Deputado e ex-senador do Cidadania participaram de debate na noite deste sábado sobre a crise política envolvendo a prisão de Fabrício Queiroz e a crise sanitária provocada pelo novo coronavírus
Em debate realizado na noite deste sábado (20), na Globonews, o deputado federal Marcelo Calero (Cidadania-RJ) afirmou que o presidente Jair Bolsonaro não tem como negar proximidade com o ex-faz-tudo da família Fabrício Queiroz, que foi também assessor de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, e está envolvido em um esquema de “rachadinhas” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
“Nunca tivemos tramoias como a que envolve Flávio Bolsonaro, milícias do Rio de Janeiro e esse personagem chamado Queiroz tão próximas do gabinete presidencial. Esse sujeito [Queiroz] estava acobertado, albergado na casa de um sujeito que se apresenta como advogado do presidente da República e que tem trânsito livre nos palácios presidenciais de Brasília”, destacou o deputado.
Para Calero, se o presidente não fosse próximo de Queiroz, não teria saído em sua defesa quando questionado sobre o motivo dele estar no sítio do seu advogado em Atibaia. “Segundo Bolsonaro, ele estava lá por conta de um tratamento de câncer. Então, afinal de contas, o presidente é ou não próximo do Queiroz?”, ironizou.
O deputado lamentou que o país esteja passando por essa crise política num momento em que os brasileiros vivem a maior tragédia sanitária da sua história em decorrência da pandemia do coronavírus, que já infectou mais de um milhão de pessoas e vitimou outras 50 mil.
“Na minha opinião, está cada vez mais claro que o presidente é o vértice de todos os problemas que estamos vivendo, além de ser o obstáculo que vai impedir que a gente tenha uma recuperação plena da nossa economia e da nossa sociedade depois dessa devastação que a própria pandemia está trazendo”, ressaltou o deputado.
Fuga de Weintraub
Na avaliação de Calero, a crise política exige posicionamento do Congresso Nacional. “Acho impossível escaparmos nesse momento pelo menos de uma CPI e precisamos garantir que essas investigações aconteçam de forma independente e o mais célere possível. Só assim a gente vai dar a resposta que a sociedade brasileira precisa”, defendeu.
O deputado também analisou a saída do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub do país. Ele usou passaporte diplomático para entrar nos Estados Unidos nesta sexta-feira (19).
“Essa verdadeira fuga dele pode ser comparada à fuga de um miliciano. Vamos investigar a fundo o papel do Itamaraty. Infelizmente, toda a tradição da nossa diplomacia tem sido usada em favor de interesses nada republicanos e colocado o Brasil numa posição de extrema vergonha perante a comunidade internacional”, apontou.
Calero reforçou a necessidade de se investigar essa saída do ponto de vista do direito administrativo. “Estaríamos aqui diante de um desvio de finalidade? Valer-se de um passaporte diplomático para esse objetivo de se esconder, de se evadir do território nacional, se esquivar de uma interpelação judicial, isso não seria um caso de improbidade administrativa? Portanto, de um desvio de finalidade do próprio passaporte, da sua utilização?”, questionou.
O deputado, que também é diplomata, lembrou que viagem internacional de ministro de Estado deve ser autorizada pelo presidente da República, o que não foi feito.
“Precisamos investigar. Essas manobras, inclusive, podem ter repercussão nos Estados Unidos. Podemos passar vergonha de ver um ex-ministro sendo expulso do território americano depois de uma trapalhada como essa. Mas esse é o símbolo do governo Bolsonaro, do desastre e disfuncionalidade desse governo”.
Maldade e incompetência
O ex-governador e ex-senador Cristovam Buarque (Cidadania-DF) também participou do debate na emissora e criticou o gasto, por parte do governo Jair Bolsonaro, de apenas 30% do que foi autorizado para combater a pandemia. Buarque também falou da economia no pós-pandemia.
“Gastar menos do que está no orçamento ou é incompetência, ou é maldade ou são as duas coisas. Nesse governo, acho que são as duas coisas juntas, tendo em vista que é um gasto social”, afirmou. “Precisamos gastar mais agora, o que for necessário, mas precisamos saber como isso será pago depois. Seria irresponsabilidade não perceber que depois disso vem a inflação e quem vai pagar é o pobre, como sempre foi. Os ricos nunca pagaram o excesso de gasto do Estado brasileiro”, avaliou.
O ex-senador falou do desafio de retomar o projeto de crescimento do Brasil. “Vamos precisar de muito investimento e o Estado brasileiro não vai ter dinheiro pra isso. Creio que não teremos crescimento por alguns anos. Precisamos pensar em como melhorar mesmo sem crescer”, sustentou