Presidente celebra como dele obras de governos petistas e recuou de discursos de campanha
O presidente da República resolveu sair por aí inaugurando obras iniciadas em governos passados. Sem um portfólio para chamar de seu, fatura em cima da iniciativa alheia – no caso, do adversário.
Reportagem da Folha mostrou que Jair Bolsonaro montou um cronograma para celebrar a finalização de projetos iniciados nos governos Lula e Dilma Rousseff.
São ao menos 33 obras na lista de viagens no segundo semestre —25 nasceram nas gestões petistas, apenas duas na de Michel Temer (MDB), e sobraram 6 com origem no atual governo.
Portanto é importante deixar claro ao eleitor alvo dessas andanças eleitoreiras: o presidente apenas montou na garupa para levar essa obra até você.
Assim como tenta dar uma nova roupagem ao Bolsa Família, programa de transferência de renda com DNA petista. O Renda Brasil, que deve virar filhote do auxílio emergencial, carrega diretrizes sociais que Bolsonaro tanto criticou ao longo de sua vida pública.
Veja só a CPMF. Em outubro de 2018, na reta final da campanha, ele bradava “mentira, é mentira” quando questionado sobre a recriação do imposto. Sem pudor, seu governo apresenta uma proposta para o tema. Então, é verdade, sim.
Naquela campanha, Bolsonaro esculachava o que chamava de velha política. “Só há uma maneira de combater a corrupção no Brasil. Elegermos um presidente de forma isenta, que não negocia ministérios.”
Hoje, o centrão, PHD em fisiologismo e denúncias de corrupção, entra sem pedir permissão no gabinete presidencial e recepciona Bolsonaro pelo país em viagens pagas com dinheiro público para cortar a faixa de obras petistas.
Bolsonaro prometeu acabar com o instituto da reeleição e é mais candidato do que nunca em 2022. Espumava no discurso contra a corrupção e tornou-se protagonista do escândalo da rachadinha. E ainda propagandeia a cloroquina como (falsa) solução para o coronavírus.
Afinal, como acreditar em Jair Bolsonaro? (Folha de S. Paulo – 31/08/2020)