MANCHETES
O Globo
Bolsonaro reclamou da PF e de serviço de inteligência: ‘Vou interferir’
MP que blinda autoridades é criticada
Presidente pede ‘guerra’ contra governadores
Carla Zambelli: sem Moro, Bolsonaro cai
Relatório reafirma que Adélio agiu sozinho
País deve perder 3 milhões de vagas com carteira
Grupo é preso por fraudar compras emergenciais
Vírus avança, e presidente e Teich divergem
Roberto Azevêdo renuncia ao cargo de diretor-geral da OMC
Petrobras registra prejuízo de R$ 48,5 bi no 1º trimestre
Pandemia: situação peruana é crítica
O Estado de S. Paulo
Média de isolamento social no País é de 43,4%, aponta monitor
País supera 200 mil casos
Em reunião, Bolsonaro cita ‘família’ e ‘PF’, diz AGU
‘Barca está afundando’
Presidente pede a empresários ‘jogo pesado’ contra Doria
Medida provisória dá salvo-conduto a maus gestores
Governo mudará crédito para folha de pagamento
Tapumes antirroubo na Oscar Freire
Folha de S. Paulo
‘Vou interferir e ponto final’, afirmou Bolsonaro sobre PF
Presidente diz que Maia quer prejudicar o governo, mas volta atrás
Presidente chama empresários para guerra com estados
Bolsonaro pede comparação com Argentina e perde
Presidente insiste em cloroquina, contestada de novo
Em artigo, Mourão assusta ao insinuar sobre intervenção
Brasil ultrapassa 200 mil casos de Covid-19
MP blinda agente público por atos na pandemia
Ventiladores que governo terá serão metado do previsto
Mais de 500 mil óbitos somem de base de cartórios
Prefeitura expande programa de máquinas de lavar a moradores de rua
Implante faz cegos verem letras feitas com eletricidade
Roberto Azevêdo deixa OMC um ano antes do fim do mandato
Empresa abre mão de patente de droga contra vírus, mas exclui Brasil
Bruno Covas permanece internado para tratar inflamação no cólon
Cartola da natação por três décadas, Coracy Nunes morre aos 82
Valor Econômico
Senado deve alterar projeto que limita os juros em 20%
Desprestigiada, OMC também perde Azevêdo
“Populismo vai deixar herança diabólica”
Petrobras tem prejuízo de R$ 48,52 bi
Déficit de R$ 24 bi
Bolsonaro propõe jogo ‘pesado’
O drama de um médico na linha de frente
EDITORIAIS
O Globo
Teses de Bolsonaro não correspondem aos fatos
Pesquisas científicas e estudos sobre a Gripe Espanhola nos EUA derrubam bandeiras do presidente
O aumento de intensidade da dinâmica da crise reforça traços negativos da personalidade do presidente, como uma convicção extrema mesmo que os fatos estejam contra ela. Se Bolsonaro conseguisse absorver novas informações a partir da observação e da constatação de que cometeu equívocos, e se corrigisse, como a maioria das pessoas, seria um ganho enorme para todos. A fixação, por exemplo, que ultrapassa a teimosia e se aproxima da obsessão, no suposto efeito benéfico da substância hidroxicloroquina para o enfrentamento da Covid-19, já teria sido deixada para trás caso o presidente desse atenção aos diversos estudos científicos já divulgados que afastam esta possibilidade.
Outro assunto que oblitera a capacidade de Bolsonaro de absorver opiniões em contrário é o isolamento social. Desde março, quando começaram a ser registradas oficialmente no Brasil as primeiras vítimas do vírus Sars-CoV-2, Bolsonaro teria tido tempo de não apenas se informar sobre os efeitos do “isolamento social horizontal” — para todos, exceto trabalhadores de setores essenciais — e do “vertical” — apenas para os grupos de risco, como ele deseja. Saberia, por experiência concreta de outros países, que em epidemias o isolamento ao extremo das pessoas é vital para conter a disseminação do vírus. Por um motivo fácil de entender: para que os sistemas de saúde tenham condições de se preparar para atender os contaminados.
