MANCHETES
O Globo
Witzel é alvo da PF em apuração de fraude no combate à Covid-19
Contrato liga empresa suspeita a primeira-dama
Governador vê intervenção de Bolsonaro na PF ‘oficializada’
Carla Zambelli citou ação em estados na véspera
Ministros do STF destacam a independência do Judiciário
Projeção de mortes no país vai a 88 mil
Salto chinês – Da pirataria à inovação
Latam: pedido de recuperação deixa Brasil em alerta
Antonio Filosa: ‘Retrocesso de 15 anos’
Só 15% dos profissionais da área médica se dizem preparados
Mortes em ações policiais sobem 43% na pandemia
Auxílio emergencial de R$ 3 bi é aprovado na Câmara
O Estado de S. Paulo
Governador do Rio é alvo de operação da PF sobre desvios
Brasil tem mais mortes diárias por covid-19 no mundo
OMS teme segunda onda
Ministro do STF manda Weintraub se explicar à Polícia
Aras deve ser contra apreensão
Antes de pacote, Bolsonaro dá reajuste a policiais
TCU pode vetar contratação de militar pelo INSS
Latam pede recuperação judicial nos EUA
Interior de SP prevê abertura gradual em até 8 semanas
Folha de S. Paulo
PF mira Witzel, que aponta interferência de Bolsonaro
Moraes vê indícios de seis crimes de Weintraub
Fila e falta de notas fazem Caixa limitar saques de auxílio
‘Lockdow’ tem apoio de 60% da população, diz Datafolha
Senado dá aval a leito privado para paciente do SUS
Procuradorias agem para ampliar uso de cloroquina
Maia defende imprensa e pede respeito a Supremo
Economia e alta de casos ameaçam aprovação de Modi
Bonner é alvo de intimidação com dados da família
Latam pede recuperação judicial nos EUA
Valor Econômico
Brasil sai do radar do investidor estrangeiro
Hambúrguer vegetal une Marfrig e ADM
Vale tenta livrar-se de mina de níquel
Aéreas esperam socorro sob tensão
Witzel é alvo de operação da PF
Com aquisição, Stone entra na área de saúde
Veto à privatização do BB não se aplica a coligadas
EDITORIAIS
O Globo
Suspeitas voltam com operação da PF contra Witzel
Há sólidas evidências de corrupção na área da saúde, mas vazamento da operação causa preocupações
No encadeamento de crises que caracteriza o governo, a vertente da Polícia Federal e sua vinculação ao Planalto é um foco que volta a chamar a atenção desde o final da madrugada de ontem, quando viaturas da Polícia Federal entraram nos jardins do Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador do Rio de Janeiro, cargo ocupado por Wilson Witzel, adversário político do presidente Bolsonaro. Em um momento de normalidade política, seria mais uma demonstração de seriedade e independência da PF, como aconteceu nestes últimos anos no ciclo de combate à corrupção.
Mas o presidente acabou de substituir o ministro da Justiça Sergio Moro por André Mendonça, que, com o aval de Bolsonaro, colocou Rolando Alexandre de Souza na direção-geral da PF, o que faz supor que os clamores do presidente para ter gente na polícia com quem possa “interagir” foram atendidos. Por “interagir” pode-se entender tudo, considerando-se o estilo pessoal do presidente e seu perfil centralizador e autoritário. Porém, não se tem dúvida de que o mandado de busca e apreensão concedido pelo ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), cumprido no Laranjeiras, e não só nele, esteja bem fundamentado.
Mas a conjugação das mudanças na pasta da Justiça e Segurança Pública, e por decorrência na PF, com a deflagração da Operação Placebo contra Witzel, chamado de “estrume” por Bolsonaro na reunião ministerial do vídeo, é preocupante, porque pode ser o sinal de que a PF começa a se converter em braço armado do poderoso de turno, como acontece em republiquetas.
