Em debate com o jornalista Ricardo Capelli, o presidente do Cidadania previu uma grande reorganização partidária após as eleições de novembro
Em live do Movimento Democracia Empreendedora, o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, criticou a decisão de alguns partidos, como o PSol, de proibir candidaturas de jovens ligados a movimentos de renovação política como Raps e Renova, o que, para ele, vai na contramão de um processo de mudança que deve ser acentuado pelas eleições de novembro. Na avaliação dele, dificilmente o nome vitorioso em 2022 sairá da política tradicional.
“O que é isso? Na nossa época, discriminava-se quem era militante sindical e universitário? Não. Eram até sementeiras de futuros líderes, que hoje surgem desses movimentos de redes. Esse processo muda a sementeira do que vai ser a politica. O ano de 2021 será de grande renovação. E não pensemos que em 2022 voltarão os politicos tradicionais”, argumentou, ao pontuar que a cláusula de barreira nas eleições deste ano deve reorganizar o quadro partidário nacional.
Ele citou como exemplos o PCdoB, que discute mudanças internamente para enfrentar o cenário de novas exigências eleitorais, o PSDB e o próprio PT, que tem muita força ainda na sociedade, mas estaria, na sua visão, ficando defasado em razão do isolacionismo auto imposto e da identificação que eles mesmos exploram com ditaduras de esquerda da América Latina. Se esse pensamento for hegemônico na esquerda em 2022, Bolsonaro continuará no poder, apontou.
Luciano Huck
Freire também criticou a tentativa de deslegitimar a participação de novos atores no debate político e voltou a elogiar a atuação nas redes de personalidades como o cantor Emicida, o humorista Marcelo Adnet e o influenciador e produtor de conteúdo Felipe Neto.
“O papel que essa juventude terá é de fundamental importância. Você tem hoje um empreendedor como Luciano Huck, uma figura relevante que vive levando cacete não só de bolsonaristas, mas de lulistas e setores de esquerda que não entendem que isso é que pode nos levar a derrotar essa extrema-direita que se apossou das redes sociais. Temos tempo e capacidade de superar”, ponderou.
O presidente do Cidadania defendeu que os democratas disputem o espaço das redes com a extrema-direita porque esse, na opinião dele, é o novo “endereço da política” e mesmo com “manipulação e fakes” isso não mudará.
“Vai se aprofundar a utilização desse mecanismo e isso muda não apenas o meio, mas o fim. Falávamos, na nossa geração, de formadores de opinião. Hoje, formadores de opinião são os influenciadores na rede, que sabem melhor utilizar a linguagem nativa dos meios de comunicação. Esse processo precisa ser entendido por quem quer seguir na vanguarda das mudanças”, explicou.
Também convidado do Democracia Empreendedora, o jornalista Ricardo Capelli, secretário de Representação do Governo do Maranhão em Brasília, disse considerar que a esquerda no Brasil foi atropelada pelo uso que a extrema-direita fez das redes sociais. Citou o exemplo da Itália, em que o Movimento Cinco Estrelas alcançou 25% dos votos a partir de uma estratégia na internet.
“É um partido empresa de big data e algoritmo que trabalha de forma altamente profissional nas redes e que, com isso, conseguiu amealhar um quarto dos votos dos italianos. A impressão é que o nosso campo foi atropelado. Nós, analógicos, e a extrema-direita se apropriou desses instrumentos de forma mais rápida e profissional. Isso não está superado. Se pegarmos os principais sites e influenciadores, a maioria ainda esta ligada à extrema-direita no Brasil”, apontou.
Capelli disse ver esse movimento como estrutural e não como conjuntural. Para ele, a extrema-direita veio pra ficar e deve surpreender nas eleições de novembro. O jornalista também avaliou que haverá uma profunda reformulação do quadro partidário a partir do ano que vem.
“Este ano o campo democrático terá um novo encontro duro com a realidade. A gente ainda não compreendeu completamente o que aconteceu em 2018. Na minha opinião, a extrema-direita é um fenômeno estrutural e veio pra ficar no Brasil. A gente vai ter uma grande reorganização político-partidária em 2021. Ela pode se dar pela legislação, constituição de federações partidárias, construção de frentes ou pela política, surgimento de novos partidos, enfim”, analisou.
Democracia Empreendedora
O Movimento Democracia Empreenderora nasceu no fim de maio deste ano estimulado por atletas, artistas, professores, juristas policiais, políticos em defesa da democracia e dos micro e pequenos negócios, que respondem por 27% do PIB e 52% da geração de emprego do país