Mesmo que o número de infectados venha a ser o mesmo no final da epidemia, todos poderão ser atendidos, o que significará um número menor de mortos. Ao passar ontem pelo cercadinho da claque bolsonarista na saída do Alvorada, Bolsonaro repetiu o mantra: defendeu a cloroquina e desfiou um aterrorizante discurso contra o isolamento social adotado por governadores, a serem provavelmente seguidos por lockdowns (bloqueios). O presidente previu mortes pela fome, devido à suposta liquefação do sistema produtivo, provocada por este combate à epidemia. Em uma live com empresários, o presidente adotou o mesmo tom, chegando a falar em “guerra”.
Também aqui, Bolsonaro se recusa a aprender com cientistas e a História. Estudo bastante citado de economistas do Banco Central americano, Fed, do BC de Nova York e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Sergio Correa, Stephan Luck e Emil Verner, prova que, entre 43 cidades americanas, as que adotaram o isolamento social amplo na Gripe Espanhola (1917/18) recuperaram suas atividades de maneira mais rápida e consistente.
Outra fantasia bolsonarista é a forma com que a Suécia enfrentou o coronavírus. Bolsonaro elogia o país. Não se informou dos efeitos do isolamento frouxo da Suécia: morrem bem mais suecos do que vizinhos nórdicos. O índice de mortes por Covid por milhão de habitantes da Dinamarca está entre 50 e 100; e os da Finlândia e Noruega, abaixo de 50. Os três países praticam lockdowns. Na Suécia, acima de 300, o que tem prejudicado os negócios, ao contrário do que acha Bolsonaro. Só a ideologia pode explicar tanta desinformação.
O Estado de S. Paulo
A guerra de Bolsonaro
Presidente quer fazer crer que o isolamento social, adotado em todo o mundo para conter a pandemia, é escolha, não imperativo
A equipe econômica do governo federal informou na quarta-feira, dia 13, que sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano caiu de 0,02% positivo para 4,7% negativos. O dado foi apresentado de forma a enfatizar o caráter dramático da situação e a atribuir o cerne do problema ao isolamento social para enfrentar a pandemia de covid-19. Segundo informou o Ministério da Economia, o PIB perde R$ 20 bilhões por semana em razão do isolamento.
Embora tenha negado que estivesse fazendo críticas à adoção da quarentena, o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, disse, ao apresentar os números, que o objetivo era “deixar claro para a sociedade o custo das decisões” e mostrar que, “quanto mais semanas ficarmos em distanciamento social, maior será o número de falências e de desemprego e maior será o impacto de longo prazo”.
Ato contínuo, na manhã seguinte, o presidente Jair Bolsonaro informou aos brasileiros que há uma “guerra” em curso no País, em referência ao isolamento social determinado por autoridades estaduais e municipais. “O que está acontecendo parece uma questão política, tentando quebrar a economia para atingir o governo”, disse Bolsonaro, em seu dialeto peculiar.
Ou seja, o governo parece ter unificado o discurso em torno da narrativa segundo a qual o Brasil está à beira do precipício econômico e social não em razão da pandemia, que está arrasando mesmo países desenvolvidos, mas sim graças ao isolamento social – que, conforme Bolsonaro, é resultado de um imenso complô da oposição, em conluio com a imprensa e com o Judiciário, para sabotar sua administração.
Para essa “guerra” em defesa de seu governo e, por extensão, do País, Bolsonaro convocou os empresários a pressionar o governador de São Paulo, João Doria, a relaxar a quarentena no Estado. “Um homem está decidindo o futuro de São Paulo, o futuro da economia do Brasil. Os senhores (empresários), com todo o respeito, têm de chamar o governador e jogar pesado, porque a questão é séria, é guerra”, disse o presidente, que, prevendo “caos” social, arrematou: “O Brasil está quebrando. E depois de quebrar, não é como alguns dizem, que a economia recupera. Não recupera. Vamos ser fadados a viver num país de miseráveis, como alguns países da África Subsaariana”.
Assim, o presidente Bolsonaro quer fazer crer que o isolamento social, adotado em todo o mundo para conter a pandemia, é uma escolha, e não um imperativo – e essa escolha, aqui no Brasil, seria fruto de maquinações políticas. Ora, é um insulto à inteligência presumir que chefes de Estado ao redor do mundo estejam submetendo seus governados a privações desnecessárias. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), por exemplo, estima que 9 das 11 principais economias do mundo terão retração econômica severa e, em vários casos, sem precedentes. O Unicef (Fundo da ONU para a Infância) prevê que o colapso do sistema de saúde aumentará em 1,2 milhão de crianças a conta da mortalidade infantil no mundo nos próximos seis meses. O empobrecimento planetário já é uma realidade – que fica particularmente dramática em países cujos governantes, como Bolsonaro, agem de maneira irresponsável.