Para reforçar o temor de que a PF passa mesmo à órbita de Bolsonaro, um presidente que se preocupa em proteger família e amigos, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), próxima do presidente, frequentadora do Planalto e do Alvorada, com fácil trânsito na PF, adiantara à Rádio Gaúcha que a Polícia investigava governadores. Arriscou um nome para a operação: “Covidão”. Nisso errou. Este caso tem vários aspectos, e todos parecem verdadeiros. Não se discutem fartas evidências de grossa corrupção nos gastos do governo do estado em hospitais de campanha e na compra de equipamentos para aparelhá-los, a fim de acolher vítimas da Covid-19. Há negócios escusos com organizações sociais. Por R$ 180 milhões, por exemplo, compraram-se mil ventiladores pulmonares junto a empresas inidôneas; foram entregues 52, mas não serviram. E desapareceram quase integralmente R$ 36 milhões.
O ex-secretário de Saúde, Edmar Santos e o seu sub, Gabriell Neves, são processados, e este foi preso. Antes, em outra operação, terminou encarcerado o empresário Mário Peixoto, deste ramo de negócios com governos. A primeira dama do estado, a advogada Helena Witzel, também é citada nas investigações. Se tudo for provado, depois de Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo será o segundo casal a passar pelo Laranjeiras que cairá nas redes da Justiça, em mais um estágio na degradação ética da política carioca e fluminense. Mas nada justifica a PF ser de governos.
O Estado de S. Paulo
Resistir é preciso
Jair Bolsonaro sente-se cada vez mais à vontade para revelar suas intenções autoritárias. Desafortunadamente, o Brasil hoje tem de lutar pela vida e pela liberdade. Mas se é assim, à luta, pois
O presidente Jair Bolsonaro sente-se cada vez mais à vontade para revelar à Nação suas intenções autoritárias. A bem da verdade, decoro e respeito à ordem constitucional jamais foram traços do caráter do mau militar e do deputado medíocre. Por que haveriam de ser do presidente da República? O elevado cargo que ora ocupa não mudou a personalidade de Bolsonaro; foi ele quem rebaixou a Presidência para acomodá-la à sua estreiteza moral, cívica e intelectual. Como se vê em suas palavras e atitudes, se Bolsonaro tem na cabeça alguma ideia de como conduzir o País, é certo que não o levará a bom porto. E basta assistir à inacreditável reunião ministerial trazida a público por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) para perceber que a eventual ilegalidade dos meios para a consecução de seus fins não passa de desprezível detalhe.
O melhor que pode acontecer ao País nesta encruzilhada da História é que as perigosas intenções do presidente permaneçam onde estão, ou seja, no plano das intenções. Isto só será possível se as instituições se mantiverem firmes e resistirem com coragem e espírito público às desabridas pressões do atual chefe do Poder Executivo. É hora de as Forças Armadas, o Congresso, o STF, a Procuradoria- Geral da República (PGR) e a imprensa profissional exercerem suas atribuições republicanas sem desviar um milímetro das prerrogativas que a Constituição lhes confere. Não é fácil, mas resistir é preciso.
Contando com o estímulo de Jair Bolsonaro, o bando de celerados que o apoiam e batem ponto nas redondezas dos Palácios do Planalto e da Alvorada recrudesceu os ataques aos jornalistas que cobrem a Presidência. Tão virulentos foram esses ataques que os mais importantes veículos de comunicação do País decidiram suspender a cobertura jornalística naqueles locais. Longe de se tratar de “recuo” ou de simples “manifesto” da imprensa contra o governo, a decisão visa à proteção da integridade física dos jornalistas, que só está sob risco porque o cidadão Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), não exerce a contento o seu dever de garantir a incolumidade de todos os que estão em áreas de segurança nacional. As agressões sofridas pelo fotógrafo Dida Sampaio, do Estado, e por jornalistas da Folha de S.Paulo e da TV Bandeirantes ilustram bem do que os camisas pardas do bolsonarismo são capazes.
Mas as ameaças à liberdade de imprensa não se dão apenas pela coação física e pelo assédio moral praticados contra os jornalistas de campo. William Bonner, editor-chefe e apresentador do Jornal Nacional, da Rede Globo, tem sido vítima de chantagens e fraudes por meio do uso de dados pessoais de seu filho. De um número telefônico com prefixo 61 (Brasília), o jornalista recebeu mensagens com dados fiscais sigilosos seus e de sua família. O objetivo dessas ações, obviamente, é tolher o livre exercício da profissão. Não se sabe a autoria dos crimes, mas não se ouviu uma só palavra de repúdio de Jair Bolsonaro ou de qualquer membro de seu governo ao ato vergonhoso e covarde. É com tais vícios morais que os bolsonaristas e seus inocentes úteis se associam?
