MANCHETES
O Globo
20 capitais têm protestos contra racismo e Bolsonaro
Governo impõe sigilo a pareceres para o Planalto
FH, Ciro e Marina propõem união em defesa da democracia
Óbitos em casa crescem até 36% durante quarentena
BNDES lança linha de crédito de R$ 2 bi para hospitais e laboratórios
10.700 cirurgias eletivas deixaram de ser feitas no estado do Rio
Crivella decide manter medidas de isolamento
O Estado de S. Paulo
Com vários níveis de pandemia, Brasil pode ter crise mais longa
Wizard desiste de secretaria e se desculpa por declarações
Florianópolis: 32 dias sem morte
11 Estados e DF têm atos anti-Bolsonaro
FHC, Marina e Ciro defendem união de forças
Empresas buscam apoio de hospitais para retomada
Doria monta força-tarefa contra ataques
Coronavírus mata 400 mil no mundo
Folha de S. Paulo
Milhares protestam contra Bolsonaro em meio à pandemia
Após pressão, Saúde recua e promete dado da Covid-19
Congresso discute rito de escolha de procurador-geral
Carlos F. dos S. Lima – Moro contaminou Operação Lava Jato
Gasto no cartão de crédito desaba com crise e isolamento
Papuda chega a mil doentes, e parentes se desesperam
Após falar em recontar mortos, Wizard deixa cargo
Na Europa, tensão toma conta de atos antirracistas
Valor Econômico
Plano contra desmate propõe ‘ambientalismo de resultado’
Inflação pode ser a menor desde 1933
Crescem atos contra Bolsonaro
Empresas já adotam o home office definitivo
‘Quadro atual já é de depressão no país’
EDITORIAIS
O Globo
É grave a decisão de ocultar dados sobre a Covid-19
Governo Bolsonaro retarda divulgação de números, tenta omitir total de mortos, mas recua após pressão
Uma das atitudes elogiáveis do Ministério da Saúde, antes mesmo de o Brasil registrar o primeiro caso de Covid-19, era a transparência. Em entrevistas coletivas, o então ministro Luiz Henrique Mandetta orientava a população sobre como se prevenir de um vírus que já se anunciava devastador. Com a chegada da pandemia, em fins de fevereiro, os informes diários do ministério serviam para divulgar números, traçar um panorama da evolução da doença, fazer projeções sobre o fim da epidemia e desmistificar fake news que contaminavam as redes.
Porém, desde a saída de Mandetta e de seu sucessor, Nelson Teich, ambos por divergências com o presidente Jair Bolsonaro, a transparência se tornou artigo tão escasso quanto respiradores. As coletivas foram esvaziadas, o ministério passou a divulgar os números cada vez mais tarde, e a metodologia das estatísticas foi alterada. Desde sexta, omitiu-se o total de mortos e infectados. No domingo, diante da repercussão negativa do fato, a pasta recuou.
O governo alegou que o atraso era para evitar subnotificações e inconsistências. Mas Bolsonaro admitiu que a intenção era impedir que os dados fossem veiculados no “Jornal Nacional”, da Rede Globo. Alguém precisa avisar ao presidente que manipular números da Covid-19 ou retardar a divulgação, para que não entrem no “JN”, é inútil — até porque eles são informados em edições extraordinárias. A manobra não reduzirá o tamanho da tragédia.
A questão se torna mais grave diante do anúncio de que o governo iria recontar o número de mortos. O ex-futuro secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Carlos Wizard, disse que os dados são “fantasiosos ou manipulados”. E que estados e municípios inflam as estatísticas para receber mais recursos. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) reagiu com indignação, dizendo que o governo “insulta” a memória das vítimas.
O ministro Gilmar Mendes, do STF, afirmou, no sábado, numa rede social, que a “manipulação de dados é manobra de regimes totalitários” e que “o truque não vai isentar a responsabilidade pelo eventual genocídio”.
