Especialista diz em reunião virtual da Frente Ambientalista que mais de 99% dos casos de desmatamento na Amazônia têm “fortes indícios de ilegalidade” (Foto: Reprodução)
O avanço da destruição das florestas brasileiras foi tema de videoconferência da Frente Parlamentar Ambientalista, nesta quarta-feira (17), com o debate do plano de combate ao desmatamento na Região Amazônica e o Fundo Amazônia sob a coordenação da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) e do deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB-SP).
Além de parlamentares, participaram do encontro virtual especialistas em meio ambiente. Eles estimaram que o desmatamento da Amazônia deve atingir 15 mil km² neste ano contra quase 10 mil de 2019, e foram praticamente unânimes em condenar a falta de ação do governo federal frente ao problema.
Ao comentar a situação da floresta Amazônica no Maranhão, Eliziane Gama disse que o bioma ocupa 34% do território do estado, mas que desmatamento atingiu já atingiu 80% nos últimos 70 anos.
“Dos 20% que restaram de floresta ou estão nas poucas unidades de conservação ou em terras indígenas. O mais alarmante é que das dez maiores cidades do Maranhão, cinco estão dentro do bioma amazônico e o resultado dessa destruição vemos a olho nu, com perda da biodiversidade, mudanças climáticas e perda significativa da qualidade de vida da população”, disse.
Mais de 99% dos casos de desmatamento na Amazônia têm “fortes indícios de ilegalidade”. A conclusão é do engenheiro florestal Tasso Azevedo, coordenador geral do projeto MapBiomas.
“Se é verdade que o Brasil precisa olhar para o bem-estar da população da região, também é verdade que não podemos destruir as nossas matas e reservas nacionais”, defendeu a senadora.
“Precisamos garantir a salvaguarda da nossa biodiversidade. O Brasil não pode mais destruir seu patrimônio natural”, disse Rodrigo Agostinho.
Ele destacou que há ‘bons os projetos’ em tramitação na Câmara e no Senado que podem ajudar no enfrentamento do desmatamento.
“Precisamos criar uma agenda legislativa para combater o aumento do desmatamento”, afirmou.
Operações militares na Amazônia
Suely Vaz, do Observatório do Clima, criticou os altos custos das operações de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) que vêm sendo conduzidas pelo Conselho da Amazônia sob o comando do vice-presidente da República Hamilton Mourão. Segundo ela, as GLOs não servem para o controle do desmatamento.
Suely afirmou que dois meses dessas operações militares na Amazônia custam o mesmo que o salário anual de mil fiscais do Ibama.
André Lima, representante da sociedade civil na videoconferência, destacou o projeto de lei (PL 6230/2019) do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) que estabelece um plano de controle de desmatamento anual não mais de governo, mas de Estado. Ele também sugeriu que o TCU (Tribunal de Contas da União) seja acionado para acompanhar os gastos para a operação de GLOs e a efetividade das ações.
Mario Mantovani, diretor da ong SOS Mata Atlântica, sugeriu uma rodada de debates com os estados.
“Os estados podem assumir compromissos com o Acordo do Clima, já que o governo federal não dá importância ao acordo internacional”, avaliou.
Conselho da Amazônia
A reunião remota da frente tinha como convidado o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, que desde fevereiro coordena o Conselho da Amazônia. Mas ele cancelou a presença, após ter sido convocado para uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro. A senadora Eliziane Gama disse que já fez um novo convite a Mourão.
“Imediatamente, já pedimos para ele uma nova data. Precisamos conversar e sentir como contribuir em relação ao desmatamento e à reativação do Fundo da Amazônia. Tivemos um aumento de 171% na área desmatada da Amazônia, em comparação com o mês de abril do ano passado. Infelizmente tivemos aumento, e isso é realmente muito preocupante”, disse a parlamentar.