MANCHETES
O Globo
Capitais têm número recorde de candidatos a prefeito
Países, empresas e ONGs pressionam contra o desmate
PF intima Bolsonaro a depor pessoalmente sobre interferência
Empresário cita propina a governador em exercício do Rio
Dia D do impeachment para Witzel e Crivella
Desafios para integrar a cidade e reduzir desigualdade
Rouba, mas faz – Novo defensor de Maluf
Covid-19 está desacelerando no país
STJ derruba liminar, e Linha Amarela volta para prefeitura
Voltas na cultura – Arte iluminada, lonas no escuro
O Estado de S. Paulo
Cidade de SP decide pela retomada de aulas ainda em 2020
Risco da covid para crianças
Por obras, educação e área social devem perder verbas
A volta do Renda Brasil
Após 9 cortes, Copom decide manter a taxa Selic em 2%
Europa cobra ação ambiental e ameaça parar importações
Virada Sustentável ganha projeção
Convidados da posse de Fux pegaram covid
Bolsonaro recorre e tenta depor por escrito
Chavismo ordenou execuções, diz ONU
Folha de S. Paulo
Desigual, socorro da União não atendeu à emergência
Após ‘cartão vermelho’, Guedes passa a consultar Bolsonaro sobre planos
Auxílio de R$ 300 não será integral para 6 milhões
Carlos e Eduardo são intimados a depor sobre atos
Nova lei exige aval de eleitor para enviar propaganda
Maia e ministros do STJ e TST recebem diagnóstico de Covid
Mourão fala em ir com embaixadores para a Amazônia
Presidente deve afirmar na ONU que críticas são equivocadas
Queimadas atrapalham planos de retomada do turismo no Pantanal
Em 10 dias, chamas destroem vegetação em SP
Covas adia decisão sobre escolas para novembro
Especialistas veem avanço no Ideb em risco por pandemia
Banco Central decide manter Selic a 2% ao ano
Eleição em Jaboticabal (SP) tem primo de Bolsonaro e base rachada
Após incêndio em campo, tensão sobe em ilha grega
Aliado de Shinzo Abe é eleito novo premiê do Japão
Valor Econômico
Sem reservas, Argentina vive nova crise cambial
Medidas vão dar agrado à classe média
Europa apela a Mourão pela Amazônia
A marcha dos juros
Conjuntura abre espaço à cisão do GPA
Alta do arroz expõe limites da ação do governo
‘Valor’ premia hoje empresas inovadoras
EDITORIAIS
O Globo
A bem-vinda coalizão que une ONGs e agronegócio em defesa da Amazônia
O maior desafio é o governo abandonar a postura negacionista que ignora desmatamentos e queimadas
Nem tudo são cinzas no claudicante cenário ambiental do país. É boa notícia a coalizão que une, na defesa da preservação da Amazônia, representantes do agronegócio, do setor financeiro e de organizações não governamentais (ONGs), num total de mais de 200 integrantes que, historicamente, nem sempre estiveram do mesmo lado.
Na terça-feira, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura enviou ao governo, à Câmara e ao Senado seis propostas para conter o desmatamento e as queimadas na Amazônia, problemas que têm degradado a imagem do Brasil no exterior, prejudicando negócios, investimentos e acordos comerciais. Oito países europeus mandaram anteontem carta ao vice- presidente, Hamilton Mourão, alertando que o aumento da devastação dificulta a compra de produtos brasileiros.
Nada há de mirabolante nas propostas da coalizão, apenas o óbvio que só o governo Bolsonaro não enxerga. O grupo defende reforço nas ações de fiscalização; suspensão, no Registro do Cadastro Ambiental Rural, de áreas ocupadas irregularmente; transformação de dez milhões de hectares em áreas de proteção e uso sustentável; respeito aos critérios socioambientais nas operações de crédito; transparência nas autorizações para supressão de vegetação; e suspensão dos processos para regularização fundiária onde houve desmatamento após julho de 2008.