O Brasil está se tornando uma espécie de pária pelo comportamento de seu presidente e pelo desastroso gerenciamento da crise. Ocultar ou manipular dados sobre a Covid é ato de extrema gravidade. Governos precisam desses números para planejar o combate à doença, e a sociedade tem todo o direito de ser informada sobre a pandemia.
Felizmente, as instituições estão funcionando, e tentativas de manipulação não deverão surtir efeito. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse que o corpo técnico da Casa poderia tabular os números junto às secretarias estaduais de Saúde. O TCU também sinalizou que faria o mesmo.
Não há como escapar da realidade. Com mais de 37 mil mortos, e sem ter atingido ainda o pico da epidemia, o Brasil já é o terceiro país com maior número de óbitos, atrás apenas dos EUA e do Reino Unido. A cada minuto, morre um brasileiro vítima do novo coronavírus. Esconder esses números não fará desaparecer o letal Sars-CoV-2.
O Estado de S. Paulo
Brasil manchado também nos EUA
O parentesco ideológico do presidente brasileiro com seu líder americano pouco vale diante da maioria democrata na Câmara dos Representantes
Mais uma vitória sinistra foi alcançada pelo presidente Jair Bolsonaro, em seu esforço para transformar o Brasil em pária internacional. Ele poderá continuar aplaudindo, seguindo e imitando seu grande guru, o presidente Donald Trump, mas terá de abandonar a ambição de um acordo comercial com os Estados Unidos, pelo menos enquanto houver maioria democrata na Câmara dos Representantes. A busca de qualquer parceria econômica mais estreita com “o Brasil do presidente Jair Bolsonaro” será rejeitada, informaram 24 deputados democratas da Comissão de Orçamento e Tributos da Câmara. A declaração foi expressa em carta dirigida ao chefe do Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR), embaixador Robert Lighthizer. O embaixador havia anunciado em maio, depois de uma conversa com o chanceler brasileiro Ernesto Araújo, a intenção de intensificar a cooperação econômica entre os dois países.
Na mesma data da carta, 3 de junho, o Parlamento holandês aprovou moção contrária ao acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, assinado em 2019 e ainda pendente de ratificação pelos países participantes. A devastação da Amazônia foi o principal argumento a favor da moção. Mas também houve referência a riscos para os povos indígenas. Políticos citados pela imprensa europeia, nas discussões sobre o acordo entre os dois blocos, têm apontado o governo Bolsonaro como inimigo do meio ambiente e dos direitos humanos.
Ameaças ao meio ambiente, aos direitos humanos e à democracia são listadas extensamente na carta enviada ao principal negociador comercial dos Estados Unidos, o embaixador Lighthizer. O presidente Jair Bolsonaro, segundo os deputados, tem uma longa e persistente história de “declarações depreciativas sobre mulheres, populações indígenas e pessoas identificadas por gênero ou orientação sexual, além de outros grupos”. O governo Bolsonaro, continua o texto, “demonstrou seu completo menosprezo por direitos humanos básicos, pela necessidade de proteger a floresta amazônica e pelos direitos e dignidade dos trabalhadores”.
O Brasil sob Bolsonaro, acrescentam os deputados, não estará preparado, de forma crível, para assumir os novos padrões de direitos trabalhistas e de proteção ambiental estabelecidos no Acordo Estados Unidos-México-Canadá. Negociar qualquer acordo comercial com o Brasil será perda de tempo, sustentam os autores da carta.
Mencionando detalhes da gestão Bolsonaro, o texto cita números do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) sobre aumento das queimadas na Amazônia. Esses dados, poderiam ter lembrado os autores da carta, foram postos em dúvida pelo presidente Bolsonaro, no início de uma polêmica encerrada com a demissão do diretor do instituto, o físico Ricardo Galvão, respeitado internacionalmente.