Se o presidente estivesse realmente preocupado em mitigar os múltiplos efeitos da pandemia, travaria uma guerra não contra os governadores e contra a oposição, e sim contra o vírus – que, por ora, está em grande vantagem, graças à bagunça que Bolsonaro criou no Ministério da Saúde, incapaz de liderar os esforços contra a pandemia, e ao comportamento do presidente, que continua a desdenhar das mortes, estimulando os brasileiros a ignorar a quarentena.
Nesse seu prélio delirante, Bolsonaro chegou até a citar uma frase de Napoleão, “enquanto o inimigo estiver fazendo um movimento errado, deixe-o à vontade”, para dizer que “o movimento errado é se preocupar apenas e tão somente com a questão do vírus” – e quem ganha com isso, disse o presidente, é “a esquerda”, que “está quietinha”.
Se quisesse realmente se inspirar em Napoleão, o presidente Bolsonaro deveria buscar outra frase do general francês, aquela que diz que “o verdadeiro líder é um mercador de esperanças”. Algo praticamente impossível para um presidente cuja vocação é frustrá-las.
Folha de S. Paulo
Opaco e aviltante
Bolsonaro falta com transparência e seriedade ao tratar de cartões ou sua saúde
Com a costumeira fanfarrice, Jair Bolsonaro prometeu há nove meses revelar suas despesas pessoais pelo cartão corporativo a que tem direito na condição de presidente.
“Eu vou abrir o sigilo do meu cartão. Para vocês tomarem conhecimento de quanto gastei de janeiro até o final de julho. OK, imprensa?”, anunciou, em 8 de agosto do ano passado. “Vou com vocês, na boca do caixa, digito a senha e vai aparecer todo meu gasto.”
Também como de hábito, a encenação de valentia —em resposta, na época, a alguma fofoca de rede social— deu em coisa nenhuma.
A bravata foi convenientemente esquecida, e os dispêndios realizados por meio do mimo presidencial permaneceram incógnitos mesmo quando o Supremo Tribunal Federal, em 7 de novembro, considerou inconstitucional um dispositivo do regime militar que permitia à Presidência manter segredos do gênero.
Desta vez, o Planalto se viu forçado a apresentar alguma explicação formal —alegou-se, com base em outra legislação, que informações passíveis de pôr em risco a segurança do presidente e seus familiares devem ficar reservadas.
Mas Bolsonaro decidiu voltar ao tema no desvairado pronunciamento de 24 de abril, quando respondeu a acusações de ingerência na Polícia Federal. No esforço para mostrar sua probidade, alegou não haver feito uso de um cartão, entre três que possui, que lhe permite gastar R$ 24 mil mensais.
A veracidade da afirmação não pode, infelizmente, ser aferida. Os dados disponíveis permitem constatar, porém, que as despesas com cartões presidenciais cresceram na atual gestão e chegaram ao recorde de R$ 1,9 milhão em fevereiro —do qual R$ 739 mil, segundo o presidente, com o resgate de brasileiros na China. Mais não se sabe.
As desculpas oficiais para a permanência do segredo soam tão inconvincentes hoje como em 2008, quando uma farra no uso de cartões gerou escândalo no governo Lula (PT). Tratando-se de Bolsonaro, a recusa à transparência se une à conduta aviltante.
Assim se viu também na ridícula saga da divulgação dos exames do chefe de Estado para a Covid-19, enfim levada a cabo por determinação do Supremo Tribunal Federal, a pedido do jornal O Estado de S. Paulo. Soube-se então que o presidente chegou ao cúmulo de usar pseudônimos nos testes, cujos resultados foram negativos.
De claro no episódio, apenas a irresponsabilidade de Bolsonaro ao sujeitar a si e a terceiros aos riscos de contágio, antes e depois de conhecer seu estado de saúde.
