num patamar de mais de mil mortes por Covid-19 a cada dia, a marcha macabra não dá sinal de ceder no Brasil. Ao contrário, segue em progressão exponencial, superando as marcas trágicas de julho do ano passado.
Em 25 de fevereiro, quebrou-se o recorde de 2020 pela primeira vez, com 1.582 mortes; na terça, 2 de março, 1.726; na quarta (3), 1.840.
O número absoluto ainda não supera as 2.468 mortes de quarta-feira nos Estados Unidos; lá, entretanto, as sequelas da irresponsabilidade negacionista de Donald Trump começam a refluir. O Brasil de Jair Bolsonaro ultrapassou os EUA em termos proporcionais, com 6,3 novas mortes por milhão de habitantes, contra 5,5 de americanos.
Não haverá surpresa, só estarrecimento renovado, se o placar lúgubre alcançar nos próximos dias 2.000 mortes. Mais que simples cifra, esse limiar simbólico a se acercar de modo vertiginoso deveria sinalizar para todos que a leniência diante da pandemia não pode continuar como está.
A emergência sanitária é grave e ímpar, pior do que em qualquer outro momento em 12 meses, pois a epidemia se agrava ao mesmo tempo em todo o território nacional. Como alertou em nota técnica a Fiocruz, 19 unidades da Federação enfrentam situação crítica em seus hospitais, com ocupação de leitos de UTI maior que 80% (10 delas acima de 90%).
São Paulo, onde a administração do estado manteve conduta racional, ainda observa lotação média de 76% dos leitos, mas a situação se deteriora em ritmo acelerado.
O governador João Doria (PSDB) anunciou a criação de 500 novas vagas de UTI, sem garantia contudo de evitar o colapso local, como se observou em Araraquara, ou geral, como pode acontecer nas próximas duas semanas.
A vacinação, como se sabe, é a única saída para a crise e precisa ser acelerada. Não existe tratamento precoce para as pessoas contaminadas, ao contrário do que propaga o presidente ignaro.
Só nos restam, pois, as alternativas das medidas comprovadas de prevenção, ditas não farmacológicas: máscaras, distanciamento social e higiene das mãos.
Mostra-se acertada, assim, a providência de estender para todo o território paulista a fase vermelha, de maior restrição para o comércio e a mobilidade das pessoas, ainda que eivadas de exceções. Cultos religiosos, por exemplo, costumam produzir focos de intensa contaminação. Não há nenhum sentido em mantê-los enquanto se fecham os parques públicos.
Governadores e prefeitos que fazem o possível para salvar vidas devem ser apoiados. Quanto ao presidente da República, apenas sua indiferença à mortandade supera a incompetência de sua gestão.
Basta de titubeio. As armadilhas lançadas por Bolsonaro têm de ser desarmadas com coragem e decisão, a fim de frear a curva da morte insuflada pelo Planalto.
Valor Econômico
Lira busca a via rápida para a anti-reforma política
Presidente da Câmara abriu a discussão sobre o desmonte da legislação eleitoral
Após a eleição do novo comando do Congresso, o presidente Jair Bolsonaro foi levar os 30 projetos supostamente prioritários para seus aliados recém-eleitos para presidir a Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Lira, expoente do Centrão, não revelou os seus, aos quais celeremente deu precedência sobre os do governo a ponto de parecerem as verdadeiras PECs de emergência. Com determinação e foco, em um momento em que o Congresso tem dificuldade de realizar seções presenciais, Lira abriu a discussão sobre o desmonte da legislação eleitoral, o desmonte das leis que coíbem a improbidade administrativa e, se não fosse pouco, e dos mecanismos do Orçamento, dando maior poder possível aos parlamentares na distribuição de verbas.
Em pleno recrudescimento da pandemia e aceleração das mortes, o líder do Centrão tirou da algibeira duas propostas. Apropriou-se do mantra do ministro Paulo Guedes, um dos três “Ds” – desvincular – para em meio à maior crise sanitária da história do país eliminar os pisos de gastos obrigatórios da saúde e da educação. Em um par de dias entre a coleta de assinaturas e a submissão ao plenário, tentou aprovar uma proposta de emenda à Constituição que praticamente blinda os parlamentares de serem punidos pela Justiça e coloca como árbitro dos eventuais delitos cometidos por eles para a corte camarada da Comissão de Ética, cuja indolência e desinteresse é notória.
Um clamor público contra ambas propostas indecorosas teve resultados distintos. A desvinculação dos recursos caiu logo por terra pelo absurdo de tentar resolver com um golpe de mão uma questão complexa e fora de ordem na conjuntura da pandemia. Mas a PEC da impunidade seguirá tramitando, um pouco mais distante dos holofotes ante os quais a pressa de Lira a terminou colocando. É aí que mora o perigo.
O presidente da Câmara, diante da ausência da instalação das comissões, tem jogado as pautas diretamente ao plenário. Se esse expediente pode ser benéfico no caso da PEC emergencial, que garantirá uma nova rodada de pagamentos de auxílio à população, por outro lado pode dar via rápida a projetos nefastos, como aquele que busca retrocessos nítidos na legislação eleitoral e, em particular, na forma de escolha dos representantes do povo.
A estratégia para isso é a mesma. Como a Comissão de Constituição e Justiça não foi instalada, a ideia é votar logo a admissibilidade de uma proposta de PEC no plenário. As intenções que pululam em volta das mudanças eleitorais têm a cara do fisiologismo do Centrão. Em um dos Congressos com o maior número de partidos do mundo, onde as duas maiores bancadas mal chegam a ter 10% dos deputados, o objetivo é derrubar a cláusula de barreira para que tudo continue como está: um aventureiro qualquer cria um partido que, aprovado, ganha tempo de TV, dinheiro do fundo eleitoral e partidário etc.
Na verdade, tudo pode piorar. Ao lado do fim da barreira está a proposta do “distritão”, dentre todos os sistemas de escolha possivelmente o pior já inventado, pois favorece figuras populares, de alta visibilidade, que seriam bons de voto (como o palhaço Tiririca ou jogadores de futebol) em detrimento de quadros partidários e dos próprios partidos. A PEC muda prazos de mandatos, proíbe reeleição e muitas coisas mais – constam do texto para discussão, que ainda poderá ser piorado ao longo do tempo.
A Justiça Eleitoral será enquadrada na discussão do Código de Processo Eleitoral, que vedará que ela faça mudanças nas normas das eleições sem que sejam aprovadas pelo Congresso. Um dos pontos centrais é a volta das coligações nos pleitos proporcionais – já extinta na eleição de 2020 -, um esquema fajuto em que o eleitor vota em um candidato e elege junto outro que pensa o contrário.
O futuro desenhado pelos partidos do Centrão é ampliar os privilégios dos parlamentares e assegurar sua reprodução. Partidos ameaçados de extinção são aliados do PP de Lira, como Patriota e Avante. Mas o fim da cláusula de barreira não atende aos interesses dos grandes partidos, que também têm restrições ao “distritão”. Muita coisa pode mudar, mas a intenção desse amálgama de partidos oportunistas e sem programa é assegurar um ambiente onde possam continuar sendo indispensáveis ao apoio parlamentar de qualquer governo para obter vantagens várias – nem todas lícitas.