Há um claro componente protecionista na atitude dos democratas. Eles acabam atribuindo aos produtores brasileiros “uma história de emprego de práticas desleais de comércio”. A acusação é vaga e a intenção de impedir uma concorrência maior aos produtores americanos é evidente. Além disso, os autores da carta confundem a atividade ilegal e ambientalmente danosa realizada na Amazônia com a produção agrícola eficiente e competitiva – a mais importante – nas áreas tradicionais.
O protecionismo é novamente favorecido, portanto, pelas atitudes e políticas do presidente Bolsonaro e de seus piores ministros. Nos Estados Unidos, assim como na Europa, os defensores de barreiras contra produtos brasileiros dispõem de amplo cardápio de argumentos – ambientalistas, políticos e relativos a direitos humanos – fornecido pelo presidente do Brasil. Detalhe importante, na Europa, como nos Estados Unidos, os críticos frequentemente se referem ao “Brasil do presidente Jair Bolsonaro”. Essa expressão é usada pelos deputados democratas. O parentesco ideológico do presidente brasileiro com seu líder americano pouco valerá diante da oposição desse grupo. Os Estados Unidos são muito mais que Donald Trump. Bolsonaro parece ignorar também isso.
Folha de S. Paulo
Golpe estatístico
Como se pudesse praticar a censura, Bolsonaro tenta abafar dados da Covid-19
Ao mandar sonegar ao público dados completos sobre mortes e casos do coronavírus, Jair Bolsonaro deu fim ao pouco que restava de seriedade na forma com que seu arremedo de governo trata a epidemia hoje fora de controle.
O painel diário do Ministério da Saúde sobre Covid-19 sofreu vários golpes nos últimos dias. Primeiro determinou-se que sua atualização ocorresse apenas após as 22h, convenientemente após o horário nobre dos telejornais.
Não funcionou. Ganharam mais destaque, em informes extraordinários, as lúgubres cifras que põem o Brasil em segunda posição mundial no número de infectados e ainda em terceiro lugar no de óbitos —apenas por subnotificação, pois é certo que a mortandade nacional já ultrapassou a do Reino Unido.
A página do ministério na rede foi então retirada do ar. Quando voltou, exibia unicamente os casos e mortes registrados no dia anterior. Omitiram-se totais que atestam a incompetência do governo em liderar o combate local à pandemia. Pior: sumiram vias de acesso à base de dados detalhados.
Bolsonaro vive em negação e parece acreditar ser possível, na era da informação, praticar censura canhestra ao estilo da ditadura militar que tanto incensa.
Sua obtusidade não chega a surpreender, diante de repetidas mostras de ignorância pessoal. Assustador é ver servidores públicos responsáveis nesse papel vergonhoso.
Por mais que o presidente se esforce por manietar a pasta da Saúde, da qual sacou dois ministros médicos para abandoná-la à interinidade de um general subserviente, a repartição ainda conta com técnicos competentes, encolhidos talvez pela militarização ao redor.
Os paus-mandados da Presidência no ministério anunciam uma manobra orwelliana na contagem de mortos. O pretexto delirante: governadores e prefeitos estariam a inflar estatísticas reunidas no banco de informações federal.
É a senha para enveredar na manipulação dos dados, ou ao menos para desacreditá-los. Afinal, basta um cabo ou um soldado proficiente em informática para recolher, somar e publicar o que o Palácio do Planalto quer esconder.
Há precedentes infelizes. Na década de 1980, a ditadura ergueu cortina de fumaça em torno de uma epidemia de meningite, por meio de censura à imprensa. A carência de informações precisas agravou o surto ao favorecer descuido e, assim, mortes evitáveis.
Jair Bolsonaro já incitava abertamente atitudes que espalham o flagelo da Covid-19. Em raro lampejo, pressente agora que o descaso cruel lhe impõe prejuízo eleitoral e teve o único reflexo de que é capaz: voltar as costas para o mundo, a verdade e a decência.