Esse raro consenso é ativo valioso num campo marcado por dissensões — e passo importante para solucionar os graves problemas ambientais da Amazônia. Mas o governo precisa se engajar nessa luta. Para isso, tem de abandonar a postura negacionista, um grande desafio. No discurso que fará na Assembleia Geral da ONU, no dia 22, Bolsonaro deverá dizer que as críticas às queimadas no Brasil são equivocadas. Mourão afirmou ontem que “há uma visão distorcida sobre desmatamento ilegal e queimadas na Amazônia”. Um dia antes, acusara o Inpe de divulgar apenas os dados desfavoráveis ao governo. Ambos continuam fugindo aos fatos.
O movimento pela preservação da Amazônia acontece em momento crucial, não só para o Brasil. Os incêndios prolongados que devastam o Pantanal e a Costa Oeste dos Estados Unidos, agravados pelos efeitos inequívocos do aquecimento global — desprezado pelo negacionismo climático de Donald Trump e Bolsonaro — são um alerta para as consequências do descaso com o planeta.
Ao mirar um futuro melhor, a coalizão eclética representa uma saída otimista, dada pela sociedade e pelo mercado, para preservar a Amazônia, ainda que à revelia do governo. Executivo e Legislativo precisam ouvi-la, antes que seja tarde demais.
O Estado de S. Paulo
Retomada na incerteza global
Um face de mulher com máscara ilustra a capa do relatório da OCDE. Nenhum termo econômico aparece no título: “Coronavírus: vivendo com a incerteza”
A reação começou, os estímulos funcionaram e a economia global deve encolher 4,5% neste ano, em vez dos 6% estimados há três meses, segundo as novas projeções da OCDE, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. No Brasil o Produto Interno Bruto (PIB) deve ser 6,5% menor que o de 2019. A perda seria de 7,4%, de acordo com a avaliação anterior, na hipótese de um único surto de covid-19. O quadro pode ser menos assustador, mas a grande mensagem ainda é de cautela. Uma face de mulher com máscara branca – médica ou enfermeira – ilustra a capa do relatório. Nenhum termo econômico aparece no título geral: Coronavírus: vivendo com a incerteza.
Se a recuperação continuar sem novos problemas, a economia mundial deverá crescer 5% em 2021. A estimativa de junho indicava 5,2%. Confirmada a nova projeção, a renda global no fim do próximo ano será US$ 7 trilhões menor do que seria se os cálculos de novembro de 2019 estivessem corretos. O mundo terá perdido o equivalente à soma das produções de um ano da França e da Alemanha.
“No meio desta incerteza sem precedente, sabemos que o mundo será muito mais pobre do que seria sem o vírus”, escreveu a economista-chefe da OCDE, Laurence Boone. Na hipótese mais benigna, com uma vacina prevista para breve e maior confiança entre empresários e consumidores, a perda poderá ficar em US$ 4 trilhões. No extremo oposto, se as expectativas desandarem, a perda até o fim de 2021 poderá chegar a US$ 11 trilhões.
Mas algum aprendizado sobrou do segundo trimestre de 2020, quando o PIB global despencou 7,8% em relação ao primeiro. A queda teria sido muito maior, escreveu Laurence Boone, sem as políticas emergenciais implantadas em todo o mundo – grandes estímulos ao crédito, socorro emergencial aos mais vulneráveis, tréguas na cobrança de impostos e medidas de sustentação do emprego e de apoio a empresas.
A queda de 7,8% foi sem precedente em períodos de paz, mas as políticas funcionaram e a retomada começou. Políticas continuarão fazendo muita diferença na próxima etapa, no meio de tanta incerteza, e ainda será preciso apoiar os grupos mais vulneráveis, segundo a avaliação da OCDE.
A dívida pública aumentou em todo o mundo, com alta equivalente a cerca de 15 pontos de porcentagem no conjunto da OCDE, entidade formada por 37 países desenvolvidos e emergentes. Mas, ainda assim, é cedo, na avaliação dos economistas da organização, para apertar as finanças públicas. É preciso evitar o erro cometido depois da crise financeira de 2008- 2009, quando a retirada prematura dos incentivos prejudicou a recuperação. Mas será preciso, segundo o relatório, rever e redesenhar as políticas para facilitar, quando necessário, a reconfiguração econômica.
Como tem ocorrido em várias ocasiões, nos últimos dez anos, o caso brasileiro parece encaixar-se com dificuldade no quadro das prescrições políticas. Quando defendem a manutenção de políticas de estímulo, economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) costumam estabelecer uma diferença entre países com e sem espaço fiscal, com e sem condições para afrouxamento monetário.
