Só os fracos temem a imprensa livre e só os tiranos aceitam como “verdade” apenas a “sua verdade”. Os atos autoritários vistos no “cercadinho” do Palácio do Alvorada, com a anuência do Presidente da República, é a expressão do retrocesso civilizatório. É a manifestação de um primitivismo animalesco selvagem, bárbaro e desumano. É o saudosismo das trevas ditatoriais. É o sinal antidemocrático que aponta para a morte da democracia e para a agressão e até mesmo a morte física dos que pensam diferentemente do plantonista no Palácio do Planalto.
Uma minoria autoritária, barulhenta e bárbara a insultar – e quase agredir – profissionais da imprensa é a expressão ampliada da ignorância cultural, política e civilizatória de um presidente de nítida e confessa formação autoritária e antirrepublicana, que acredita poder governar a República como governa a sua família, principalmente a seus filhos, alçados a príncipes mandonistas de uma Corte de Bobos e Loucos.
É a expressão de um presidente descompromissado com a vida. Em vez de buscar viabilizar respiradores e testes rápidos para o combate à pandemia do Covid-19, em vez de visitar os hospitais para dar apoio moral às famílias que sofrem a perda de entes queridos e aos profissionais de saúde que lutam desesperada e heroicamente em salvar vidas, o presidente da República passeia debochadamente de jet sky , no dia em que faria um churrasco para três mil seguidores, ideia louca descartada após tempestades de críticas, passeia eleitoralmente nas ruas promovendo perigosas aglomerações e participa impunemente em atos golpistas.
É a expressão de um presidente desesperado que tenta transformar a Polícia Federal num puxadinho de seu condomínio da Barra da Tijuca na tentativa de barrar e acabar e, de preferência, apagar as investigações que avançam sobre dezenove membros de sua família – principalmente seus filhos – no estado do Rio de Janeiro.
Essa minoria autoritária assassina a verdade e dá vida à mentira. Derruba a razão e aduba o irracionalismo. Menospreza a cultura e valoriza a ignorância. Ama as armas e odeia livros. Agride a imprensa livre e promove sites governistas de fake news. Desarmoniza os poderes da República e conspira contra o meio ambiente. Patrocina o belicismo e pragueja o pacifismo. Expulsa a ciência e abraça o obscurantismo. Cultua a ditadura e condena a democracia. Enaltece a ferocidade e nega a fraternidade. Justifica o egoísmo e repele a solidariedade. Insulta, agride e não dialoga. Descarta a cooperação e promove a confrontação. Idolatra os subservientes e abomina os que pensam. Vomita sectarismo e repele o pluralismo. Ataca a vida e defende a tortura e a morte (pelo menos 30 mil, inclusive de inocentes, como defende o próprio Bolsonaro). Cultiva as trevas e apaga as luzes.
Como os nazistas, pretende essa minoria autoritária usar a democracia para acabar com a democracia, calar a imprensa, fechar o parlamento, amordaçar o judiciário, enfraquecer a universidade, impor a censura, insultar e exilar a inteligência, desacreditar a ciência, impor a noite eterna, sangrenta, triste, desesperada, angustiante, sufocante, submissa e silenciosa, e logo – se não for detida constitucionalmente e com o apoio popular- queimará livros e depois seres humanos.
O povo brasileiro, depois de 21 anos de ditadura, reconquistou a democracia em 1985 e, em 1988, recriou sua Constituição – o estatuto da paz, da democracia, da liberdade, do pluralismo, da cooperação, da laicidade, da cidadania, da civilização, do ser humano, da vida.
“Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério”, disse o saudoso e grande democrata Ulysses Guimarães ao defender a democracia e repelir utopias ditatoriais e sabiamente sentenciou: “Traidor da Constituição é traidor da Pátria”.
Deveríamos hoje também acrescentar: Desonrar a Pátria é traí-la!
A sociedade brasileira não pode achar normal e tolerar a intolerância, a escalada autoritária, as ameaças à vida democrática e à integridade moral e física do ser humano. Essa sanha bolsonarista fascistizante deve ser barrada dentro da Constituição de 1988 e da Lei n° 1.079, de 10 abril de 1950.
Minha total e irrestrita solidariedade aos trabalhadores da imprensa.
Não ao Golpe de Bolsonaro!
Viva a Democracia!
Viva a Liberdade!
Viva a República!
Viva a Liberdade de Imprensa
Ditadura Nunca Mais!
Eduardo Rocha, economista