Valor Econômico
Sinais positivos, mas ainda com grandes incertezas
Se voltarmos à situação de abril, o “fundo do poço” ainda estaria por vir
Na semana passada, a Receita Federal apresentou um dado alentador, em meio a essa enxurrada de notícias ruins ligadas à pandemia do coronavírus. Com base nas notas fiscais eletrônicas, o fisco informou que as vendas apresentaram, em maio, um aumento de 11,1%, na comparação com abril, em decorrência das medidas de estímulo econômico, adotadas pelo governo. O crescimento ocorreu em todas as regiões do país.
Há uma queda significativa, explica a Receita, quando os resultados de abril e maio são comparados com os mesmos meses de 2019. Ou seja, as medidas de isolamento para reduzir o contágio da população pelo novo coronavírus derrubaram as vendas, como era esperado. Mas, o que os dados divulgados parecem sugerir é que o mês de abril deste ano pode ter sido “o fundo do poço”. O secretário da Receita, José Barroso Tostes Neto, disse ao Valor que os dados do início de junho indicam que a trajetória ascendente das vendas continua.
Ainda é cedo para afirmar que existe uma tendência de alta e em que intensidade ela está ocorrendo, pois é necessário esperar os resultados finais de junho e julho. Mas os dados da Receita parecem em linha com outros indicadores, que mostram uma certa reação da economia no mês passado, na comparação com abril.
Os dados divulgados recentemente pela Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) apontaram para uma alta de 11,06% nas vendas de veículos em maio, em relação a abril. O quadro é dramático, pois, mesmo com essa recuperação, as vendas no mês passado apresentaram uma queda de 71,98% na comparação com maio de 2019.
A demanda total por voos da Gol Linhas Aéreas cresceu 5% e a oferta subiu 12% em maio, na comparação o mês anterior. Quando comparada com o resultado de maio de 2019, a demanda total caiu 93,7%.
Diante destes e outros indicadores, o governo comemora o fato de que o pior da crise não aconteceu em maio, como alguns economistas chegaram a prever. Ao contrário, a atividade econômica deu sinais de certa reação no mês passado.
É preciso, no entanto, avaliar os números com cuidado, pois muitos obstáculos ainda estão no caminho de uma recuperação consistente da economia. Na semana passada, este jornal informou que as dez maiores varejistas de capital aberto no país aumentaram em quase 40% as provisões em seus balanços para devedores duvidosos. Isto mostra o receio dos varejistas com eventuais calotes dos consumidores e eles estão adotando uma atitude preventiva.
Também foi noticiado pelo Valor que os pedidos de recuperação judicial subiram 68,6% de abril para maio e as falências, 30%. Os pedidos de recuperação levantados pela Boa Vista mostram a prevalência de pequenas empresas (94,8% do total) e do setor de serviços (55,6%). A consultoria Pantalica Partners estima em três mil as companhias que deverão pedir recuperação judicial, caso se confirme queda de 6% do Produto Interno Bruto neste ano.
Há ainda a expectativa de aumento do desemprego e também sobre a continuidade das medidas de estímulo. Se elas terminarem antes da recuperação da atividade, a renda cairá mais ainda, com repercussão negativa sobre o consumo das famílias. A atividade econômica poderá se estabilizar em um patamar muito baixo.
O cenário de indefinição aumenta quando vários epidemiologistas conceituados afirmam que a reabertura da economia está sendo feita de forma precipitada, pois algumas regiões do país ainda não atingiram o pico da contaminação. Na noite de quinta-feira, o Ministério da Saúde informou que o Brasil tinha registrado um total de 34.021 mortes pelo coronavírus, com 1.473 novos óbitos registrados nas últimas 24 horas, e 614.941 casos confirmados. Mais mortes em um único dia que nos Estados Unidos, até então o epicentro da pandemia.
Vários economistas já alertaram que uma reabertura precipitada poderá levar a novo isolamento social, abortando este princípio de retomada. Este fenômeno já foi observado em outros países, como foi o caso do vizinho Chile. Se os devidos cuidados não forem tomados pelas autoridades brasileiras, poderemos, infelizmente, voltar à situação de abril. Neste caso, o “fundo do poço” ainda estaria por vir.