Não se encontra uma distinção tão clara no relatório da OCDE, mas a situação se repete. No Brasil, as finanças governamentais iam muito mal antes do coronavírus e a dívida pública era considerada muito alta para um país emergente. Em dezembro essa dívida poderá estar próxima de 100% do PIB, uns 20 pontos acima do limite fixado como objetivo pelo governo.
O mercado concedeu trégua ao governo para as ações emergenciais, mas esse benefício deverá acabar no fim do ano. De fato, sinais de incerteza já se multiplicam, com efeitos visíveis na bolsa e no câmbio. Será preciso reafirmar, de forma crível, o compromisso com a responsabilidade fiscal. Mas também será necessário planejar a sustentação da retomada. A equipe do presidente Jair Bolsonaro tem-se mostrado incapaz de cuidar de qualquer dos dois itens, o compromisso fiscal e as medidas para sustentar a recuperação. Mas precisa, vejam só, cuidar dos dois.
Folha de S. Paulo
Indecisão eleitoreira
Veto de Bolsonaro a novo programa de renda básica expõe governo incapaz de tomar decisões difíceis
O veto de Jair Bolsonaro a um novo programa de renda básica financiado com cortes de benefícios previdenciários e assistenciais expõe com crueza os atuais dilemas da gestão dos gastos públicos, com implicações para a vida dos mais pobres, a economia e a política.
As diretrizes para lidar com tais questões, no entanto, continuam indefinidas. Mais que isso, parecem emaranhadas no interior de uma administração disfuncional e submetida a rompantes eleitoreiros.
A crise do Renda Brasil resulta disso. Se o presidente está decidido a manter o teto de gastos e ampliar o Bolsa Família, tem de aceitar corte de despesas sociais, ou com o funcionalismo. Caberia à sua equipe apresentar alternativas que considerassem esses limites e ao presidente, tomar uma decisão.
Bolsonaro, entretanto, opta pela demagogia enquanto parece esperar alguma mágica orçamentária. Posa como defensor dos pobres e procura empurrar a solução do problema para outrem, como de costume. Nesta quarta (16), como que transferiu ao Congresso a responsabilidade de fazer os cortes impopulares a fim de financiar o novo programa de renda básica.
A crise também ofereceu novas evidências da incapacidade do presidente de inspirar confiança na sociedade e transmitir a mensagem de que há um governo organizado e preocupado com a estabilidade política. Seu método, comprova-se, é o ato impetuoso e conflitivo.
Transpareceu ainda a descoordenação dentro do próprio Ministério da Economia, de tamanho desmedido e recheado de conflitos internos. O ministro Paulo Guedes, por sua vez, não parece ter condições políticas de definir prioridades.
Guedes tornou-se notório pela constância com que anuncia planos fabulosos que evaporam em poucas horas, sem produzir resultados. Tampouco se mostra capaz de negociar seus projetos a contento com o presidente, com colegas do Planalto, com a sociedade e com o Congresso. Acaba de romper com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, adepto das reformas.
A desordem e a indefinição suscitam desconfianças sobre o rumo da política de contenção dos gastos públicos. Se o governo se revela incapaz de tomar decisões difíceis e imagina que milagres podem financiar programas necessários como o de renda básica, levanta-se a suspeita de que pode sobrevir uma burla improvisada do teto de gastos.
A crise do Renda Brasil, portanto, é uma demonstração concentrada de desgoverno. Ficam em suspenso a política fiscal, a economia e o destino dos mais afetados pela pandemia. Instado pela realidade a tomar decisões de governo fundamentais e construtivas, Bolsonaro se refugia no mundo de sua campanha eleitoral permanente.”
Valor Econômico
Fed indica juros perto do zero pelo menos até 2023
A mudança de rota da política monetária foi feita por unanimidade no Fed
Fiel à sua nova orientação de política monetária, que considera uma média de inflação de 2% e não 2%, o Federal Reserve americano sinalizou ontem que não espera que os juros se movam de onde estão, colados ao zero, pelo menos até o fim de 2023. O presidente do Fed, Jerome Powell, não deu qualquer indicação clara de como a mudança afetará a orientação futura do banco ou como se materializará na definição dos próximos passos do banco Se as expectativas dos membros do Fed estiverem corretas, não será mesmo necessário fazer isso tão cedo ou com pressa.