Valor Econômico
Populistas fazem muito mal à saúde
Já há a certeza que o coronavírus não irá embora de uma vez, nem a economia global se recuperará rapidamente
O Brasil vem escalando a curva global de contágio e mortes provocados pelo coronavírus. Aproxima-se da companhia de países cuja característica comum foi o desprezo dos governantes sobre a letalidade e capacidade de disseminação do vírus, em primeiro lugar os EUA de Donald Trump, país com o maior número de mortes – a caminho das 90 mil – e de infectados, mais de 1,3 milhão. Agiram irresponsavelmente, como Boris Johnson, premiê do Reino Unido (33 mil mortos), e o prefeito de Milão, com seu fúnebre slogan “Milão não fecha” – fechou depois de abrir a rota para o vírus, que se espalhou pela Lombardia e resto do país, deixando 31 mil mortos.
O Brasil acumulava até quarta-feira 13.149 mortos e 189 mil contaminados, com aceleração do número de novos casos. O país vai mal perto de vizinhos, como a Argentina, que implantou quarentena severa e fechou rapidamente suas fronteiras. Mas a comparação das curvas com os países mais atingidos, como Itália, Espanha, Reino Unido e EUA mostra que a curva da destruição do vírus foi sim achatada – nos países da comparação, o contágio e o número de vítimas cresceu muito e mais rapidamente.
O uso do isolamento como tática para aliviar o precário sistema de saúde brasileiro não veio muito tarde, e foi adotado, com maior ou menor intensidade, pelos governadores. Mas o país não escapou às consequências de uma divergência fatal entre o presidente Jair Bolsonaro e os Estados.
Como Trump, Bolsonaro acredita que sabe tudo, ouve muito pouco outras opiniões e só respeita a família – o presidente dos EUA aconselha-se mais com a filha Ivanka e o genro, Jared Kushner. Ambos desdenharam o perigo do coronavírus – Bolsonaro nega até hoje. Trump refutou relatórios de inteligência apontando existência do novo vírus desde janeiro, que “um dia, como um milagre, desapareceria”. Hoje, os EUA empilham 1500 cadáveres por dia, um terço de todos os mortos nos 190 países afetados pela pandemia.
A divisão no combate à pandemia foi um desastre e facilitou a propagação da doença. Pesquisa recente mostrou que o isolamento arrefeceu nos redutos bolsonaristas quanto mais o presidente invectivava contra o isolamento, pela volta ao trabalho. E Bolsonaro se supera a cada dia. Dispensou o ministro da Saúde em plena aceleração do contágio, misturou-se a multidões de admiradores e ainda tenta deter o trabalho dos governadores, após ter sido dissuadido pelo entendimento do STF de que prefeitos e governadores estão em suas atribuições legais e que o Executivo não pode revogar as medidas sumariamente.
Bolsonaro encontrou novo meio de boicotar o isolamento ao decretar a cada dia novos setores como “essenciais” – incluiu nessa categoria salões de beleza e academias de ginástica. Sequer se dignou a comunicar isso a seu ministro de Saúde, Nelson Teich Ontem, o presidente reuniu-se com empresários e pediu que pressionassem os governadores pela volta ao trabalho.
O resultado das atitudes bárbaras de Bolsonaro, de seus aliados e de alguns governadores irresponsáveis, que não reforçaram o isolamento, é que, dois meses após a aparição dos primeiros casos, capitais importantes como Manaus, Belém e Fortaleza estão em lockdown. Em São Paulo, onde governador e prefeito da capital fizeram a coisa certa, o isolamento começou a ser desrespeitado e também não se descarta medidas severas no futuro próximo.
Assim, o isolamento não foi vigoroso o suficiente para obter um ritmo ótimo para o contágio, mas foi forte o bastante para nocautear a economia. Isso não se deve só às mazelas políticas, mas também à desigualdade e pobreza do país, no qual dezenas de milhões de pessoas vivem da mão para a boca, com o que conseguem ganhar no dia. A precária situação do sistema de saúde pública, já insuficiente para atender a demanda normal por atendimento, torna-se insustentável em uma pandemia, apesar de seus profissionais fazerem o impossível com parcos recursos.
A incompetência pública, agravada pela estupidez do presidente, deixou o país sem capacidade para fazer testes, algo essencial para sair da pandemia. Já há a certeza que o coronavírus não irá embora de uma vez, nem a economia global se recuperará rapidamente. É pouco provável que uma vacina esteja disponível em menos de 12 meses. O Brasil improvisa à beira do precipício, com um presidente que não faz a coisa certa nem para de atrapalhar. Como tragicamente se vê, populistas fazem muito mal à saúde.