Como a imprensa, o Congresso, a PGR e o STF, entre outras instituições de Estado, têm sido constrangidos por Bolsonaro a afrouxar a independência e os controles constitucionais que regem o sistema de freios e contrapesos. O desassombro dos avanços autocráticos do presidente é tal que faz crer que ele realmente se vê como um ungido para governar o País como melhor lhe aprouver, devendo satisfações apenas a seus caprichos. Não é hora de tibieza. A resposta das instituições deve ser à altura das ameaças. Ao tomar posse como presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o ministro Luís Roberto Barroso afirmou que “não há volta no caminho da estabilidade institucional e democrática”. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disse que “prudência não pode ser confundida com hesitação”, enfatizando que a “preservação da democracia” não será descuidada pela Casa das Leis.
As forças vitais do País deveriam estar inteiramente voltadas para a tarefa de salvar o maior número de vidas possível em meio à pandemia. Desafortunadamente, o Brasil hoje tem de lutar pela vida e pela liberdade a um só tempo. Mas se é assim, à luta, pois.
Folha de S. Paulo
Fascismo de segunda
Açuladas pelo presidente, hostes fanáticas põem em risco exercício do jornalismo
No vídeo da infame reunião ministerial de 22 de abril, divulgado na última sexta (22), o presidente Jair Bolsonaro defendeu mais de uma vez a necessidade de “armar a população” como antídoto à ascensão de ditadores.
O pensamento está em linha com o que pregava Benito Mussolini nos anos 1930 e 40. O populismo tosco e perigoso de Bolsonaro flerta com o fascismo italiano também no ódio à imprensa independente.
Na mesma reunião, o presidente refere-se a esta Folha e a outros órgãos da mídia com expressões de baixo calão. Palavras têm consequências, como já teve de lembrar este jornal recentemente.
Nos dias seguintes à divulgação do vídeo, elevou-se a intensidade dos impropérios dirigidos pelos fanáticos de plantão aos repórteres que, por dever profissional, são destacados para cobrir o presidente no Palácio Alvorada.
Na segunda (25), decerto inspirado pela etiqueta do chefe, vomitaram palavrões contra os jornalistas que tentavam realizar seu trabalho. A falta de segurança levou a Folha e veículos como UOL, Globo e outros a suspender temporariamente a cobertura ali.
Após a decisão, o Gabinete de Segurança Institucional, comandado pelo general Augusto Heleno, divulgou nota em que se compromete a continuar aperfeiçoando a segurança do local. Faltou combinar com o presidente: horas depois, Bolsonaro fez graça da situação.
E, de novo, faltou com a verdade. “Estão se vitimizando. Quando levei a facada, eles não falaram nada”, disse. No entanto neste espaço, o jornal publicou vários textos condenando o ato desvairado contra o então candidato ao Planalto.
A escalada fascista alimentada por gabinetes de ódio que seguem os humores do supremo mandatário se nota em outras ações. Nesta terça (26), o jornalista William Bonner, da TV Globo, relatou que ele e família sofrem campanha de intimidação por desconhecidos.
Dias antes, em ato contra instituições democráticas, manifestante acertara uma repórter com a haste de uma bandeira. Em vez de condenar tais fatos, o presidente segue em seus delírios persecutórios.
Disse que “a imprensa internacional é de esquerda”, ao comentar críticas que sofre de órgãos estrangeiros. Falava de títulos como Financial Times e The Economist, bíblias do liberalismo econômico. Não se trata de esquerda ou direita, mas de bom senso e competência, artigos em falta no atual governo.