A essência da mudança é evitar ações de política monetária preventivas, previstas no sistema de metas, quando a inflação caminhe para perto dos 2%, algo que se tornaria mais premente em situação de máximo emprego, vigente por longos meses antes da pandemia. Powell deixou claro que o Fed não vai agir até que a inflação se situe “moderadamente acima dos 2% por algum tempo”, o que o comunicado da reunião ratifica. A outra condicionalidade do mandato do banco, o máximo emprego, terá um tratamento assimétrico. Diferenças para baixo em relação ao máximo emprego – a menor taxa de desemprego foi de 3,5% até antes da pandemia – poderão acionar estímulos monetários. Diferenças para cima só exigirão intervenção do Fed se a inflação der sinais consistentes de que está se movendo para além do que o banco entende como moderadamente acima de 2%.
Powell esquivou-se de qualquer detalhe sobre como os parâmetros nortearão sua política. Saiu-se com banalidades: moderadamente quer dizer não muito mais alta que 2%, e por algum tempo significa não muito tempo. O único alvo que ratificou foi o do máximo emprego. “Adoraríamos voltar a ter uma taxa de desemprego de 3,5% ou menor”, afirmou. “Podemos ter desocupação muito baixa antes de ter qualquer problema com a inflação”.
O fato é que pela mediana das expectativas do Fed, a inflação não ultrapassará sequer 2% nem em 2023, o que conformaria uma década não ininterrupta de juros zero. A taxa foi essa por oito anos após a crise financeira de 2008, subiu aos poucos a partir de meados de 2016 e voltou aonde estava com o início da pandemia. Powell resumiu o desafio: “Atingimos o limite de baixa dos juros (effective lower bound”) mesmo durante os bons tempos”. A fórmula anterior tinha um viés que impedia que a inflação atingisse a meta. Não é seguro que o Fed vá escapar desta armadilha tão cedo, porque ter uma inflação acima de 2% é mais difícil do que ter uma de 2% e esta não foi atingida, salvo por poucos episódios mensais, desde 2011.
A recuperação da economia é significativa, mas o nível de atividades, segundo o Fed, ainda está distante do atingido antes da pandemia. Mesmo no mercado de trabalho, com um desemprego, hoje de 8,4%, abaixo daquele que o banco previa para o fim do ano (9,3%). A reação do PIB foi forte, e o Fed prevê que ele feche o ano com retração de 3,7%, ante uma perspectiva original de -6,5%. O ritmo de subida, necessariamente forte após uma queda tão violenta no segundo trimestre, vai arrefecer. Para 2021 o crescimento estimado é de 4% (ante 5% antes), de 3% em 2022 e 2,5% em 2023. A taxa de expansão de longo prazo prevista é de 2%, compatível com juros de longo prazo de 2,5%. É um bom caminho a percorrer: o juro neutro, que não estimula nem freia a economia, é hoje de apenas 0,5%.
Um novo pacote fiscal ajudaria o Fed a atingir mais rapidamente seus objetivos e a economia a se recuperar, mas ainda não há acordo sobre sua magnitude entre democratas e republicanos. Os dados mais recentes da economia não são incontroversos, mas insinuam uma perda de fôlego recente. Powell deixou claro que, pelas condições do mercado de trabalho, mais estímulos fiscais são necessários e que essa decisão cabe ao Congresso.
A mudança de rota da política monetária foi feita por unanimidade no Fed, mas agora dois membros do Fomc discordaram dos termos do comunicado. Robert Kaplan, do Fed do Texas, considerou que o banco precisaria de mãos mais livres para decidir os próximos passos. Neel Kashkari, do Fed de Minnesota, entendeu que deveria ser especificada como inflação o núcleo de 2%. Embora o núcleo do PCE e o índice cheio estejam hoje próximos um do outro, isso não necessariamente será assim em outras circunstâncias. Em algum momento a questão será retomada, mas o Fed demonstrou não estar ansioso para apresentar sua receita.