Valor Econômico
Entre o radicalismo político e o “pântano” do centrão
O presidente que se pretendia todo poderoso pode terminar em patética dependência do que há de pior no Congresso
A estarrecedora reunião ministerial de 22 de abril – talvez uma sinistra comemoração do dia em que o Brasil completou 520 anos de existência – complicou de todas as formas o já encrencado governo do presidente Jair Bolsonaro. Cabe aos procuradores e à Justiça decidir se o que o presidente disse sobre suas intenções em relação à Polícia Federal é ou não suficiente para incriminá-lo no inquérito aberto pela Procuradoria Geral da República. Os mercados se animaram com a avaliação de que o vídeo do encontro não parecia garantir o início de um processo de impeachment. Mas as cenas memoráveis desse assombroso encontro desmoraliza todo o governo, coloca em dúvida sua capacidade de ação política futura e exacerba a precaução de todos os Poderes diante das barbaridades ditas, além das já cometidas, pelo Executivo.
O vídeo deixa claro o sentido das intervenções de Bolsonaro e de sua obsessão por mudanças na Polícia Federal. Esse é um detalhe muito importante que se desdobra em outros de consequências ruinosas. O presidente revelou que tem uma rede própria de informação clandestina, ao largo das instituições da República. Com o governo acuado e isolado, um Bolsonaro colérico defendeu que o povo se armasse para enfrentar governadores por terem tomados medidas de prevenção contra um vírus mortal.
Se puder, a julgar pelas palavras de Bolsonaro na reunião, ele subjugará a PF e os demais órgãos de controle sempre que seus interesses familiares estiverem em jogo, ao mesmo tempo em que não hesitará em estimular a formação de grupos armados de direitistas radicais, cujo trabalho tem sido facilitado, assim como o de milicianos, pelos sucessivos decretos para aumentar o acesso de armas e munições à população e diminuir sua rastreabilidade e identificação. Se houve algum plano de ação que se pudesse depreender do macabro convescote, esse foi um deles.
Uma outra linha de ação que perspassou a reunião e já vem de longe, é a de desrespeitar e desmoralizar os poderes constituídos. “Eu não vou meter o rabo no meio das pernas”, disse Bolsonaro, quando “for proibido de ir para qualquer lugar, pelo Supremo”. Sobre a degradação das instituições há quase consenso ministerial. Há “vagabundos” no STF que deveriam estar na cadeia, afirmou o sabujo que dirige a pasta da Educação, Abraham Weintraub. Enquanto o foco de vigilância da imprensa e Congresso estiver dirigido à pandemia, a “boiada” da desregulamentação precisa passar, disse o ministro da destruição ambiental, Ricardo Salles.
Uma das sérias consequências dos estímulos presidenciais deu-se logo no dia da divulgação do vídeo e foi protagonizada pelo ministro incumbido, em tese, da segurança institucional, Augusto Heleno. Ao protocolar encaminhamento do ministro Celso de Mello à PGR de pedidos para que o celular do presidente fosse confiscado, Heleno, em nota, afirmou que isso “poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional” – uma ameaça ao Judiciário, aprovada pelo presidente e pelo ministro da Defesa.
Caótico e indisciplinado, Bolsonaro não consegue acertar o passo com seus próprios interesses. Instruído por seus ministros, Bolsonaro comportou-se bem ao se reunir no dia anterior com os governadores, antes vilipendiados por ele, para uma reunião virtual onde pediu o apoio para a suspensão dos reajustes salariais do funcionalismo. Articulava-se também um armistício com o STF, via Dias Toffoli. Mas Bolsonaro não se modera e em seguida voltou a desafiar Celso de Mello e a se misturar na multidão de fanáticos que insultam quem seu líder mandar.
Se não trombar com um impeachment, ou mudar de comportamento, Bolsonaro conduzirá um governo de expectativas reduzidas, mesmo na economia, e, possivelmente, marcado por escândalos. Restou-lhe comprar com cargos partidos que brilharam no mensalão e no petrolão para barrar tentativas de depô-lo legalmente. Ao seguir esse caminho, completa o trabalho de destruição da educação ao entregar o FNDE a políticos do centrão que só aceitam cargos onde há um bom dinheiro.
A agenda do ministro Paulo Guedes quase foi destruída pela pandemia e segue enfrentando a inclinação nada liberal de Bolsonaro, que não o deixa privatizar a “porra” do Banco do Brasil. Guedes terá de negociar as reformas com criaturas que habitam o que outrora qualificou de “pântano político”. O presidente que se pretendia todo poderoso pode terminar em patética dependência do centrão. É um futuro sem glória – e mais um pesadelo para o país.